terça-feira, 17 de agosto de 2010

As Bienais de Arte

No dia 25 de setembro próximo, será aberta ao público a 29ª Bienal de Artes de São Paulo. Um pouco antes, em uma série de três dias consecutivos, haverão sessões abertas à imprensa e a convidados especiais, bem de acordo com o glamour que faz o gosto de certa elite. Não importa muito as obras lá expostas, importa bastante  circular pelas rodinhas que se farão, ser visto, ver as tais celebridades.


Estive no final de julho, começo de agosto, em Berlim, Alemanha. Um dos lugares de visita programados era a Bienal de Artes de Berlim. Fui em quatro dos seis prédios que abrigam a Bienal de lá, concentrados basicamente no bairro Kreuzberg. A Bienal alemã neste ano resolveu homenagear o pintor realista alemão do século XIX Adolf Menzel, cujas obras ocupavam grande parte do espaço da Old National Galery.


Mas também fui ver o que se expunha nos outros cinco lugares que formam a Bienal. No primeiro, um prédio velho, deteriorado, mal cuidado, abrigava uma parte bem grande dos expositores. Estranhei ao chegar ao local. Não tem fila??? Incrivelmente vazio, durante toda a minha visita aos quatro andares encontrei com não mais do que dez pessoas! Completamente diferente dos museus que expõem pinturas e esculturas dos mestres, lotados de gente, com filas permanentes nas entradas, os prédios da Bienal estavam vazios, entregues às moscas. Literalmente. Jovens provavelmente ligados ao mundo da arte contemporânea alemã, faziam as vezes dos seguranças, tomavam conta das salas. Sentados, lendo algum livro para passar o tempo, pareciam se surpreender quando avistavam alguém chegando para ver o que estava exposto.


E o que estava exposto mostrava o que o poeta Afonso Romano de Sant'Anna já falara antes sobre as bienais de arte: uma instituição que está falindo. Muitas fotografias, ao invés de pinturas, o que me fez pensar que alguém deve estar sentindo falta de arte figurativa, já que há tanta fotografia - figurativa! - para se ver! Além de fotografias, vídeos, em salas mal instaladas, mostravam pequenos documentários: entrevistas de europeus com pobres negros africanos, como se sua pobreza fosse algo tão exótico que era necessário saber como se vive se sendo tão pobre; cenas de sexo explícito; duas velhinhas brigando; alguma manifestação em algum canto da Europa, como um momento de espetáculo. 

Era isso a Bienal de Berlim. Ah, sim, esqueci... Havia instalações, claro! As famosas e ultra-repetitivas instalações conceituais que nada mais apresentam de novidade, e nem de longe arranham a criatividade inicial de um artista como o russo Vladimir Tatlin, do começo do século XX. Instalações repetitivas, como disse, e um tanto quanto melancólicas. Mas talvez a melancolia fosse minha... realmente Arte, como eu compreendo, não havia naquela Bienal de Artes de Berlim. Que, diga-se enfaticamente, não se interessa (parece) pelo estado glamouroso que tanto excita a elite que vai à Bienal de São Paulo. Em Berlim, pelo menos, a Bienal não tem glamour. Nenhum!


Aqui? Veremos! Muito provavelmente não será muito diferente do que vi pela cidade alemã. A diferença da Bienal de São Paulo é mesmo que ela se torna um encontro de beldades artísticas ou não, repleta de holofotes sobre os curadores, que não se cansam de se apresentar à mídia. Uma Bienal Política? Veremos!

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