Acredite: dentro desta moldura tem uma obra de arte! Tenha fé! |
Nem Marcel Duchamp seria capaz de imaginar uma Fonte invisível! |
Quem teve a brilhante ideia de criar esse “museu” foi um ator chamado James Franco, porque queria elevar a arte conceitual a um patamar mais alto (ou o que isso queira dizer). Ou ele é a reencarnação de Marcel Duchamp – o rei da arte conceitual – ou nem Marcel Duchamp seria capaz de ir tão longe e ganhar dinheiro com… nada!
Pois é, mas o comprador das subjetividades do “museu” recebe um “certificado de autenticidade” e isso lhe transfere a propriedade sobre a “criação”, mesmo que ela não exista! (nunca usei tantas aspas e pontos de exclamação antes!) E o que o comprador leva para casa, além do certificado? Uma arenga escrita sobre a “grande ideia” do “artista” e uma moldura sem nada dentro. Então emoldura o que? Nada, meu amigo!
Mas essa iludida senhora, que tem por nome Aimee Davidson, é uma “produtora de novas mídias”. Vejam o que ela disse sobre sua compra:
“Como produtora de novas mídias, me identifiquei com a ideologia do projeto e fui particularmente inspirada na frase “Nós trocamos ideias e sonhos como moeda na Nova Economia”. Os meios de comunicação social, que são parte integrante da ”Nova Economia” da Internet, pós Web 2.0, revolucionou o modo como artistas criam, promovem e vendem as suas obras de arte. Senti que o ato de comprar “ar fresco” apoiou a minha tese sobre um conceito que denomino de “você-commerce”, que é o marketing e a monetização da própria persona, habilidades e produtos através do uso das mídias sociais e das plataformas de auto-difusão, como o uso da plataforma de financiamento público para financiar o Museu de Arte Não-Visível. Basicamente, eu queria colocar meu dinheiro onde minha boca está.”
Só para os desavisados: isto daqui é uma obra de arte! |
Nem eu.
Mas o próprio “museu” explica…
“Como essas obras de arte invisíveis são compradas, trocadas e revendidas, elas abrem os nossos olhos para o universo invisível que existe em cada momento, e podemos compartilhar esse universo. Trocamos ideias e sonhos como moeda na Nova Economia.”
E os responsáveis por essa estúrdia ainda ameaçam fazer uma turnê pelo mundo apresentando… o que não existe!
Até que ponto o sistema capitalista é capaz de chegar: não satisfeito em transformar obras de arte em mercadoria agora é capaz até de transformar a nulidade, o não existente, o nonada em mercadoria! Isso nem Karl Marx seria capaz de prever! Este é o mundo dos espertos-expertos, de todo tipo de expertise possível! E para cada expertise, um/uma debilóide capaz de adquirir com cifras bem concretas a bobajada toda!
Mas isso também lembra o que Affonso Romano de Sant’Anna fala em seu livro “Desconstruir Duchamp”: a tal da arte contemporânea se aproxima do misticismo e da religião: “Na religião há que ter fé. Em relação às obras contemporâneas, há que “acreditar” nas intenções do artista”.
Ou você, que não é capaz de se emocionar com tanta criatividade, vai queimar no fogo do inferno conceitual cheio de diabinhos conceituais!
Como diria o pai de um amigo: "todo dia sai um trouxa de casa." Nesse caso, muitos trouxas pra acreditar numa baboseira destas.
ResponderExcluirEnquanto isso, sigo rezando para as almas penadas que acreditam em estudo e arte de qualidade.
Sergei Eisenstein dizia: "arte é a escritura dos sonhos sonhados pelo artista".
ResponderExcluirEste deve ser um artista sem sonho mas cheio de "boas" intenções. Na sua obra o vazio e a falta de conteúdo se "tangenciam" formando uma grande
"Obra imaterial de intenções de arte". Mais conceitual impossível.
Não podemos desmerecer a contribuição de duchamp ao que passamos chamar de arte moderna. Seu conceito ready made libertou aceleradamente a arte no início do século XX daquilo que previsivelmente poderia ser um novo paradigma: a "resignificância" da pintura sobre tela, iniciada por Picasso, na obra Mademoiselles de Avignon, precedida por toda obra de Turner, depois Monet e demais impressionistas. Em tempos céleres onde já se fala da pós-mídia, estabelecer diretrizes para a obra que se adeque a museus é reviver o retroceso dos pseudo realistas -socialistas ou dos que retrataram a "realidade" Napoleônica com veladuras maneirista à lá Jean Louis David (encomendas para a propaganda do poder). O orinol, rebatizado como A Fonte, devidamente assinado e colocado à mostra em museu, é tão importante como foi "A Liberdade Guiando um Povo" de Delacroix, Retratando a queda da Bastilha. O, para uns, repugnante orinol seria a Bastilha formal do mundo contemporâneo? Depois de Marcel Duchamp, a possibilidade de fazer arte ficou muito mais acessível, como pensava e teorizava Engels, por exemplo.
ResponderExcluirEu gostei
ResponderExcluirArte conceitual, como o nome indica, carrega um conceito. Infelizmente nem todos tem sensibilidade pra entender ou o minimo respeitar o que o artista tenta dizer com sua obra.
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