Estou preparando uma pesquisa sobre o assunto Arte e Mercado, que devo publicar em breve neste blog. Mas desde já adianto algumas indagações, que considero importantes, com vistas a provocar uma reflexão maior sobre os termos atuais que gestam o que nestes tempos se chamam de “artes visuais”.
A Fonte, de Duchamp |
Hoje (um hoje que já dura muito, e dura porque existe um sistema muito organizado por trás dele), os Neo-Maneiristas se revezam em imitar artistas do passado. Houve um tempo em que os pintores imitavam outros pintores, que eles consideravam grandes Mestres, ou seja, pintavam “à maneira de” Da Vinci, de Ticiano, de Rafael... Eram os Maneiristas. Viviam na Europa no mesmo período em que o Brasil começava a se formar, lá pelos idos de 1520-1600. Eles tinham muito orgulho de fazerem cópias perfeitas dos seus mestres, pois dominavam a técnica do desenho e da pintura da época, de forma excelente (veja abaixo).
Os maneiristas de hoje também se satisfazem em repetir ideias de artistas passados, dos tempos de Duchamp (antes de Marcel Duchamp, devem pensar eles, será que o mundo existia???)
O artista e sua obra: Damien Hirst e seu cadáver de tubarão, conservado em formol |
Já se fez de tudo na “Arte Conceitual”, depois do penico de Duchamp... Já foram usados todos os meios e todos os líquidos humanos para serem apresentados como obras de arte em galerias e museus da moda: sangue, esperma, saliva, suor, menstruação e... merda!
O artista e sua obra: a merda enlatada de Piero Manzoni |
Seria uma ideia fazer aqui uma lista das coisas que já foram expostas como obras de arte, mas em respeito a quem acompanha este blog, vou dispensá-los do mal-estar físico - além de intelectual - que essa lista causaria...
Mas não posso deixar de falar sobre uma exposição que está acontecendo neste momento no Rio de Janeiro, na Casa França-Brasil, um espaço que pertence ao governo do Estado do Rio: A exposição “2892”, inaugurada em 14 de maio último, de Daniel Senise.
Os lençois expostos na Casa França-Brasil. Mais vale olhar para o teto do prédio! |
À maneira de Duchamp (e tantos d’outros) Senise iria recolher esses lençois mais de 15 anos depois para apresentá-los numa exposição assinada por ele, esta que está ocorrendo neste momento. O título dessa exposição é o número das pessoas que se enrolaram nesses... lençóis(?). Agora fico sem saber se chamo de lençois algo que foi elevado à condição de obra de arte. De um lado, os lençóis que passaram pelos clientes do Motel. Do outro, os que enrolaram os doentes com câncer... No meio, um corredor macabro, onde o visitante desavisado pode ser surpreendido por sua imaginação que irá visualizar ali todas as “marcas de amor” naqueles lençois e, do outro lado, marcas de doentes de câncer... Sangue, esperma, líquidos humanos...
E “isso” é Arte?
Que mundo é este, onde a arte que fazemos é ESSE tipo de arte? Será que não há uma tremenda coerência com essa produção de arte contemporânea atual e essa sociedade neoliberal que acha cada vez mais legal ser de direita, como disse Marcelo Rubens Paiva recentemente? Uma sociedade que aplaude o preconceito, a discriminação, a elitização, o jogo midiático manipulador e o consumismo, teria que tipo de artistas para ilustrar seu pensamento? Uma sociedade dominada pela caretice evangélica, por falsos mas milionários profetas, por pensadores medíocres mas ilustres que usam meia dúzia de palavras para arrancar risadinhas nervosas da classe média, teria outro tipo de artista, que não os escolhidos do mercado e do sistema?
Como diz o poeta e crítico de arte Affonso Romano de Sant’Anna, a arte contemporânea já não é mais assunto para quem é especialista em Artes, mas em Psicanálise...
OS MANEIRISTAS JÁ FORAM BONS NO PASSADO! Retrato de Maximilien II e sua família, atribuída a Giuseppe Arcimboldo, por volta de 1563 |