quinta-feira, 27 de abril de 2017

Os demônios que assustavam Vrubel


As pinturas de Mikhail Vrubel foram umas das maiores inspirações para os artistas da vanguarda. Vrubel, artista talentoso e trágico, conseguiu transmitir sua complexa vida interior através de seu trabalho incomum.

"Demônio derrotado", Mikhail Vrubel, 1902, Galeria Tretyakov
Mikhail Aleksandrovich Vrubel nasceu em 17 de março de 1856, em Omsk, província da Sibéria. Seu pai serviu no exército e participou da guerra da Crimeia, se tornando depois advogado militar. Devido ao trabalho paterno, a família teve que mudar de residência várias vezes, vivendo em Omsk, Astrakan, São Petersburgo e Odessa.

Mikhail Vrubel, 1898
Vrubel teve mais três irmãos. Sua mãe, Anna Basargin, morreu de tuberculose quando ele tinha apenas 3 anos de idade. Ele mesmo tinha a saúde frágil e somente começou a andar no mesmo ano da morte da mãe. Já adulto, Mikhail lembrava dela doente deitada na cama, que ele expressou em vários desenhos onde incluía crianças, cavalos e outras figuras da sua imaginação.

Ele começou a frequentar aulas de desenho e pintura com 8 anos de idade, em Saratov, inicialmente. Em Odessa, concluiu sua educação escolar e depois entrou na Universidade de São Petersburgo, como aluno do curso de Direito. Paralelamente, frequentava aulas na Academia de Belas-Artes onde se tornou amigo de Valentin Serov, mais de dez anos mais velho.

Assim como seu pai, após se formar em Direito foi servir ao exército, mas trabalhando na administração da marinha. Mas era insuportável para ele a rotina diária de trabalho na marinha. Largou tudo e entrou para a Academia. Logo seus mestres perceberam seu estilo pessoal e interpretação original de temas clássicos. Assim como Ilya Repin e Vassily Surikov, estudou com o mestre Chistyakov, grande desenhista e admirador do pintor italiano Mariano Fortuni.

O método de ensino de Chistyakov, dentro da Academia e sendo ele mesmo um artista acadêmico, era o de dar liberdade individual para cada aluno. Segundo Camilla Gray, enquanto Repin seguia um caminho mais realista, Mikhail Vrubel mantinha seu estilo próprio, muitas vezes discordando dos pontos de vista dos colegas que consideravam a arte como uma forma de retratar a vida real:

Autorretrato, 1885
O artista não deveria tornar-se escravo do público: ele próprio é o melhor juiz dos seus trabalhos, cujo significado lhe cumpre respeitar e não rebaixar a um truque publicitário… Roubar aquele encantamento que diferencia uma abordagem espiritual de uma obra de arte daquela com que se olha uma página impressa aberta, pode atrofiar a capacidade de encantamento: e isso é privar o homem da melhor parte da sua vida…”

Gray também diz que Vrubel passou a estudar a teoria estética do filósofo alemão Kant, ele que era um leitor ávido dos livros clássicos, que lia em latim, língua que ele dominava, coisa rara na Rússia.

Em 1884, foi para Kiev, a convite do professor Andrian Prakhov, para trabalhar na restauração de ícones e de afrescos antigos e criar novas composições para a igreja de São Cirilo, que havia sido construída no século XII. Por causa desse trabalho, passou um ano e meio na cidade italiana de Veneza estudando a arte dos pintores medievais, onde descobriu a cor dos pintores venezianos e se impressionou muito com elas. Na volta a Kiev, usou estes conhecimentos para criar quatro ícones para a igreja.

Ícone de Nossa Senhora, Mikhail Vrubel,
igreja de São Cirilo, Kiev 
Vrubel sabia que essa “co-autoria” com os mestres do século XII era completamente inédita entre os artistas do século XIX. Foi só depois de 1880 que alguns historiadores começaram uma pesquisa da tradição da pintura de ícones, assim como de traços da cultura antiga da Rússia. Mas essa pesquisa, que começou no campo arqueológico, acabou resgatando, em alguns artistas, a ligação com sua tradição cultural. Vrubel, de acordo com o estudioso N.A. Dmitriev, “se sentia cúmplice desses antigos mestres e seu fervoroso trabalho, e tentou ser digno deles”.

Andrian Prakhov também o convidou para criar pinturas para a catedral de São Vladimir, construída em 1882. Prakhov reuniu uma equipe de pintores, incluindo Vrubel. Este dedicou bastante tempo fazendo esboços e estudos para as pinturas de parede, como “Ressurreição”, “Lamento” e “Anjo com a vela”. Mas seus esboços não foram aprovados pela comissão da igreja, que consideraram suas obras muito incomuns e sem correspondência com os cânones ortodoxos. Dizem alguns especialistas que, se as pinturas de Vrubel tivessem sido aprovadas, a catedral teria um aspecto muito diferente, “mais místico”, “mais cósmico”.

Seus biógrafos contam que ele foi demitido da equipe do professor Prakhov porque tinha se apaixonado pela esposa deste (conta-se que ele usou ela, Emilia, como modelo para pintar o ícone de Nossa Senhora na igreja de Kiev). Foi imediatamente substituído por outro grande pintor, Victor Vasnetsov. Mas entristecido, Vrubel pediu a Prakhov que pelo menos o deixasse fazer os trabalhos mais simples; então apenas alguns ornamentos dessa catedral foram pintados por ele. E seu nome nem mesmo aparece na lista daqueles que trabalharam na pintura da catedral…

"Anjo com a vela", Mikhail Vrubel,
esboço para a catedral de
São Vladimir, 1887
 
Após estas experiências, Vrubel descobriu a diferença da pintura bizantina em relação à arte em três dimensões. Sobre a pintura bizantina, ele observou: “Toda a sua essência reside no arranjo ornamental da forma que enfatiza a platitude da parede”. E isso feito em linhas, de forma bidimensional, observava.

Em 1885 foi para Odessa, mas não encontrava quem lhe encomendasse nada e passava grande necessidade. Seus problemas mentais começaram a se intensificar, o que também interferiu para ser rejeitado na equipe principal de pintores. Esses sintomas se agravavam em diversos períodos e ele, que era profundo admirador da imagem de Jesus Cristo, passou a ter uma espécie de atração e obsessão, que foi crescendo ao longo de sua vida, pela imagem do Demônio. Satanás foi o tema dominante em numerosas de suas obras.

Em seu período de Kiev, também pintou um autorretrato, “O conto oriental” e “Retrato de uma menina contra um tapete persa”, entre outras obras. Nestas pinturas, vê-se como ele era hábil com cores saturadas e com motivos florais. Seu modo de trabalhar era de forma muito concentrada. a Pintura era sua vida, mesmo em tempos de grande carência de recursos.

Em 1889 se mudou para Moscou.

Em 1890, seu amigo Valentin Serov o apresentou a Savva Mamontov, na mansão de Abramtsevo, coisa que significou uma “virada na vida artística de Vrubel”. Criou vários cenários para o teatro de Mamontov, como o pano de fundo “Noite na Itália”. Em 1890 passou a fazer esculturas em cerâmica sobre temas da mitologia russa e eslava. Ele passou a ser o chefe da oficina de cerâmica de Abramtsevo. Mamontov o convidou para acompanhá-lo em uma turnée pela Europa, passando por Roma, Florença, Veneza, Milão e Paris. Nesta viagem, Vrubel pintou algumas aquarelas, técnica que dominava muito bem e que usou para fazer inclusive retratos.

Em 1896, Mikhail Vrubel se casou com a cantora de ópera Nadezhda Zabela. A beleza de sua esposa lhe inspirou uma série de obras, e seu rosto pode ser reconhecido em obras como “Hansel e Gretel” (1896), “Princesa Volkhova” (1898) e “A princesa e o cisne” de 1900.

"Hamlet e Ofélia", Mikhail Vrubel, 1884
Com muito gosto pela leitura, Mikhail Vrubel fez várias interpretações gráficas de obras de Shakespeare, Lermontov e Pushkin. Evidentemente, se sentia atraído pelas imagens dramáticas como Hamlet e Ofélia, e obviamente pelo “Demon”.

Seu estado emocional era sempre instável. Sofria alterações de humor, se irritava facilmente, suas reações emotivas eram dramáticas. Em 1901, sua saúde mental foi piorando e, avaliado pelos médicos, estes concluíram que ele era “incurável”. Mesmo assim não parava de pintar e em 1902 terminou seu quadro “Demônio derrotado”. Conta-se que ele era obcecado com esta pintura e até mesmo quando ela estava exposta num Salão em São Petersburgo, ele ainda fazia alterações na imagem, indo vê-la até “40 vezes num único dia”.

Mais os problemas mentais se intensificavam mais essa pintura assombrava-o. Ele dizia: “é espírito que une em si as aparências masculina e feminina, um espírito quase maligno quando sofre e é magoado, mas também um ser poderoso e nobre”.

Em 1903, Vrubel sofreu um grande golpe, do qual jamais se recuperou: a morte de seu filho. A partir de então passava ainda mais tempo internado em clínicas de saúde mental. Por causa de uma sífilis foi perdendo a visão e seu último trabalho, um retrato de Valery Bryusov, foi pintado quando ele praticamente não enxergava mais nada… Viveu seus últimos quatro anos de vida cego. Imagine-se a tragédia que significa se tornar cego para um pintor!...

"Retrato do meu filho", Mikhail Vrubel
Mikhail Vrubel faleceu em 1910 após ter deliberadamente ficado muitas horas do lado de fora da clínica onde estava internado, exposto ao frio do inverno russo. O resultado foi uma profunda pneumonia que o matou. Seus biógrafos chegam mesmo a falar que foi “praticamente um suicídio”.

As pinturas de Mikhail Vrubel foram umas das maiores inspirações para os artistas da vanguarda “durante os vinte anos seguintes”. Diz Camilla Gray: “Embora não tivesse formulado nenhum vocabulário pictórico novo e não houvesse fundado nenhuma escola, tornou possível as experimentações das ousadas décadas seguintes”. Vrubel, artista talentoso e trágico, conseguiu transmitir sua complexa vida interior através de seu trabalho incomum.

Sua obra mostra também um aspecto do mistério presente na arte russa, desde os primórdios. Tendo uma tradição de pinturas de ícones, voltadas a retratar o mundo espiritual, a Rússia - pode-se dizer - apresenta a maior variedade estilística que qualquer país possa ter tido, passando pela pintura acadêmica, pela realista, pela simbólica, pela pintura abstrata de Vassily Kandinsky e Kasimir Malevich, chegando à Vanguarda russa com seus inumeráveis “ismos” e até ao Realismo Socialista…

Mantendo o meu foco atual de pesquisa na arte russa, quanto mais me aprofundo neste estudo mais me surpreendo com a imensa capacidade criativa desse povo que, em 1917, abriu uma perspectiva tão nova e tão grande para os povos do mundo inteiro, mudando a história ocidental desde então.

A arte russa, dentro da arte mundial - em especial da Ocidental - ainda não recebeu o destaque que merece na História da Arte e seus livros, seus textos, seus estudos. Uma boa parte disso deve-se ao fato da Revolução de Outubro ter feito tremer as bases do establishment capitalista que, temeroso de tão alta influência, preferiu fazer verdadeiras campanhas que embotassem as mentes em relação à cultura russa. Mas este pequeno esforço que tenho feito durante esta minha pesquisa, disponibilizando-a neste Blog, talvez ajude a trazer alguma luz aos que se interessem pelo tema…

Aguardem, pois vem muito mais pela frente.


"Demônio sentado", Mikhail Vrubel, 1890, Galeria Tretyakov
"A manhã", Mikhail Vrubel, 1897, Museu Estatal Russo
"Lamento", Mikhail Vrubel, 1887, esboço em aquarela para a igreja de Kiev
"O vôo do demônio", Mikhail Vrubel, aquarela, 1891
"Lilás", Mikhail Vrubel, 1900, Galeria Tretyakov
"Ezrael, Serafim de 6 asas", Mikhail Vrubel, 1904, Museu Estatal Russo
"A ostra e a pérola", Mikhail Vrubel, 1904, Galeria Tretyakov
Retrato de Mikhail Vrubel, por seu amigo Valentin Serov

terça-feira, 25 de abril de 2017

Vassily Surikov, pintor da história russa

Dando prosseguimento aos textos sobre a arte e a cultura russas, nos próximos posts apresentaremos quatro pintores: Vassily Surikov, Mikhail Vrubel, Valentin Serov e Isaac Levitan que, junto com Ilya Repin (LEIA AQUI), foram grandes precursores dos movimentos estéticos do século XX na Rússia.

"A tomada da torre de gelo", Surikov, óleo sobre tela, 282 x 156 cm, 1891
"Uma pintura é um poema sem palavras."
(Horácio)

Vasily Ivanovich Surikov é considerado o maior pintor histórico da Rússia. Ele executou desde telas históricas a centenas de retratos, estudos e esboços. Mas era principalmente um mestre nas composições monumentais. No final do século XIX, os movimentos em prol da Rússia e de sua cultura, levaram os pintores a executar telas em grande formato, que retratassem grandes eventos e grandes personagens de sua história.

Autorretrato, Surikov, 1887
Surikov nasceu em Krasnoyarsk, na Sibéria, em 24 de janeiro de 1848. De uma família cossaca (kazak em russo, que significa "homem livre, aventureiro" era um povo que vivia nas estepes russas), seus antepassados participaram de levantes na Sibéria e no rio Don, ao sul da Rússia. Ele tinha muito orgulho desta origem. Escreveu: "Eu sou completamente cossaco e com um pedigree que vem de mais de duzentos anos!" Seu pai era um apaixonado por música, tocava guitarra com excelência e era considerado o melhor cantor amador na cidade. Sua mãe tinha refinado gosto artístico também. Portanto, ele cresceu em um meio muito favorável para a arte, e desde muito cedo começou a desenhar.

Seu professor de desenho na escola do distrito de Krasnoyarsk, Grebnev, foi seu primeiro grande incentivador e apoiou seu desejo de se tornar pintor. Com a morte de seu pai em 1859, Surikov precisou trabalhar como funcionário de um escritório, para sustentar sua família. Mas seus desenhos atraíram a atenção do governador de Krasnoyarsk, que enviou sua indicação para o conselho da Academia de Artes de São Petersburgo. A resposta foi positiva, mas ele não receberia uma bolsa de estudos. Um rico dono de uma mina de ouro em Kuznetsov, amante de arte e colecionador, ofereceu-se para pagar por seus estudos e manutenção.

Em dezembro de 1868, Surikov partiu em uma longa viagem a cavalo para a capital, acompanhando um carregamento de mercadorias. Na capital russa ficou estupefato: “Chegando a Moscou, aquele centro da vida nacional, eu imediatamente entendi o meu caminho”, escreveria ele mais tarde.

Já como estudante da Academia, Surikov não se importava muito com a vida noturna da cidade e se concentrou firmemente em aprender pintura, trabalhando dia e noite para dominar essa profissão muito desafiadora, em especial a pintura histórica. Em 1870 já estava trabalhando em sua primeira pintura autoral: “Vista do monumento a Pedro, o Grande na Praça do Senado em São Petersburgo”

Surikov fez grandes progressos na Academia, extraindo o máximo benefício de suas aulas. Ele era especialmente talentoso com a composição de seus quadros, tanto que passou a ser chamado de "compositor" por seus colegas. Em suas composições, o expectador se sentia como parte de suas imensas telas históricas.

"Suvorov cruzando os Alpes",
Surikov, óleo sobre tela,
1899, 373 x 495 cm
Vassily Surikov foi aluno de Pavel Chistyakov, que treinou muitos mestres da arte russa. Com ele, Surikov executou uma série de composições sobre temas clássicos e também uma representação do início da história da Rússia “O julgamento de um príncipe” (1874). Em abril de 1875, participou da competição por uma medalha de ouro com o quadro “O Apóstolo Paulo expondo o dogma do cristianismo a Herodes, Agripa, sua irmã Berenice e o procônsul romano Festo.” Em termos de composição, a pintura segue os cânones acadêmicos, mas já se via o interesse do artista pela psicologia de seus personagens. Mas ele não ganhou a medalha.

Graduando-se com honras em 1875, Surikov recebeu o prêmio de uma viagem de dois anos ao exterior, pago pelo Estado. Ele recusou, pedindo em troca uma autorização para pintar os murais para a catedral de Cristo Salvador em Moscou. Esta encomenda lhe rendeu muito dinheiro e foi a única que recebeu ao longo da vida.

Em 1877, Surikov estabeleceu-se em Moscou. Em 1878, se casou com Elizaveta Share. Sua tranquila vida familiar e a relativa segurança material lhe permitiram pintar cenas da história russa. Produziu algumas obras-primas como “A Manhã da execução do Streltsty”, “Menshikov em Beryozovo” e “A boiarda Morozova”.

Retrato de Surikov,
por Ilya Repin
Vassily Surikov foi o primeiro de 'Os Itinerantes' a combinar os ideais nacionais com o desejo de expressar esses ideais. Para ele, a maior representação da beleza podia ser encontrada na Sibéria, com toda a sua severidade, com seus costumes às vezes cruéis, com seu povo corajoso e sua velha Rússia.

A obra-prima de Surikov, como é largamente considerada, “A boiarda Morozova”, está ambientada nas ruas da Moscou medieval. É uma pintura enorme - tanto em tamanho quanto em escala, ela tem as características de um mural. A construção pictórica desse trabalho lembra alguns dos grandes pintores monumentais italianos cujas obras Surikov tanto admirava, como Michelangelo, Tintoretto, Ticiano e, mais ainda, Veronese. 

Com Surikov a paleta de cores peculiares da arte bizantina é igualmente reavivada - os ricos marrons, vermelhos escuros e amarelos claros são os mesmos que encontraremos novamente no trabalho de Natalia Goncharova, anos depois. “Um ritmo de superfície decorativo e uma horizontal vigorosa são outras características comuns à arte russa, tanto antiga quanto moderna, e igualmente recuperadas pela primeira vez no trabalho de Surikov”, diz a escritora Camilla Gray.

Sua tela "A manhã da execução do Streltsy" (1878-81) representa um dos períodos mais cruciais da história russa, no episódio da luta pelo trono entre Pedro o Grande e sua irmã Sophia, cujo resultado foi a derrota dela. "Não foi a execução dos opositores que eu queria transmitir, mas a solenidade dos últimos minutos", escreveu Surikov sobre a pintura, que logo foi comprada por Tretyakov.

Em 1888 o artista sofreu um grave choque: sua esposa morreu. Desesperado com a perda trágica da mulher que ele amava, Surikov parou de trabalhar. Seu bom amigo Mikhail Nesterov mais tarde se lembrou: "... depois de uma noite tortuosa, ele se levantava de madrugada e ia fazer uma oração matutina. Lá, no silêncio da velha igreja, orava por sua falecida esposa batendo a testa ardente contra o chão de pedras frias. Então, chovesse ou fizesse sol, ia direto para o cemitério de Vagankovo ​​chorando no túmulo de sua amada, chamando-a e orando desesperadamente... "

"Pugachev",
desenho de Surikov, 1911 
Atendendo ao conselho de sua família, Surikov e suas filhas foram para Krasnoyarsk, na Sibéria. Escreveu: "Na Sibéria o povo é diferente do resto da Rússia: livre, corajoso... As montanhas são verdadeiras jóias... (...) A Sibéria me deu a inspiração para meus personagens históricos, com aquele espírito e força. Eu não compreendo as ações históricas sem povo, sem multidão ".

A tela "A tomada da fortaleza de gelo" (1891), a obra mais alegre do artista, que ele fez após três pinturas históricas, o ajudou a superar a dor e a adversidade. Nela, vê-se seu profundo amor pela vida.

Surikov passou vários anos trabalhando em seu grande último trabalho, a tela "Stepan Razin" (1907-10). Stepan Razin foi um cossaco, líder de um grande levante contra a nobreza e a burocracia do czar no sul da Rússia. Esta pintura lhe causou alguns problemas com os governantes, que a consideraram uma provocação.

Seu último trabalho foi “Pugachev”, mostrado acima num estudo feito em 1911, que mostra o líder de uma revolta camponesa do século XVIII preso.

Surikov morreu em 19 de março de 1916 e foi enterrado ao lado de sua esposa no cemitério de Vagankovo, em Moscou.


_________________________________
Referências bibliográficas:

- Gray, Camilla. O grande experimento. Arte russa. 1863-1922. São Paulo: Worldwhitewall Editora Ltda, 2004
- Site: russiapedia.rt.com
_________________________________


"A manhã da execução de Streltsy", Surikov, 1881,
óleo sobre tela, 218 x 379 cm
"Stepan Razin", Surikov, óleo sobre tela, 1909-1910

"A boiarda Morozova", Surikov, óleo sobre tela, 1887, 587 x 304 cm
"A conquista da Sibéria por Yermak", Surikov, 1895, óleo sobre tela, 599 × 285 cm

"O cavaleiro de bronze", Surikov
"Vista do monumento a Pedro na Praça do Senado em S. Petersburgo", Surikov, óleo sobre tela, 1870