quarta-feira, 27 de maio de 2015

Los Venerables

Frente do Hospital de los Venerables,
onde fica o Centro Velázquez
Nos meses de primavera, que estamos vivendo aqui, e os do verão próximo, que começa no final de junho, há luz do sol derramada por todas partes da Andaluzia, desde as seis da manhã até as dez da noite. De manhã cedo sopra um ventinho fresco, mas depois do meio dia é muito quente, especialmente por causa do sol. Lembra muito o sol nordestino, ardente, incandescente. Todas as fotografias ficam estouradas com tanta luz.

Como isso não faria parte da alma de Velázquez? Por isso ele abandonou o modo caravagesco de pintar, com suas tiniebras. No hay tiniebras acá. Há sol em abundância, luz para iluminar o que for preciso! É interessante, porque eu já intuía isto, quando olhava para as pinturas dele. É muito bom comprovar que aqui na terra de Velázquez há uma intensa luminosidade, que não poderia deixar de estar presente em sua pintura! Assim como a de Sorolla, de outro jeito, uma forma mais atual de pintar a luz de Valência, das praias espanholas, da pele avermelhada de sol de seu povo.

Ontem, lá pelas dez da noite, quando eu voltava ao hostal depois de ter ido ver o espetáculo do poente sobre o rio Guadalquivir, ainda com o resto de luz do dia, passei por uma exposição de fotografias de Sebastião Salgado! O Brasil está aqui! Uma mostra de fotos da série Gênesis que ele anda apresentando ao mundo, onde mostra cenas de vida nos mais incríveis cantos da terra, uma grande parte dela em terras brasileiras. Muito bom ver os turistas de países diversos examinando cada uma dela.

Mas de manhã meu dia começou aqui mesmo pelo Barrio de Santa Cruz, onde estou hospedada e fica bem no coração do casco antigo. Fui ver o Centro Velázquez, organizado dentro de um prédio do século XVII, o Hospital de los Venerables Sacerdotes. Já falei num post anterior que não é mais um hospital, mas o nome ficou. E também já disse que os três quadros de Velázquez que estão lá, foram para uma exposição em Paris. Mas resolvi entrar assim mesmo, é um prédio histórico e tem outras obras em seu acervo, incluindo Murillo.

Corredor dentro do prédio
O Hospital de los Venerables Sacerdotes foi construído inicialmente como residência para os padres velhos e doentes da cidade. Ocorre que no ano de 1649 a epidemia de peste matou 50% dos moradores da cidade! Uma população que girava em torno das 120 mil pessoas. Naquele ano havia tido uma primavera muito chuvosa, as ruas estavam enlameadas, o rio Guadalquivir tinha invadido partes da cidade. Bairros inteiros foram alagados. As pessoas morriam às dezenas diariamente e se tiveram que fazer grandes covas para enterrar a todos. Foi neste período que o Hospital de los Venerables começou a receber parte dessa gente doente, que fazia filas imensas em volta de todos os hospitais e casas de caridade da cidade.

Nesta epidemia de peste, morreu o escultor Juan Martínez Montañés, em 18 de junho de 1649. Ele é bem conhecido aqui na Espanha e tem trabalhos seus em vários museus. Diego Velázquez já morava em Madrid.

Dentro do prédio, que no século XIX também foi uma fábrica de tecidos, tem um salão com pinturas de artistas e as de Velazquez, um pátio andaluz no centro, com uma fonte no meio rodeada de flores e uma igreja, muito bonita por dentro, com um órgão de tubos lindo, feito por um alemão no século XVIII. Ainda funciona e de vez em quando há eventos de música clássica com este órgão. Ele toca de tudo: música religiosa, Bach, Beethoven, Mozart.

Pátio interno do Hospital de los Venerables
Na sala de exposições não há muitas pinturas, mas algumas muito boas, como a de Murillo e de Zurbarán. Várias de Francisco Herrera e de Francisco Pacheco, que foram mestres de Velázquez, em especial este ultimo. Dá para comprovar que realmente a capacidade do discípulo superou em muito a de seus mestres. Também foi bom ver de perto as pinturas deles!

Na saída, vi um grupo de quatro rapazes com roupas características daqui da região, negras, cada um com seu violão. Nunca tinha visto tanto violão quanto há aqui em Sevilla, não só na mão de músicos de rua, mas pessoas passando com eles, alguns tocando. Passei na porta da oficina de um luthier, que tinha vários violões expostos na vitrine. Não sei avaliar a qualidade, mas o preço achei bem bom, em torno de uns 500 euros, alguns um pouco mais, se compra um violão feito à mão. Olhei, olhei, vi um pouco sua oficina e segui meu caminho. Um amigo brasileiro violonista ia gostar de ver isto aqui!

O sol estava ardendo de novo. Resolvi aderir à siesta e fui para o hostal descansar, depois de almoçar. Afinal o dia acaba aqui lá pelas dez da noite! E preciso curar os restos da minha amigdalite, que já está sendo vencida.

O programa do último dia em Sevilla é voltar ao Museu de Belas Artes que já estará todo aberto.
O órgão da igreja de los Venerables
Altar-mor igreja de los Venerables
Uma pintura em um dos tetos da igreja de los Venerables

Um comentário:

  1. Viajei junto com texto! :) Ainda vou conhecer, gosto do jeito que você coloca os dados da história e as características da região. Adorei o blog!

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