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quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

O artista russo Ilya Repin

Ilya Repin: "Os barqueiros do Volga"
Ilya Repin, fotografia, 1890
Ilya Repin nasceu em 1844 em Tchougouiev, na Ucrânia. Seu pai era um soldado. Iniciou seus estudos de pintura com um pintor de ícones chamado Bunakov. Em seguida, entrou para a Academia Imperial de Belas Artes de São Petersburgo em 1863, onde estudou até 1871. Entre 1873 e 1876, viajou pela Itália e por Paris, graças a uma bolsa de estudos que havia ganhado na Academia.

Se juntou a uma sociedade de pintores ambulantes, a partir de 1878, que realizavam exposições artísticas ambulantes. Após 1882 se estabeleceu em São Petersburgo, mas fez muitas viagens ao exterior. Conheceu a obra do pintor holandês Rembrandt, que o inspirou muito em seus retratos.

Sobre ele foram escritas inúmeras publicações, desde livros a monografias e centenas de artigos. Ilya Repin é um mundo dentro da pintura russa!

Ilya Repin: "Adeus de Puchkin ao mar"
A Rússia em que ele viveu era dominada pelo regime dos czares. Quando Repin nasceu, a Rússia estava sob o domínio do czar Nicolau I, mas em 1894 assumiu o czar Nicolau II que foi deposto pela Revolução Socialista de 1917. A injustiça e a opressão que ele via acontecendo com seu povo, retrato da administração dos czares, lhe incomodava muito e Repin denunciou isso em vários de seus quadros. Movimentos revolucionários pipocavam em toda a Rússia, lutando contra o império czarista. Repin pintou retratos de amigos escritores como Tolstoi, L. Andreeva, Maxime Gorki e V. Garshina, assim como dos artistas P. Strepetovoy e Mussorgsky. Também pintou o retrato do famoso químico Dmitry Mendeleyev.

Um de seus quadros mais conhecidos é "Ivan, o Terrível e seu filho Ivan".

Repin pintou centenas de quadros e fez milhares de esboços e desenhos. Também escreveu um livro de memórias intitulado "Longe perto". Nele conta, por exemplo, como fez sua pintura “Os barqueiros do Volga". Foi em 1868. Ilya Repin era estudante na Academia de Artes e participou de um concurso de pintura sobre a história bíblica com o tema "Jó e seus amigos." Em um dia agradável de verão, ele e outro artista, K. Savitsky, resolveram ir juntos fazer croquis pelo rio Neva, em um barco de passageiros. Lá, avistaram trabalhadores maltrapilhos puxando um barco com seus corpos amarrados a cordas. Sujos de barro, muitos deles sem camisa, bronzeados pelo sol. Os rostos eram pesados, marcados, onde o suor escorria. Contrastavam muito com os passageiros do barco, especialmente as perfumadas e elegantes senhoras da sociedade. Ilya Repin disse a seu amigo: “Que imagem é esta? Pessoas tratadas como animais!” E disse que essa visão o deixou tão impressionado que não parava de pensar naqueles homens sujos, carregando cargas pesadas sobre a lama. Fez um esboço do que viu, que depois pintou (figura acima).

Retrato de Maxime Gorki, por Repin
A imagem chocou a todos, amigos e adversários do artista. Mas para pintá-lo, Repin levou vários anos de trabalho duro, fez duas viagens ao Volga, em contato diário com os trabalhadores. Acabou se tornando amigo desses heróis do seu quadro. Ele conta que trabalhou muito, longas horas em seu ateliê, fazendo esboços.

As primeiras impressões, ao ver aqueles homens cujo rosto expressava sofrimento sob duro esforço, fez com que seus primeiros esboços incluissem o contraste entre eles e as senhoras elegantes do barco no rio Neva. Mas, conforme foi amadurecendo as ideias, acabou por pintar a cena no rio Volga, em um céu de verão, com nuvens luminosas e um banco de areia sob sol quente. Bem no fundo, o navio, onde está o proprietário ou administrador a bordo. No primeiro plano, os barqueiros, tensos, num esforço supremo para puxar o barco, como pode ser visto na última figura à direita. O amarelo da areia, aparece na água e até no azul do céu. Água, céu e areia e 11 pessoas cujo trabalho vale menos do que o de cavalos, disse ele. Repin lembrou de um poeta, Nekrasov, que diz em um de seus poemas: “Vá para o Volga, cujo gemido é ouvido.” O rio Volga é o grande rio russo.

Esboço para um retrato, Repin
Mas esse artista planeja, numa grande síntese ideológica e criativa, valorizar os onze homens, colocando a linha do horizonte abaixo deles, assim como o Volga e o barco, onde o dono é muito menor que eles. Essa escolha de Repin deu a esse quadro um significado monumental, onde denunciava a situação de miséria e injustiça que vivia o povo sob o comando do império czarista.

Essa tela “Os barqueiros do Volga” colocou Ilya Repin na categoria dos melhores artistas russos. E ele ainda era um estudante... O quadro foi exposto em São Petersburgo, depois em Moscou e em seguida foi para a Exposição Mundial em Viena, Áustria. Esta imagem tornou-se o centro das atenções de toda a sociedade russa e recebeu elogios de diversos setores e círculos de artistas e intelectuais.

Mas o reitor da Academia de Belas Artes, ao contrário, considerou aquele quadro uma aberração, chamando de "estes gorilas" às figuras dos barqueiros, acrescentando que era uma vergonha para a Rússia e seu governo que um quadro como aquele fosse participar em exposições na Europa.

Retrato do paisaigista russo
Alexeï Bogolioubov, Ilya Repin
Mas um dos que defenderam Ilya Repin foi Dostoievski, que observou sobre o quadro: "É impossível não amá-los, estes inocentes.” Repin também disse que aquele quadro era a primeira voz e o mais poderoso grito de toda a Rússia, do seu povo oprimido, cujo grito era reconhecido em cada canto onde se falava o idioma russo. “E é o início da minha fama por toda a Rússia, ótimo”, acrescentou. Esse quadro se tornou um dos principais símbolos da opressão czarista sobre o povo.

Conta-se que Ilya Repin pensava muito ao executar suas pinturas, fazendo desenhos e esboços, incansavelmente. Cada detalhe era pensado e desenhado, antes de ser pintado. Suas obras são resultado de longo estudo, o que torna seus quadros, para quem se dispõe a observá-los atentamente, elegantes, marcantes e fortes. Um de seus quadros mais conhecidos é "Ivan, o Terrível e seu filho Ivan", além do “Os barqueiros do Volga”.

Ilya Repin conheceu o escritor Lev Tolstoi em Moscou e desde o primeiro encontro nasceu uma amizade que durou mais de 30 anos, até sua morte. Eles se admiravam mutuamente como artistas e quando já não moravam na mesma cidade, trocaram uma farta correspondência. Conversavam durante horas sobre arte. Repin fez vários retratos do amigo, com lápis, caneta, óleo e aquarela.

Tolstoi, por Repin
Entre 1880 e 1883 ele pinta outro de seus grandes quadros: "Procissão pascal na província de Kursk”, onde ele inseriu uma diversidade de tipos russos, como os camponeses, por exemplo, mas dando a eles um tratamento que os colocavam no nível dos personagens de magnitude histórica. Ao lado de uma senhora com ares de arrogância carregando um ícone (no centro do quadro), pintou policiais a cavalo, guardas, comerciantes, clérigos robustos, além de uma multidão de pobres, incluindo um adolescente aleijado que caminha com sua bengala em direção ao centro da pintura.

Repin era grande observador da vida de seu tempo. Com Ilya Repin o Realismo russo entrou na fase de maturidade e atingiu o auge.

No final do século XIX, a Rússia passava por grandes agitações políticas e diversos grupos revolucionários se organizavam. Ilya Repin pintou o quadro "A prisão do propagandista," entre 1870-1880. Mais uma vez é uma pintura que revela a alma engajada do artista, num episódio dramático da prisão de um revolucionário russo, carregado de bastante tensão, apresentado por Repin como um homem que escolheu o caminho da luta e do sofrimento, sendo retirado de casa pela polícia, sob os olhos assustados de sua família. Repin comungava com os ideais revolucionários e permaneceu fiel a eles até o final de seus dias.

Após a Revolução Socialista de 1917, a região onde ele morava ao norte de São Petersburgo, Kuokkala, foi incorporada à Finlândia (cuja independência se deu nesse ano). Vladimir Lenin, o líder da Revolução, convidou-o à ir morar em Moscou, mas Repin já se sentia muito velho para conseguir fazer essa viagem longa de cerca de 700 km de distância. Ele morreu em Kuokkala em 1930.

Ilya Repin: "A procissão pascal da província de Kursk"
Ilya Repin: "O levante de outubro de 1905"
Ilya Repin: "A prisão do propagandista"

domingo, 16 de dezembro de 2012

Leonid Romanovich, o pintor bailarino

Galeria Tretyakov de Moscou, Rússia
Enquanto a presidenta Dilma Roussev passava pela Rússia esta semana, o Museu Tretyakov de Moscou apresentava várias grandes exposições. Sabemos que as artes plásticas na Rússia mostram como inúmeros pintores daquele país dominavam, e dominam até hoje, a técnica do óleo, da aquarela, do carvão, do simples desenho à grafite. Desde os primeiros pintores de ícones, em especial Andrei Rubliev - que teve um filme sobre sua vida feito por Andrei Tarkovsky - os artistas russos são impressionantes por sua sofisticada técnica que cria belíssimas obras de arte.

Mas nós, especialmente aqui no Brasil, pouco conhecemos sobre os artistas russos. Nosso conhecimento sobre as artes plásticas fica praticamente restrito à arte europeia e dos EUA. Sabemos pouco sobre a África, Ásia, Oceania e até mesmo sobre nossos artistas latino-americanos. A arte russa teve uma importância fundamental na história da arte, especialmente após o século XIX e princípios do século XX.


Fotografia de Leonid Romanovich na mostra da
Galeria Tretyakov, Moscou
Um destes artistas cujas pinturas estiveram em exposição em Moscou desde o dia 19 de outubro é Leonid Romanovich Astafiev, cuja arte sempre esteve ligada à cultura russa tradicional. A vanguarda russa foi um movimento artístico cultural muitíssimo importante não só para a cultura russa, mas para toda a cultura ocidental do século XX. Pudemos ver um pouco disso na exposição Virada Russa que ocorreu aqui no Brasil (São Paulo, Rio e Brasília) em 2009 (Leia mais aqui).

Um dos objetivos deste Blog é trazer informações e conhecimentos sobre todos os artistas que possamos conhecer e cuja qualidade artística seja relevante, sob nosso ponto de vista. Por isso, enquanto a presidenta do Brasil viajava por Moscou, fizemos uma busca do que de importante acontecia naquela cidade. Muitas exposições importantes ocorrem na Rússia. Escolhemos esta, pelo fato do artista ter sido bailarino e restaurador de obras de arte.


Flores, óleo sobre tela de Astafyev
Leonid Romanovich Astafyev nasceu em 1931, em uma família cuja história está ligada à Galeria Tetryakov de Moscou. Seu pai era restaurador na Galeria até pouco antes da II Guerra Mundial e por causa disso sua família morava em uma ala da galeria. Leonid cresceu em meio a este mundo de obras de arte, e os salões e oficinas que ocorriam lá era parte de sua realidade diária. A pintura tradicional russa foi formando sua percepção artística e ainda muito jovem ele já tinha pontos de vista bastante maduros sobre arte.

Em 1948 Leonid Romanovich Astafyev passou a estudar na Escola de Arte Regional de Moscou intitulada “Em memória de 1905”. Os tempos eram o da União Soviética. Muitos campos de interesse atraíam o jovem Leonid, mas tinha um interesse especial pelo balé, que acabou escolhendo como prática principal, deixando seu professor de pintura chateado, pois o rapaz era também um grande pintor de paisagens.

Após a formação na Escola de Arte Regional, Astafyev entra para uma classe experimental de dança da escola de coreografia do Teatro Bolshoi (atualmente Academia de Balé Bolshoi). Muitos queriam estudar lá, e os testes eram bem difíceis. Mas Leonid conseguiu e, de 1953 a 1956, ele frequentou as aulas de balé, assim como fazia estudos de História da Música e do Teatro. Essa experiência dentro do Teatro Bolshoi, segundo afirma o texto de apresentação no sítio da Galeria Tretyakov, influenciou a visão de arte de Leonid Romanovich.


Paisagem, de Astafyev
Mas ele também amava muito a pintura, e acabou mesmo se dedicando a ela. Em 1956 foi escolhido como restaurador no departamento de restaurações de imagens da Galeria Tretyakov, onde trabalhou até o fim da vida.

Os restauradores da Tretyakov são considerados grandes especialistas em arte, muitos deles trabalhando dezenas de anos só na restauração de pinturas. Pelas mãos de Astafyev passaram inúmeras obras para serem restauradas. Ele também acompanhava exposições de arte pelo país e no exterior. Com essas viagens, conheceu grande número de cidades da União Soviética de seu tempo, assim como inúmeros países. Conheceu e se tornou amigo de muitos restauradores, peritos, museólogos, artistas.

Como restaurador, ele aperfeiçoou e criou novas técnicas de restauração de obras de arte, que utilizou, por exemplo, na restauração da obra “Ivan o Terrível e seu filho”, do outro grande pintor russo Ilya Repin. Pela enorme qualidade de seu trabalho, Leonid Romanovich Astafyev ficou respeitado internacionalmente como restaurador. Por seu trabalho, foi premiado com a mais alta categoria de artista restaurador e recebeu também o prêmio “Trabalhador honrado da Cultura” da União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, a ex-URSS.


Paisagem, de Astafyev
Mas Leonid Romanovich não era só um restaurador. Era um grande e talentoso artista. Pintores importantes da época, como I.I. Levitan, K.A. Korovin, V.D. Polenov e V. A. Serov foram seus professores.

Suas paisagens tranquilas nos mostram como o artista se deixava envolver pela beleza do mundo a seu redor. Beleza do mundo que para ele era a Arte, sob a qual girava sua vida desde seu nascimento.

A primeira exposição individual de Leonid Romanovich aconteceu na Galeria Tretyakov somente em 2005, após sua morte. Depois desta, mais três aconteceram em outros museus russos. Suas obras estão nos acervos da Galeria Tretyakov, no Museu Estatal de Darwin e no Museu Histórico-Artístico de Dolgoprudny, assim como na coleção da Embaixada Russa de Jacarta, Indonésia, e em coleções particulares.

Leonid Romanovich Astafyev morreu em 2004.


Paisagem em óleo de Leonid Romanovich Astafyev
Paisagem, óleo de Leonid Romanovich Astafyev