Mas antes de entrar no texto dele, vale falar um pouco mais de quem é Philip Hensher, um inglês nascido no sul de Londres em 1965. Hensher estudou em Cambridge, onde fez doutorado em pintura satírica do século XIX. É também romancista e crítico literário dos jornais londrinos The Guardian e The Independent. Recentemente ele foi o editor de obras clássicas da literatura inglesa, publicando romances de Charles Dickens, por exemplo. É considerado um dos promissores romancistas ingleses da nova geração.
Segue um resumo do que Hensher escreveu:
As artes plásticas dão ao espectador uma decisão que as outras formas de arte não dão: você pode escolher quanto tempo quer ficar olhando para um quadro ou uma escultura. Uma sinfonia pode durar 40 minutos, um filme pode durar duas horas, uma peça de teatro duas ou três horas… Mas você pode escolher se quer olhar para uma pintura ou escultura por 10 segundos ou por 10 minutos. E essa é uma boa medida do quanto você está interessado por ela.
Minha preocupação inicial era saber se há uma diferença entre o tempo que uma pessoa observa uma obra de arte clássica e uma obra de arte contemporânea.
Para esse meu experimento científico, o Museu escolhido foi o Tate Britain. A coleção do museu vai desde obras de pintores como William Hogarth e John Singer Sargent até artistas contemporâneos como Tracey Emin, Damien Hirst e Rachel Whiteread.
Estes últimos são a nova geração de artistas que explodiram na arte contemporânea fazendo coisas extravagantes: exibindo a própria cama desfeita (Tracey Emin) ou um tubarão morto imerso em formol (Damien Hirst). O que pode convencer as pessoas a correr imediatamente para o “outro lado” do Museu, onde estão os pintores.
Mas essas coisas feitas por artistas contemporâneos rapidamente chegam aos jornais e torna famosas essas pessoas mesmo entre os que não se interessam por arte. Nestes dias, pintores como William Turner e John Constable (grandes nomes da pintura inglesa) parecem menos excitantes do que esses artistas-celebridades. Minha pergunta: esses pintores clássicos sobreviveriam a um teste simples a respeito do interesse das pessoas?
Por isso, fomos ao museu e passamos um dia inteiro sentados entre quatro pinturas clássicas e as obras de quatro dos renomados artistas britânicos contemporâneos. Contamos quantos visitantes pararam em frente de cada um, por quanto tempo ficaram olhando as obras, que exame foi mais longo e que tipo de visitante cada obra parecia atrair.
Surpreendentemente, apesar de toda a promoção pública dos artistas atuais, estes tiveram tanta atenção quanto os do século XVIII e XIX.
Apesar da fama de Damien Hirst (que conserva animais em formol e expõe como obra de arte), em nossa pesquisa ninguém parou mais do que 5 segundos para olhar para ele. Um único visitante mais entusiasta parou durante 4 minutos em frente a uma ovelha em conserva. Mas você também vai encontrar pessoas olhando para uma vitrine de moscas que pululam em volta de um pedaço de carne apodrecendo, também de Damien Hirst, em exposição na Academia Real de Escultura.
Alguns visitantes de fato demonstram entusiasmo em relação a obras contemporâneas, como a "Blak bath" de Rachel Whiteread. Teve um fã que passou quase 5 minutos em frente a ele!
Mas, em sua maior parte, essas obras de expoentes da cena artística atual atraíram apenas olhares de passagem.
É importante ressaltar que essas observações foram feitas numa segunda-feira, quando a maioria dos visitantes de exposições e museus são provavelmente os mais bem informados. Mas nós voltamos também na quarta-feira, onde há mais público, incluindo estudantes que vieram com a intenção de aprender sobre arte.
As pessoas pareciam estar realmente interessadas nas artes visuais. Mas de alguma maneira não pareciam muito interessadas nesses artistas contemporâneos, pois foi a pintura tradicional e clássica que despertou o interesse da maior parte das pessoas em visita ao Tate Britain.
As pessoas gastaram em média 2 minutos em frente ao Roast Beef de William Hogarth, um quadro pintado em 1749. O mesmo aconteceu com a tela de John Everett Millais, “Ophelia”, um dos mais populares enquanto estivemos lá: três visitantes passaram uma meia hora olhando para essa pintura maravilhosa!
Como observamos, as pessoas parecem mais dispostas a estar entre 2 e 6 minutos observando pinturas clássicas como a “Carnation, Lily, Lily, Rose”, pintada entre 1885-1886, pelo pintor realista John Singer Sargent. Esta pintura já foi o cartão postal mais vendido pela loja do Museu. Por que será?
E um grupo de japoneses passou 6 minutos em frente ao “Nocturne” de James Whistler! (tente passar 3 minutos olhando para uma imagem para perceber quanto tempo é isso).
Essa apatia dos freqüentadores de galeria em relação às obras contemporâneas devia ser algo que fizesse com que os curadores profissionais ponderassem sobre o valor real de tudo o que ajudam a mostrar ao público.
Abaixo uma tabela com os resultados da pesquisa de Philip Hensher:
Obra: | Total de visitantes | Tempo médio de visita | Tempo máximo |
Blach bath Rachel Whiteread – Escultura em poliuretano | 285 | 5 segundos | 4 min 40 seg |
Roast Beef William Hiogarth – Pintura | 219 | 2 min 15 seg | 6 min 30 seg |
Monument Valley Trace Emin | 177 | 5 segundos | 2 minutos |
Carnation, Lily, Lily, Rose John Singer Sargent – Pintura | 349 | 1 minuto | 3 minutos |
Colours: Anthraquinone -1 Diazonium Damien Hirst | 379 | 5 segundos | 30 segundos |
Ophelia John Everett Millais – Pintura | 562 | 2 minutos | 30 minutos |
Nocturne: Blue and Silver James Abbot McNeill Whistler – pintura | 104 | 2 min 5 seg | 6 minutos |
Animal: Damien Hirst romm Damien Hirst | 478 | 38 segundos | 4 minutos |
Mazé, já faz um ano que estive lá. Formou-se um grupo de quase 15 pessoas, mais a monitora, em volta da pintura "Ofélia" por mais de meia hora para ouvir as histórias simbolistas em torno da obra!
ResponderExcluirbj Marcelo