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Estudo da pintura de Vermeer "Moça com brinco de pérola", no Atelier Vermeer, Paris, 2011 |
Este livro surgiu de uma ideia do meu amigo e poeta Jeosafá Gonçalves, educador e consultor de diversas editoras, de transformar textos e artigos publicados neste blog e em alguns portais e revistas, num formato de livro de apoio à formação do professor.
Essa possibilidade me mobilizou a vasculhar, entre os meus escritos, aqueles que podiam formatar um livro que fosse útil para quem quisesse saber um pouco mais sobre arte. Jeosafá me ajudou nessa escolha, e a organização dos textos em livros e capítulos passou por suas mãos, experimentadas em preparar livros de apoio a professores.

Vale salientar que participar de um Atelier de Arte Realista aqui em São Paulo, sob a orientação do pintor Maurício Takiguthi, tem sido fundamental para guiar meus estudos teóricos e práticos tendo como foco a obra de grandes mestres da pintura universal, que vem desde Ticiano, Rafael, Caravaggio, Rembrandt, Velázquez, Vermeer... Ser parte dessa visão teórica e plástica é um exercício diário de resistência ao canto da sereia que poderia nos impelir a prescindir do exercício muitas vezes extenuante da técnica, da busca do nosso próprio aperfeiçoamento, em prol da mesmice e do pragmatismo dos dias atuais.
Vale também dizer que um outro grupo do qual faço parte, em torno do Cineclube Baixa-Augusta, que reúne artistas, cineastas e intelectuais, tem enriquecido muito as minhas reflexões, após muitas discussões, estudos e conversas de alto nível, focadas no mundo cultural contemporâneo.
Assim como minha formação humanista não me deixa esquecer que meu desejo por um mundo justo e solidário é também parte do meu impulso criativo. Do fundo da minha alma parte uma vontade enorme de ser grande, e que sempre me leva a buscar a vida em grupo, a formação coletiva que me leve para mais perto de um futuro igual para todos.
Então este livro também pode ser visto como a minha forma pessoal de ver esse mundo que nos maravilha, que é o mundo da Arte, que aproxima os seres humanos uns dos outros no tempo e no espaço. Enquanto vamos estudando a história da arte, desde tempos remotíssimos, vamos percebendo que a realidade objetiva vai impulsionando ideias, movimentos, sistemas. E que o artista, imerso em seu mundo em mudança, vai criando sua própria narrativa, descrevendo sua visão pessoal das coisas e muitas vezes sendo parte de profundas mudanças de rumo. O historiador da arte alemão Heinrich Wölflin dá um exemplo: Rafael, enquanto pintava a Stanza d’Eliodoro em Roma, entre 1512 e 1514, estava rompendo, aos olhos do mundo, com o modo plástico de ver as coisas de forma linear, inaugurando a fase pictórica em que as massas de cores rompiam os espaços, criando mais relações entre as cores, figuras e efeitos do quadro. Simultaneamente, a ciência se desenvolvia, assim como o capitalismo, a filosofia, a literatura, o teatro, a música.

Em todos os capítulos deste livro, a arte, a história e a sociedade se encontram e se revezam em ênfases sutis e articuladas, sob as quais jazem miríades de possibilidades de trabalho, seja em sala de aula, no caso dos professores, ou fora dela, no caso do leitor comum.
Um pouco sobre mim: desde 1979 venho me dedicando ao aprendizado desse mundo do desenho e da pintura, mas não de forma linear. Altos e baixos passaram por mim, nesses últimos 30 anos. Passei por escolas de arte diversas, entre as quais a Sociedade Brasileira de Belas Artes no Rio de Janeiro. Hoje estudo pintura com Maurício Takiguthi. Sou também bacharel em Letras pela Universidade de São Paulo, e faço pesquisa em teoria e história da Arte. Fiz parte de um workshop de pintura no Atelier Vermeer de Paris. Visitei dezenas de museus em diversos países, como Espanha, Portugal, França, Holanda, Alemanha, Polônia, Brasil e Argentina, com finalidade de pesquisa. Desde 2009, mantenho este blog onde escrevo minhas ideias e estudos sobre artes plásticas, assim como colaboro com textos sobre o mesmo tema para diversas revistas e sites.
Para terminar, enquanto consciente de estar dando um passo arriscado, como é publicar um livro, lembro Clarice Lispector:
“Repito por pura alegria de viver:
a salvação é pelo risco,
sem o qual a vida não vale a pena!”