domingo, 30 de junho de 2013

Retrato de Fernanda

Retrato de Fernanda Sanches, Mazé Leite, óleo sobre tela, junho de 2013
Terminei neste sábado, 29 de junho, esta pintura em óleo sobre tela em quatro seções com a modelo Fernanda Sanches, no Atelier Takiguthi. Optei por uma palheta de valores mais altos, esfriando as sombras com azul, verde e violeta, e na luz mais alta também utilizei temperatura também fria. Para isso, resolvi experimentar o amarelo de cadmium limão misturado com um pouco de branco. Como na camada de baixo eu tinha utilizado antes uma tonalidade alaranjada, esse amarelo de cadmium com branco acabou dando uma luz mais fria. 

Infelizmente a fotografia sempre deixa a desejar em relação ao original, alterando um pouco as cores e por isso tem duas versões aqui, a maior acima e esta pequena ao lado. Algo entre as duas fotos estaria perfeito. Mas enfim, dá uma noção do original. Sabemos que isso também depende do monitor do computador de quem está olhando. 

Na sala do ateliê onde estava a modelo, o foco de luz vinha do lado direito, com um jato forte de luz amarelada, que resolvi aproveitar para construir esta pintura. Foto abaixo, com a modelo Fernanda Sanches.


Pintando retrato da modelo Fernanda Sanches, óleo sobre tela, Mazé Leite

quarta-feira, 26 de junho de 2013

O Grito


Olho, busco nas estrelas, fora das estrelas, do lado escuro delas. Vôo a cem mil milhas, trezentas milhas por segundo, alcanço o espaço inalcançável com os olhos. Prescruto. Pergunto. Faço uma auditoria, peço uma jurisprudência, apelo ao infinito, aos céus. Imploro às nuvens densas de chuva pedregosa, que cai em cima de mim. E pela cidade. Ando. Grito. Corro. Calo. Pulo. Falo. Peço, me humilho, me desfaço em mil pedaços. Me renego, me esconjuro, ergo os olhos, abaixo, fecho as mãos, abro, torço os dedos, quebro as juntas, rasgo meu olho direito, ofereço a outra face, piso meus pés, espanco a luz, mordo o ar, durmo na calçada da igreja, estirada, bêbada. Viro anjo sob a abóbada celeste, crente, ciente, descrente. Viro bicho, viro gente, viro arcanjo. Como o pão diabolicamente amassado. Viro água mole que pinga a mil em pedra dura. Escorro furo adentro, viro formiga, escaravelho, ameba, lombriga. Fujo do palácio, pois em terra de cego qualquer um é rei de si próprio e é rei em sua fraqueza. Vou ao mar, ao escuro mar que morreu de tanto sal. Viro peixe, salamandra, vieira, caravela, ameba, molusco. Volto ao meu ninho, sou galinha sem ovo e sem ouro, me esfrego, me entorto, me torturo, amarro cordas, tiro meu sangue, crio úlceras na pele e no estômago, me cortejo com carinhosas urtigas que me entumescem o corpo, volto, viro a página, mudo o disco, dou minha cabeça à guilhotina dos algozes ferozes, que transformam corações em pedra e mente e mentem o que sentem. Mas ressuscito, me amparo em mim, removo a pedra que havia no meio, subo aos céus, desço aos infernos, vago leve, caio dura, ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh GRITO!!!...........

O Grito, Mazé Leite, óleo sobre tela, 2013

segunda-feira, 24 de junho de 2013

200 mil acessos

Hoje - 24 de junho - este BLOG QUE FALA DE ARTE acabou de marcar os 200 mil acessos! Este é um espaço dedicado às Artes Plásticas, à História da Arte e às minhas visões pessoais sobre o assunto. Este blog tem sido útil em diversas escolas e faculdades de artes, auxiliando estudantes em suas pesquisas. Continuaremos com nosso trabalho teórico postando textos aqui neste blog, somente que de forma um pouco mais lenta, uma vez que a autora resolveu privilegiar agora seus horários mais livres à pintura do que ao estudo teórico. No entanto, sempre traremos as novidades do mundo das artes plásticas e, sempre que possível, nossas opiniões a respeito do mundo.

Muito obrigada às centenas de pessoas de todos os lugares do Brasil e de muitos outros países que acessam este BLOG QUE FALA DE ARTE frequentemente!

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Os mestres do Renascimento em São Paulo

Madalena, de Ticiano
O Centro Cultural Banco do Brasil de São Paulo fará uma exposição com 57 obras históricas assinadas por Leonardo da Vinci, Michelangelo, Rafael, Ticiano, Tintoretto, Giorgione, Veronese, Correggio, Bellini e outros. A mostra Mestres do Renascimento: Obras-Primas Italianas será inaugurada no próximo dia 13 de julho.

No ano passado, uma outra grande exposição com os pintores do Impressionismo (Paris, impressionismo e modernidade) atraiu 325 mil pessoas ao CCBB em São Paulo. Animados com isso, os curadores resolveram trazer mais uma mostra de peso, com peças de um dos maiores movimentos artísticos da história da arte, o Renascimento.

Os curadores da exposição serão a historiadora de arte italiana Cristina Acidini, do Museu da Cidade de Florença e Alessandro Delpriori, estudioso do Renascimento. As obras são provenientes de diversos museus italianos e de coleções privadas, informa o texto de divulgação do CCBB. A exposição, inédita no Brasil, reúne artistas do século XVI atuantes em Florença, Roma, Milão, Veneza, além de Ferrara e Urbino.


Cristo benedicente, Rafael Sanzio
Dois dos três andares do CCBB serão ocupados pelos artistas de Florença e Roma, mas a partir do subsolo do prédio os visitantes serão direcionados para ver as obras divididas em cinco núcleos espalhados em quatro andares, com pintores florentinos, romanos,  venezianos. A exposição será uma grande oportunidade de entender a evolução desse movimento artístico que foi o mais influente do Ocidente, e onde brilharam nomes como Leonardo da Vinci, Michelangelo, Tintoretto, Rafael, Ticiano, Veronese e outros tantos.

Haverá também uma "Virada Renascentista" no primeiro dia da exposição, a partir das 15 horas do dia 13 de julho até às 21 horas do dia seguinte, sem interrupção.

Em breve, traremos mais artigos informativos e analíticos sobre essa exposição. Será muito bom para observar de perto como trabalhavam os pintores renascentistas, usando a técnica de pintura em camadas (velatura) e com pinceladas esfumaçando os pigmentos (sfumato). Além disso, fazer a comparação entre o método de trabalho de Ticiano, por exemplo, e Rafael. 

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Exposição:
Mestres do Renascimento: Obras-Primas Italianas
A partir de 13 de julho de 2013
Rua Álvares Penteado, 112
Centro - São Paulo
Metrô: Sé e São Bento
Adoração dos pastores, de Lorenzo Lotto

quarta-feira, 5 de junho de 2013

Pequena exposição de Lucian Freud no Masp

Girl with roses, Lucian Freud
O Museu de Arte de São Paulo – MASP – traz pela primeira vez ao Brasil, a partir de 28 de junho, uma amostra da obra do pintor realista Lucian Freud. Infelizmente apenas 6 pinturas a óleo da sua gigantesca produção poderão ser vistas por aqui, pois os organizadores somente conseguiram trazer em maior número gravuras, desenhos e especialmente fotografias do artista, em número de 28. A mostra intitula-se Lucian Freud: Corpos e rostos.

Algumas das gravuras foram feitas por ele na década de 1940, como experimentação da técnica. Somente muitos anos depois, na década de 1980, Freud voltou a fazer gravuras, desta vez com a técnica da água-forte.

Entre as seis pinturas a óleo estão um autorretrato do começo de sua carreira e a tela “Girl with Roses”, de 1947-48.

As 28 fotografias foram tiradas “por David Dawson, seu assistente, amigo e fotógrafo oficial que além de registrar os movimentos do artista e seus modelos no ateliê, costumeiramente servia ele próprio de modelo para Lucian Freud”, diz o texto de divulgação do MASP.
O pintor alemão Lucian Freud
A exposição irá até o dia 13 de outubro, no primeiro andar do MASP. No dia 27 de junho, às 15h, o fotógrafo David Dawson dará uma palestra gratuita sobre seu trabalho como assistente e fotógrafo oficial de Lucian Freud no Grande Auditório do MASP.

“Pinto o que vejo, não o que querem que eu veja”, costumava dizer quando alguém lhe perguntava porque sua pintura era de um realismo incômodo.

Lucian Freud nunca abandonou a pintura figurativa, mesmo quando a moda da arte abstrata se impôs. O crítico e curador José Roberto Teixeira Coelho afirmou sobre isto: “Essa insistência chegou mesmo a causar escândalo quando, em 1976, uma exposição na Hayward Gallery de Londres organizada pelo também artista R.B.Kitaj defendeu o que este chamava “Escola de Londres”, reunindo artistas como o próprio Lucian Freud, Frank Auerback, Francis Bacon, Leon Kossof e outros que faziam do figurativismo um elemento de resistência contra o abstracionismo dominante. Abstracionismo, com Lucian Freud, só aquele acidentalmente feito por seus pincéis quando os limpava nas paredes de seu ateliê, sobrepondo mancha de tinta a mancha de tinta...”

Lucian Michael Freud nasceu em 8 de dezembro de 1922 na cidade de Berlim, na Alemanha. Filho de pais judeus,  Ernst Ludwig Freud, arquiteto, e de Lucie Brasch, ele era neto do psicanalista Sigmund Freud. Lucien emigrou com sua família para a Grã-Bretanha, após a subida dos nazistas ao poder. Logo após a II Guerra ele começou a ser conhecido como pintor, graças aos retratos de personalidades da época.


Certa vez, Lucien Freud disse ao crítico de arte Robert Hughes: “Eu jamais poderia colocar numa pintura nada do que não esteja ali, à minha frente. Isso seria uma mentira deslavada, um golpe baixo.” Isso explica sua escolha pela pintura figurativa, realista.


A obra de Lucian Freud pode ser dividida em duas fases: uma primeira, onde ele estaria próximo das composições surrealistas e em seguida ele se afirma como pintor realista quando aparecem seus primeiros retratos com uma pintura mais diluida. Já mais velho, Freud (que era neto do psicanalista Sigmund Freud) teve o reconhecimento merecido.

Usando grandes pinceladas e grossas camadas de tinta, seus retratos da fase madura são muito marcados pela visão pessoal do artista. Ele não esconde nenhum detalhe dos corpos que pinta, no sentido de "melhorá-los". Por isso seu realismo escancara os rostos e os corpos de seus modelos como ele os via. Lucian Freud costumava pintar com seus modelos posando para ele, às vezes durante dias e dias.
Os modelos nus muitas vezes têm um ar de desolação, de solidão, de melancolia, deitados ou sentados em poltronas velhas do atelier do artista, às vezes em poses que parecem estranhas. A luminosidade da cena era a da luz elétrica mesmo. Em volta dele, nas paredes, podiam ser vistas as gotas de tintas que ele lançava contra as paredes para limpar seus pinceis.

Lucian Freud morreu há dois anos, no dia 21 de julho de 2011.

Exposição 
LUCIAN FREUD: CORPOS E ROSTOS
MASP
Av. Paulista, 1578 - São Paulo
Horários: De 3ªs a domingos e feriados
das 10h às 18h
Às 5ªs: das 10h às 20h

terça-feira, 4 de junho de 2013

Zumbis

Ontem à noite, 3 de junho, após um dia inteiro de chuva, com tempo bastante frio, aconteceu o vernissage da exposição intitulada "KEEP WALKING DEAD", organizada pelo Studio de Arte Plein Air, em São Paulo. O tema central é o do mundo das trevas onde habitam os zumbis, que perambulam mortos-vivos por mundos escuros, bizarros, desérticos, lunáticos. Um tema bastante recorrente no mundo dos quadrinhos e dos games, por exemplo.


O Plein Air Studio ontem no vernissage
Mas o mais bacana disso tudo foi ver tanta gente lá! Pelos meus cálculos, umas 200 pessoas devem ter passado pelo atelier de Alexandre Reider, Marcus Cláudio e Charles Oak. Enquanto uns passavam observando as obras expostas, pequenos grupos se formavam, as conversas eram animadas, os encontros prazerosos. Márcia Agostini, minha amiga pintora, me apresentou ao Marcus e ao Reider e fui vendo o quanto são tão boas essas oportunidades de juntar gente em torno da arte e o quanto é importante que os artistas figurativos continuem cada vez mais juntos mostrando suas obras, mesmo que à margem da "conceituada" e conceitual arte contemporânea. Não deixa de ser um grande momento de resistência a esse sistema aí, dominante nas artes plásticas atualmente.

Mas se tanta gente enfrentou frio e chuva ontem para ir ver esta exposição de arte figurativa, deve ser um sinal de que a bela e grande pintura está bem viva e com bastante fôlego para sobreviver, ainda por muito tempo, aos maus profetas que vaticinaram que a pintura havia morrido. Também disseram - os arautos da morte - que a arte estava morta, que a história estava morta, que o socialismo estava morto. Bem diz Affonso Romano de Sant'Anna que o século XX foi o século da morte, real e anunciada.

Estavam lá os pintores realistas Maurício Takiguthi, Paulo Frade, Gonzalo Cárcamo e o anfitrião Alexandre Reider. Além deles, outros expositores como Anderson Nascimento, Avelino, Canato, Celso Mathias, Charles Oak, Davi Calil, George Mend, Greg Tocchini, Julia Bax, Leo Dolfini, Maike Bispo, Marcus Claudio, Dwari, Nilo de Medinacelli, Rod Pereira e Rodrigo Idalino.

A exposição do Studio Plein Air traz obras de 16 artistas, entre pintores, quadrinistas e ilustradores, com tamanho padronizado em 30 por 60 cm. Também podem ser vistos os estudos preparatórios para os quadros e há cópias impressas em papel fotográfico no valor de trinta e cinco reais. No sábado, dia 8 de junho, das 11h às 16h haverá um bate-papo com alguns desses artistas e sessão de autógrafos para quem quiser e comprar os prints.

Exposição Keap walking dead
Abertura: 3 de Junho às 19:00
Período: de 4 a 21 de Junho
Local: Plein Air Studio
Rua Cristiano Viana 180

Mais informações:
contato@pleinairstudio.com.br

Abaixo, alguns dos trabalhos presentes na mostra: