sexta-feira, 22 de maio de 2020

TEMPO CINZA 8

Hoje foi divulgado um vídeo de uma reunião governamental onde se escarram palavrões e ameaças. De morte, inclusive. Babando, o ódio escorre da boca do maldito presidente da república federativa como serpentes fascistas.

"Será que apenas os hermetismos pascoais
Os tons, os mil tons, seus sons e seus dons geniais
Nos salvam, nos salvarão dessas trevas...
E nada mais?"

Obra: SERPENTE, Victor Marie Hugo, 1866

quinta-feira, 21 de maio de 2020

TEMPO CINZA 7

Todos os dias ela acorda e no minuto seguinte um calafrio percorre seu corpo: lá fora, na rua, o perigo ronda todas as vidas.

Perigo dividido por dois: um minúsculo organismo, que nem célula tem, a que deram um nome de laboratório, Covid-19, parecendo com aqueles nomes que os astrônomos dão a galáxias distantes no espaço-tempo, como M-31, NGC-292...

E o outro perigo, que também ronda invisível pelas ruas e avenidas, e que é tão mortífero - ou mais - quanto o primeiro. O nome que o classifica hoje virou não só sinônimo, mas adjetivo: fascismo.

Ela às vezes não tem vontade de sair da cama...

Obra: ANNABEL DORMINDO, Lucien Freud, 1988

TEMPO CINZA 6

Ontem o menino de 14 anos João Pedro Mattos foi assassinado pela PM do Rio.

No mesmo dia em que morreram de uma só vez quase 1200 brasileiros.

No mesmo dia em que o maldito presidente faz piada.

Meu abraço distante e minha solidariedade à família de João Pedro Mattos.

Obra: MÃE COM O FILHO MORTO, Käthe Kollwitz, 1903

TEMPO CINZA 5

Uma morte a cada 73 segundos...
Uma morte a cada 73 segundos...
Uma morte a cada 73 segundos...
Uma morte a cada 73 segundos...
a cada 73 segundos...

Passamos dos mil mortos em 24 horas...

Obra: TRISTEZA, Paul Cézanne, 1867

TEMPO CINZA 4

Quando eu era criança, gostava das histórias que meu pai contava. Eram histórias do sertão, do povo do sertão, de um Brasil que ainda existe lá no fundão do Brasil. Uma delas, que nunca esqueci, foi a de um cachorro. Seu dono, parente de meu pai, havia morrido e sido enterrado num cemitério desses que nem muro têm, como a gente ainda vê no interior do país. Enterrado a sete palmos, com uma cruz de madeira e talvez alguma coroa de flores, naturais ou não. O cãozinho permaneceu vivendo na mesma casa, que também era sua, com os outros da família. Mas seu lado era junto do companheiro morto, e todas as noites e até o fim de sua pequena vida - disse meu pai - o cachorrinho seguia seu caminho até o cemitério e dormia a noite inteira sobre a cova de seu dono.

Então em homenagem aos animaizinhos que nesta pandemia estão ficando sós, vai esta pintura.

Obra: O LAMENTO DO CÃO PASTOR, Edwin Landseer, 1837