Em entrevista coletiva concedida na manhã desta terça-feira, 1º de junho, a equipe de curadores liderada por Moacir dos Anjos e Agnaldo Farias, apresentou aos jornalistas presentes a proposta temática para a próxima Bienal de Artes de São Paulo. A intenção é fazer da 29ª Bienal, uma exposição de artes política.
Moacir dos Anjos – pernambucano do Recife e pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco desde 1990 – ressaltou que a ideia de fazer dessa Bienal de 2010 uma exposição que tenha essa conotação política, deve-se ao fato de ser necessário resgatar o entendimento tradicional na relação que sempre existiu entre Arte e Política.
Mas não no sentido, diz ele, de que a arte seja um mero transmissor de conhecimento, como o é a filosofia, a ciência ou a religião. “O que interessa é afirmar a potência da arte como fator que pode criar um conhecimento novo sobre o mundo, de como ela própria pode nos fazer ver o mundo de uma maneira diferente, pela capacidade que a arte tem de fazer política”.
Moacir também salientou, em seu discurso inicial, a necessidade de se rever e ampliar o conceito do que seja contemporâneo, como “não só aquilo que é feito no tempo corrente mas como aquilo que, seja quando for feito, não importa quando tenha sido feito, nos ensina a cerca do nosso mundo.” Contemporâneo, para ele, seria, então, “tudo aquilo que nos faz compreender melhor a complexidade do mundo atual.”
Uma outra intenção dos organizadores desta Bienal também é o de dar uma ênfase maior a artistas brasileiros e latino-americanos, com o objetivo de ampliar o conhecimento da arte que se faz na América Latina, e de como tem se dado essa relação entre arte e política que define a cara do nosso continente. O Brasil desponta como liderança internacional, disse Moacir, e por isso desta vez trazemos tantos artistas brasileiros (praticamente um terço dos expositores).
Agnaldo Farias – o outro curador e atualmente professor da FAU/USP – disse que a preocupação da equipe de curadores não é fazer simplesmente uma exposição, mas dando a ela esse caráter político, não poderia “ser eminentemente contemplativa”, sendo fundamental “privilegiar o encontro, o intercâmbio, o contato entre as pessoas”, além de “recuperar uma tradição que este pais já teve: do debate, do encontro, da troca, e de uma certa celebração da política”.
Citando escritores profundamente ligados à cultura brasileira, como Guimarães Rosa e Graciliano Ramos, Farias disse também que a ideia de recuperar o debate entre arte e política, é mostrar ao público “o poder da linguagem, a força da poesia e da produção artística, com a potência transformadora que ela possui”.
A 29ª Bienal trará este ano 148 artistas, sendo quase a metade de brasileiros e latino-americanos. Além dos espaços destinados à apresentação das obras, a Bienal também contará com seis espaços, que estão sendo chamados de terreiros, usando os 30 mil metros quadrados de área disponíveis no Pavilhão do Ibirapuera.
A ideia dos “Terreiros”, para os organizadores, é dar o tom de celebração da política, “uma vez que o terreiro, na cultura brasileira, é um espaço entre o sagrado e o profano, um espaço da troca, da festa, mas também da resistência”, completou Agnaldo. Citando um samba de Assis Valente que diz “meu povo tão cansado de sofrer, inventou a batucada pra deixar de padecer. Salve o prazer, salve o prazer”, ele disse que a celebração da política, para ele, é a celebração do encontro.
Nesses terreiros acontecerão atividades paralelas à exposição, e terão programação diária que incluirá filmes, música, poesia, dança, performances, debates, com a participação de atores de outras linguagens artísticas, como o teatro, a literatura e o cinema.
A 29ª Bienal também pretende realizar uma aproximação com a Educação, fazendo todo um trabalho que inclua 400 mil alunos da rede pública e privada de ensino, mobilizando para isso 40 mil professores. O objetivo, segundo os curadores, é fazer com que a exposição ultrapasse o prédio físico da Bienal e alcance o maior público possível. Para isso também será inaugurado um site específico para a exposição. Esse projeto congrega vinte e duas instituições de artes de São Paulo e atuará na formação dos educadores que guiarão os visitantes na Mostra.
Os custos de produção desta versão de 2010 foi cotado em cerca de 30 milhões de reais, com o “apoio fundamental” do Ministério da Cultura, disse Heitor Martins, presidente da Fundação Bienal de São Paulo.
Espera-se, desta forma, que a instituição dê a volta por cima do vazio que foi se criando em torno desse evento bi-anual, cujo ápice de crise se deu por ocasião da 28ª Bienal, em 2008, intitulada de Bienal do Vazio. Trazendo como mote um verso de um poema de Jorge de Lima “Há sempre um copo de mar para um homem navegar”, pode ser que o vazio – e o esvaziamento – da Bienal de Artes de São Paulo, seja preenchido por esse mar político. Espera-se.
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