sexta-feira, 9 de novembro de 2018

A Nona Sinfonia de Beethoven

Um manuscrito da Sinfonia nº 9 de Beethoven

O cineasta alemão Claus Wieschmann acaba de chegar ao Brasil, para captar imagens das atividades e do cotidiano dos jovens da Orquestra Sinfônica de Heliópolis. Ele começou a filmar um documentário a respeito do encantamento que as pessoas ao redor do mundo sentem ao ouvir a Sinfonia número 9, de Ludwig van Beethoven. Esse filme fará parte da comemoração dos 250 anos do nascimento do compositor, que terá uma extensa programação entre 2019/ 2020.

Parte da captação dessas imagens está sendo feita em São Paulo, na favela de Heliópolis, berço da Sinfônica de Heliópolis, composta especialmente por rapazes e moças da comunidade, mas que foi ampliada para 80 músicos vindos de diversas regiões do país. Esta orquestra começou sua história em 1996 e tem como regente o maestro Isaac Karabtchevsky.

Segundo o documentarista alemão, a intenção do filme é “entender o motivo” pelo qual a música de Beethoven “permanecer tão viva na mente dos ouvintes”, em especial a Nona Sinfonia.

Beethoven apresentou pela primeira vez esta música em 1824. A parte final da música, que inclui um coro, passa uma mensagem de unidade e de fraternidade. Quando o músico alemão compôs esta música, já estava completamente surdo. “Ode à Alegria”, a parte coral ao final da Nona Sinfonia, “carrega uma mensagem clara de liberdade, igualdade, um sentido de humanidade que é ainda hoje muito forte. Mas ela é também, acredito, sinônimo de diversidade. E é esse o nosso norte à medida que trabalhamos nas filmagens, tentando chegar a uma resposta final a respeito de por que uma sinfonia como essa mexe tanto com as pessoas”, explica Wieschmann.

Wieschmann chegou ao Brasil nos primeiros dias de novembro e já esteve na favela de Heliópolis conhecendo a comunidade e escolhendo os lugares para sua filmagem, além de conhecer pessoalmente os músicos da orquestra.

A Orquestra Sinfônica de Heliópolis vai apresentar a Nona Sinfonia de Beethoven no próximo dia 12 de dezembro, ao meio-dia no Teatro Municipal de São Paulo. O Coro “Ode à Alegria” será entoado pelo grupo Coral da Gente, composto por crianças e adolescentes, entre 4 e 14 anos, da comunidade de Heliópolis e região. E tudo será filmado pelo documentarista alemão, que incluirá essas imagens no documentário sobre a Sinfonia nº 9, que ele está filmando em vários lugares do mundo.

Claus Wieschmann em Heliópolis
“O estimulante para mim é entender, em nível bastante individual, qual o sentido disso tudo. Em outras palavras, quero estar ao lado de alguns músicos, acompanhá-los, entender suas histórias, suas trajetórias de vida, para entender por que resolveram se dedicar à música, e a esta música especificamente. Acreditamos que a música provoca mudanças, mas queremos entender como isso se dá. Eu particularmente acho que assistir a um concerto na televisão é algo muito chato. Mas entender quem são essas pessoas que fazem a música acontecer e ganhar sentido, isso é fascinante.”

Wieschmann já fez um outro documentário sobre o tema da música na cidade de Kinshasa, capital do Congo, no continente africano. Lá também se formou uma Orquestra Sinfônica formada por aproximadamente 200 músicos amadores que ensinavam Händel, Vivaldi, Mozart e Beethoven uns aos outros, se apresentando com instrumentos musicais de sua cultura, assim como instrumentos fabricados com materiais diversos. O documentário se intitula “Kinshasa Symphony” e foi lançado em 2010, tendo sido premiado em diversos festivais de cinema.

terça-feira, 6 de novembro de 2018

Arte contra o fascismo. Arte contra a barbárie. Este blog também resiste!

"Dante e Virgílio no inferno", William-Alphonse Bouguereau, 1850
"Da nossa vida, em meio da jornada,
Achei-me numa selva tenebrosa,
Tendo perdido a verdadeira estrada".*


Dia 28 de outubro de 2018, guardemos esta data. O Brasil: 1/3 dos eleitores aptos a votar  escolheram a figura de Jair Bolsonaro para presidente do nosso país.

Ainda sob estado de choque, retomo meus textos neste blog como um movimento em direção a meu amor pela Arte, antídoto para me proteger contra barbáries e absurdos que tomam já conta da vida da gente.

O futuro? Incerto. O meu futuro? Vivo o presente sob suspensão...

Sou pintora e, como tal, uma pessoa profundamente preocupada com os acontecimentos do meu tempo. Os percalços e assombros destes últimos meses, por certo suspenderam meus pincéis, mas também os suspendi com a mão em punho. Resistir, como pintora e como pessoa.

Evoé, meus mestres do passado e do presente! Que a Musa nos salve do desastre!

Passados os primeiros sintomas de pânico, passados os primeiros dias derramando lágrimas da mais profunda tristeza e desalento, me ergo, volto aos livros, volto aos pincéis, volto à poesia, volto às Belas Artes, volto a Dionísio, aquele que nos inebria e acalenta...

Diminuir frequência nas redes sociais é preciso. 

Ler mais poesia, mais Fernando Pessoa, mais Walt Whitman, mais Drummond, mais Vinícius... Ouvir mais música clássica, mais música popular brasileira, mais blues, mais rock-and-roll raiz... Ver mais filmes, ir mais ao teatro, mais aos museus! Ler mais, muito mais! Livros de Literatura, livros de Arte, de Filosofia, de História, de biografias de pessoas grandes, como os grandes mestres! Tudo isso para que eu não enlouqueça de vez, que eu não desanime de vez, que eu não me acabe de vez!

Tudo isso para que eu possa seguir gritando, criando, cantando, louvando, pintando! 

Tudo isso para que eu possa seguir conversando com meus amigos, bebendo com meus amigos, sonhando com meus amigos, nossos sonhos os mais belos sobre o futuro de todos! 

NINGUÉM SOLTA A MÃO DE NINGUÉM!


Usarei este espaço como resistência, falando de arte. Quanto mais Arte mais pontes entre as pessoas, mais pessoas melhores como pessoas, mais visão ampla (menos egoísmo), mais contemplação, mais reflexão, mais sabedoria. Mais construção, mais criação, mais elevação, mais civilização.

O futuro - o brilhante - chega mais perto!

E sairemos (como Dante, como dantes...) para retornar a ver as Estrelas!

"Então o assombro um tanto se aquieta,
Que do peito no lago perdurava,
Naquela noite atribulada, inquieta."*

(* primeiros versos da Divina Comédia,
trechos do INFERNO de Dante Alighieri)