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O Museu Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro |
De volta ao Museu Nacional de Belas Artes hoje, aqui no Rio, fui concluir minha visita ao terceiro piso do prédio. Faltou ver as obras de artistas contemporâneos, como Tomie Ohtake, Flávio Shiró, Abrahan Palatnik, Eduardo Sued, Paulo Pasta, Renina Katz, Dió Viana, Laura Vinci, Iole de Freitas, Jorge Guimle, Beatriz Milhazes, Daniel Senise, Lygia Pape, Fayga Ostrower, Leonilson, Luíse Weiss, entre outros.
Com exceção da alta qualidade das gravuras de Renina Katz e da beleza forte do traço de Luise Weiss, o resto... bem, eu não gosto mesmo!
- Tomie Ohtake não me diz nada;
- não gosto das manchas polockeanas de Jorginho Guinle;
- Leonilson, o tal endeusado pelos "experts", não me toca;
- outra "deusa" da expertise contemporânea, Beatriz Milhazes e suas florezinhas coloridas, para mim não se encaixa no gênero das Belas Artes, o que ela faz é decoração e padronagem ilustrativa para tecidos de decoração;
- Laura Vinci, a que vi aqui, apenas copia uma cópia da cópia da cópia da abstração;
- Paulo Pasta, idem;
- assim como outros, a maioria que estava lá.
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Garatujas de Jorge Guinle.
Prefiro Carlos Oswald, acima.
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E definitivamente não gosto de instalações. Ou melhor, gosto das primeiras instalações, aquelas do russo Vladimir Tatlin, que sabia o que fazia. Esses caras de hoje apenas copiam copiam copiam à exaustão, mas se acham - e outros "experts" acham também - que são muito criativos.
Ontem passei 4 horas observando as pinturas dos séculos XIX e XX. Hoje passei 1 hora vendo toda a parte de arte contemporânea, sem quase nada que valesse a pena me deter um pouco mais. Com exceção de Luise Weiss e Renina Katz, como disse. E somente passei todos os 60 minutos porque parei em todos, anotei todos os nomes expostos. E percebi uma coisa muito interessante sobre as obras desses artistas contemporâneos: muitos dos trabalhos - contei 11, mas tinha mais - não tinha um título para a obra. Ou melhor tinha como título o título "Sem Título"... Nem eles sabem como dar um nome à coisa amorfa que fazem? Ou será que o charme a mais da obra denominada de "contemporânea" é mesmo não ter um título?
Não tinha um único ser humano lá, além de mim, olhando para aquilo. Ou melhor, dois rapazes passaram por mim, olhando rapidamente aqueles quadros, rindo muito. Lembrei de um texto que li em um site inglês, onde o jornalista contava que fez uma pesquisa sobre quanto tempo as pessoas param em frente a obras desse tipo e concluiu que são poucos segundos... Os que param. Ainda vou falar desse texto por aqui, em breve.
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Gravura em água forte, água tinta e ponta seca de Carlos Oswald (1882-1971)
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Outra observação: textos para ler, tem! Talvez para ocupar o espaço da "obra", que parece não preencher direito a falta. Copiei estes dois exemplos, um deles de uma sala de exposições da Escola de Artes Visuais do Parque Lage:
Exemplo número 1: "Pela percepção da essência de matéria prima num processo próprio de inspiração, (fulano) interage livremente no consciente e inconsciente. (...)"
Exemplo número 2: "(...) a exposição toca a profundidade característica da poesia e, ao mesmo tempo, sua noção de expansão. Tomando, pois, o artista como poeta de fazeres que destituem separações ou divisões de gêneros artísticos. Aventura-se na transposição de estruturas verbais em visuais e vice-versa, no limite da leitura e apreensão, no espaço em linha, luz, volume, movimento, feito poema que salta da página com alusões a formas, imagens. Sua unidade advém da expografia, cuja ordem escapa à do tempo comum. O enfrentamento dos trabalhos no espaço persegue o instante poético.”
Entenderam? ... Nem eu...
Mas tem uma música do Zeca Baleiro que resume tudo isso, olha este trecho aqui:
"Pra entender um trabalho tão moderno é preciso ler o segundo caderno,
Calcular o produto bruto interno, multiplicar pelo valor das contas de água, luz e telefone,
Rodopiando na fúria do ciclone, reinvento o céu e o inferno
Minha mãe não entendeu o subtexto da arte desmaterializada no presente contexto
Reciclando o lixo lá do cesto chego a um resultado estético bacana
Com a graça de Deus e Basquiat, Nova York, me espere que eu vou já
Picharei com dendê de vatapá uma psicodélica baiana..."
O Parque Lage
O Parque Lage é um lindo parque que fica entre o Corcovado e o Jardim Botânico. Mata Atlântica, com árvores centenárias, palmeiras imperiais. Projetado inicialmente pelo paisagista inglês John Tyndale em 1840 ao gosto dos jardins românticos, foi parcialmente reformulado, nas décadas de 1920-30 e 1930-40. Pertenceu a uma família de sobrenome Lage.
O prédio principal abriga a Escola de Artes Visuais. Passei hoje toda a tarde lá. Salas cheias de alunos desenhando e pintando. Um grupo de alunos estava no pátio interno, ao ar livre, fazendo desenhos de observação do prédio. Uma professora acompanhava o exercício e parava um tempo com cada aluno, orientando o desenho. Sentei-me atrás de um grupo, numa mesa, com meus lápis e meu sketchbook e desenhei um pouco.
Fiquei observando os desenhos dos alunos, alguns bem bons. Depois dei uma passada em volta, nos corredores do prédio, onde tinha diversos cavaletes com trabalhos de alunos, começados. Pinturas em acrílico, a maioria. Alguns abstratos, alguns figurativos. Depende do professor, me disse uma aluna. Fiquei com muita inveja dessas pessoas (inveja boa) por terem um lugar como este para estudar pintura e desenho! Com o detalhe muito interessante de que qualquer pessoa pode entrar lá, pode ver as pessoas desenhando e pintando, pode comer um lanchinho ou tomar só um café na lanchonete do fundo, onde na mesa ao lado da minha um grupo de moças e rapazes fazia uma reunião para organizar sua apresentação próxima em algum teatro de alguma cidade. Eles eram atores.
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Aqui funciona a Escola de Artes Visuais do Parque Lage |