terça-feira, 30 de agosto de 2011

Revisitando o mar

Caneta nankin, praia do sul, 2010

Havia um céu azul e um sol muito brilhante ali.


Eu caminhava descalça, feliz, pela praia. Atravessei um pequeno rio que oferecia suas águas ao mar, enquanto ondas salgadas penetravam rio a dentro, indo buscar, em correnteza, esses fluxos de água doce.


No ponto em que atravessei, as águas doces e salgadas empurravam-me levemente em movimentação contrária. Venci-as. Atravessei e continuei caminhando na areia já do outro lado, em outra praia, uma pequena praia quase sem ondas.


Sentei-me um pouco em frente ao mar.


Como gosto de fazer sempre, busquei a profundidade que a linha do horizonte aponta, lá nos confins do mar. Meu pensamento ia além das ondas, da lâmina d'água, dos pequenos pontos de interferência - os barcos - que passavam em direções diversas.


Meus desejos e meus sonhos tomaram um desses barcos e me carregaram para lá. Meus sentimentos me trazendo visões de encontros felizes.

Mas era fim do dia. Sem previsão nem preparação, uma tristeza começou a acompanhar os movimentos da luz do fim da tarde. Escurecia. O sol se inclinava fulminando o horizonte! Ia levando consigo o dia o céu as poucas nuvens as gaivotas. E a mim.


A escuridão cobriu meu coração, e meus olhos - janelas da alma - lançavam dois jatos de vista sobre o mundo, já escuro. Melhor mergulhar nesse mar e que seus movimentos me dirijam. Não há como ser barco sem se entregar às ondas. E esperar que o dia amanheça e que o céu fique azul e que o sol lance seus raios de novo sobre mim...

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

"Um homem é o espelho do outro"

Boris, pastel sobre papel canson, Mazé Leite, 2011


"Suponhamos aquilo que produzimos como seres humanos. Cada um de nós se afirmaria duplamente em sua produção: em relação a si próprio e ao outro. Em minha produção, eu realizaria a individualidade da minha vida. E contemplando o objeto produzido, alegro-me ao reconhecer minha própria pessoa como um potencial que se realizou como algo visível, tangível, objetivo.

O uso que você faça do que eu produzi, e o prazer que eu obtenha, dar-me-ia a alegria espiritual de satisfazer, através do meu trabalho, uma necessidade humana, de contribuir para a realização da natureza humana e de aportar, ao outro, o que lhe é necessário. Nossas produções seriam como espelhos em que nossos seres se irradiam de um para o outro. Um homem é o espelho do outro."


(Karl MARX, in "Economia Política e Filosofia", 1844)


Um dia desses fomos a São Francisco Xavier, interior de São Paulo. Na volta, pensamos que podia ser bom voltar pela rodovia Fernão Dias. Só que no caminho - estrada de terra - nos perdemos, quando vimos este homem aí acima. Paramos. Cumprimentamos o homem que se misturava  ao mato e ao fim do dia, quase noite.

Perguntei: posso tirar uma foto do senhor? Sim, respondeu simpático. E contou que é filho de um lituano que veio para o Brasil na década de 1930, que seu pai falava 5 idiomas, fluentemente, entre eles russo e francês. Que ele - esse homem - se chama Boris; seu sobrenome eu não entendi, mas era algo que soava como soam os sobrenomes do norte da Europa. E o Boris nos indicou o caminho certo de voltar para São Paulo. Trouxe esse homem em meu coração. Esta é minha homenagem a ele.

sábado, 20 de agosto de 2011

Procuram-se desenhistas brasileiros

Foi inaugurado, neste 18 de agosto, o site Urban Sketchers Brasil, que pretende reunir desenhistas de rua brasileiros. A ideia dos administradores do site, João Pinheiro, Eduardo Bajzek e Juliana Russo é juntar correspondentes de todos os estados, entre ilustradores, arquitetos, pintores e pessoas de qualquer área que gostem de fazer desenhos por onde andam.

Os fundadores do Urban Sketchers Brasil:
Eduardo Bajzek, Juliana Russo e João Pinheiro
Essa ideia partiu do site internacional Urban Sketchers, uma grande comunidade internacional que reúne milhares de entusiastas do mundo todo, juntando pessoas que têm como paixão comum desenhar nas ruas de suas cidades, e nas viagens que fazem. Seus desenhos são disponibilizados no site, criando essa grande comunidade internacional de pessoas amantes do desenho feito à mão. Essa organização sem fins lucrativos possui mais de 100 correspondentes de mais de 30 países que recentemente se reuniram no II Simpósio em Lisboa, Portugal. A ideia inicial surgiu do jornalista e ilustrador Gabriel Campanário, espanhol residente em Seattle, EUA.

Os desenhistas são desde arquitetos, ilustradores, pintores, designers gráficos, web desenvolvedores e educadores, mas também envolvem pessoas de qualquer profissão que façam desenhos de observação.

Aquarela de Eduardo Bazjek, igreja ortodoxa do
bairro do Paraíso, São Paulo
Esse grupo segue um Manifesto em comum, uma espécie de carta de intenções que ajuda a organizar os desenhistas. Entre os principais pontos do manifesto estão: “Nós fazemos desenhos de lugares, capturando aquilo que estamos vendo da observação direta, seja em ambientes externos ou internos; nossos desenhos contam histórias do dia a dia, dos lugares em que vivemos, e para onde viajamos; nossos desenhos são um registro do tempo e do lugar; nós somos fiéis às cenas que estamos retratando; nós utilizamos qualquer tipo de midia e respeitamos nosso estilo individual; nós nos apoiamos e desenhamos juntos; nós compartilhamos nossos desenhos online; nós mostramos ao mundo, um desenho de cada vez.”

Entre as regras estão: não desenhar com base em fotografias; evitar edições em Photoshop (a não são ser algum ajuste de contraste, brilho, pouca coisa). A idéia é “congelar” o tempo no caderno, com o material que tínhamos em mãos naquele momento. Também não valem desenhos de sessões de modelo vivo.

Desenho de João Pinheiro, igreja ortodoxa, bairro do Paraíso, São Paulo
João Pinheiro, um dos organizadores brasileiros do blog nacional dos desenhistas, se entusiasma com a ideia de juntar gente que desenha de todo o Brasil: “O Brasil, com sua proporção continental, incrível variedade cultural, étnica, além de uma rica história artística, que apesar de curta, já tem artistas conhecidos mundialmente e tantas outras coisas extraordinárias, nossa música, por exemplo, tem tudo para ser uma vitrine rica e variada de desenhistas ímpares. Desculpem o tom excitado, mas já estou imaginando os desenhos que aparecerão aqui todos os dias, do Oiapoque ao Chuí, mal posso esperar.

Desenho de Juliana Russo, igreja
ortodoxa, bairro do Paraíso, São Paulo
Ele reafirma que o principal objetivo do site que foi criado esta semana “é integrar artistas que fazem desenhos de cenas urbanas, em suas respectivas cidades, ao redor do Brasil e principalmente incentivar a prática do desenho.”

A ideia é que haja pelo menos um desenhista de cada estado brasileiro. Serão encorajados encontros regulares em todas as cidades onde um “urban sketchers” organize um evento. Também serão realizados sketchcrawls (desenhos em grupo), assim como encontros nacionais. Também será encorajada a participação de desenhistas brasileiros nos Simpósios internacionais do Urban Sketchers, como o que aconteceu em Lisboa neste ano.


João Pinheiro, assim como Eduardo Bajzek e Juliana Russo, conclamam os desenhistas brasileiros, os “retratistas obsessivos do cotidiano” para que se juntem a nós nessa empreitada. Vamos juntar nossos cadernos de desenho, vamos invadir todas as ruas desse imenso Brasil, registrando o cotidiano do nosso país e de nossa gente!

Se você é um desenhista brasileiro, retratista obsessivo do cotidiano, está convidado a se juntar a nós, neste grupo. Ou mesmo se conhece algum amigo ou amiga que se interessa em participar, entre no site http://brasil.urbansketchers.org e veja como solicitar a participação.