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sexta-feira, 5 de julho de 2013

Mestres do Renascimento: Obras-Primas Italianas

O Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo fará uma exposição com 57 obras históricas assinadas por Leonardo da Vinci, Michelangelo, Rafael, Ticiano, Tintoretto, Giorgione, Veronese, Correggio, Bellini e outros. A mostra Mestres do Renascimento: Obras-Primas Italianas será inaugurada no próximo dia 13 de julho.

Dois dos três andares do CCBB serão ocupados pelos artistas de Florença e Roma, mas a partir do subsolo do prédio os visitantes serão direcionados para ver as obras divididas em cinco núcleos espalhados em quatro andares, com pintores florentinos, romanos e  venezianos. A exposição será uma grande oportunidade para entender a evolução desse movimento artístico, o mais influente do Ocidente, que foi o Renascimento, onde brilharam nomes como Leonardo da Vinci, Tintoretto, Rafael, Ticiano e Veronese, e muitos outros.

Neste artigo e nos próximos falaremos sobre alguns dos mestres que estarão na exposição do CCBB,  tentando mostrar um pouco de sua biografia e de como trabalhavam os pintores renascentistas, que usavam a técnica de pintura em camadas (velatura) e com pinceladas esfumaçando as tintas (sfumato). Neste, iniciaremos falando de Ticiano.

Amor sagrado e amor profano, de Tiziano, 1514, Galeria Borghese, Roma
TIZIANO VECELLIO

Autorretrato, Tiziano, 1562
Ticiano foi um pintor italiano, da chamada Escola Veneziana, que criou uma importantíssima obra pictórica. Ele é considerado como um dos maiores retratistas de seu tempo, especialmente porque tinha muita facilidade em captar as características pessoais daqueles que retratava.

Ticiano nasceu na pequena Pieve di Cadore, na província de Belluno, perto de Veneza, por volta de 1488. Quando ele nasceu, nasceram também dois outros gigantes da pintura italiana: Rafael e Michelangelo.

A importância de Ticiano na história da arte deve-se ao fato de que ele, mesmo não tendo o gênio de Leonardo da Vinci e nem a personalidade forte de Michelangelo, deixou para seus contemporâneos e para a posteridade uma concepção de pintura verdadeiramente revolucionária, pois foi ele quem libertou a pintura dos limites da linha e da forma, dando todo o poder às cores. Por isso sua pintura é classificada por Heinrich Wölfllin (em Conceitos Fundamentais de História da Arte) como pictórica. A pintura linear – praticada por todos os artistas até então e mesmo hoje em dia – é uma técnica que respeita a forma das figuras, utilizando inclusive das linhas para descrever detalhes.

Madalena, Tiziano - esta tela
estará no CCBB
Não havia nenhum aspecto do mundo, nenhum tema que não chamasse a atenção deste grande pintor. No Museu do Prado, de Madrid, Espanha, pude ver pessoalmente e me encantar com a imensa capacidade de trabalho e perfeição técnica alcançada por este mestre veneziano. Ticiano trouxe ao mundo um novo ideal de beleza, inspirado na realidade, e realçado por um colorido totalmente novo para a pintura de seu tempo. Por isso Cézanne, pintor francês mais moderno, disse: “A pintura moderna nasceu em Veneza, com Ticiano”. E André Malraux completaria mais tarde: “Porque a obra de Ticiano traz a todos os pintores mais do que um ensinamento: uma liberação. Ele lhes desata as mãos.”

Ticiano nasceu em uma família de magistrados, mas os detalhes de sua infância são desconhecidos. Sabe-se que aos 12 anos de idade foi enviado a Veneza para estudar desenho, junto com seu irmão Antonio, pois seu talento já tinha sido notado por seu pai. Seu primeiro mestre foi um pintor de mosaicos, que ele logo abandona para ir estudar no atelier de Giovanni Bellini, considerado um dos melhores pintores de seu tempo. Mas logo em seguida Ticiano muda novamente de atelier e vai estudar com Giorgione, dono de um estilo mais flexível com relação às regras da época. Mas Giorgione morre em 1510, com apenas 33 anos, durante uma das epidemias de peste que assolou a Itália e, em especial, Veneza. Seu outro mestre, Bellini, morrerá em 1516, também por causa da peste.

Violante, Tiziano, 1515-1518
Quando o jovem Ticiano vivia em Veneza, esta cidade passava por um de seus períodos mais prósperos: era a cidade mais populosa e dominava o comércio do mar mediterrâneo. Mas seus ricos aristocratas voltaram-se para o interior do continente que hoje forma a Itália, investindo em terras e promovendo a construção de casas e edifícios. A atividade agrícola era bastante desenvolvida também. Veneza vivia em grande prosperidade e abundância. Do ponto de vista cultural, esta cidade também se destacava. Os ideais do Humanismo, a presença de artistas e intelectuais de diferentes origens, faziam com que em Veneza se pudesse se expressar mais livremente, inclusive mantendo mais independência em relação à Santa Sé. Por lá passaram o alemão Albert Dürer, Leonardo da Vinci e Michelangelo. Entre inúmeros outros grandes nomes das artes e das ciências.

Ticiano se deixou impregnar por essa cultura, posteriormente intitulada de Renascimento, e se aproximou também dos filósofos neoplatônicos. Em Veneza, além dos ateliês de Giovanni Bellini e Giorgione, com quem estudou, lá também viviam inúmeros outros artistas trabalhando em seus ateliês e oficinas, como Lorenzo Lotto, que também estará no CCBB.

Ticiano absorveu toda a clientela de Giorgione (após a morte deste), que era feita dos aristocratas locais. Mas atraiu também os interesses de príncipes das pequenas e ricas cortes da Itália central: Parma, os ducados de Este e Ferrare, Gonzaga e Mântova. Carlos V, o monarca francês, teve um retrato pintado por Ticiano em 1530. Isso atraiu ainda mais encomendas para o atelier de Ticiano.

Mater dolorosa, Tiziano, 1554, Museu do Prado, Madrid
Ele já dominava a técnica da arte pictórica e sua pintura era enérgica, dramática, colorida, características desconhecidas até então na pintura veneziana. Sua fama e o respeito por ele, por parte de outros artistas, só aumentava.

Começaram seus anos de intensa atividade, recebendo as mais diversas encomendas, desde a pintura de retratos a outras com temas mitológicos, alegóricos, religiosos. Sua capacidade de pintar paisagens o tornava o verdadeiro herdeiro de Giorgione. Muitos comerciantes flamengos e alemães presentes na cidade também lhe encomendavam pinturas.
Ticiano tornou-se o pintor oficial da República de Veneza e sua sobrevivência estava assegurada – não fosse pela quantidade de encomendas que recebia – também por um salário de cem ducados por ano. Ticiano ocupou esse cargo de pintor oficial de Veneza por mais de 60 anos.

Sua residência  e seu atelier sempre foram em Veneza. Lá também abriu uma loja, junto com seu irmão Francesco que a administrava, onde ele vendia suas obras.

Em 1525, Ticiano casou-se com Cecília Soldani, com quem já tinha dois filhos. Mas ela faleceu ao dar à luz à terceira filha, Lavínia. Abatido pela dor, Ticiano não consegue mais trabalhar por vários meses. Aos poucos sua vida vai voltando ao normal, mas Ticiano nunca mais se casou com ninguém. Dedicou-se aos filhos: Pomponio, que seguiu a carreira eclesiástica; Lavínia, que se casou com um nobre rico; e Orazio, o filho mais próximo a Ticiano, manteve-se ao lado do pai, ajudando-o em seu trabalho.

Ticiano faleceu em 27 de agosto de 1576, um mês depois de seu filho Orazio. Ambos foram acometidos pela peste. Ticiano não deixou discípulos diretos, mas a sua grande lição – a pintura pictórica onde impera o colorido, e ainda mais seus ideais humanistas e progressistas – ficou para as futuras gerações como um exemplo de artista a ser seguido.

Uma pequena amostra do que foi este grande pintor, poderá ser vista nesta exposição do CCBB.
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Exposição:
Mestres do Renascimento: Obras-Primas Italianas
Centro Cultural Banco do Brasil - CCBB
Rua Álvares Penteado, 112
Centro - São Paulo
Metrô: Sé e São Bento