quarta-feira, 27 de maio de 2015

Arte e Vida

Crianças no Museu de Belas Artes de Sevilha
Diálogo número um:

Um grupo de crianças de uns 4 a 5 anos de idade estava visitando o Museu de Belas Artes de Sevilla com sua professora. Paravam em frente a alguns dos quadros, sentavam-se no chão e a professora ia fazendo os pequenos observarem os detalhes de cada quadro.

- que ser és este con alas?

Uma das belas salas do
Museu de Belas Artes de Sevilha
Uma menininha respondeu:

- un pájaro!

Um menino de óculos azuis do lado corrigiu:

-Non! És un Angel!

Si, un Angel, confirmou a professora. E dai em diante foi conduzindo os moleques para dentro de um quadro que representava as escolhas da vida humana pelo bem ou pelo mal. Do lado do bem, anjos alados e luminosos encaminhavam as pessoas de bem para o céu. Do outro lado, à direita, uma grande cabeça de serpente com olhos ameaçadores ia engolindo aqueles malvados que o diabo ia recolhendo. Ao ver a cabeça do diabo um dos pequenos perguntou à professora: É o lobo mau? Si, ela respondeu, só que se chama Diabo. E de que cores são os demônios? Vários responderam que eram verdes e brancos, ou azuis. Eles eram mesmo meio azulados, meio metálicos. Isto é uma pintura do século XVI. Terminado o exame desta tela, a professora chamou os pequenos e lhes disse que agora iam ver outro diabo, mas que desta vez ele era vermelho.

Eles foram e eu fiquei aqui na sala do quadro do Bem e do Mal refletindo sobre esta cena. Pensando em como é tão importante para as crianças poder ter acesso a este tipo de experiência logo cedo em suas vidas! Não a experiência de ser catequizados no maniqueismo do mundo, mas o de aprender a ver, a observar, a perceber de forma profunda o que há por trás de uma obra de arte. Pode-se imaginar o que é crescer acostumado a ver obras de José Ribera, Zurbarán, Murillo, Leonardo da Vinci, Courbet, Degas?

Diálogo número dois, pelo messenger do Facebook, poucas horas depois:

- Pão Borracha te manda um abraço, professora!

Eu: - quem é Pão Borracha?

Do outro lado, Walter Maresia, que conheci quando também era um menino, em São Luís do Maranhão. Sem pais, pobre, abandonado na rua. Seu apelido era Pão Borracha. E tinha também o Neguinho, o Tico, o Toinho, o Porquinho e muitos outros meninos como estes pequenos espanhóis que vi hoje no museu, mas em condição totalmente adversa de vida. Eu e um grupo de amigos ajudamos o padre Marcos Passerini a cuidar destes meninos. Pão Borracha me respondeu pelo messenger:

Pintura de José García Ramos,
pintor sevilhano do século XIX
- Quando muitos me regeitavam! vc com seus pinceis me acolhia. Voce me deu uma coisa que não custava e não custa nada, que é atenção, carinho abraços. E isso me fez uma pessoa melhor. Quero te abraçar e dizer que não te ver mais me fez muita falta. Minha participação no movimento negro me faz entender a minha condição de vida e hoje trabalho na Secretaria da Igualdade Racial.

Meus olhos marejaram... Puxa vida! Eu, aqui tão longe do meu país, e meu país tão dentro de mim! Como não comparar? No mesmo dia, com poucas horas de diferença entre um diálogo e outro, a vida vem e me toca deste jeito!

Pedi notícias dos outros meninos, que, claro, hoje são todos homens maduros. A maioria morreu, alguns se perderam por aí, outros três vivem de forma bem difícil. Mas ele, Walter Maresia, vive uma vida digna e luta pelos seus, por sua mulher, por seus filhos, por seus amigos e por todos os desconhecidos, negros como ele, que sofrem as injustiças do mundo. Petronio é advogado bem sucedido. Porquinho? Cadê ele? Ainda continua vigiando carros em frente à igreja de São João... E isso me fez lembrar uma canção de João do Vale, compositor maranhense...

E me levou de volta ao Museu de Belas Artes de Sevilla. E a Bartolomé Estebán Murillo e seu quadro "O jovem Mendigo", pintado entre 1645-1650, que me tocou desde que o vi pela primeira vez no Museu do Louvre em Paris. E a relembrar de tudo o que vi hoje neste lindo museu sevilhano, dedicado praticamente aos seus pintores locais, começando desde o século XV. Muitos deles, incluindo Diego da Silva Velázquez, deixaram pintados em seus quadros os rostos, os olhares, as mãos e as condições de vida dos seres humanos mais injustiçados do mundo. E mostraram sua dignidade! Como exemplo, vejamos os anões e bobos da corte pintados pelo maior de todos os sevilhanos, Velázquez.

Naquela luta entre Bem e Mal, professora, há um aspecto muito importante a ser observado: muitas vezes isto não é uma escolha, é condição imposta pela vida num sistema desigual. Que o diga meu amigo e parceiro de ateliê, o pintor Alexandre Greghi, que hoje dá aulas de desenho para meninos da Fundação Casa em São Paulo. Sim, meninos, não bandidos, como os ignorantes da vida e os egoístas de sempre gostam de dizer. Eles roubaram, traficaram, mataram? Eles e suas famílias já estão sendo roubados e mortos secularmente! É desculpa para roubar? Não, amigo, mas que sirva de "desculpa" para que sejam ajudados a dar um passo fora da boca da serpente.

Para mim, arte é isto: Vida!

A pesca de atum, pintura a óleo de Joaquín Sorolla
E ainda dizem que o pescado é caro, pintura a óleo de Joaquín Sorolla
No pátio interno do Museu de Belas Artes de Sevilha

Los Venerables

Frente do Hospital de los Venerables,
onde fica o Centro Velázquez
Nos meses de primavera, que estamos vivendo aqui, e os do verão próximo, que começa no final de junho, há luz do sol derramada por todas partes da Andaluzia, desde as seis da manhã até as dez da noite. De manhã cedo sopra um ventinho fresco, mas depois do meio dia é muito quente, especialmente por causa do sol. Lembra muito o sol nordestino, ardente, incandescente. Todas as fotografias ficam estouradas com tanta luz.

Como isso não faria parte da alma de Velázquez? Por isso ele abandonou o modo caravagesco de pintar, com suas tiniebras. No hay tiniebras acá. Há sol em abundância, luz para iluminar o que for preciso! É interessante, porque eu já intuía isto, quando olhava para as pinturas dele. É muito bom comprovar que aqui na terra de Velázquez há uma intensa luminosidade, que não poderia deixar de estar presente em sua pintura! Assim como a de Sorolla, de outro jeito, uma forma mais atual de pintar a luz de Valência, das praias espanholas, da pele avermelhada de sol de seu povo.

Ontem, lá pelas dez da noite, quando eu voltava ao hostal depois de ter ido ver o espetáculo do poente sobre o rio Guadalquivir, ainda com o resto de luz do dia, passei por uma exposição de fotografias de Sebastião Salgado! O Brasil está aqui! Uma mostra de fotos da série Gênesis que ele anda apresentando ao mundo, onde mostra cenas de vida nos mais incríveis cantos da terra, uma grande parte dela em terras brasileiras. Muito bom ver os turistas de países diversos examinando cada uma dela.

Mas de manhã meu dia começou aqui mesmo pelo Barrio de Santa Cruz, onde estou hospedada e fica bem no coração do casco antigo. Fui ver o Centro Velázquez, organizado dentro de um prédio do século XVII, o Hospital de los Venerables Sacerdotes. Já falei num post anterior que não é mais um hospital, mas o nome ficou. E também já disse que os três quadros de Velázquez que estão lá, foram para uma exposição em Paris. Mas resolvi entrar assim mesmo, é um prédio histórico e tem outras obras em seu acervo, incluindo Murillo.

Corredor dentro do prédio
O Hospital de los Venerables Sacerdotes foi construído inicialmente como residência para os padres velhos e doentes da cidade. Ocorre que no ano de 1649 a epidemia de peste matou 50% dos moradores da cidade! Uma população que girava em torno das 120 mil pessoas. Naquele ano havia tido uma primavera muito chuvosa, as ruas estavam enlameadas, o rio Guadalquivir tinha invadido partes da cidade. Bairros inteiros foram alagados. As pessoas morriam às dezenas diariamente e se tiveram que fazer grandes covas para enterrar a todos. Foi neste período que o Hospital de los Venerables começou a receber parte dessa gente doente, que fazia filas imensas em volta de todos os hospitais e casas de caridade da cidade.

Nesta epidemia de peste, morreu o escultor Juan Martínez Montañés, em 18 de junho de 1649. Ele é bem conhecido aqui na Espanha e tem trabalhos seus em vários museus. Diego Velázquez já morava em Madrid.

Dentro do prédio, que no século XIX também foi uma fábrica de tecidos, tem um salão com pinturas de artistas e as de Velazquez, um pátio andaluz no centro, com uma fonte no meio rodeada de flores e uma igreja, muito bonita por dentro, com um órgão de tubos lindo, feito por um alemão no século XVIII. Ainda funciona e de vez em quando há eventos de música clássica com este órgão. Ele toca de tudo: música religiosa, Bach, Beethoven, Mozart.

Pátio interno do Hospital de los Venerables
Na sala de exposições não há muitas pinturas, mas algumas muito boas, como a de Murillo e de Zurbarán. Várias de Francisco Herrera e de Francisco Pacheco, que foram mestres de Velázquez, em especial este ultimo. Dá para comprovar que realmente a capacidade do discípulo superou em muito a de seus mestres. Também foi bom ver de perto as pinturas deles!

Na saída, vi um grupo de quatro rapazes com roupas características daqui da região, negras, cada um com seu violão. Nunca tinha visto tanto violão quanto há aqui em Sevilla, não só na mão de músicos de rua, mas pessoas passando com eles, alguns tocando. Passei na porta da oficina de um luthier, que tinha vários violões expostos na vitrine. Não sei avaliar a qualidade, mas o preço achei bem bom, em torno de uns 500 euros, alguns um pouco mais, se compra um violão feito à mão. Olhei, olhei, vi um pouco sua oficina e segui meu caminho. Um amigo brasileiro violonista ia gostar de ver isto aqui!

O sol estava ardendo de novo. Resolvi aderir à siesta e fui para o hostal descansar, depois de almoçar. Afinal o dia acaba aqui lá pelas dez da noite! E preciso curar os restos da minha amigdalite, que já está sendo vencida.

O programa do último dia em Sevilla é voltar ao Museu de Belas Artes que já estará todo aberto.
O órgão da igreja de los Venerables
Altar-mor igreja de los Venerables
Uma pintura em um dos tetos da igreja de los Venerables

terça-feira, 26 de maio de 2015

Córdoba

Porta do Triunfo em Córdoba
Nos dois últimos dias, domingo e segunda, foram dias de passeios variados. Descobri que o Museu de Belas Artes de Sevilla não abre inteiro, mas só a parte de exposições temporárias. Está tendo uma sobre paisagistas andaluzes, desde os antigos. Bem boa, pois a qualidade dos pintores espanhóis realmente é um fato. Mas tinha lá fora do museu, na praça, uma feirinha com muitos pintores vendendo seus quadros, como na Praça da República. Caminhei um pouco, observei um pouco, mas nada demais. E terminei meu domingo de novo às margens do rio Guadalquivir.

Ontem, resolvi ir para Córdoba.

Peguei, na estação Santa Justa, um trem que ia para Madrid e chegava em 35 minutos em Córdoba. Um trem que viaja a 250 km por hora. Desci na estação de Córdoba, busquei informações numa sala de informações turísticas e fui direto para o centro velho ver a catedral-mesquita. Depois que se passa por uma das entradas de uma antiga muralha, entra-se nestas pequenas ruelas estreitas e repletas de casinhas grudadas umas nas outras, e que devem ter sido construídas aleatoriamente, de forma orgânica, porque quase não são em linha reta.

Muitos turistas como sempre. Japoneses andam em bando e para onde vou encontro bando de japoneses, todos com suas câmeras, obedientes ao guia. Também muitos franceses e muitos outros estrangeiros de cantos variados deste mundão.

Mundinho. Porque quanto mais viajo mais vejo como estamos todos parecidos. Usamos as mesmas roupas, os mesmos celulares, os mesmos chapéus de sol, os mesmos cachorros nas mesmas coleiras, os mesmos paus de selfie... Está uma praga por aqui o tal do pau de selfie, à venda em vários lugares por uns 15 euros. E todos usam: de franceses a espanhóis, de jovens a velhos, de japoneses a muçulmanos.

Catedral-Mesquita de Córdoba
Entrei com todo mundo na imensa mesquita. É impressionante! Já tinha visto por fotos, mas ver pessoalmente dá uma ideia muito melhor a respeito do poder e da grandeza destes impérios árabes, capazes de construir tanta beleza! Para cada canto que se olha os olhos se enchem de arte, seja em pinturas, seja na arquitetura, nos pequenos detalhes dos arcos das portas, no chão, no teto... A sensação é a de que fazemos parte de uma imensa obra-mestra! De tão grande em todas as direções, e de tão alta, caminhamos como pequenos seres nessa imensidão. Talvez a idéia fosse a mesma que inspirou as catedrais góticas: diante das coisas do céu o homem deve se sentir miúdo na terra. Mas para mim essa sensação dura segundos, porque vejo que o seres humanos que foram capazes de fazer com suas mãos o que foi feito aqui são muito maiores do que o céu! Allah, Allah, meu bom Allah!

Arquitetura árabe dentro da catedral-mesquita
Esta mesquita começou a ser construída no século VI. Nas inúmeras guerras ente cristãos e muçulmanos, ela foi tomada pela igreja católica por volta de 1.200. Hoje é a Catedral de Córdoba. Elementos de cultura árabe e cristã estão bastante misturados lá dentro, com predomínio da arquitetura árabe. Diversos afrescos foram pintados nas paredes e em pequenas capelas ao redor da nave principal da igreja.

Dentro da mesquita
Daí aconteceu uma coisa comigo. Sentei-me em um banco de madeira, para apreciar um altar, com meu IPad na mão, fotografando tudo. Meu IPad que me acompanha há dois anos, meu companheiro de estudos de desenho e pintura. Levantei-me para ir ver outra coisa e esqueci-o lá no banco onde eu estava sentada. Tinha ido ver a capela onde se celebram as missas, tudo muito rico, muito ouro em cálices e objetos sagrados. Nem bem cheguei, pânico: meu IPad! Corri para o banco onde eu tinha me sentado a uns 50 metros dali. Banco vazio! Estado de desespero. Meu companheiro de estudos de desenho e pintura, a pessoa que o pegou nem vai poder aproveitar as mais de 500 imagens que tenho lá, de obras de mestres, todas as de Velázquez que eu consegui juntar! Olhei aflita para as mãos de todos os que passavam, nada. Uma busca por algum possível ladrão, em volta senhores e senhoras, alguns jovens, ninguém com cara de suspeito. Vi um guarda. Ele se comunicou com um parceiro por rádio, perguntando se alguém tinha entregue um tablet. Espera angustiante a minha. Resposta: nada, senhora!

De repente aquela catedral se transformou em outra coisa pra mim, um lugar atemorizante, grande demais, e eu ia diminuindo de tamanho cada vez mais! Resolvi ir embora, triste. Na saída, dois guardas atrás de um balcão. Resolvi tentar de novo e perguntei se ninguém encontrou um IPad por aí. E... o guarda me entregou meu IPad na minha mão!!! E sorriu quando viu minha reação e meus murmúrios de "gracias", "que sorte a minha", "muchas gracias"! A ele, mas principalmente ao ser humano que encontrou e devolveu o que não lhe pertencia! Muito agradecida, resolvi fazer as pazes com a catedral e entrei de volta. Como é bom saber que ainda há lugares no mundo em que o ser humano respeita o outro!

Depois disso, fui almoçar e mais uma vez caminhar pelas ruelinhas de Córdoba. Linda! Fotografei o que pude com meu IPad querido! Mas o sol, estava forte demais para minha gripe e meu corpo começou a dar sinais de cansaço. Há dois dias minha garganta está inflamada, e estou com uma tosse absolutamente incômoda, seca, barulhenta, que vem em acessos e eu começo a fazer muito barulho em qualquer lugar que esteja, igrejas, museus, ruas, hotel. Isso de estar incomodando os outros me incomoda demais. E meus dois ouvidos começaram a doer. Ou seja, estou com uma boa infecção que tem que ser tratada com antibióticos. Mas aqui também não se vendem sem receita médica. Entrei no Hospital da Cruz Vermelha de Córdoba, um prédio moderno, bonito. Me atenderam bem, a médica me receitou o antibiótico de que preciso e já sai de lá me sentindo melhor. A guerra contra as bactérias começou!

Voltei ao fim do dia para a estação de trem e peguei o trem de volta a Sevilla. Desta vez ia demorar mais de uma hora a viagem, porque ia ter umas quatro paradas antes. Velocidade média de 140 km por hora, informava o letreiro. Sentei-me do lado da janela e durante toda a viagem acompanhei o sol se pondo. Lindo demais! Os tons iram variando de um amarelo brilhante, até se tingir de vermelhos enquanto a bola imensa do sol começava a se esconder atrás do horizonte, e depois disso os tons iam mudando para diversos violetas e lilases. Assim que o sol se foi, o trem parou na estação Santa Justa. Eram nove e meia da noite. E o céu estava azul de cobalto. Quando cheguei no hostal já estava um azul ultramar quase negro com uma lua pela metade brilhando no céu.

Que dia!

Rio Guadalquivir, que também passa por Córdoba
Córdoba, numa ponte sobre o rio Guadalquivir




Mesquita de Córdoba
Mesquita de Córdoba
Mesquita de Córdoba
Mesquita de Córdoba
Mesquita de Córdoba
Mesquita de Córdoba
Mesquita de Córdoba
Mesquita de Córdoba
Mesquita de Córdoba




Rua de Córdoba
Rua de Córdoba

domingo, 24 de maio de 2015

Sevilla, la vieja

Rua de Sevilha
O trem de Madrid até aqui durou um pouco menos de três horas, com umas três paradas no meio do caminho, em pequenas cidades. Muitos turistas indo na mesma direção que eu, principalmente do norte europeu, o que imagino, por causa das línguas estranhas com muita entonação forte nos "r", lembrando a língua russa. Mas tinham falantes de alemão e inglês também. Devem estar buscando, como eu, um pouco do calor da Andaluzia.

Estou hospedada bem no centro viejo, perto do Alcazar e da Catedral e sua Giralda. São construções absolutamente impressionantes! Giralda é o nome da torre da catedral, que inicialmente era de uma antiga mesquita da cidade, do final do século XII. Tem 104 metros de altura e foi durante séculos a torre mais alta da Espanha e das maiores da Europa. Esta construção espetacular inspirou a arquitetura de muitas outras pelo mundo afora. E deve ter trazido momentos de inspiração para os pintores daqui, como Murillo, Ribera, Zurbarán, Velazquez.

Andei muito pelas ruelas do centro, labirínticas, estreitas, algumas se alcança os dois lados com os braços estendidos na lateral. Passei na porta da casa onde viveu Murillo. Fui até o Hospital de los Venerables, que não é um hospital, mas um centro de exposições num prédio muito antigo daqui. Tem três quadros quase desconhecidos de Velázquez lá, mas infelizmente foram emprestados para uma exposição em Paris e eu fico sem a oportunidade de vê-los. Mas hoje, domingo, vou ao Museu de Belas Artes de Sevilla ver o que tem por lá.

No fim da tarde (o dia aqui já está terminando por volta das 21:30), fui ver o rio Guadalquivir, que corre desde o meio da Espanha e passa por Córdoba e Sevilha e deságua no estreito de Gibraltar. Aqui estou bem perto da África, mais do que de Madrid. Este rio, bonito e caudaloso, tem trazido muita vida para esta região e inspirado poetas ao longo dos séculos, desde os primeiros árabes, que povoaram esta região. Mas de Luís de Góngora, poeta contemporâneo de Velazquez, que lhe fez um retrato, li este verso:

Gran rio, gran rey de Andalucía
De arenas nobres, ya que no doradas...

Caminhei um bom tempo pelas margens do rio Guadalquivir, admirando suas águas, seus barcos, suas pontes. Estas águas já eram apreciadas pelos antigos gregos, que lhe deram outro nome. Pelas margens deste grande rio passaram as águas do meu rio Ipojuca de Caruaru e minha vida inteira, como num filme.

E agora é de manhã cedo e várias igrejinhas ao redor tocam seus sinos, como galos cantando na madrugada. Como é bom estar aqui!

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Nas fotos abaixo, lugarzinhos de Sevilha:

A torre Giralda