quinta-feira, 3 de setembro de 2015

Minha arte, meu grito



Minha arte, meu grito!

Para se juntar ao grito de dor e desespero dos milhares de imigrantes que se movem hoje em dia pelo mundo, incluindo o Brasil, para onde estão vindo sírios, haitianos, bolivianos, africanos.

Em memória do bebêzinho de 3 anos que apareceu morto nas areias de uma praia ontem, ao lado de seu irmão de 5 anos de idade. Seu nome era Alyan Kurdi. Sua mãe também morreu afogada. Só seu pai sobreviveu.

Em sua memória, desenhei estes dois meninos acima. Também são imigrantes, como ele.

Olhe para esses olhos! Poderão ler a dor de seus pais.

Também copio abaixo as manchetes dos últimos meses. Leiam, uma a uma!

E pensem, pensem muito!

Que mundo é este, que sistema de injustiça é este que abriu as portas para a morte de seres humanos que somente buscam desesperadamente melhores condições de vida? O nome disso é capitalismo.

Malditos sejam todos os que lucram com as guerras!


AS MANCHETES:


O corpo de um bebê morto encontrado na praia ontem
Um cargueiro abandonado em alto-mar se dirigia com 450 imigrantes a bordo
Outros 20 podem ter morrido
Pelo menos 29 imigrantes morreram de frio no barco
Outras 200 pessoas foram consideradas desaparecidas
Homem deposita flores sobre caixões de imigrantes que morreram
941 pessoas foram tiradas do mar
121 passageiros, dos quais dez morreram a bordo
Foram resgatadas ao menos 300 pessoas, entre elas 30 crianças e uma grávida
480 imigrantes foram resgatados
400 pessoas foram consideras desaparecidas no mar Mediterrâneo
700 imigrantes que buscavam refúgio na Europa e seu barco naufragou na costa da Líbia
As equipes recuperaram 24 corpos
A maioria das pessoas que estavam na embarcação continua desaparecida
Ao menos três pessoas, incluindo uma criança, morreram
As equipes de resgate salvaram 28 pessoas e recuperaram 24 corpos
Nações Unidas afirmaram que mais de 800 pessoas devem ter morrido no naufrágio
Cerca de 600 imigrantes foram levados a centros de detenção
Mais de 700 pessoas morreram na pior tragédia do tipo
Cerca de 5.800 viajantes clandestinos foram resgatados neste final de semana
Um caminhão foi encontrado com os corpos de 71 refugiados
Mais de 2.500 pessoas morreram fazendo a travessia neste ano


quarta-feira, 2 de setembro de 2015

John White Alexander

"Walt Whitman", John White Alexander, óleo sobre tela, 127 x 101 cm
Tempos caóticos estes em que vivemos atualmente. As dispersões são muitas, as preocupações imensas. Faz semanas que não acho inspiração para postar aqui. Há crise em vários aspectos de nossas vidas. Mas há espaços para a esperança, sempre há. Que renascem sempre que nos deparamos com uma boa surpresa, uma alegria. A minha alegria de ontem foi descobrir este pintor norte-americano do final do século XIX, com uma pintura tão bela e bem feita: John White Alexander.


John White Alexander
Os Estados Unidos têm uma grande tradição de arte realista, que atravessaram até mesmo os tempos mais terríveis da perseguição macartista, que ameaçava a todos os que tinham ideais socialistas, mas também os artistas figurativos. A pintura figurativa, durante a Guerra Fria, era considerada pintura de comunistas, pela direita norte-americana. Naqueles tempos, era propagandeada e incentivada pelo Estado Maior daquele país a arte abstrata como a verdadeira arte moderna. Em contraposição à arte soviética, que também tentava dirigir esteticamente seus artistas na direção da arte chamada de “realismo socialista”. Mas nos Estados Unidos, mesmo assim, os artistas resistiram, sendo que hoje este país é um dos maiores produtores de artistas figurativos e mesmo realistas, como David Leffel, Richard Schmid e Burton Silverman.

John White Alexander é um dos precursores destes excelentes realistas norte-americanos. No século XIX, uma grande leva de pintores deste país se mudaram para Paris com o objetivo de estudar pintura. Acompanharam as mudanças estéticas que vinham ocorrendo naquele momento na França, com o surgimento da pintura realista de Gustave Courbet e principalmente dos Impressionistas.

John White Alexander nasceu na Pensilvânia, Estados Unidos, no dia 7 de outubro de 1856. Foi pintor e também ilustrador.


"Um raio de luz solar",
John W. Alexander, óleo sobre tela
Tendo ficado órfão ainda criança, foi criado por seus avós. Começou a trabalhar com a idade de 12 anos, como telégrafo na empresa Pacific and Atlantic Telegraph Company. Lá, seu talento foi descoberto por um dos chefes da companhia, um homem de nome Edward J. Allen, que resolveu ajudar o menino a desenvolver seus talentos. Enquanto se aperfeiçoava, John White fez vários retratos da família de seu patrão, além do próprio. Com 18 anos de idade mudou-se para New York, onde foi trabalhar no semanário Harper's Weekly, como ilustrador e cartunista político. Lá já estavam trabalhando outros ilustradores conhecidos, como Abbey e Pennel. 

Após três anos de aprendizado e trabalho, ele viajou para Munique, na Alemanha, para seu primeiro treinamento formal. Como não tinha dinheiro, foi viver na pequena aldeia de Polling, na região da Baviera, onde trabalhou com Frank Duveneck. Com ele, viajou para Veneza, onde conheceu o pintor norte-americano James Abbott McNeill Whistler, que vivia entre a Inglaterra e França, de quem recebeu orientação. John White Alexander continuou estudando em cidades como Florença, na Itália, em Paris, França, e nos Países Baixos.

Voltou para New York em 1881 e logo se tornou famoso como pintor retratista. Dois anos depois participou pela primeira vez de uma exposição, no Salão de Paris de 1893. Seu trabalho foi muito elogiado e ele foi eleito para a Sociedade Nacional de Belas Artes de Paris. Recebeu diversos prêmios.

Em 1889 pintou o retrato do grande poeta Walt Whitman, a pedido da senhora Jeremiah Milbank, que também lhe encomendou um retrato do marido. Nos Estados Unidos, desde 1901 recebeu diversos prêmios e honrarias, como os de ser nomeado Cavaleiro da Legião de Honra, membro da Academia Nacional de Desenho, da American Academy of Arts and Letters. Presidiu a Sociedade Nacional de Pintores Muralistas entre 1914 e 1915.

Suas obras estão espalhadas em vários museus dos Estados Unidos e Europa, como o Metropolitan Museum of Art, o Brooklyn Museum, o Los Angeles County Museum of Art, o Fine Art Museum de Boston, além de ter um grande mural no hall de entrada do Museu de Arte do Instituto Carnegie em Pittsburgh, intitulados “Apoteose de Pittsburg”, que cobre três andares de parede.

John White Alexander morreu em Nova York em 31 de maio de 1915.

Abaixo, algumas de suas lindas pinturas:


"Repouso", Alexander, 1895, 132 x 161 cm, Metropolitan Museum of Art, N.Y.
"Painel para sala de música", Alexander, 1894, 197 x 94 cm, Detroit Instituto de Arte
"Memórias", Alexander, 1903, 158 x 132 cm, Brooklyn Museum
"Paisagem", Alexander, 1890, 77 x 114 cm
"Althea", Alexander, 1898, 161 x 133 cm, Coleção particular
"Isabela e o pote de manjericão", Alexander,
1897, 192 x 92 cm, Metropolitan Museum of Art
"Estudo em preto e verde", John W. Alexander, óleo sobre tela,
50 x 40 cm, Metropolitan Museum of Art
"Um momento preguiçoso", Alexander, 1885, 86x66 cm, Coleção particular
"Preto e vermelho", Alexander, 1896, 120x90 cm, Coleção particular
"Anna Palmer Draper", Alexander, 1888, 183 x 122 cm, Coleção particular

segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Pernambuco, primeiro retrato do Brasil

Tereza Costa Rêgo ao lado de sua tela "Batalha dos Guararapes"
Nesta quarta-feira, 12 de agosto, o Centro Cultural dos Correios, no Rio de Janeiro, abre uma exposição retrospectiva sobre a pintura pernambucana que alcança do século XVII até os dias atuais. Intitulada “Pernambuco, primeiro retrato do Brasil”, a mostra trará desde obras de Frans Post, o holandês que fez os primeiros retratos do Brasil, em Pernambuco, até Tereza Costa Rêgo, pintora atual, que já entrevistamos neste Blog (leia aqui).

Segundo o portal do Jornal do Comércio de Pernambuco, “enquanto o modernismo, no mundo e no Brasil, começou a insistir de maneira quase autônoma em imperativos como o construtivismo, os pintores pernambucanos torciam o nariz para ditaduras estéticas”. Seus artistas locais continuaram pintando as paisagens brasileiras do nordeste. Pernambuco foi o local onde se inaugurou, no continente sul americano, a pintura de paisagens, com os pintores holandeses que vieram para cá a convite de Maurício de Nassau, em especial Frans Post.

Marcos Lontra, crítico e historiador da arte, afirma que Frans Post foi o primeiro artista a pintar a paisagem brasileira “mais de um século antes da chegada da Missão Artística Francesa ao Brasil, em 1816”. Ele diz ainda que “a pintura pernambucana foi fundamental para  a formação de um olhar na pintura brasileira, que se estrutura com Post, se espraia com acadêmicos como Telles Jr, fundamentando-se com Cícero Dias no Modernismo brasileiro”. Marcos Lontra é o curador desta exposição.

"Paisagem brasileira", pintura de Frans Post, séc. XVII
“A paisagem pernambucana é um dos grandes temas da paisagem brasileira. O Brasil ainda precisa entender e reconhecer melhor a contribuição de Pernambuco para a arte contemporânea do Brasil. Quando se fala do modernismo, repetimos quase sempre o discurso hegemônico paulista. No caso pernambucano, o modernismo tem uma relação direta com o Movimento Regionalista (liderado por Gilberto Freyre). Não é uma questão de primazia, de dizer o que é melhor ou pior, mas de especificidade do Modernismo pernambucano. Através dos diálogos com a Europa, por meio das famílias ricas, o moderno é sempre pensado em diálogo com o regional”, apontou Marcos Lontra ao Diário do Comércio.

Esta mostra traz obras de cinco séculos de artistas pernambucanos: de Frans Post a Albert Eckout, de Telles Júnior a Cícero Dias, de Francisco Brennand a Tereza Costa Rêgo, que participa com um de seus grandes paineis sobre a Batalha dos Guararapes. “Tereza é uma pintora quem tem a coragem de enfrentar questões históricas com trabalhos violentos”, observou o curador, que também ressaltou o caráter cultural de formação de identidade nos paisagistas pernambucanos.

Pernambuco, lugar da mais rica tradição cultural, sempre teve altíssima produção artística, ainda não devidamente reconhecida, por causa da visão hegemônica que recai praticamente só sobre a produção sudeste, em especial São Paulo e Rio. Mas em Pernambuco, poetas, pintores, fotógrafos, cartunistas, arquitetos, dramaturgos, editores, escultores, músicos, dançarinos, cantadores, cineastas, pensadores, escritores (sem falar na imensa quantidade de artistas mais ligados às tradições populares da cultura pernambucana) foram sempre os responsáveis pela efervescência cultural do meu Estado, onde se destacam nomes como os Vicente do Rego Monteiro, João Cabral de Melo Neto, Manuel Bandeira, Aloísio Magalhães, Ariano Suassuna, Abelardo da Hora, Kleber Mendonça Filho, Tereza Costa Rêgo, Antonio Nóbrega, etc.

Abelardo da Hora, escultor pernambucano falecido em 2014, com uma de suas esculturas