quinta-feira, 18 de dezembro de 2014

Ateliê Contraponto, espaço de resistência


No dia 19 de março de 2014 foi inaugurado em São Paulo o Ateliê Contraponto de Arte Figurativa. Nove meses depois o resultado avaliado é muito positivo. O Ateliê Contraponto já deu os primeiros largos passos para conquistar seu espaço na arte paulistana, o que tende a crescer e transformar esse ateliê em um centro de referência artístico. O espaço é dirigido por mim, Mazé Leite, por Alexandre Greghi, Luiz Vilarinho e Marcia Agostini (artistas e professores). A localização é excelente, dentro de uma vilinha muito agradável entre a rua da Consolação e a Avenida Angélica, próximo do metrô Paulista e de fácil acesso por transporte público.

Em meio ao sistema fechado e exclusivista da chamada arte conceitual contemporânea, que ainda domina o mercado e é gerida por ele, ateliês de pintura figurativa, como o Contraponto, surgem como verdadeiros lugares de resistência. Resistência em nome da boa pintura, da manutenção da qualidade técnica, da prática permanente do desenho como espinha dorsal de uma boa obra; e mantendo-se na trilha demarcada pelos que fizeram as Belas Artes e que carinhosamente os chamamos de “os velhos mestres”.


Esse caminho, o das Belas Artes, tem pelo menos 700 anos se nos vincularmos ao pintor italiano Giotto di Bondone (1267-1337), o que primeiro ousou buscar a sombra e o volume numa pintura. Ou pode ser uma trilha aberta há 534 anos, se considerarmos que o também italiano Tiziano (1480-1576) foi quem começou a dar as primeiras pinceladas fora das linhas do desenho. Ticiano foi um dos pioneiros do estilo pictórico, rompendo os limites da linha, abrindo mão de descrever os detalhes do que via em prol do que era essencial aos olhos. Ou podemos nos vincular ao gênio espanhol de Diego Velázquez (1599-1660) cuja visão das massas de cores e valores abria mão da descrição, do detalhe, em prol da essência. Ou nos remeter a outro gênio, contemporâneo de Velázquez, o holandês Rembrandt van Rijn, o mestre da Luz. Ou simplesmente dizer que continuamos a fazer arte, porque há 25 mil anos atrás seres humanos como nós resolveram usar paredes de cavernas para se expressar pictoricamente. 

Ou seja, estamos muito bem acompanhados neste caminho da Beleza na arte da pintura! Essa companhia toda nos inspira, nos fortalece, nos movimenta.


Este ano, a galeria do Ateliê Contraponto realizou cinco exposições de trabalhos de mais de 60 artistas: a primeira exposição foi a de pinturas de Maurício Takiguthi, pintor realista, que inaugurou o espaço do Ateliê Contraponto; em seguida, 46 pessoas participaram da exposição coletiva em homenagem à uma modelo antiga e intitulada “Vera França Modelo Vivo”; após esta, foi a vez da artista Lise Forell expor mais de 20 obras pintadas ao longo de uma carreira de mais de 60 anos; em seguida, Edson Souza trouxe para o ateliê sua exposição de pinturas de paisagem urbana; para finalizar, Gonzalo Cárcamo e cerca de doze alunos expuseram suas aquarelas como resultado de um ano de trabalho. Em todos estes eventos, mais de 700 pessoas passaram pelo Ateliê Contraponto.


Mas o espaço também serve para a produção pessoal de seus artistas e também para as aulas de Desenho, Pintura a óleo, giz Pastel e Aquarela. Em nove meses de funcionamento, o Ateliê Contraponto encerra o ano com mais de 20 alunos.


Para 2015, o Ateliê Contraponto planeja intensificar ainda mais suas atividades: além das aulas e das exposições, promover workshops com artistas convidados (teóricos e práticos), ter com regularidade sessões com modelo vivo, intensificar os estudos sobre a arte figurativa e estreitar ainda mais os laços com outros artistas e outros ateliês, porque entendo que quanto mais gente, melhor para todos!


O meu sonho pessoal neste Ateliê é que ele seja um espaço coletivo, compartilhado, aglomerador de outros artistas. Um espaço de arte que não entre na prática mesquinha da disputa e da competição, mas que promova a colaboração. Praticar uma arte que vá além da mercadoria! Seguir na busca do Belo como fonte de inspiração e alento para todos! Sentir o prazer intelectual de romper nossos limites, ir além das formas, ultrapassar as bordas do mundo, buscar o que há mais lá dentro, no fundo... escondido dos olhos dos apressados…

Um Feliz 2015 para todos!

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

A Grande Onda de Hokusai no Grand Palais de Paris

A grande onda fora da costa de Kanagawa, cerca de 1831, Hokusai
Desde o dia 1º de outubro e até o dia 18 de janeiro de 2015 quem estiver em Paris poderá admirar de perto esta obra-símbolo do grande artista japonês Katsushita Hokusai (1760-1849), além de muitas outras. Bastante conhecida, esta obra-prima faz de seu autor o artista japonês mais conhecido ao redor do mundo.


Autorretrato, Hokusai
O Grand Palais de Paris está fazendo uma retrospectiva bastante grande da obra de Hokusai. Sua obra, que inclui pinturas, desenhos e gravuras encarna a alma da cultura do seu país, especialmente suas paisagens. A exposição apresenta cerca de 500 obras e grande parte delas não tinha ainda saído do Japão e farão parte do acervo do Museu Hokusai, que será inaugurado em Tokio em 2016.

Hokusai, que nasceu em 1760, é, junto com Hiroshige, nascido em 1797, um grande mestre do desenho. Ele mesmo se autonomeava o “Louco do desenho” porque era um apaixonado por seu ofício. Foi Hokusai quem inventou o termo “manga” (que designa o conjunto dos cadernos de desenho de croquis (desenhos de observação, anotações, apontamentos), que hoje conhecemos mais como sketchbooks). Ele tem uma produção muito grande desses apontamentos feitos ao longo de sua larga vida. Hokusai se impôs a disciplina de fazer pelo menos um desenho por dia!

“A grande onda” faz parte de um conjunto de 36 vistas do Monte Fuji, todas feitas por ele. Ele mostra os homens lutando contra os elementos do mundo flutuante dentro da visão budista; a impermanência do mundo, onde a fragilidade do homem aparece diante da grande natureza. Um mundo em movimento e o homem no movimento desse mundo.


Cartaz da mostra do Grand Palais
O monte Fuji, um dos ícones turísticos do Japão, pode ser avistado a centenas de kilômetros de distância e tem sido um lugar de peregrinação para os japoneses de tradição xintoísta. A cena mostra uma tempestade na Baía de Tokio, em que três barcos com pescadores lutam contra as ondas, e os homens seguram-se a seus barcos. Levando-se em conta a altura média de um homem, foi feito um cálculo de que Hokusai teria pintado essa onda numa proporção de mais ou menos uns 15 metros de altura.

A primeira onda - do primeiro plano - parece preparar a quebra da grande onda. As ondas evocam o movimento contínuo e perpétuo do mar, do tempo e da vida. O Azul da Prússia, o Azul mais claro e o Branco estão claramente separados, as formas são marcadas com um círculo preto característico do estilo de Hokusai. As formas, cheias e vazias, também dão movimento como se simulassem o conhecido símbolo do Yin e do Yang, em perfeita complementaridade.

Diz-se que Hokusai se inspirou na perspectiva ocidental, para construri seus trabalhos. Por outro lado, sua influência como artista sobre pintores ocidentais e gravadores é ainda maior. Desde Van Gogh, Pissarro, Degas, Renoir e Monet tinham cópias das “Trinta e seis vistas de Monte Fuji”. Além deles, Claude Debussy, compositor de “O Mar”, possuía um exemplar de “A Grande Onda”.

Para saber mais sobre Hokusai, clique aqui.

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Toulouse-Lautrec viveu para a arte

Toulouse-Lautrec, por Boldini
Henri Marie Raymond de Toulouse-Lautrec-Monfa ou simplesmente Toulouse-Lautrec, é um pintor francês do final do século XIX, que nasceu exatamente há 150 anos atrás, em 24 de novembro de 1864. Nasceu na cidade de Albi, localizada no sul da França, na região dos Pirineus. De família de antigos nobres, da linha dos condes de Toulouse, ele viveu entre os castelos Du Bosc e Celeyran.

Até o século XIX, o casamento dos nobres era comum que ocorresse entre primos, para evitar que o patrimônio fosse dividido. Os pais de Toulouse-Lautrec eram, então, primos de primeiro grau, que se separaram, sendo que o pequeno Henri foi criado pela mãe, Adèle. Até os 10 anos de idade, ele levava uma infância feliz junto com sua mãe, até que, em 1874, foi acometido de uma enfermidade que afetou o desenvolvimento dos seus ossos, e por isso Henri de Toulouse-Lautrec, adulto, media apenas 1,52 m de altura. Seu tronco era o de um adulto normal, mas suas duas pernas eram muito curtas. Além disso, tinha a língua presa e isso afetava sua fala. Mas nada disso impediu que ele fosse um grande gozador e provocador. E se divertia com o desconforto que causava nas pessoas.

Toulouse-Lautrec
Em julho de 1881, depois de tentar sem sucesso participar de uma exposição em Paris, foi aceito na sessão de outubro da cidade de Toulouse. Ele já tinha decidido se tornar um artista, apoiado pelo seu tio Charles. Acabou convencendo a mãe e foi a Paris, onde visitou o ateliê de René Princeteau, amigo de seu pai e pintor.

Incapacitado para participar de atividades que exigiam um físico normal, Toulouse-Lautrec viveu para sua arte. Acabou se tornando pintor, ilustrador e um grande litogravador. Ele registrou com seus desenhos e pinturas a vida boêmia da Paris do final do século XIX. Na década de 1890 ele foi também ilustrador da revista de humor semanal “O riso”.

Henri de Toulouse Lautrec é a própria alma do bairro de Montmartre, reduto de artistas em Paris até os dias de hoje. Suas pinturas retratam lugares como o conhecido cabaré “Moulin Rouge”, teatros, cafés e casas de prostituição, onde ele acaba contraindo sífilis. Dizem que ele tinha um quarto particular no bordel “A Flor Branca”. Três das mulheres mais conhecidas que Toulouse-Lautrec representou eram Jane Avril, cantora, Ivette Guilbert e Louise Weber, dançarina que criou o can-can e mais conhecida como La Goulue.

Ele ensinava pintura em seu ateliê. Uma de suas principais modelos, Suzanne Valadon, que teria sido sua amante, era também uma de suas alunas dedicadas.

A lavadeira, Toulouse-Lautrec,
óleo sobre tela, 1889
O pintor Toulouse-Lautrec, apesar de todo o sofrimento físico que passou, é considerado um artista genial, com grande capacidade de observação e que deixou registros tão importantes sobre a Paris do século XIX. Sua deformidade física não impediam que ele fosse dono de uma grande simpatia e muito senso de humanidade. Ninguém jamais o viu lamentar nada, reclamar de nada do seu tipo físico. Viveu sua vida normalmente, plenamente, com seus numerosos amigos e amigas, artistas, intelectuais e boêmios de Montmartre.

Apesar de sua curta vida e de sua doença, deixou uma obra vasta: em 1971 foi publicado um catálogo de suas obras que somam: 737 pinturas, 275 aquarelas, 369 litogravuras (que incluem os seus famosos cartazes) e cerca de 5 mil desenhos!

Como todo artista que estuda seu ofício a fundo, Toulouse Lautrec fez muitos esboços do corpo humano, em especial do corpo feminino, pintados e desenhados a partir das modelos que posavam para ele. Em geral, não eram mulheres jovens, mas mulheres mais maduras. Sua inspiração para esse gênero de pintura era o artista Edgar Degas.

Mulher no banho, Toulouse-Lautrec,
óleo sobre tela, 1889
E também não parava de desenhar, e vários desenhos dele são obras de arte por si mesmos. A grande maioria, no entanto, são esboços para pinturas ou para litogravuras. Algumas vezes, seus desenhos parecem caricaturas onde, em poucos traços, ele captura um gesto, uma expressão. Fazia seus esboços com lápis, carvão, pastel, tinta nanquin. Ele criou também 31 cartazes, para os quais inventou uma técnica de “spray” original, que consistia em pulverizar com tinta o papel, usando um pincel grosso.

Como Toulouse-Lautrec não tinha necessidade de pintar por encomenda, ele escolhia seus temas ou seus modelos a partir dos lugares que ele frequentava, os cafés e cabarés de Paris. Pintava desde nobres e artistas, assim como escritores e atletas, médicos, enfermeiras e figuras pitorescas de Montmartre. Muitas de suas pinturas retratam prostitutas, pois eles as considerava modelos ideais, pela espontaneidade delas, pelo modo como sabiam se movimentar, seja nuas ou vestidas. Ele pintava o que via com curiosidade, sem moralismo ou sentimentalismo, e principalmente respeitando o realismo de suas cenas, sem atribuir nada de especial e pessoal às figuras.

Cartaz criado por Toulouse-Lautrec
Henri de Toulouse-Lautrec vivia na boemia parisiense. Se tornou alcóolatra e tinha o costume de misturar o Absinto, que bebia diariamente, com conhaque. Pouco antes de morrer, ele se internou em um sanatório em Malromé, de propriedade de sua mãe, após complicações de saúde por causa dos excessos com o álcool, e da sífilis adquirida. Faleceu com apenas 37 anos de idade, em 9 de setembro de 1901. 

Suas últimas palavras, dirigidas a seu pai que assistiu sua morte, foram: “Eu sabia que você não ia faltar à matança!” (seu pai era um aristocrata apaixonado pela caça). As relações entre pai e filho eram nebulosas e sujeitas às más interpretações que surgiram posteriormente. Mas Alphonse, o pai, escreveu uma carta à própria mãe falando da morte do filho pintor e diz: “Ah, querida mãe, que tristeza! Deus não abençoou nossa união. Que Sua vontade seja feita, mas é muito duro de ver invertida a ordem natural das coisas. Eu não pude me juntar ao triste espetáculo da longa agonia do meu pobre filho tão inofensivo, que nunca disse a seu pai uma palavra desagradável! Lamente por mim. - Alphonse”.

Após a morte de Toulouse-Lautrec, seu amigo Maurice Joyant, seu protetor e marchand, resolve, em acordo com a condessa de Toulouse-Lautrec, vender as obras do pintor e arrecadar dinheiro para fundar um museu em seu nome, na cidade de Albi, onde nasceu o artista. Museu que até hoje guarda a maior parte da obra do artista.

Toulouse-Lautrec com a modelo em seu ateliê
Essas mulheres, esboço de Toulouse-Lautrec
Moulin de la Galette, pastel de Toulouse-Lautrec
Na cama, Toulouse-Lautrec, 1893, óleo sobre tela
O sofá, 1894-5, Toulouse-Lautrec
Monsieur Delaporte no Jardim de Paris, 1893, Toulouse-Lautrec
La clownesse Cha-U-Kao, 1895, pastel, Toulouse-Lautrec

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Exposição de aquarelas no Ateliê Contraponto

Um grupo de 14 alunos do artista e professor de aquarela Gonzalo Cárcamo selecionou seus melhores trabalhos ao longo do ano para montar uma exposicão que foi denominada de Manchas & Trasparências. Com o apoio da Casa do Artista o grupo vem organizando há 4 anos esta mostra com enorme sucesso que começou no Plein Air Studio em São Paulo e a seguir na sede da Secretaria da Cultura em Ilhabela, onde recebeu visitantes do mundo todo.


Este encontro de aquarelistas não somente expõe e comemora os resultados alcançados por todos a cada ano, como este evento tem representado uma enorme motivação para aqueles que gostam de pintura e principalmente da técnica da aquarela. Você está convidado para visitar a exposicão de aquarelasManchas&Transparências, no dia 18 de novembro, às 19:00hs no Ateliê Contraponto na Travessa Dona Paula, 111-Consolação –SP.


Ilustrador chileno (Los Angeles), radicado no Brasil desde 1976, Gonzalo Cárcamo colabora com as principais publicações do país. Já ganhou alguns prêmios por seu trabalho, entre eles os de melhor caricatura nos salões internacionais de Humor do Piauí (1987) e Piracicaba (1988) e o de melhor ilustração de livro infantil (2002, 2004 e 2005). É autor de quatro livros infantis e um de aquarelas sobre Paraty.


Gonzalo Cárcamo
Gonzalo Cárcamo (1954) é ilustrador, caricaturista e artista plástico com uma longa experiência na técnica da aquarela. Realizou algumas exposições de pintura no Brasil, Espanha e na sua terra natal, Chile.
Durante muito tempo trabalhou como cenarista de desenhos animados, chegando a participar em pequenos curtas para os estúdios da Walt Disney, na produtora HGN. Em 1986 publica suas primeiras caricaturas no semanário Pasquim, dando inicio a uma longa jornada com publicações em jornais e revistas mais importantes do Brasil e do exterior conquistando notoriedade com suas aquarelas. Diário “El Pais” (Espanha) Apsi (Chile) , Istoé, Veja, Carta Capital, Época, Cult, Educação (Brasil) entre outras.
Também atua como ilustrador de livros para várias editoras no Brasil. Escritores de literatura nacional e internacional, tais como Gabriel Garcia Marquez, Machado de Assis, Eça de Queiroz, já tiveram publicações ilustradas por Cárcamo.
No ano 2000 lançou o seu primeiro livro como autor: “Modelo vivo, natureza morta”, pela editora Paulus. Uma história comovente, contada apenas com imagens. Atualmente é colaborador da Folha de São Paulo e da revista Época e trabalha em seu atelier, em São Paulo.
Aquarela de Gonzalo Cárcamo

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Salvador Dalí no Instituto Tomie Ohtake

Salvador Dalí em 1956
Uma exposição dedicada ao mais conhecido pintor surrealista, Salvador Dalí, está sendo inaugurada em São Paulo, no Instituto Tomie Ohtake, localizado no bairro de Pinheiros. São 218 peças, entre as quais 24 pinturas, 15 fotografias e quatro vídeos que dão uma ideia da carreira e do desenvolvimento da técnica do pintor catalão. Também estarão participando desta mostra filmes que ele fez com Luiz Buñuel e Alfred Hitchcock. Essas obras foram cedidas pela Fundação Gala-Salvador Dalí, pelo Museu Reina Sofia e pelo Museu Salvador Dalí.

Essas obras foram escolhidas principalmente entre as do período surrealista do pintor, e a ideia dos organizadores é que o público possa ver sua evolução artística através das diferentes influências que ele foi recebendo, não só técnicas como ideológicas. Do período de formação como pintor estão as obras “Retrato del padre y casa Es Llander”, de 1920 e “Autorretrato cubista” de 1923. Da fase surrealista são “Monumento imperial a mujer-niña”, de 1929, “El sentimiento de velocidad”, de 1931, “Figura y drapeado en un paysage”, de 1935) e “Paysage pagano medio”, esta de 1937. Mas há também outras obras e desenhos, como as ilustrações para o livro “Dom Quixote de La Mancha”, de Miguel de Cervantes, e “Alice no País das Maravilhas”, de Lewis Carrol.


"Retrato de mi hermana", 1925
O Surrealismo foi um movimento artístico surgido no começo do século XX, na França, e teve como um de mentores o poeta André Breton. O termo “surrealismo”, que seria traduzido como “algo acima da realidade”, foi cunhado por um outro poeta francês, Guillaume Apollinaire, em 1917. Ela apareceu pela primeira vez como subtítulo da peça de teatro “As tetas de Tiresias”, de Apollinaire.

Mas os artistas que abraçaram essa corrente estética se diziam seguidores de pensadores e artistas do passado, como o filósofo pré-socrático Heráclito e os escritores franceses Marquês de Sade e Charles Fourier. Na pintura, eles consideravam como um dos primeiros surrealistas o pintor holandês do século XV, Hieronymus Bosch, que pintou naquela época quadros como “O Jardim das Delícias” e “O carro de feno”. Mas o ponto de estopim do Surrealismo no século XX foi o movimento dadaísta, que o antecedeu.


Museu Dalí em Figueras, Espanha
Salvador Dalí nasceu em 11 de maio de 1904, em Figuera, na Espanha. Quando tinha 12 anos, numa viagem a Cadaqués com os pais, conheceu a pintura de Ramon Pichot, um artista que viajava muito a Paris, porque na época esta cidade era o centro da arte no mundo. Pichot conheceu o talento do menino e orientou seu pai a lhe matricular numa escola de pintura. Dalí teve como primeiro mestre  Juan Nuñez.

Em 1922, Salvador Dalí se muda para Madrid e vai estudar na famosa Real Academia de Belas Artes de San Fernando, que conheci pessoalmente em 2013, em minha viagem a Madrid. Foi morar numa residência estudantil. Já nessa época, fazia pinturas de inspiração cubista, o que atraiu a atenção de dois artistas espanhois como Federico Garcia Lorca e Luiz Buñuel, o futuro diretor de cinema surrealista. A partir de 1924, Dalí também começou a fazer ilustrações para livros.


"El sentimiento de velocidad", 1931
Em 1926 foi expulso da Real Academia por se negar a fazer os exames finais de seu curso de pintura. Teria dito que não havia naquela escola nenhum professor que pudesse avaliá-lo… Seu quadro “Cesta de pão” (acima), pintado para seu exame final na Real Academia, mostra como ele dominava a técnica da pintura acadêmica. Foi a Paris, onde conheceu Pablo Picasso. Dalí pintava, então, desde obras mais acadêmicas até aquelas onde se notava claramente a influência dos movimentos vanguardistas da época. Mas antes disso, ele havia estudado a obra de Zurbarán, Bronzino, Rafael, Vermeer, Velázquez…

Em 1929, colaborou na produção do filme “O cão andaluz” de seu amigo Luiz Buñuel, filme que já dava as primeiras mostras do imaginário surrealista. No mesmo ano conheceu sua futura esposa, Gala, uma imigrante russa que era 11 anos mais velha que ele. Se casaram em 1934 e viveram juntos toda a vida.

Leia mais sobre Salvador Dalí neste post anterior...

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De 19 de outubro a 11 de janeiro
Instituto Tomie Ohtake
Avenida Pedroso de Moraes - Pinheiros - São Paulo - SP - Tel.: (11) 2245 1900
Terça a domingo e feriados, 11h às 20h.
Entrada grátis