quinta-feira, 29 de setembro de 2011

30 mil acessos completados!

30 MIL ACESSOS EM 1 ANO E 5 MESES!


Este blog fala de Arte há pouco mais de um ano, mais precisamente desde abril de 2010. São 17 meses de vida de um espaço onde o assunto é um só: Artes Plásticas.


Temos tido uma boa repercussão do que aqui se publica: comentários que são postados, e-mails que são enviados, incentivos de amigos, sites de parceiros que nos procuram propondo parcerias... além de saber que os textos deste blog têm servido para auxiliar estudantes e professores em seus trabalhos sobre o tema da Arte. Textos livres, diga-se de passagem... Quem quiser copiar que copie, porque estas ideias devem ser mesmo espalhadas o máximo possível. Este blog também me rendeu um convite: escrever um livro para professores de Arte do ensino médio, que sirva como um guia para suas aulas. A ideia está sendo gestada...


Os acessos têm vindo de todos os cantos do mundo: Brasil, Portugal e Estados Unidos estão na frente entre os que acessam diariamente este blog. Fora eles, França, Alemanha, Argentina, Reino Unido, Itália, Espanha e até leitores de terras longínquas como os Emirados Árabes, a China e a Rússia têm passado por aqui! A facilidade de tradução online tem ajudado estas ideias escritas em minha língua-mãe a serem lidas por qualquer pessoa de qualquer outra língua, criando uma grande rede em torno da Arte.


Isso nos incentiva a continuar utilizando este Blog para divulgar não só meus estudos pessoais (desenhos e pinturas), mas principalmente minhas ideias sobre Arte. Tenho uma visão crítica sobre a arte que se produz nos dias de hoje; tenho uma visão crítica sobre o mundo de hoje; e uma coisa está diretamente vinculada à outra. Eu defendo explicitamente a pintura figurativa, em especial a Arte Realista, que é a que eu pratico; e não só eu, mas dezenas de pessoas que frequentam o Atelier de Maurício Takiguthi, aqui em São Paulo. Além de outros pelo Brasil e pelo mundo. Nisto eu não estou só!

Seguimos de perto mestres do passado, como Caravaggio, Rembrandt, Vermeer, Ticiano, Rubens, Velazquez, José Ribera, Gustave Courbet, Delacroix, entre outros, mas também acompanhamos com atenção os contemporâneos como Antonio Lopez, Lucien Freud (recentemente falecido) e os realistas norte-americanos, como Burton Silverman e David Leffel, além de outros.

Por tudo isso a orientação é: vamos continuar! E que venham os próximos 30 mil acessos! Bem vindos todos e obrigada a todos os que passeiam por estas páginas!


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Para comemorar aqui vão alguns estudos com pastel em tons de cinza:







sexta-feira, 23 de setembro de 2011

“Quando o tempo for propício” *

Há um costume entre as pessoas mais velhas de qualquer período histórico: um olhar para seu passado com certa melancolia, contaminada pelo sentimento de que “naquele tempo, sim, as coisas andavam melhores no mundo”...
Mas vamos e venhamos, vivemos num momento histórico privilegiado, por tantos desafios lançados às mentes humanas nestes tempos nebulosos. Há que se estar atento a cada movimento, quando nos encontramos em meio ao nevoeiro: um pode nos salvar; outro pode ser o fim. E as sereias cantam docemente, enganando até mesmo velhos marinheiros.
Tempo rico, tempo são. Tempo louco.
O mundo anda mal. Crise econômica generalizada atingindo principalmente os países ricos, como os EUA, onde hoje mais de 46 milhões de pessoas vivem na margem da pobreza. Em Nova Iorque de cada cinco, uma pessoa está nessa situação! Fora os cerca de um bilhão de seres humanos no planeta que ainda passam fome em pleno século XXI!
O mundo anda mal também nos aspectos, digamos, mais subjetivos. De uma subjetividade estranha, porque, de tão pesada, atinge a todos nós em pleno fígado. Todos nós??? De quem se trata esse “nós”? “Ele inclui bispos e gerentes de banco?” pergunta Terry Eagleton em seu livro As ilusões do pós-modernismo. Não, porque neste mundo de seres iguais uns são “mais iguais” do que os outros. Esses “mais iguais” são os promotores desse festival de estupidezes a que assistimos, que nós podemos intitular de “o mais novo pensamento dos novos capitalistas neoliberais e pós-modernos”:
- foi decretado que o sonho humano que animava milhões de pessoas pelo mundo não é mais possível: o Socialismo acabou;
Auto-retrato, de Egon Schiele
- foi instaurado o reino do individualismo e agora é o salve-se quem puder, cada um por si, deus contra todos;
- foi instalado o reino do Instantâneo, do Superficial, do Efêmero – contemporâneo do macarrão que se cozinha em 3 minutos e se come em um;
- foi decretada que a Quantidade (de dinheiro, de prazer, de consumo, etc) se sobrepõe à qualidade;
- está deliberado que a Aparência é um valor em si mesmo e que a Visualidade reina sobre qualquer conteúdo. Com isso procure-se qualquer clínica de estética e se re-estetize a você mesmo;
- foi decidido que a Globalização tem predominância sobre as regionalidades e as nacionalidades;
- foi deliberado que o indivíduo narcísico tem mais valor do que qualquer grupo ou coletividade; que do alto do seu posto, o Eu individual NADA PODE fazer para mudar o mundo e reinventar outra ordem social, porque “a história acabou”;
- foi decretado que a mídia é o grande porta voz dos discursos desconstrutores e reconstrutores do mundo, em afinidade com as ideias pós-modernas;
- está deliberado que a Arte Contemporânea continuará sendo a repetição de fórmulas que já duram cem anos, mas que são congruentes com esse espírito que de tão moderno chega a ser pós-moderno, em seus discursos sem sentido.
Porque está decretado que nenhum discurso mais precisa ter sentido, a linguagem está livre para-o-que-der-e-vier e qualquer um pode dizer o que quiser, na língua que desejar, porque TUDO o que importa é a expressão de qualquer discurso.
E também decretou-se que a Arte morreu. Depois re-decretou-se que tudo é arte, incluindo as secreções do corpo humano... Depois decreta-se que arte é discurso e que basta uma boa ideia e um bom curador para que qualquer coisa alcance o status de arte. Mas tem um detalhe importante: quem decide o que é Arte hoje é uma entidade denominada Mercado, porque tudo o que o homem produz nos dias de hoje só tem existência se se transformar na simbologia capitalista que produza mais-valia.
Os mais velhos podem ter alguma razão. Até há poucas décadas atrás (duas, no máximo) o mundo era mais simples: havia o sonho socialista, de um lado, e os que reagiam contra a ideia de que o capitalismo não era o melhor dos mundos: os reacionários.
Mas o capitalismo não é o melhor dos mundos: basta olhar para as ruas ocupadas por multidões sem rumo, engarrafadas, se movimentando em seus automóveis em direção... ao que mesmo? Depende. Pode ser até o shopping center ali da esquina!
Moça gorda, de Lucien Freud
Mas para “re-significar” (eles adoram essas expressões) o pobre coitado que está ali na luta pela sobrevivência, basta algumas horas de reconstrução da sua figura, enfumaçada pelo status quo


- disponibilize-se salas de musculação; cirurgia plástica; lipoaspiração; rejuvenescimento; massagem; maquiagem definitiva; alisamento permanente; botox; alongamento de pênis; depilação masculina e feminina; vitaminas a, b, c do alfabeto inteiro disponíveis; cirurgias de redução do estômago crescido de quem comeu todas as calorias estimuladas pelas indústrias fornecedoras dos supermercados; drogas para dormir, ter tesão, turbinar o cérebro; revistas que dariam inveja ao famoso Jack, estripador: pernas, braços, barrigas-tanquinho, rostos esticados; bundas, coxas de gostosas e gostosos, cabelos loiros e pretos alisados, mais loiros do que pretos; toda a farmacologia disponível e pesquisada pela imensa indústria farmacêutica que promete o aumento da expectativa de vida... ufa! Para viver dez anos a mais nesse inferno?
Distante da ideia do coletivo, o indivíduo lançado ao seu mundinho umbilical pensa que, finalmente, no reino do “eu” ele vive no melhor dos mundos: pois “O Diabo o levou a um lugar alto e mostrou-lhe num relance todos os reinos do mundo. E lhe disse: Eu te darei tudo isto e tudo será teu, se prostrado me adorares!” Diz o espírito do mundo capitalista a quem quiser ouvir...
Primeiros dias da primavera, de Salvador Dali
Mas há uma saída. E ela é coletiva.
Há que se voltar mais uma vez para o Real, para o mundo, para a história, para o homem. “A Modernidade acreditava na história”, diz o poeta Affonso Romano, mas a pós-modernidade é essa ausência de qualquer celebração utópica. O mundo se transformou num grande mercado, ele acrescenta. Os movimentos transformadores do mundo são hoje desmoralizados e desmerecidos. Hoje não se incentiva o agrupamento, a coletividade. A noção de História se encontra confusa, assim como a noção de realidade objetiva tornou-se “suspeita”. O nevoeiro se espalhou por toda parte.


E alcançou até a arte. De tão nebulosa, ela nem precisa ser vista, basta crer, basta ter fé na intenção do artista e pronto. A Arte existe, se é discurso.
Mas, no entanto a Terra se move, como disse Galileu Galilei lá pelos idos de 1615...
E a nós, nos resta engendrar a subversão que porá tudo de pernas pro ar, “quando o tempo for propício”...
(Trecho de oração ao Tempo, Caetano Velloso)

quarta-feira, 21 de setembro de 2011

Preparando a primavera

Les Nymphéas, de Claude Monet, 1920-1926, óleo sobre tela, 602x219cm, Museu de l'Orangerie, Paris
As torrentes e os rios degelam de repente
Primavera em fulgor ressurge sem tardança!
No campo aflora em tudo alegria e esperança
enquanto o velho inverno, extênue e decadente
às ásperas montanhas se recolhe e lança
com os estertores finais, nos ares regelados
granizo em profusão que toda a terra envolve.
Cobrem-se verdejantes e distantes prados
com branca e pura neve e o sol logo a dissolve
tudo renasce e vibra com força e fantasia
Natureza rebenta em cores e poesia
E como nesse campo existem poucas flores
Enfeita-se com vestes humanas multicores.

Contempla desta altura a toda imensidade
e observa ao longe em direção à cidade
do vão da porta escura, em grande confusão
surge uma colorida e ávida multidão
Todos querem o calor do sol com ansiedade...
(...)
(O Fausto, de Goethe)

E eu vou, por aqui, preparando-me para uma primavera interrompida por um outono, que virá em poucos dias... Interrompendo a estação das flores, vou subindo para o norte hemisférico em busca das cores. Um frio um tanto a mais, mas o aquecimento interno que eu preciso. Cá embaixo, ao sul do equador, as flores estão chegando. Lá em cima, ao norte, cores me apontam novos rumos. Moças com brincos de pérola me indicam um mergulho em tubos de tinta e em pinceis de marta e mangouste que atravessarão as minhas mãos. Vou me banhar com aquelas cores seculares e profundas. Eu volto.

Monet pintando à beira da floresta, tela de John Singer Sargent, pintor realista, 1885