quinta-feira, 14 de abril de 2011

Novos estudos com carvão e lápis-carvão

Nas duas últimas quintas-feiras, com sala cheia, assistimos A FALECIDA, longa de Leon Hirszman, adaptado da peça homônima de Nelson Rodrigues e conversamos sobre ele, aspectos técnicos, poéticos, estéticos, simbólicos, etc. É um filme de 1965, quando Leon Hirszman tinha apenas 27 anos de idade. Dirigiu atores desse filme como Paulo Gracindo, Fernanda Montenegro, Wanda Lacerda, Nelson Xavier, Hugo Carvana, Zé Kétti, José Wilker e outros menos conhecidos porém igualmente importantes para o cinema brasileiro.


Leon estreou com o curta PEDREIRA DE SÃO DIOGO, um dos episódios de CINCO VEZES FAVELA, de 1962, produzido pelo CPC da UNE, de que foi fundador, tendo iniciando sua saga de cineasta, como todos então, nos cineclubes da época. 

Nossos fóruns estão sendo gravados e editados pelo cineasta e cineclubista JOÃO Luís de BRITO Neto. Assim, estamos elaborando o memorial do nosso "Ciclo Antônio Gouveia Jr" de cinema e literatura. 

Inspirada no filme, fiz este desenho. A moça que tinha os dias contados se envolve com a ideia da própria morte. Aqui abaixo, ela olhando para ela, a morta-viva ou viva-morta, pois assim era a vida da personagem principal. Ela, que desejava ter o enterro mais chique do mundo para ter na morte o que a vida não lhe deu. No fim morreu como viveu, pobre mulher de subúrbio, casada com um malandro jogador de sinuca.


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Estudos do atelier:

Estudos feitos à carvão e lápis-carvão, com modelo vivo. A ideia é aperfeiçoar o uso da massa aberta e do Valor para dar a ideia de profundidade tridimensional. Observar a incidência da luz, os valores diversos das áreas de sombra. Desenho construído de fora para dentro com o uso do gestual. O modelo é o Tiago, aluno do atelier de Maurício Takiguthi, pintor realista de São Paulo, com quem estudo atualmente.

estudo n. 01
estudo n. 02
estudo n. 03
estudo n. 04
estudo n. 05
estudo n. 06

segunda-feira, 11 de abril de 2011

Paula Rego, a pintora que escancara a condição humana

A Pinacoteca do Estado, um dos mais importantes espaços culturais de São Paulo, está apresentando uma exposição com parte da obra da artista plástica portuguesa Paula Rego. A mostra traz todas as fases importantes do desenvolvimento da artista, em ordem cronológica, em sete diferentes galerias. São 110 obras, entre pinturas, gravuras, desenhos e colagens, percorrendo os últimos 56 anos de sua carreira.

Paula Rego em seu atelier
Nascida em Lisboa em 1935, e hoje uma das mais importantes artistas contemporâneas portuguesas, Paula Rego iniciou seus estudos de pintura muito cedo, em Carcavelos, Portugal. Filha única de uma próspera família de classe média alta, Paula Rego cresceu durante o regime fascista de Salazar e, aos 16 anos, foi estudar na Inglaterra, pois seu pai não queria que ela vivesse dentro de um país que passava por aquelas condições.  Em Londres, estudou na Slade School of Fine Art, até 1956. Longe da ditadura de Salazar, a pintora expunha sua obra como arma de denúncia política. Nesse período conheceu o artista inglês Victor Willing, com quem se casou e teve três filhos.

Em 1959 voltou a Portugal e, ao longo da década de 1960, participa de exposições coletivas na Inglaterra. Em 1996 faz sua primeira exposição individual na Galeria de Arte Moderna da então Escola de Belas-Artes de Lisboa.

Em 1966, seu marido sofreu um ataque cardíaco, o primeiro de uma série de problemas de saúde que o atormentou até 1988. No mesmo período, com a morte de seu pai e a doença do marido, Paula Rego passou por uma longa fase de crise criativa que duraria até o final dos anos 1970. Na década de 80, foi convidada a ser professora visitante de pintura da Slade School of Art, em Londres.

A mostra, que ficará aberta ao público até 5 de junho, exibe suas pinturas da década de 1950, quando Paula Rego era uma jovem estudante de arte, na Slade School of Fine Art, em Londres, entre 1952 e 1956. Mostra as grandes pinturas em acrílico, feitas entre 1987 e 1988.

Nos anos 1990, Paula Rego começou a trabalhar com pastel, criando imagens em grande formato, a partir de modelos vivos, na maioria mulheres, uma de suas temáticas principais. Também pode ser vista a série O Aborto (1997), produzida com a intenção de chamar a atenção das autoridades portuguesas para a questão do aborto. São pinturas feitas à pastel que retratam adolescentes e jovens mulheres praticando arriscados abortos clandestinos.

A exposição termina com trabalhos realizados nos anos 2000, fase em que Paula Rego retratou a sua história pessoal, como em Misericórdia I, que mostra a morte da mãe da artista e de vários quadros intitulados O Pescador, onde ela pinta nas figuras as roupas que pertenceram ao pai morto. Já em A Carga Humana (2007-2008) e na série Circuncisão feminina (2009), a artista mostra o tráfico de seres humanos e a mutilação genital feminina. 

«Paula produziu de maneira consistente uma obra que se comunica de forma poderosa e direta com todos os que possuem um sentido de compaixão e justiça social», afirmou o curador da exposição Marco Livingstone, que acrescenta: «A plena intensidade da visão da artista, os temas que repetidamente a atraem e os processos pelos quais ela dá forma às narrativas visuais que alimentam a sua imaginação são trazidos à tona».

Sua obra é muito inquietante. As pinturas, que não respeitam muito o desenho e são feitas de cores quase chapadas e fortes, parecem mostrar uma alma feminina atormentada e que não se preocupa muito em agradar. As pinturas em pastel, por outro lado, apresentam desenhos cuidadosos, demonstrando um bom domínio estrutural da obra. Mas as figuras saem estranhas, deformadas, monstruosas. Ela não se preocupa muito com a perspectiva dos espaços e muito menos ainda com as regras de proporção. Todo o conjunto causa um estranhamento, até mesmo uma espécie de repulsa. Sobre essa característica inquietante da obra de Paula Rego, afirmou a romancista portuguesa Agustina Bessa Luís: "Toda a grande obra é cruel, porque arrasta as almas."

Salazar vomitando a pátria, de Paula Rego, 1960
Paula Rego já expôs em diversas mostras individuais e coletivas como retrospectivas na Tate Gallery Liverpool, Inglaterra, 1997; no Museo Nacional Centro de Arte Reina Sofia, Espanha; no National Museum of Women in the Arts, Estados Unidos, 2007; e na Casa das Histórias Paula Rego, Portugal, 2009. No Brasil, participou da 10ª (1969) e 13ª (1975) edições da Bienal Internacional de São Paulo, representando Portugal, e na 18ª Bienal (1985) representando a Inglaterra. Sua obra integra importantes coleções como as da Fundação Gulbenkian, Lisboa, Portugal, do Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque, Estados Unidos e da Tate e do Victoria & Albert Museum, Londres, Reino Unido.

Exposição Paula Rego
De 19 de março a 5 de junho
Pinacoteca de São Paulo
Praça da Luz, 2 São Paulo, SP 
Tel. (11) 3324-1000