La suppliante, guache sobre madeira, 1937 |
Pablo Ruiz Blasco y Picasso é um dos pintores mais conhecidos no mundo. Mas como muitos de seus quadros (especialmente da fase cubista), ele tem muitas faces, várias delas não tão conhecidas do público. Filiado ao Partido Comunista Francês em 1944, foi um artista comprometido com os acontecimentos do mundo de sua época. É este Picasso que a Tate Gallery, em Liverpool, na Inglaterra, apresentará até 30 de agosto próximo. A exposição intitula-se “Paz e Liberdade”.
Pablo Picasso, nascido em Málaga, Espanha, passou por muitas mudanças durante sua vida. Mudou várias vezes de cidade, mudou da Espanha para a França (onde morreu em abril de 1973), mudou de esposas uma meia dúzia de vezes, mudou de ateliers e de estilos, mudaram suas condições de vida...
O que chama a atenção nesse pintor inquieto, e muitas vezes angustiado, é que cada grande mudança trazia reflexos diretos em seus trabalhos. Assim era ele, desde o começo do século XX, quando os tons de azul invadiram suas telas (período conhecido como a Fase Azul), provocadas pela dor do suicídio de seu grande amigo Casagemas, que levou Picasso a um período de depressão.
Por essa característica muito pessoal de Picasso, em quem os movimentos da vida conduziam seus pincéis, movimentaram-no também em direção ao comprometimento com a política de seu tempo. Em 1944, Pablo Picasso filiou-se ao Partido Comunista Francês, e esse período deixou marcas em sua pintura, como disse um dos curadores de sua exposição atual em Liverpool, Christoph Grunemberg. A filiação ao Partido Comunista foi a oficialização de sua relação com os comunistas, muitos dos quais artistas, e próximos a ele.
Picasso nunca vacilou em suas posições. Em 1936, o General Franco, através de um golpe militar, tomou o poder na Espanha, período que ficou conhecido como dos mais sanguinários da história espanhola. Pablo foi convidado a exercer a direção do Museu do Prado, mas recusou-se a isso, uma vez que se opunha ao golpe e ao governo de Franco. No começo de 1937, o pintor apresentou, em contrapartida, uma série de gravuras em água-forte intituladas “Sonho e mentira de Franco”.
Em 26 de abril de 1937, ocorreu o ataque aéreo nazista contra a cidade de Guernica, no país Basco. Era uma ação provocada pelo próprio Hitler em apoio a Franco. Picasso, então, pintou a “Guernica”, uma de suas obras mais conhecidas e que retratava os horrores vividos pela população da pequena cidade. Conta-se que numa das investidas dos soldados nazistas ao pintor, um deles teria perguntado a Picasso, apontando a imensa tela da “Guernica”: quem pintou este quadro? E Picasso respondeu: “Foram vocês!”
Em 1939, recebe a notícia da morte de sua mãe, mas não pode ir aos funerais por causa da Guerra Civil espanhola. Foi em homenagem a ela que, desde o princípio, Pablo assinava seus quadros com o sobrenome Picasso, herdado de sua mãe.
Durante a II Guerra Mundial, apesar das ameaças nazistas que pairavam também sobre ele, decidiu não sair de Paris. As autoridades alemãs negavam-lhe o direito de expor suas obras, e por algum tempo Picasso deixou de pintar.
Em 1945, já filiado ao Partido Comunista, Picasso empenhou-se em denunciar a violência das guerras capitalistas. Em 1945, pintou “O Ossuário”, denunciando o massacre nazista nos campos de concentração. Em 1951, pintou “Massacre na Coréia”, desta vez se colocando contra a invasão norte-americana. Como membro do PC, participou de diversos congressos internacionais e ganhou o Prêmio Lênin.
Nos anos da Guerra Fria, seus quadros mostram o sofrimento nos conflitos e seu permanente desejo de paz. Voltando seu olhar para a pequena ilha de Cuba, durante a conhecida Crise dos Mísseis, (que representou o auge da Guerra Fria entre EUA e URSS, quando o país soviético enviou mísseis de defesa para a ilha contra as ameaças de invasão norte-americana), Pablo Picasso pintou “O Rapto das Sabinas”, um quadro que representa a matança de mulheres e crianças. O que ocorreria, se uma invasão de soldados ianques tivesse acontecido.
Mesmo se afastando do PC na década de 60, sempre foi fiel às idéias do partido. Picasso já era um homem de posses, adquiridas com a venda de seus trabalhos, e com isso financiou e apoiou diversas causas humanitárias e de esquerda. Proferiu diversas conferências e era uma das personalidades mais importante na luta pela paz, nos tempos da Guerra Fria. É desta época seu famoso desenho de uma pomba branca, que virou símbolo universal da paz.
A exposição em Liverpool mostra mais de 160 quadros, esculturas, desenhos e gravuras, além de fotografias, filmes e documentos. Essa mostra seguirá em setembro para Viena, Áustria. Um dos objetivos dos curadores é mostrar um Picasso diferente do que a mídia costuma apresentar como mulherengo e gênio compulsivo. A ideia é mostrar que por trás desse grande pintor havia um grande homem muito preocupado em dar sua contribuição como artista na resolução dos problemas de seu tempo.
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