"A menina com pêssegos", Valentin Serov, 1887, óleo sobre tela, 91 x 85 cm |
Autorretrato, 1880 |
Valentin Serov nasceu em São Petersburgo, em 19 de janeiro de 1865. Seus pais eram músicos: Aleksander Serov era compositor e crítico musical, um admirador da obra de Richard Wagner; Valentina Bergman, de origem alemã, também era compositora e estava sempre ocupada organizando festas e musicais. Ele foi o único filho do casal.
Serov, então, teve uma infância impregnada pela atmosfera artística, não somente por causa dos pais músicos, mas pelos amigos da família, escultores e pintores, como Mark Antokolsky e Ilya Repin, que sempre visitavam sua casa. Precocemente observador, logo o talento de Valentin para o desenho atraiu a atenção de todos.
Seu pai morreu quando o menino tinha seis anos. Sua mãe, assim que percebeu o talento do filho para o desenho decidiu ir a Paris, que na época era o centro principal da arte. Lá também já residia Ilya Repin, que ela conhecia bem e pensou nele para orientar a educação artística do filho. Foi Repin quem iniciou Valentin Serov no caminho da pintura.
Mas lembramos que em 1874, o casal Savva Mamontov (leia aqui) passou por Paris, vindos da Itália, e de lá trouxeram de volta para a Rússia Ilya Repin, assim como Valentina Bergman e seu pequeno filho de 9 anos de idade. Foram todos viver na mansão de Abramtsevo, propriedade do mecenas. Foi nessa comunidade de artistas e intelectuais que Valentin Serov cresceu e se desenvolveu como artista.
Ilya Repin por Serov |
Valentin continuou seus estudos com Repin e conheceu outros artistas que frequentavam aquela residência, onde as atividades comunitárias incluíam leituras em grupo nas noites de domingo. Inicialmente liam-se os clássicos, mas isso logo evoluiu para “representações de pantomima” que se tornaram, por volta de 1881, produções teatrais que Savva Mamontov encenava nos invernos da mansão de Moscou. Ele mesmo escrevia os roteiros das peças, baseados em contos do folclore russo ou em algum episódio da história.
Para a montagem dessas peças, todos participavam. Victor Vasnetsov, assim como Korovin, Roerich, Golovin e Isaac Levitan, pintaram as cenografias das peças. Estes pintores trabalhavam nas produções teatrais da “ópera particular” de Mamontov. Na sequência, outros espaços teatrais começaram a seguir também o costume iniciado pelo mecenas de contratar pintores profissionais para pintar cenários. Isto acabou gerando o costume europeu de decoração teatral realística, pois antes os “panos de fundo” das salas de teatro eram apenas decorativos. “Isso provocou, por sua vez, uma revolução na ideia de teatro”, diz Camilla Gray. “A produção passou a ser vista como um todo e o ator teve de subordinar seu desempenho aos outros elementos: cenário, figurino, postura, música, linguagem. Assim uma síntese emergiu, uma unidade dramática.”
Com isso, o teatro atraiu as novas gerações de pintores. Vassily Polenov trouxe dois jovens estudantes da Faculdade de Moscou, Isaac Levitan e Konstantin Korovin (1861-1939). Este último, observa Gray, “foi o primeiro artista russo a refletir a arte dos impressionistas franceses”. Korovin havia ido a Paris em 1885 e tinha conhecido alguns dos pintores impressionistas daquela cidade. Dele teria sido a responsabilidade de revolucionar o desenho teatral.
Isaac Levitan, por Serov |
Serov era um comediante natural e gostava de entreter os convidados de Mamontov. Em Abramtsevo, chegou a participar das peças e outras performances, fazendo os convidados se divertirem.
Além dessas pantomimas, Serov adorava artesanato, especialmente cerâmica. O prato de cerâmica que aparece na pintura "A Menina com pêssegos" foi feito à mão pelo próprio artista, que nos anos 1890 chegou até mesmo a montar uma cerâmica.
Valentin Serov também pintou de paisagens, pois havia estudado com Isaac Levitan.
Em 1890, Serov apresenta a Mamontov seu amigo Mikhail Vrubel (leia aqui), que vinha da Academia de Belas-Artes de São Petersburgo, onde havia ingressado em 1880 e também tinha sido aluno de Chistyakov.
A formação artística de Serov foi então bastante influenciada pela vida em Abramtsevo. Ele amava passear pelo campo, com seus bosques e espaços cercados por ravinas e aldeias. Em 1880, Serov entrou para a Academia de Belas-Artes de São Petersburgo, onde foi aluno de Pavel Chistyakov, que havia ensinado pintura também a Mikhail Vrubel, Surikov, Polenov e Repin. Mas cinco anos depois, Serov decidiu que seus estudos na Academia estavam encerrados. Se sentia “entediado".
Na segunda metade da década de 1880, Valentin Serov resolveu viajar para o exterior e, com isso, conheceu os impressionistas franceses. Começou a usar as cores vivas dos Impressionistas em seus trabalhos. Suas obras "A menina com pêssegos" (1887) e "A menina sob a luz solar" (1888) logo o fizeram conhecido e admirado. Nessas duas pinturas pode-se observar que Serov aplica nelas alguns dos conceitos pictóricos impressionistas, como a luminosidade das cores e uma forma mais solta de usar o pincel. O retrato de Konstantin Korovin, feito em 1891, mostra uma certa influência de Edgar Degas, cujas obras Serov pode ter visto em Paris.
Sacha e Yuri Serov |
Com estas pinturas, Serov recebeu um prêmio da Sociedade de Arte de Moscou, sendo que a segunda foi imediatamente comprada pelo empresário russo Pavel Tretyakov, patrono de artistas, colecionador e filantropo, cujo nome ilustra a Galeria Tretyakov em Moscou.
Em 1887, Serov casou-se com Olga Trubnikova, com quem teve vários filhos. Ele era um pai amoroso e gostava de pintar seus filhos. O retrato "Crianças" de 1899, é um dos quais ele mostra seus filhos Yury e Sasha. Mas eles apareceram em outros de seus desenhos e pinturas.
A partir de 1890, o retrato tornou-se o gênero básico na arte de Serov. Foi neste campo que ele mais se destacou, pois foi um excelente retratista, conseguindo captar as características psicológicas de seus modelos. Logo conquistou a reputação de ser um dos melhores retratistas de sua época, ao mesmo tempo que Repin, seu antigo professor.
Serov passou a receber muitas encomendas para retratos. Em 1892, recomendado por Repin, Serov recebeu uma encomenda para pintar um retrato grande do imperador Alexander III e de sua família. Serov levou quase três anos para terminar a peça, pois tinha que pintar a partir de uma fotografia, pois somente uma única vez teve a chance de ver o soberano pessoalmente!
Os historiadores contam um caso curioso que ocorreu com o retratista Serov: ele foi encarregado de pintar o retrato de Nicolau II. A imperatriz acompanhou de perto o trabalho do artista, examinando cada pincelada que era dada. Imediatamente apontava o que ela via como “furos” do artista. Serov ouviu silenciosamente por um período de tempo, mas em determinado momento entregou a palheta e os pincéis para a imperatriz e lhe disse: “então é melhor a senhora mesmo fazer”! Felizmente Nicolau II saiu em sua defesa e pediu desculpas pelas interferências da esposa...
Nicolau II, por Serov |
Valentin era muito exigente quando se tratava de pintar seus modelos, um trabalho que muitas vezes levava meses para concluir, em sessões ao vivo onde os modelos tinham que ficar horas imóveis. O menor movimento causava descontentamento ao artista. Alguns tinham até um pouco de medo de sentar-se para Serov pintar seus retratos, de tão rigoroso que ele se tornara. Mesmo assim, sempre havia muitos que queriam ser retratados por ele. Serov nunca falhava com seus clientes: sempre receberam belos e elegantes retratos dos quais poderiam se orgulhar.
Tendo ganhado larga popularidade, em 1894 Valentin Serov se juntou ao “Os Itinerantes”, grupo de artistas realistas russos que, em protesto às restrições acadêmicas, formaram uma cooperativa que também promovia exposições de obras de seus membros. Esta sociedade foi formada em 1870 em São Petersburgo, sob a liderança de Ivan Kramskoy. Ele e mais Grigory Myasoedov, Nikolay Ghe e Vasily Perov resolveram abandonar a Academia de Arte, naquele evento que se tornou conhecido como “A Revolta dos quatorze”.
De 1897 a 1909, Valentin Serov passou a ensinar na Escola de Pintura, Escultura e Arquitetura de Moscou. Em 1900 mudou-se para São Petersburgo para participar do grupo “Mundo da Arte”, uma nova associação de artistas russos que estavam insatisfeitos com “Os Itinerantes”. Eles tinham também uma revista com o mesmo título, onde expunham suas ideias. Assim como seu amigo Korovin, Serov contribuia com textos para a revista, assim como para as exposições organizadas pelo grupo. Foi este grupo "Mundo da Arte" que organizou em 1907 a apresentação de um balé baseado no estilo dos "Contos de Horfmann", escritor alemão. O coreógrafo, Michel Fokine, apresentou um bailarino que havia sido seu aluno como sugestão para que ele atuasse nesse balé. Era Vaslav Nijinsky, que depois se tornou mundialmente conhecido como um dos maiores, senão o maior, bailarino de toda a história do balé mundial!
No começo do século XX, Serov se torna cada vez mais modernista, abandonando o estilo impressionista. Mas mantinha-se fiel à sua compreensão realista da natureza. Nesta época fez vários retratos, que continham alguma dramaticidade, de pintores, músicos, escritores e atores, como o retrato do escritor Maximo Gorki que vemos aqui.
No começo do século XX, Serov se torna cada vez mais modernista, abandonando o estilo impressionista. Mas mantinha-se fiel à sua compreensão realista da natureza. Nesta época fez vários retratos, que continham alguma dramaticidade, de pintores, músicos, escritores e atores, como o retrato do escritor Maximo Gorki que vemos aqui.
Retrato de Maximo Gorki, por Serov |
Valentin Serov também participava ativamente dos movimentos democráticos russos que culminaram com a Revolução de 1905. Ele chegou a fazer várias ilustrações satirizando figuras da vida política. Ele era uma espécie de membro consultor da Academia de Artes de São Petersburgo desde 1903, mas em 1905 renunciou a esse cargo em protesto contra a execução dos trabalhadores em greve, no episódio que ficou conhecido como “domingo sangrento”. Também executou algumas pinturas históricas.
Em 1907, junto com Leon Bakst (pintor e cenógrafo russo, além de figurinista) viajou para a Grécia, para a ilha de Creta, onde os dois artistas estudaram as ruínas do Castelo de Knoss. Depois de voltar para casa, Serov começou a fazer esboços do antigo castelo e temas da mitologia clássica. É dessa época "O Rapto de Europa" pintado em 1910 (veja abaixo). Também nesta época pintou cenários para a ópera “Judith” no teatro Mariinsky.
O artista deixou uma grande quantidade de obras, que vão desde a pintura de paisagem a retratos e pinturas de eventos históricos. Seu nome se junta aos dos maiores da arte realista russa, mas ao mesmo tempo mostra que, assim como Vrubel, ele foi um dos artistas que inspiraram os posteriores modernistas russos.
Valentin Serov morreu de problemas cardíacos em 5 de dezembro de 1911, com 46 anos de idade. Foi enterrado no Cemitério Novodevichy, de Moscou.
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"O rapto de Europa", Valentin Serov, 1910, óleo sobre tela, 71 x 98 cm, Galeria Tretyakov |
"Retrato de Olga Tamara", Valentin Serov, 1892 |
"Ida Rubistein", Valentin Serov, óleo sobre tela, 1910, 147 x 230 cm |
"Camponesa na carroça", Valentin Serov, 1896 |
"Retrato de Praskovya Mamontov", Valentin Serov, 1889 |
"Retrato de Semion Petrovitch Chokolov", Valentin Serov, 1887 |
"Sasha estudando", Valentin Serov, aquarela, 1897 |
"Alexander Puchkin no parque Bench", Valentin Serov, aguada, 1899 |
"Retrato de Sophia Botkina", Valentin Serov, óleo sobre tela, 1899 |
"Retrato de Sophia Dragomirova", Valentin Serov, oléo s/ tela, 1889 |
"Retrato de Nicolau Posniakov", Valentin Serov, óleo sobre tela, 1910 |
"Retrato da princesa Olga Orlova", Valentin Serov |
"Retrato de Nicolau Rimsky-Korsakov", Valentin Serov, 1898, 94 x 11 cm |