O cineasta alemão Claus Wieschmann acaba de chegar ao Brasil, para captar imagens das atividades e do cotidiano dos jovens da Orquestra Sinfônica de Heliópolis. Ele começou a filmar um documentário a respeito do encantamento que as pessoas ao redor do mundo sentem ao ouvir a Sinfonia número 9, de Ludwig van Beethoven. Esse filme fará parte da comemoração dos 250 anos do nascimento do compositor, que terá uma extensa programação entre 2019/ 2020.
Parte da captação dessas imagens está sendo feita em São Paulo, na favela de Heliópolis, berço da Sinfônica de Heliópolis, composta especialmente por rapazes e moças da comunidade, mas que foi ampliada para 80 músicos vindos de diversas regiões do país. Esta orquestra começou sua história em 1996 e tem como regente o maestro Isaac Karabtchevsky.
Segundo o documentarista alemão, a intenção do filme é “entender o motivo” pelo qual a música de Beethoven “permanecer tão viva na mente dos ouvintes”, em especial a Nona Sinfonia.
Beethoven apresentou pela primeira vez esta música em 1824. A parte final da música, que inclui um coro, passa uma mensagem de unidade e de fraternidade. Quando o músico alemão compôs esta música, já estava completamente surdo. “Ode à Alegria”, a parte coral ao final da Nona Sinfonia, “carrega uma mensagem clara de liberdade, igualdade, um sentido de humanidade que é ainda hoje muito forte. Mas ela é também, acredito, sinônimo de diversidade. E é esse o nosso norte à medida que trabalhamos nas filmagens, tentando chegar a uma resposta final a respeito de por que uma sinfonia como essa mexe tanto com as pessoas”, explica Wieschmann.
Wieschmann chegou ao Brasil nos primeiros dias de novembro e já esteve na favela de Heliópolis conhecendo a comunidade e escolhendo os lugares para sua filmagem, além de conhecer pessoalmente os músicos da orquestra.
A Orquestra Sinfônica de Heliópolis vai apresentar a Nona Sinfonia de Beethoven no próximo dia 12 de dezembro, ao meio-dia no Teatro Municipal de São Paulo. O Coro “Ode à Alegria” será entoado pelo grupo Coral da Gente, composto por crianças e adolescentes, entre 4 e 14 anos, da comunidade de Heliópolis e região. E tudo será filmado pelo documentarista alemão, que incluirá essas imagens no documentário sobre a Sinfonia nº 9, que ele está filmando em vários lugares do mundo.
Claus Wieschmann em Heliópolis |
“O estimulante para mim é entender, em nível bastante individual, qual o sentido disso tudo. Em outras palavras, quero estar ao lado de alguns músicos, acompanhá-los, entender suas histórias, suas trajetórias de vida, para entender por que resolveram se dedicar à música, e a esta música especificamente. Acreditamos que a música provoca mudanças, mas queremos entender como isso se dá. Eu particularmente acho que assistir a um concerto na televisão é algo muito chato. Mas entender quem são essas pessoas que fazem a música acontecer e ganhar sentido, isso é fascinante.”
Wieschmann já fez um outro documentário sobre o tema da música na cidade de Kinshasa, capital do Congo, no continente africano. Lá também se formou uma Orquestra Sinfônica formada por aproximadamente 200 músicos amadores que ensinavam Händel, Vivaldi, Mozart e Beethoven uns aos outros, se apresentando com instrumentos musicais de sua cultura, assim como instrumentos fabricados com materiais diversos. O documentário se intitula “Kinshasa Symphony” e foi lançado em 2010, tendo sido premiado em diversos festivais de cinema.