quinta-feira, 21 de maio de 2020

TEMPO CINZA 4

Quando eu era criança, gostava das histórias que meu pai contava. Eram histórias do sertão, do povo do sertão, de um Brasil que ainda existe lá no fundão do Brasil. Uma delas, que nunca esqueci, foi a de um cachorro. Seu dono, parente de meu pai, havia morrido e sido enterrado num cemitério desses que nem muro têm, como a gente ainda vê no interior do país. Enterrado a sete palmos, com uma cruz de madeira e talvez alguma coroa de flores, naturais ou não. O cãozinho permaneceu vivendo na mesma casa, que também era sua, com os outros da família. Mas seu lado era junto do companheiro morto, e todas as noites e até o fim de sua pequena vida - disse meu pai - o cachorrinho seguia seu caminho até o cemitério e dormia a noite inteira sobre a cova de seu dono.

Então em homenagem aos animaizinhos que nesta pandemia estão ficando sós, vai esta pintura.

Obra: O LAMENTO DO CÃO PASTOR, Edwin Landseer, 1837

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