Fernando Botero |
Mas valeu pela entrevista, ou melhor, pelo que Fernando Botero disse na entrevista. Em primeiro lugar, quando o jornalista lhe pergunta por que ele só pinta “personagens gordos”, a resposta do artista veio da profundidade de seu pensamento sobre sua pintura, em contraponto às banalidades perguntadas a ele. Explicou que o que lhe interessa pintar é o volume dos corpos, pela sensualidade dessas formas arredondadas e explicou ao jornalista que não se trata só de uma escolha entre “pessoas magras ou gordas”. Cita o pintor italiano Giotto (1267-1337) que deu volume às formas da pintura praticada em seu tempo, que até então eram formas planas.
Como o jornalista não parava de perguntar sobre a “gordura” de seus "personagens", Botero continuou explicando a ele que um artista vê, muitas vezes, além do que outros enxergam. E contou de seu interesse pela arte pré-colombiana, apesar de sua formação europeia, mas que seu estilo nasceu a partir de suas convicções pessoais e pelo seu “respeito pela arte de formas clássicas”.
Fala, Botero:
Folha - Suas influências mais marcantes são artistas clássicos, e o sr. já afirmou que a arte se desintegrou depois de Picasso. Como vê a arte hoje?
BOTERO - Digamos que o problema é uma falta de estrutura. Disseram tanto ao Picasso que ele era um gênio que ele começou a fazer quadros sem estrutura (grifo meu). No final de sua vida, sua obra era um caos total, com uma técnica deplorável. A verdade é que hoje a arte se baseia em ideias superficiais, artistas estão mais interessados em chocar do que em criar obras com qualquer senso de estrutura. Não é um momento glorioso na evolução das artes visuais. Acredito que a arte viva agora um momento deplorável.
Folha - É por isso que o sr. desistiu de patrocinar o tradicional prêmio a jovens artistas que levava seu nome na Colômbia?
BOTERO - Sei que essa foi uma decisão polêmica, mas o júri havia dado o prêmio máximo a um vídeo, que era talvez o primeiro que aquele artista havia feito na vida. Não gostei das obras, nada me interessou, então achei que já não valeria mais a pena patrocinar esse tipo de coisa. Vi que os jurados premiam coisas absurdas, como se morressem de medo do fim das vanguardas artísticas.
Folha - Como lida com seu sucesso comercial? Costuma acompanhar os resultados dos leilões?
BOTERO - Não gosto de leilões porque criaram um gueto para artistas latino-americanos. Gostaria de estar nos leilões com os artistas do resto do mundo, já que tenho obras espalhadas por todo o planeta. Arte é universal, não deve estar identificada por regiões. Ser classificado como latino é ocupar uma categoria inferior, e não me considero inferior a ninguém.
Dança na Colombia, 1980, óleo sobre tela, 188 x 231 cm |
MAIS:
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Entrevista da Folha
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