"Dança da música do tempo", Nicolas Poussin, 1640 |
"Autorretrato", Poussin, 1650 |
Mas, quem foi Nicolas Poussin?
Ele nasceu na aldeia de Villers, em Andelys, região à noroeste de Paris, no dia 15 de junho de 1594. Aos 18 anos, ele sai da casa dos pais porque estes desaprovavam a sua ideia de se tornar pintor. Foi para Paris sem nenhum recurso e, após os primeiros tempos de muita necessidade, ele foi aceito no ateliê do pintor Ferdinand Elle, passando depois para o de Georges Lallemant. Mas Poussin não ficou muito tempo com nenhum dos dois. Quando ele viu pela primeira vez os desenhos do pintor italiano Rafael e de seu discípulo Giulio Romano, começou a estudá-los com muito afinco.
Apaixonado pela arte de Rafael, Poussin quis ir em direção à Itália. Na primeira tentativa, caminhou à pé até Poitou (cerca de 150 km de distância de Paris). Teve que retornar e chegou fatigado e faminto e com isso caiu doente. Foi para sua cidade natal, onde se restabeleceu. Mas sua vontade de chegar à Roma, colocou-o de novo na estrada. Ele queria se aperfeiçoar na terra do mestre Rafael. Nicolas fez duas tentativas de chegar à Roma, sem sucesso. Na primeira, ele alcançou Florença; na segunda só chegou até Lyon. Nas duas ocasiões, foi forçado a parar sua viagem e a retornar a Paris.
"A inspiração do poeta"(detalhe), Poussin, 1630 |
Em 1623 ele concorreu com outros artistas para pintar uma série de seis quadros onde contava a vida de Santo Inácio de Loyola, encomendados pelos padres Jesuítas. Ganhando a concorrência, Poussin chamou a atenção de um poeta da Corte da famosa família Médici, família de marchands italiana. Desta forma, Nicolas Poussin foi apresentado às ricas famílias italianas.
Pela terceira vez ele seguiu na direção de Roma, onde chegou em 1624. Começou a estudar os mestres antigos, inicialmente com o escultor François Duquesnoy. Nesse período, ele já despertava a inveja de artistas locais que provavelmente instigaram soldados italianos a atacar Poussin, ferindo-o na mão direita, mas sem grandes prejuízos. Foi socorrido por Jacques Dughet, seu conterrâneo, que o recebeu em casa e lhe dispensou todos os cuidados para que ele ficasse bom. Poussin casou-se em 1629 com a filha de seu amigo, Anne Marie. Como não tiveram filhos, adotaram o irmão mais novo da esposa, que não somente herdou o nome de Poussin, como desenvolveu seu talento para a pintura de paisagem. Chamava-se Gaspard Poussin.
"Companheiros de Rinaldo", Poussin, 1634 |
Mas como despertou a inveja de outros artistas como Simon Vouet, Poussin resolveu rever sua família em Roma. Pediu licença ao rei e retornou para casa em 1642, junto com seu filho Gaspard, prometendo voltar. Mas Richelieu e Luís XIII morreram. Com isto, Poussin considerou que não tinha mais compromisso em Paris. E não voltou mais à França. Morreu em Roma em novembro de 1665.
Nicolas Poussin viveu em um tempo de grande riqueza intelectual. Metódico e racionalista, Poussin voltou seus estudos para a obra clássica de Rafael e dos pintores venezianos. Detestava a pintura de Caravaggio! Desejava mais que tudo “reviver a antiguidade”, como diz German Bazin em seu livro “Barroco e Rococó”. Após todo o fervilhar das ideias do período do Renascimento, as ideias estéticas também eram construídas com base na Razão e na Moral, o dito bon sens. Era o tempo de Pierre Corneille e de René Descartes, o grande teórico racionalista que desenvolveu o método cartesiano de pensar, que conhecemos e nos influencia até hoje.
Nessa época, a França era o país mais poderoso da Europa e de maior população. Este país tinha assimilado, segundo Bazin, “com o maior êxito o espírito do Renascimento”, que trouxe muitas novidades em todos os campos do conhecimento humano, assim como as ideias de uma classe social que começava a ter grande ascensão, a burguesia. Mas outras ideias também disputavam espaço e aristocratas e burgueses se digladiavam para impor suas visões políticas, econômicas e filosóficas dentro de um sistema em evolução.
Poussin, vivendo na Itália, se identificava totalmente com as correntes do pensamento racional, que predominou durante todo o século XVII, alcançando o XVIII… E trazendo em seu bojo a Revolução francesa de 1789, início de grandes movimentações políticas e sociais na França. O pensamento racional dentro da obra de arte, segundo Walter Friedland em seu livro “De David a Delacroix”, tinha um “viés moralizante”. A preocupação, inclusive a de Poussin, era com o conteúdo ético e didático da obra. Suas pinturas de caráter cristão são um exemplo disso. Ele parece ilustrar trechos dos Evangelhos e da história de Jesus.
Mas mesmo apegado ao passado clássico, Poussin foi o autor de grandes composições pictóricas e um pintor de grande expressão artística. Olhava para o bom gosto da antiguidade, em busca do Belo ideal, onde se podia apreender o intelecto puro e a moral. Ele - conta-se - gostava muito de andar à pé pela cidade de Roma, perdido em seus pensamentos, meditando, observando, anotando o que lhe chamava a atenção da diversidade da vida. Estudou perspectiva em Matteo Zacollini, arquitetura em Vitruvio e Palladio, pintura em Alberti e Leonardo da Vinci. Também fez estudos de anatomia, desenhou a partir de modelos vivos. Muitas vezes repetiu seus estudos e temas, sempre se colocando disponível para novos aprendizados. À medida em que envelhecia, seu pincel se tornava ainda mais suave, sua pintura mais harmônica, sua composição mais rica. Levava uma velhice pacífica, mas trabalhando sempre muito. Era modesto, sóbrio, franco e muito afável de caráter. Ele mesmo refletia a pintura que almejava: correto, verdadeiro, sincero. Um homem e pintor virtuoso.
"Assunção da Virgem", Poussin, óleo sobre tela, 134,4×98cm, 1630 |
"Sagrada Família", Poussin |
"Rapto das Sabinas", Poussin, 1633 |