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domingo, 3 de abril de 2011

A incansável artista Edíria Carneiro

Edíria em seu atelier em São Paulo
Edíria Carneiro tem uma longa trajetória de vida, como militante comunista, mas principalmente como artista plástica. Sua caminhada começou lá pela década de 1930 quando, jovem estudante da Escola de Belas Artes de Salvador, fazia suas primeiras ilustrações para a revista “Seiva”, um instrumento de luta política e cultural de resistência ao fascismo. Nesse período, Edíria filiou-se ao Partido Comunista do Brasil.

Em 1945, como delegada ao congresso UNE no Rio de Janeiro, resolveu mudar-se para essa cidade que iria lhe permitir ter uma vivência maior com artistas e intelectuais. Lá na sua terra era muito difícil, para ela, ser militante comunista, inclusive por causa do preconceito que havia contra a participação de mulheres, tanto na política quanto nas artes.

No Rio, como o Partido precisava de uma desenhista, Edíria foi trabalhar como ilustradora do Jornal "A Classe Operária". Colaborava também com “Momento Feminino”, um jornal editado por mulheres e dirigido por Arcelina Mochel e Heloísa Ramos, esposa do escritor Graciliano Ramos, também filiado ao PCB. Edíria, além de seu trabalho como ilustradora, também desenhava panfletos, faixas, material de propaganda, etc.

Em 1946, teve aulas de xilogravura com Axl Leskochek, e de gravura em metal com Carlos Oswald, assim como estudou pintura com Tomás Santa Rosa. Enviou, nessa época, uma pintura sua para o Salão Nacional de Belas Artes do Rio de Janeiro, onde ganhou uma medalha de bronze.

Com a ilegalidade do seu Partido Comunista, Edíria foi viver na clandestinidade, junto com seu companheiro João Amazonas. Durante muito anos, ela ficou sem poder desenhar e produzir, por causa da perseguição aos comunistas. Somente em 1959, quando ela e João Amazonas mudaram-se para o Rio Grande do Sul, pode frequentar exposições e voltar a fazer cursos de artes plásticas, tornando-se aluna do pintor Iberê Camargo.

Nas idas e vindas da vida clandestina, Edíria e João voltaram a morar em São Paulo. Mas a ditadura militar perseguia duramente os comunistas e eles foram obrigados a se exilar em Paris durante quase quatro anos, após o episódio da Queda da Lapa, uma reunião do Comitê Central do PCdoB que foi estourada pelo Exército, onde foram assassinados os dirigentes comunistas Angelo Arroyo e Pedro Pomar, além dos outros que foram presos e selvagemente torturados.

Em Paris, Edíria voltou aos cursos de artes. Esteve com Friedlaender, um gravador muito conhecido e já muito velhinho, que tinha sido mestre do artista brasileiro Lívio Abramo. Friedlaender indicou para ela o “Atelier 17” de Stanley Hayter, um atelier freqüentado por muitos artistas famosos como Miró, Picasso, Vieira da Silva, Giacometti, entre outros. Com ele, Edíria aprendeu uma técnica especial de gravação que permite se usar várias cores numa mesma impressão, técnica que ela domina muito bem, como pode ser visto em sua recente exposição de gravuras, no final de 2010, na sede do PCdoB.

Atualmente, mesmo com a idade avançada, ela não para! Transformou o apartamento onde mora em atelier, onde pinta frequentemente suas telas à óleo. As paredes estão repletas delas. Nos últimos anos, Edíria tem voltado sua pintura especialmente para o tema do sofrimento das mulheres pobres: mulheres que sofrem com enchentes, com a falta de moradia, com a fome, com o abandono e com a falta de terra para trabalhar, as que são camponesas. Isso lhe valeu uma homenagem das mulheres do MST, em 2009, quando Edíria doou seis telas para a Escola Florestan Fernandes.

Seu curriculum de artista é bastante extenso e inclui a participação em diversos Salões de Artes em várias cidades do Brasil, assim como duas participações na Bienal Internacional de Artes de São Paulo.

Ela também expôs no exterior:

na Associação Brasil-Estados Unidos, em Washington, EUA (1961); no Salon d'Automne, em Paris, França (de 1977 a 1981); no Musée des Beaux Arts de Caen, França (1981); no Salon des Artistes Françaises, em Paris (de 1977 a 1981); no Salon Internacional del Grabado, em Madri, Espanha (de 1977 a 1981); na Feira Internacional de Arte de Paris (1986); no Museu de Arte Colonial, a convite do Centro Wilfredo Lam, em Havana, Cuba (1991); na Bienal de Gravura de Taiwan, China (1991) e na Mostra Internacional de Minigrabados em Madri, Espanha (de 1994 a 1998)

Edíria Carneiro tem obras nos acervos dos museus: Museu de Arte Moderna de São Paulo; Museu de Arte Moderna de Skoplje, Macedônia, antiga Iugoslávia; Museu del Grabado de Buenos Aires, Argentina; no Cabinet d'Estampes de la Bibliothèque National de Paris, França e na Prefeitura de Porto Alegre, Rio Grande do Sul. Além disso, é verbete no Dicionário das Artes Plásticas no Brasil (Roberto Pontual), no Dicionário de Artistas Plásticos (Instituto Nacional do Livro) e na Grande Enciclopédia Delta Larrouse (Edição Brasileira ano 1970).

Exposição "As Excluídas"
Edíria Carneiro
de 18 de março a 15 de abril
Rua Rego Freitas, 192 Centro
São Paulo - SP


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NOTA DO BLOG:

A artista Edíria Carneiro faleceu em dezembro de 2011.