domingo, 13 de maio de 2012

Berthe Morisot em retrospectiva

O Museu Marmottan Monet de Paris, França, organiza desde o dia 8 de março, e até o próximo 1º de julho, a primeira retrospectiva da obra da pintora Berthe Morisot (1841-1895) após mais de meio século. São 150 pinturas, pasteis, aquarelas, sanguíneas e carvões provenientes de outros museus e de coleções particulares do mundo inteiro, o que permite ter uma ideia ampla do que foi a carreira de uma das mais ilustres pintoras impressionistas.

A exposição de Berthe Morisot no Museu Marmottan Monet de Paris

A seleção das obras foi feita com o objetivo de acompanhar o percurso da artista desde o período de sua formação com o mestre Jean-Baptiste Camille Corot até sua última pintura. Segundo o texto de apresentação da exposição, no site do Museu Marmottan, as obras escolhidas mostram uma arte sutil e delicada, onde o tema geral é a celebração da mulher e da criança. Os retratos de moças no baile, ou fazendo a toalete, ou simplesmente em algum jardim dão testemunho da evolução de sua pintura como grande representante do Impressionismo. Mas há também pinturas de paisagens ou simplesmente composições decorativas, que a colocam lado a lado com dois de seus grandes contemporâneos: Monet e Renoir.
Quem foi Berthe Morisot
Retrato de Berthe Morisot,
por Edward Manet
Berthe nasceu em 14 de janeiro de 1841, na cidade de Bourges, onde seu pai era prefeito. De uma família de posses, ela recebeu uma educação burguesa: fez cursos de música, desenho e pintura, juntamente com sua irmã Edma. Eram sobrinhas do grande pintor rococó Jean-Honoré Fragonard (1732-1806).
Em 1852, a família muda-se para Paris e as irmãs vão estudar desenho e pintura. Berthe tinha 16 anos de idade. Depois passaram a copiar as obras dos mestres da pintura no Museu do Louvre, onde conheceram o pintor Fantin-Latour. Mais tarde, através dele, elas conheceram o pintor impressionista Edward Manet.
Em 1861, Berthe e Edma se tornaram alunas do pintor Camille Corot. Três anos depois, Berthe Morisot participou pela primeira vez como pintora do Salão de artes oficial, o primeiro de muitos. Ela expunha regularmente, ano a ano, sobretudo paisagens. Mas ela também expôs um retrato duplo de sua mãe lendo, e da irmã Edma sentada ao lado, já dentro da concepção artística de Manet, que Berthe considerava seu segundo professor.
Em 1863, Berthe começou a pintar ao ar livre em Pontoise, a noroeste de Paris. Lá conheceu os pintores Daubigny e Daumier. Depois fez algumas viagens pela Espanha e Inglaterra.
Menina lendo, 1888, coleção do Museu
de São Petersburgo, Rússia
Já influenciada pela nova geração de pintores que surgia, os futuros impressionistas e seus amigos, Berthe retirou a pintura onde retratava a mãe e a irmã do Salão de 1870. Em 1874, ela deixa de participar dos Salões oficiais para se juntar ao grupo de pintores independentes, que resolveram fazer sua própria exposição.
No final da década de 1860, as raízes do Impressionismo já estavam lançadas. Mas antes disso uma corrente artística teve uma crescente importância no meio artístico francês, constituindo-se – como diz Peter H. Feist em O Impressionismo na França – em um “dos mais notáveis fenômenos da arte do século XIX”: o Realismo. Era fruto de fatores ligados ao desenvolvimento de concepções que davam uma nova leitura do mundo, inclusive dando sentido às opções políticas que tomaram artistas como Gustave Courbet. Os artistas e seus quadros eram – continua Feist – “como janelas que se debruçam sobre uma parte do mundo real”. Apesar de ser dotado de visão como qualquer ser humano, o pintor deveria treinar permanentemente seu olhar, treinar e refinar sua percepção do mundo. E assim, suas imagens representativas da natureza deveriam levar o observador comum a examinar a realidade de uma forma nova.
Autorretrato, coleção do Museu Marmottan Monet
Para esse grupo de jovens pintores ao qual se juntou Berthe Morisot, pintar era representar a realidade que o artista tinha vivenciado e presenciado. O centro de interesse era a realidade cotidiana, a vida prosaica, os prazeres da vida. A paisagem com mar e céu era agora mais luminosa. Os pintores impressionistas, com seus cavaletes ao ar livre, queriam pintar a mudança e o movimento do dia, com sua luz nova a cada momento. Davam a seus quadros uma claridade maior, uma invasão de luz e cor. Até as sombras eram coloridas.
A inauguração do Salão dos Independentes aconteceu no dia 15 de abril de 1874, quinze dias antes da abertura do salão oficial. Eram trinta os artistas desse salão, que incluíam, além de Berthe Morisot, Pierre-Auguste Renoir e Claude Monet. A crítica não recebeu bem essa nova forma de pintar, e um dos próprios críticos foi quem cunhou a expressão “impressionismo”.
Em 1874 Berthe se casou com Eugène Manet, irmão de Edward. Cinco anos depois nasceu sua filha, Julie. Ela já tinha 38 anos. Fez mais algumas viagens pela Itália, Bélgica e Holanda.
Entre 1881-1883, Berthe construiu uma casa em Paris, onde recebia a cada quinta-feira pintores e escritores: os pintores Degas, Caillebotte, Monet, Pissarro, Renoir e o crítico de arte Duret, entre outros. Suas qualidades tanto humanas quanto artísticas fizeram dela uma mulher muito respeitada no mundo intelectual e artístico francês, atraindo a amizade inclusive do poeta Stephane Mallarmé, que se tornou seu amigo e seu maior fã.
Retrato da mãe e da irmã, 1869-70, National Gallery
of Art, Washington, EUA 
Em 1892, Berthe fez sua primeira exposição individual, poucos meses depois da morte de seu marido. Como Camille Pissarro, Berthe Morisot foi dos únicos artistas que expuseram em todas as mostras impressionistas, com exceção de 1879, ano em que nasceu sua filha.
Assim como a pintora norte-americana Mary Cassat, Berthe Morisot pintou principalmente as mulheres, as crianças e as cenas familiares. Nunca deixou de pintar, a vida inteira, ao contrário de sua irmã também talentosa, Edma, que abandonou a pintura depois que se casou em 1869. Naquela sociedade dominada pelo sexo masculino, era muito difícil para as mulheres acharem um equilíbrio entre a vontade de aprender, a segurança em si próprias como artistas e a manutenção do matrimônio.
Em março de 1895, Berthe Morisot morreu de pneumonia, em Paris. Tinha 54 anos. Porém, deixou a seus amigos – Degas, Monet e Renoir – diversas obras prontas. Apesar de ter sido uma artista de trabalho bastante profícuo, o machismo da época inscreveu em seu atestado de óbito: “sem ocupação” e em seu jazigo a inscrição “Berthe Morisot viúva de Eugène Manet”.
No entanto, um ano depois de sua morte, uma grande homenagem lhe foi prestada: a galeria de Paul Durand-Ruel expôs 394 de suas pinturas, desenhos e aquarelas, com um prefácio escrito por Stephane Mallarmé.
Esta exposição do Museu Marmottan de Paris, portanto, recupera a memória dessa grande pintora impressionista francesa. E faz justiça à presença feminina nas artes plásticas, sempre tão negligenciada pelos salões e pela mídia. Berthe Morisot foi contemporânea de outras duas artistas de peso: Mary Cassat (1845-1926) e Eva Gonzalez (1849-1883).
Retrato de Madame Hubbard

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