domingo, 11 de setembro de 2011

Um outro tempo

Estudo de fluxo de luz, pastel em tons de cinza
Viver numa cidade grande como São Paulo, exige que sejamos capazes de superar limites de todos os tipos. O tempo turbilhona enquanto a produtividade alucinante acontece. O capitalismo exige produção, eficiência, aceleração. Sobre o suor de quem trabalha, tempo é dinheiro... Nessa vida doida, onde precisamos dar conta de tudo, nem atinamos para coisas que, em outro ritmo de vida, tocam, inspiram, elevam.


Mas o tempo é outro, outro o ritmo e outra a forma de olhar para o mundo, quando se cria. Uma maneira mais quieta, mais meditativa, mais reflexiva. Para a arte o tempo é outro e é preciso se afinar com esse tempo. É a única forma de perceber a sutileza das coisas do mundo. E a única para criar.




Como diz a música de Chico Buarque, o TEMPO E ARTISTA:


"Imagino o artista num anfiteatro onde o tempo é a grande estrela
Vejo o tempo obrar a sua arte, tendo o mesmo artista como tela
Modelando o artista ao seu feitio, o tempo, com seu lápis impreciso
Põe-lhe rugas ao redor da boca como contrapesos de um sorriso


Já vestindo a pele do artista, o tempo arrebata-lhe a garganta
O velho cantor subindo ao palco apenas abre a voz, e o tempo canta
Dança o tempo sem cessar, montando o dorso do exausto bailarino


Trêmulo, o ator recita um drama que ainda está por ser escrito
No anfiteatro, sob o céu de estrelas um concerto eu imagino
Onde, num relance, o tempo alcance a glória e o artista, o infinito."

sexta-feira, 2 de setembro de 2011

As ideias e os artistas


Detalhe da pintura "Marat Assassinado", de David, 1793
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A força das ideias vai gerando a história, movimentando os povos, mudando os sistemas. Nas artes, vai alinhando ou desalinhando artistas. E ninguém fica incólume ao que acontece em seu próprio tempo. Assim foi, assim é. Mas essas ideias não surgem do nada; não surgem da mente de algum ser genial. Surgem dessa dialética entre a realidade concreta e a observação que o ser humano vai fazendo dela, enquanto constrói seu caminho no mundo.

Estou lendo o livro de Walter Friedlaender intitulado “De David a Delacroix” que faz um recorte  na história da arte francesa, onde podemos observar o quanto ideias e arte estão em consonância. Esse livro foi publicado pela primeira vez em 1930, na Alemanha, e era destinado ao uso em escolas e universidades. Aborda principalmente dois grandes pintores franceses – David e Delacroix – mas os localiza num período histórico dos mais importantes da história.

A França do século XVII era o país mais poderoso da Europa e o que possuía a maior população. German Bazin (em outro livro que acabei de ler, o “Barroco e Rococó”) mostra que a França era o país que assimilou “com maior êxito o espírito do Renascimento italiano”, que trouxera muitas novidades em todos os campos da vida humana, assim como as ideias de uma classe em ascensão, a burguesia. No século XVIII – onde vamos nos concentrar aqui – ideias contraditórias disputavam espaço numa sociedade onde “financistas conviviam com as velhas noblesse d’épée e noblesse de robe”, ou seja, burgueses e aristocratas disputando espaços políticos e econômicos, além de filosóficos, dentro de um sistema em evolução.


"Marat assassinado", de Jacques Louis David, 1793
Essas ideias que competiam entre si, movimentavam a história. Uns agarrados ferrenhamente ao passado; outros, onde os mais pobres foram incluídos, carregavam novas bandeiras que balançavam ao sopro dos ventos de um mundo novo.

A Revolução Francesa (um período que vai de 1789 até o golpe de estado conhecido como o 18º Brumário de Luís Bonaparte, 1799) marcou o fim do Ancien Régime e dos privilégios da realeza e do clero. Até então o rei era o centro de toda a vida política e social na França. Os impostos cobrados ao povo eram extorsivos. A imensa maioria vivia na miséria, enquanto os membros da corte e do clero se refestelavam nos palácios. A Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, de 1789, proclamou a igualdade dos direitos de todos diante da lei, além de defender direitos básicos dos cidadãos. Essa Revolução de 1789 marcou o início da era moderna e influenciou todos os recantos do mundo.

Dentro de tudo isso, correntes de pensamento influenciavam também a Pintura. Os ventos do Renascimento haviam trazido o pensamento racional, que predominou durante todo o século XVII e chegava ao século XVIII trazendo as ideias de influentes pensadores franceses, como Descartes e Corneille.

Mas uma corrente de pensamento “irracional”, mesmo que inconstante e com menos influência, “se manifesta de forma mais exuberante na primeira metade do século XVIII”, diz Walter Friedlaender. Essas duas formas de pensamento, conflitantes entre si, podem ser encontradas, segundo ele, “na complexa estrutura da pintura francesa do século XIX”. E posteriormente.

Os pastores da Arcadia, de Nicolas Poussin, 1638-1640

O pensamento racional dentro da obra de arte tinha, segundo o autor alemão, “um viés moralizante”. Estava preocupado com o conteúdo ético e didático da obra, muito influenciado pela visão de Nicolas Poussin (1594-1665), um pintor francês que se mudou para Roma, onde voltou seus estudos técnicos e teóricos para o classicismo de Rafael e dos pintores venezianos. Poussin, em seu metodismo e racionalismo, detestava a pintura de Caravaggio! Seu desejo era “reviver a antiguidade”, como afirma German Bazin. A pintura de Poussin que pode ser considerada um manifesto do que ele pensava é o “Os pastores da Arcádia”, pintado entre 1638-40.

As ideias estéticas predominantes em todo esse período pré-revolucionário vinham sendo construídas com base na razão e na moralidade, o bon sens. Eram ideias também de Pierre Corneille, o grande autor de peças como El Cid e Horácio, que se baseava também no classicismo. Corneille nasceu em 1606, numa família da nascente burguesia. Também se junta a esse campo do pensamento, o filósofo francês René Descartes, que morreu em 1650. Além de filósofo, o grande teórico racionalista era físico e matemático. Foi ele que desenvolveu o pensamento que ficou conhecido como o método cartesiano.

Mas, convivendo com essas ideias, havia uma corrente que se opunha àquela visão de mundo racional. Para ela mais valia o gosto pessoal do que a razão. Esse gosto podia ser traduzido para “fineza”, “delicadeza” e uma visão de mundo mais subjetiva. “Coeur e esprit eram as palavras de ordem dos salões literários que existiam por volta de 1720”, diz Friedlaender. Surgia “uma mentalidade artística, livre do peso da tradição acadêmica e moral”.

Mas tudo combinava com a alma francesa.


"A leitora", de Jean Honoré Fragonard, 1770-72
O refinamento e a elegância dos salões e da Corte de Paris ajudaram a desenvolver uma forma de pintura decorativa, de pintores como Watteau, Lancret, Pater, De Troy e outros. Mas nessas altas rodas aristocráticas, representando a burguesia, estavam sempre presentes os financistas. Os mesmos que mandam no mundo capitalista em crise de hoje.

Nas primeiras décadas do século XVIII houve um grande desenvolvimento das artes na França e muitos colecionavam pinturas. Era o tempo de Madame de Pompadour, amante do rei Luís XV e, em seguida, o tempo da rainha Maria Antonieta, a rainha fútil, que adorava moda e que foi guilhotinada pela Revolução Francesa.

Esse conflito de ideias que unia, de um lado, “a melodia jovial e espontânea” do povo francês e, do outro, a “predominante e persistente nota racional” fez com que se desenvolvesse a arte francesa. Aparentemente, diz Friedlaender, no meio dos artistas as discussões pareciam se resumir a questões técnicas e visuais: “desenho versus cor, placidez versus movimento, ação concentrada em poucas figuras versus dispersão das figuras”. Mas no fundo representavam a verdadeira luta de ideias entre disciplina e moral, de um lado, e, do outro, um certo amoralismo, rejeição a normas e irracionalismo subjetivo. Que evoluíram para as ideias defendidas mais tarde pelos Românticos.

No topo disso se desenvolveu a famosa inimizade entre dois grandes pintores franceses: Jean Auguste-Dominique Ingres (1780-1867) e Eugène Delacroix  (1798-1863). Ingres era neoclássico. Delacroix era romântico. Delacroix era colorista, Ingres encarnava a pintura linear e clássica. Conta-se que certa vez Ingres encontrou Delacroix em um salão e teria dito: “Tem cheiro de enxofre”…

Pois Friedlaender diz que a Pintura Linear no século XVIII encarnava “algo pleno de significado moral”. A pintura romântica, colorista era uma verdadeira “heresia” e até mesmo considerada uma “falha moral”.  Ingres era muito rígido em suas ideias. Delacroix também.

Era esse o nível dos debates ideológicos dentro da Pintura francesa do século pré e pós-revolucionário.
Mas bem antes deles, esses pensamentos se deixavam impregnar uns pelos outros. Friedlaender esclarece que o “mais subjetivo artista francês, tanto em seus aspectos técnicos, como de composição, deixou-se parcialmente subordinar pela razão e mesmo pela Academia”.

A visão mais subjetiva refletia-se no estilo mais livre nas artes, especialmente a partir dos primórdios do século XVIII. Artistas contrários ao pensamento racional dominante reagiam com uma pintura mais “colorista” e com pinturas de gênero. Mas havia muito de superficial na pintura do período que vai de Jean Antoine Watteau (1684-1721) – um dos criadores do estilo Rococó – a François Boucher (1703-1770).  No entanto, foi Jean-Honoré Fragonard (1732-1806) quem melhor representou a arte decorativa desse período.

Após 50 anos de predomínio do estilo Rococó, onde reinava um certo amoralismo na vida social, o pensamento racionalista retorna em meados do século XVIII com toda sua força, no movimento neoclássico. A ideia era resgatar a “norma dos antigos”, ressalta Friedlaender.

No entanto, o período de domínio da irracionalidade Rococó tinha deixado sua marca e o Neoclassicismo surgia considerando a Antiguidade de uma forma mais relativizada. Já não se buscavam as soluções formais do período clássico (Grécia e Roma), mas sim seus valores éticos. “O heróico, agora, se associava ao virtuoso”, enfatiza o autor alemão. O herói deveria agora possuir, além de força, “todas as virtudes humanas”.

E esses valores deveriam ser seguidos também pelos reis. O que Friedlaender chama de “classicismo ético” passou a ter um caráter “eminentemente político” que influenciou os debates da época e preparou o caminho da Revolução.
"O julgamento dos Horácios", de Jacques Louis David, 1784

Em meio a essas ideias, surge Jacques Louis David (1748-1825), como o representante da pintura clássica por excelência. David atinge seu auge com a pintura “O Juramento dos Horácios” pintado em 1784. Ele seguia a regra – neopoussinista, no dizer de Freadlaender – de focar sua pintura no essencial: a Ação, retirando qualquer elemento que distraísse a atenção da cena principal do quadro.

Mas David nunca teve uma atitude anticolorista, pois admirava demais o pintor flamengo Rubens. E também não se rendeu ao pensamento clássico. Teria dito: “A arte antiga não me seduzirá: falta-lhe ação, falta-lhe movimento”.  Estava apegado teoricamente ao passado, mas era homem do seu próprio tempo.

Envolvido totalmente com a Revolução Francesa de 1789, David pôs seu talento de pintor a serviço das causas revolucionárias, assim como foi fiel ao período napoleônico, declaradamente favorável a Napoleão Bonaparte. Mas na Revolução de 1789 alinhou-se aos jacobinos, a ala esquerda. Em 1793 apresentou o depois famoso quadro “Marat assassinado”, onde denunciava o assassinato do revolucionário e seu amigo Jean-Paul Marat.

"A barca de Dante", de Delacroix, 1822
Eugène Delacroix (1798-1863), que já nasceu numa França renovada pela Revolução, tomou outro caminho pictórico, mas também era plugado a seu tempo, até mesmo pelo romantismo que o inspirava.

Contemporâneo de Jean Auguste-Dominique Ingres, um abismo separava suas telas da deste grande pintor acadêmico. Seguidor da vertente artística aberta por Rubens, enquanto Ingres admirava Poussin, Delacroix voltava seus pinceis e tintas na direção que dava mais ênfase à cor e ao movimento. Friedlaender o posiciona no estilo do alto barroco.

Mesmo distante da pintura de Poussin, Delacroix se aproximava do seu antecessor e compatriota em termos do interesse pelo estudo da teoria “para tornar mais claras as próprias intenções”.  Ele escrevia sobre arte e até começou a escrever um Dicionário Filosófico de Belas-Artes, que não terminou.

Com apenas 24 anos de idade pintou seu primeiro grande quadro: “A barca de Dante”, inspirado no Inferno da Divina Comédia de Dante Alighieri. Friedlaender diz que o arranjo temático derivava diretamente da pintura “A barca da medusa” de Theodore Géricault, outro pintor francês da época, e amigo de Delacroix. Mais tarde o poeta Charles Baudelaire teria dito de Delacroix que ele “fut grand dès as jeunesse, dès sés premières productions” (foi grande desde a juventude, desde seus primeiros trabalhos).

Delacroix participou dos movimentos revolucionários de seu tempo ao pintar “A Liberdade guiando o povo às barricadas”. Diferentemente de Ingres, ele não se isolou de seu tempo e quando a Revolução de julho de 1830 estourou, ele não ficou indiferente. A mulher que representa a Liberdade em sua tela é uma mulher do povo, com o peito nu e os cabelos ao vento. Friedlaender observa a respeito dessa pintura: “De todas as obras de Delacroix, foi a única em que um conceito original e um verdadeiro sentimento contemporâneo se completaram de forma vigorosa”.

Dois pintores de escolas diferentes resumem todo o caudal de ideias que iam se gestando desde o século XVI e o começo do capitalismo mercantilista.

Na Itália, muito antes da França, essa mesma luta de ideias já se passara. O Renascimento italiano tinha trazido as ideias greco-romanas também para as artes e foi lá onde primeiro se deu a passagem de uma arte severa para uma mais livre e informal. Foi contra a rigidez estética clássica que se insurgiram pintores como Caravaggio, um dos maiores representantes da pintura do Barroco.

"Joana d'Arc na Coroação de Carlos VII", de Jean Dominique Ingres, 1854

Naquele tempo, segundo o também estudioso de arte Heinrich Wölfflin, o Barroco não surgiu com uma teoria, mas logo causou diversos adjetivos, entre os quais “capriccioso” (bizarro, extravagante). Trazia em si o prazer pelo raro, queria ir além das regras. No começo era pesado, severo, contraído; com o tempo se torna mais leve, alegre. E ocupou cerca de 200 anos de história.

Foram as ideias barrocas de Caravaggio que o fizeram usar como modelos pessoas comuns, prostitutas, vagabundos. Num tempo em que a Igreja Católica era a dona do mundo e os artistas vendiam sua força de trabalho para produzirem a propaganda da Igreja, Caravaggio não foi diferente, não podia ser, ou morria de fome. Mas usava suas amigas e amantes como modelos para a Virgem Maria e para os santos. Como Delacroix usou uma mulher do povo para representar a força simbólica da Liberdade que o povo deveria conquistar na França revolucionária.

A Liberdade de Delacroix era uma mistura das ideias que vinham desde Caravaggio (e que tinham atingido também David), com os ideais clássicos: força, valentia, coragem, disposição de espírito. Esses ideais traziam da antiguidade a figura do Herói não somente como alguém que realizava grandes feitos, que possuía força muscular admirável. “Ele era, antes de mais nada alguém (…) cujo nobre corpo revestia alma resplandescente de virtude e cujas realizações podiam servir de exemplo como um ideal a ser atingido” (Friedlaender).

E esses aspectos foram enaltecidos pelo Romantismo dos séculos XVIII e XIX. Vem daí a ideia do revolucionário como o herói do povo. Vem daí a ideia do artista como aquele cara excêntrico. Dessa mistura de ideias que vicejavam na Europa a partir do século XVIII, especialmente pós-Revolução Francesa, foi que surgiu a Modernidade. Daí veio inspiração para todas as revoluções do século XX.

"A Liberdade guiando o povo às barricadas", Eugène Delacroix, 1830

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Revisitando o mar

Caneta nankin, praia do sul, 2010

Havia um céu azul e um sol muito brilhante ali.


Eu caminhava descalça, feliz, pela praia. Atravessei um pequeno rio que oferecia suas águas ao mar, enquanto ondas salgadas penetravam rio a dentro, indo buscar, em correnteza, esses fluxos de água doce.


No ponto em que atravessei, as águas doces e salgadas empurravam-me levemente em movimentação contrária. Venci-as. Atravessei e continuei caminhando na areia já do outro lado, em outra praia, uma pequena praia quase sem ondas.


Sentei-me um pouco em frente ao mar.


Como gosto de fazer sempre, busquei a profundidade que a linha do horizonte aponta, lá nos confins do mar. Meu pensamento ia além das ondas, da lâmina d'água, dos pequenos pontos de interferência - os barcos - que passavam em direções diversas.


Meus desejos e meus sonhos tomaram um desses barcos e me carregaram para lá. Meus sentimentos me trazendo visões de encontros felizes.

Mas era fim do dia. Sem previsão nem preparação, uma tristeza começou a acompanhar os movimentos da luz do fim da tarde. Escurecia. O sol se inclinava fulminando o horizonte! Ia levando consigo o dia o céu as poucas nuvens as gaivotas. E a mim.


A escuridão cobriu meu coração, e meus olhos - janelas da alma - lançavam dois jatos de vista sobre o mundo, já escuro. Melhor mergulhar nesse mar e que seus movimentos me dirijam. Não há como ser barco sem se entregar às ondas. E esperar que o dia amanheça e que o céu fique azul e que o sol lance seus raios de novo sobre mim...

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

"Um homem é o espelho do outro"

Boris, pastel sobre papel canson, Mazé Leite, 2011


"Suponhamos aquilo que produzimos como seres humanos. Cada um de nós se afirmaria duplamente em sua produção: em relação a si próprio e ao outro. Em minha produção, eu realizaria a individualidade da minha vida. E contemplando o objeto produzido, alegro-me ao reconhecer minha própria pessoa como um potencial que se realizou como algo visível, tangível, objetivo.

O uso que você faça do que eu produzi, e o prazer que eu obtenha, dar-me-ia a alegria espiritual de satisfazer, através do meu trabalho, uma necessidade humana, de contribuir para a realização da natureza humana e de aportar, ao outro, o que lhe é necessário. Nossas produções seriam como espelhos em que nossos seres se irradiam de um para o outro. Um homem é o espelho do outro."


(Karl MARX, in "Economia Política e Filosofia", 1844)


Um dia desses fomos a São Francisco Xavier, interior de São Paulo. Na volta, pensamos que podia ser bom voltar pela rodovia Fernão Dias. Só que no caminho - estrada de terra - nos perdemos, quando vimos este homem aí acima. Paramos. Cumprimentamos o homem que se misturava  ao mato e ao fim do dia, quase noite.

Perguntei: posso tirar uma foto do senhor? Sim, respondeu simpático. E contou que é filho de um lituano que veio para o Brasil na década de 1930, que seu pai falava 5 idiomas, fluentemente, entre eles russo e francês. Que ele - esse homem - se chama Boris; seu sobrenome eu não entendi, mas era algo que soava como soam os sobrenomes do norte da Europa. E o Boris nos indicou o caminho certo de voltar para São Paulo. Trouxe esse homem em meu coração. Esta é minha homenagem a ele.

sábado, 20 de agosto de 2011

Procuram-se desenhistas brasileiros

Foi inaugurado, neste 18 de agosto, o site Urban Sketchers Brasil, que pretende reunir desenhistas de rua brasileiros. A ideia dos administradores do site, João Pinheiro, Eduardo Bajzek e Juliana Russo é juntar correspondentes de todos os estados, entre ilustradores, arquitetos, pintores e pessoas de qualquer área que gostem de fazer desenhos por onde andam.

Os fundadores do Urban Sketchers Brasil:
Eduardo Bajzek, Juliana Russo e João Pinheiro
Essa ideia partiu do site internacional Urban Sketchers, uma grande comunidade internacional que reúne milhares de entusiastas do mundo todo, juntando pessoas que têm como paixão comum desenhar nas ruas de suas cidades, e nas viagens que fazem. Seus desenhos são disponibilizados no site, criando essa grande comunidade internacional de pessoas amantes do desenho feito à mão. Essa organização sem fins lucrativos possui mais de 100 correspondentes de mais de 30 países que recentemente se reuniram no II Simpósio em Lisboa, Portugal. A ideia inicial surgiu do jornalista e ilustrador Gabriel Campanário, espanhol residente em Seattle, EUA.

Os desenhistas são desde arquitetos, ilustradores, pintores, designers gráficos, web desenvolvedores e educadores, mas também envolvem pessoas de qualquer profissão que façam desenhos de observação.

Aquarela de Eduardo Bazjek, igreja ortodoxa do
bairro do Paraíso, São Paulo
Esse grupo segue um Manifesto em comum, uma espécie de carta de intenções que ajuda a organizar os desenhistas. Entre os principais pontos do manifesto estão: “Nós fazemos desenhos de lugares, capturando aquilo que estamos vendo da observação direta, seja em ambientes externos ou internos; nossos desenhos contam histórias do dia a dia, dos lugares em que vivemos, e para onde viajamos; nossos desenhos são um registro do tempo e do lugar; nós somos fiéis às cenas que estamos retratando; nós utilizamos qualquer tipo de midia e respeitamos nosso estilo individual; nós nos apoiamos e desenhamos juntos; nós compartilhamos nossos desenhos online; nós mostramos ao mundo, um desenho de cada vez.”

Entre as regras estão: não desenhar com base em fotografias; evitar edições em Photoshop (a não são ser algum ajuste de contraste, brilho, pouca coisa). A idéia é “congelar” o tempo no caderno, com o material que tínhamos em mãos naquele momento. Também não valem desenhos de sessões de modelo vivo.

Desenho de João Pinheiro, igreja ortodoxa, bairro do Paraíso, São Paulo
João Pinheiro, um dos organizadores brasileiros do blog nacional dos desenhistas, se entusiasma com a ideia de juntar gente que desenha de todo o Brasil: “O Brasil, com sua proporção continental, incrível variedade cultural, étnica, além de uma rica história artística, que apesar de curta, já tem artistas conhecidos mundialmente e tantas outras coisas extraordinárias, nossa música, por exemplo, tem tudo para ser uma vitrine rica e variada de desenhistas ímpares. Desculpem o tom excitado, mas já estou imaginando os desenhos que aparecerão aqui todos os dias, do Oiapoque ao Chuí, mal posso esperar.

Desenho de Juliana Russo, igreja
ortodoxa, bairro do Paraíso, São Paulo
Ele reafirma que o principal objetivo do site que foi criado esta semana “é integrar artistas que fazem desenhos de cenas urbanas, em suas respectivas cidades, ao redor do Brasil e principalmente incentivar a prática do desenho.”

A ideia é que haja pelo menos um desenhista de cada estado brasileiro. Serão encorajados encontros regulares em todas as cidades onde um “urban sketchers” organize um evento. Também serão realizados sketchcrawls (desenhos em grupo), assim como encontros nacionais. Também será encorajada a participação de desenhistas brasileiros nos Simpósios internacionais do Urban Sketchers, como o que aconteceu em Lisboa neste ano.


João Pinheiro, assim como Eduardo Bajzek e Juliana Russo, conclamam os desenhistas brasileiros, os “retratistas obsessivos do cotidiano” para que se juntem a nós nessa empreitada. Vamos juntar nossos cadernos de desenho, vamos invadir todas as ruas desse imenso Brasil, registrando o cotidiano do nosso país e de nossa gente!

Se você é um desenhista brasileiro, retratista obsessivo do cotidiano, está convidado a se juntar a nós, neste grupo. Ou mesmo se conhece algum amigo ou amiga que se interessa em participar, entre no site http://brasil.urbansketchers.org e veja como solicitar a participação.