quinta-feira, 10 de março de 2011

Sonhos femininos do mês de março

Hendrickje adormecida (1655)
REMBRANDT
Pincel com tinta marrom - 20,3 x 24,6 cm
Museu Britânico  de Londres (Reino Unido)
Havia um sonho povoando a noite inquieta, enquanto seu corpo rolava entre fronhas e lençóis de uma imensa cama. Um sonho onde algo se partia ao meio: meio carne, meio alma. Dois pedaços, um pra cada lado se encontravam separados nas sinuosidades do espaço-tempo curvo, voando à velocidade ultraluminosa, numa perene transmutação de matéria em energia e em matéria novamente. Sem forma. Sem nome. Sem significado. Por que haveria de significar algo?

Ventos, como espadas afiadas, trespassavam o rosto sem forma, sem cara. Deformando-o, o vento cósmico. 

Naquela longínqua solidão de frios graus negativos, neutrinos rasgam tecidos, enquanto quarks recompõem nêutrons, e elétrons apaixonados zarpam sedentos da carga elétrica de prótons... Vagavam, algo partido, separados no espaço, meio tudo, meio nada,  multidimensionalmente caóticos, alma e corpo. 

Os pensamentos eram vagos, incertos, entre as fronhas brancas de linho, onde um pequeno inseto escuro pousa... por um segundo... e revoa.

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