segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Por um mundo mais belo para todos!

Que todos sejamos felizes neste fim de ano!
Que todos sejamos felizes em 2012!
Que o mundo se torne mais belo,
mais harmonioso, mais justo!


U
m mundo melhor!
Um mundo bom e igual para todos!
Um mundo de Paz!


Como diz o poeta Vinícius:
"Que tudo seja belo e inesperado"!
Que  nossos olhos possam se abrir e perceber essa
"divisória que nos separa do mistério das coisas
a que chamamos Vida",
como disse também Victor Hugo.



Feliz 2012 para todos!

Albert Moore, Azaléias.

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Antes que o ano acabe...

Estudo em pastel preto&branco sobre uma pintura de Rembrandt - dez/2011

Rainer Maria Rilke, poeta e escritor de língua alemã, nascido em Praga (atual República Tcheca) no final do século XIX (1875), certa vez recebeu uma carta de um jovem poeta, acompanhada de um poema, para o qual ele solicitava uma opinião sincera de Rilke. Queria saber se era de fato um criador, um artista.


Estudo com pastel em tons de cinza,
dezembro/2011
Lembrei disso ao terminar este estudo acima, em pastel, sobre um auto-retrato de Rembrandt. Após dias observando a forma de trabalhar daquele maravilhoso pintor holandês, tentando seguir em sua direção, eu pegava no pastel sentindo, alternadamente, a dor e a delícia que toma conta de mim em minhas tentativas de representação pictórica do mundo. Há um sofrimento inerente a esse processo, ao qual me sinto incapaz de fugir: apanho muito, muito enquanto desenho e pinto, nessas preliminares que antecedem o surgimento da figura que quero ver surgir no meu cavalete. Sofro se não alcanço o ponto certo, o tom certo, o valor certo. Sofro se há mais sombra do que devia; se uma certa sutileza foge de mim, se uma massa muito ampla se transforma numa espécie de bicho selvagem que não domino e que me domina; sofro se minha mão oscila, treme, fica insegura quando o toque deve ser o mais leve ou o mais pesado naquele ponto... Mas a delícia vem... Após horas de trabalho, suor, tensão, angústia, a figura vem se mostrando ali na minha frente, com uma harmonia que parece inacreditável, um equilíbrio ainda um tanto quanto incerto, mas que me mostra uma possibilidade de crescimento maior a partir dali... Parece que se abre um mundo imenso de possibilidades novas, uma coisa que às vezes é tão grande, tão grande que parece muito maior do que eu possa transmitir... 


Desenho desde o jardim de infância. Cresci desenhando. Minha vida tem sido em torno do desenho, mesmo que durante anos eu tenha me voltado para o desenho gráfico virtual, com o computador. Mas o desenho está sempre – esteve sempre – a minha vida inteira ali à minha espreita, quando eu pensava que já não precisava mais dele e que o computador estava aí para acelerar todos os processos... Ledo engano. O computador serve a outro tipo de produção. Jamais vai substituir o traço incerto, oscilante, denunciante da alma humana, da mão criadora do mundo. Uma máquina não substitui a alma e o coração do artista...


Olhei de novo para meu estudo sobre Rembrandt. O que ele, Rembrandt, acharia disso? Será que ficaria satisfeito com meu trabalho? Como me avaliaria? Lembrei de Rilke. Peguei o livro na minha estante “Cartas a um jovem poeta”. Li a primeira carta, que já tinha lido antes outras tantas vezes.


Cópia inacabada em óleo da obra "Moça com
brinco de pérola" de Jan Vermeer - outubro/2011
Estavam lá estes dois trechos que mais me tocam: 


 - o primeiro, que fala da dificuldade que temos de traduzir o real que vemos e experimentamos. As palavras faltam. As palavras falham. As palavras são ainda poucas, confusas, estranhas. Há algo no Real que continua indizível. E até invisível para quem não sabe Ver. Fala Rilke: 


“As coisas estão longe de ser todas tão tangíveis e dizíveis quanto se nos pretenderia fazer crer; a maior parte dos acontecimentos é inexprimível e ocorre num espaço em que nenhuma palavra nunca pisou. Menos suscetíveis de expressão do que qualquer outra coisa são as obras de arte, — seres misteriosos cuja vida perdura, ao lado da nossa, efêmera.”


A segunda parte da carta, provoca o artista, interroga-o: você consegue viver sem desenhar, pintar, escrever? Não??? Então transforme sua vida na busca disso do qual você não consegue fugir. Fale, Rilke:


“Pergunta se os seus versos são bons. Pergunta-o a mim, depois de o ter perguntado a outras pessoas. Manda-os a periódicos, compara-os com outras poesias e inquieta-se quando suas tentativas são recusadas por um ou outro redator. Pois bem — usando da licença que me deu de aconselhá-lo — peço-lhe que deixe tudo isso. O senhor está olhando para fora, e é justamente o que menos deveria fazer neste momento. Ninguém o pode aconselhar ou ajudar, — ninguém. Não há senão um caminho. Procure entrar em si mesmo. Investigue o motivo que o manda escrever; examine se estende suas raízes pelos recantos mais profundos de sua alma; confesse a si mesmo: morreria, se lhe fosse vedado escrever? Isto acima de tudo: pergunte a si mesmo na hora mais tranqüila de sua noite: "Sou mesmo forçado a escrever?” Escave dentro de si uma resposta profunda. Se for afirmativa, se puder contestar àquela pergunta severa por um forte e simples "sou", então construa a sua vida de acordo com esta necessidade. Sua vida, até em sua hora mais indiferente e anódina, deverá tornar-se o sinal e o testemunho de tal pressão. Aproxime-se então da natureza. Depois procure, como se fosse o primeiro homem, dizer o que vê, vive, ama e perde.” 


O pequeno Arlequim e sua mãe, pastel colorido, novembro/2011

domingo, 4 de dezembro de 2011

Eliseu Visconti, a Modernidade antecipada




Essa pintura acima e muitas outras farão parte da próxima grande exposição organizada pela Pinacoteca do Estado de São Paulo: "Eliseu Visconti - a modernidade antecipada". Esta exposição é parte da programação do Ano da Itália no Brasil, iniciada em outubro.

Serão cerca de 250 obras, entre pinturas, desenhos, cerâmica e documentos. Esta exposição celebra o ano da Itália no Brasil, que teve início em outubro deste ano e que conta com uma programação rica de eventos que expressam a Cultura dos dois países. Entre os grandes nomes da pintura que estarão aqui no Brasil em 2012, está o de Caravaggio, pintor barroco italiano, como já anunciamos aqui.



A última exposição retrospectiva de Visconti (que nasceu em Salerno, Itália, em 1866 e morreu no Rio de Janeiro, em 1944) foi realizada em 1949 no Museu de Belas Artes do Rio de Janeiro. Esta mostra trará, então, toda a produção de Visconti, que é difícil de ver hoje em dia, pois muitas de suas obras são guardadas em coleções particulares. "Esta mostra tem por propósito recuperar a obra de Visconti, situando-o como grande expoente da arte brasileira no período crítico da primeira República”, é o que diz um dos curadores, Rafael Cardoso.
A exposição será organizada em períodos e temas desenvolvidos por Visconti, entre 1888 e 1944. São pinturas de Paisagem, Retratos, Nus, com destaque para a importante produção do artista nas vertentes Simbolista e Impressionista, estilos em que é reconhecido como um dos maiores mestres da arte brasileira. Também estarão expostos 
cerca de 25 auto-retratos, incluindo cenas de Visconti com a família. 



Eliseu Visconti foi, entre as décadas de 1890 e 1920, um dos artistas mais importantes do Brasil e um dos que mais participou de exposições estrangeiras, conquistando prêmios na França, nos Estados Unidos e no Chile. “A carreira artística de Visconti desenrolou-se no momento fundamental da história brasileira que se estende desde os últimos anos do Segundo Reinado até a Segunda Guerra Mundial. Ele pertence a uma geração que fez, em vida, a ponte entre o Brasil imperial e o Brasil moderno. Hoje sua obra integra as principais coleções particulares e públicas do país." É o que diz a também curadora da mostra Mirian Seraphin, que acrescenta que "há exatos 100 anos – no mês de dezembro de 1911 –, quatro obras, 'A Providência Guia Cabral' (1899), 'Maternidade' (1906), 'A Carta' (1906) e 'Retrato da Minha Filha' (1909), de Eliseu Visconti foram expostas pela primeira vez no prédio que hoje abriga a Pinacoteca do Estado de São Paulo, antes Liceu de Artes e Ofícios, na Primeira Exposição Brasileira de Belas Artes”.


Vale muito a pena ir visitar essa exposição com a obra de Eliseu Visconti.


ELISEU VISCONTI - A MODERNIDADE ANTECIPADA
Local: Pinacoteca de São Paulo
Praça da Luz, 2
de 10 de dezembro de 2011 a 26 de fevereiro de 2012
De terça a domingo, 10h às 17h30
Ingresso: R$ 6 reais (meia-entrada R$ 3,00)

quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Sucesso? Ou êxito?

Velazquez vai continuar sempre vivo na memória artística do mundo. Esta pintura "Toillette de Vênus" é uma das que representa o êxito de Velazquez como artista
Nos dias atuais, busca-se o sucesso como nunca. Qualquer um quer ter sucesso, seu quinhão de fama, seus vinte minutos de celebridade. Em contrapartida, o sucesso dura o que dura a moda. 


Ilustração para o livro "Dom Quixote"
de Miguel de Cervantes, feita por Portinari.
Dois artistas que tiveram êxito.
Mas o Êxito, o resultado final de anos de trabalho, de estudo, de pesquisa, de concentração sobre um tema ou assunto que desafie o artista, o êxito, uma vez instalado, ele fica para sempre. Se isso traz sucesso, é o que menos importa. Se isso torna o artista conhecido por todos, é um fator muito menor do que a satisfação que o verdadeiro artista sente de ter suplantado seus limites.


Fui ver no Dicionário Etimológico qual o significado da palavra êxito. Ei-lo: "êxito sm. resultado, consequência, efeito. Do latim exitus". Diante dessa informação, podemos concluir que êxito representa um caminho em determinada direção, um movimento realizado com o sentido de se suplantar algum limite, pequeno ou grande.


Estava assistindo, no Youtube, uma das aulas-espetáculos do grande escritor brasileiro Ariano Suassuna (autor de "Auto da Compadecida" e "A Pedra do Reino", por exemplo). Lá pelas tantas, ele toca exatamente neste assunto. Transcrevo o que ele diz: 


Ariano Suassuna, escritor brasileiro, dramaturgo,
poeta, professor
"Você pega a banda Sepultura ou a banda Calypso. Elas têm muito mais sucesso do que Euclides da Cunha. Muito mais. Se você anunciar uma conferência sobre Euclides da Cunha, se forem 40 pessoas já serão muitas. Já a banda tem público de milhares de pessoas em cada espetáculo. Então, eles têm sucesso. Mas me diga qual é o êxito maior? É "Os Sertões" (livro escrito por Euclides da Cunha). Todo ano sai uma publicação. E mesmo os brasileiros que nunca tenham lido sabem que existe um livro chamado "Os Sertões" que é fundamental para o nosso país. Do mesmo jeito que "Dom Quixote" (de Miguel de Cervantes) é fundamental para a Espanha. Enquanto existir o livro "Dom Quixote", você pode invadir militarmente a Espanha, você pode dominá-la economicamente, mas a Espanha vai ficar viva porque tem um livro chamado "Dom Quixote". A mesma coisa eu digo de "Os Sertões". Podem desmoralizar, descaracterizar, vender, mas, enquanto existir "Os Sertões", sabe-se que existiu um país chamado Brasil e que aquele era um livro fundamental. Aquilo é êxito. Sei que todo artista verdadeiro o busca".


É isso aí.


Zé Celso Martinez Correa e os atores do Teatro Oficina encenando "Os Sertões" de Euclides da Cunha