Narciso, de Caravaggio, óleo sobre tela, 110x92cm, Galleria Nazzionale d'Art Antica, Roma, Italia |
Pois bem! Um bom lastro de conhecimento sobre a história da pintura aumentou mais ainda meu interesse sobre o tema do Realismo nas artes. Isso vai dar muito pano pra manga, pois alguns dados colhidos são realmente interessantes. A realidade - esse contato direto do homem com o mundo à sua volta - tem gerado interesse, curiosidade, investigação, conhecimento, ciência e arte. Ao longo de milhares de anos, o Real tem intrigado o homem, tem movido o homem, tem inspirado o homem.
Pintura palelolítica, caverna de Montinac-Lascaux, França |
Os egípcios antigos eram ao mesmo tempo figurativos e abstratos como pintores, influenciados diretamente pela religião e suas crenças, onde sacerdotes orientavam artistas dentro de regras rígidas. Mas mesmo assim, os escultores egípcios eram realistas. Também na Roma dos velhos tempos, os pintores - os primeiros muralistas - eram também realistas, pintavam em enormes afrescos murais públicos, cenas da vida, da história.
Estudos de Michelângelo Buonarrotti (1475-1564) |
Um outro pré-renascentista, Filippino Lippi (1457-1504) - que era filho de um padre (também pintor) com uma freira - também trazia elementos que o diferenciavam dos pintores de seu tempo, influenciados pela mística bizantina: pintava anjos com as unhas sujas, nossas senhoras com a cara das mulheres que se viam nas ruas.
Lição de Anatomia, de Rembrandt, 1632, Museu de Haia, Holanda |
No Renascimento que cultuava as formas idealizadas dos gregos antigos, os pintores realistas são em número muito grande! O Barroco, que trazia intensidades dramáticas expressas nas artes, era sobretudo um movimento realista, e de inspiração popular. Não precisamos fazer uma lista de nomes, porque um só deles já basta para atestar esta constatação: O Mestre Caravaggio! Ele era odiado pelos seguidores dos maneirismos aristocráticos de seu tempo, que o chamavam de anticristo da pintura, o pintor maldito, o pintor que vivia com os pés sujos. Caravaggio não ligava, pintava com intensidade a realidade crua que via diante dos olhos.
Mesmo na França do período do Rococó mundano e superficial de uma "aristocracia em decomposição", diversos pintores, ao invés de se inspirarem nos temas em voga, preferiam buscar inspiração na vida laboriosa dos trabalhadores rurais e mesmo na vidinha besta da pequena burguesia provinciana.
Velha fritando ovos, de Vélazquez, 1618, 100x120cm, National Gallery of Scotland, Edimburgo. |
Mas foi no século XIX, com Gustave Courbet, que se funda oficialmente o movimento conhecido como Realista, primeiros passos para todos os movimentos modernistas que vieram a seguir. O Realismo do século XIX veio junto com ideias revolucionárias contra a burguesia já no poder, que já de revolucionária não tinha mais nada. Se mostrava conservadora, anti-reformista e autoritária. Citando Arnold Hauser, um dos teóricos do período, Cavalcanti lembra que as intensas discussões daquela época em torno da "arte pura", distante da realidade e da história, eram incentivadas pela burguesia no poder que queria afastar o artista das ideias políticas.
O atelier do pintor, Gustave Courbet, 1855, óleo sobre tela, 361x598 cm, Museu D'Orsay, Paris, França |
Le déjeuner sur l'herbe, de Édouard Manet, 1863, Museu do Louvre, Paris, França |
Os músicos, de Caravaggio, óleo sobre tela, Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque, EUA |
Excelente, Mazé! Parabéns! Quanta clareza e persuasão no seu texto. Não há dúvida, o Realismo é inerente à humanidade.
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Marcelo Tonidandel