"Jardinagem", pintura de Natalia Goncharova, 1908 |
"Sem título", Vassily Kandinsky, 1910 |
Era uma época de experimentações, de busca de novos conteúdos, de novas formas, de novas cores e de um novo mundo. O espírito da época – o zeitgeist, como se diz em alemão – atravessava o clima social, político, intelectual e cultural desse período: espírito de rebeldia, de contestação, de revolução. Grupos se formavam, movimentos novos nasciam a cada dia.
Cartaz de agitação e propaganda desenhado por Maiakovsky |
- “A Revolução deu um senso de realidade às suas atividades e uma direção, longamente aguardada (...) – uma vez que não havia, em suas mentes, nenhuma dúvida que os impedisse de identificar suas descobertas revolucionárias no campo artístico com essa revolução econômica e política” diz a pesquisadora inglesa Camilla Grey, no começo dos anos 1960.O próprio Maliévitch afirmava:
- “o cubismo e o futurismo foram as formas revolucionárias da arte que prenunciaram a revolução na vida política e econômica de 1917”.
A Revolução de 1917 acendeu verdadeiras fogueiras no coração dos artistas. Muitos deles tomaram em suas próprias mãos a reorganização da vida artística russa. Nos quatro primeiros anos pós-revolucionários conseguiram montar museus e escolas de arte por todo o país, assim como salas de teatro e de concerto. Enquanto criavam suas obras e redigiam seus manifestos, além de discutir suas teorias em longas e calorosas reuniões, os artistas da chamada Vanguarda Russa iam montando o arcabouço teórico que defendia - como Vladimir Maiakovski, Tatlin e mesmo Kandinsky e Malevitch - que, para o novo tempo que surgia naquele país, havia que se criar a nova arte, formalmente também revolucionária.
(Faço uma observação aqui: do começo do século XX e até por volta de 1925, o movimento que depois se tornou conhecido como Vanguarda Russa emergiu e se manteve em atividade artística, acompanhando todo o processo revolucionário de 1905 até à Revolução Socialista de 1917. Não me deterei, aqui neste texto, a falar sobre a Vanguarda, uma vez que já escrevi vários artigos sobre o tema que você pode ler, acessando os links abaixo).
Sendo assim, vamos diretamente a um movimento cultural que também foi muito importante naquele período:
O PROLETKULT
Anatole Lunacharsky |
O Proletkult foi o centro desses debates. Esta organização juntava clubes de trabalhadores, comitês de fábricas e sociedades educativas. No seu auge, em 1920, o Proletkult chegou a reunir 400 mil membros organizados em cerca de 300 grupos distribuídos em todo o território soviético.
Capa de um periódico do Proletkult, 1922 |
Anatole Lunacharsky, escolhido como Comissário do Povo para a Educação, ofereceu ao Proletkult orçamento estatal para realizar seu trabalho, inicialmente utilizado para a criação de uma estrutura para a entidade: uma sede própria na avenida principal de Moscou, a criação de um periódico intitulado “Cultura Proletária”, assim como a manutenção de sub-sedes nas províncias, onde os círculos locais ocuparam edifícios públicos e antigas casas senhoriais para suas operações.
Os defensores do Proletkult acreditavam que a transformação cultural rápida e radical era crucial para a sobrevivência da revolução. Eles insistiam com o novo Estado que apoiasse programas independentes de artistas e cientistas, assim como programas sociais que expressassem os valores e princípios da classe trabalhadora vitoriosa. Um dos valores fundamentais defendidos pela organização era o da criação autônoma: as ideias sobre arte, ciência e vida diária deveriam emergir dos próprios operários. Outro princípio defendido por eles era a autonomia do Proletkult em relação ao Partido Comunista. Mas Lenin não era favorável à criação nem dessa “nova cultura” e nem da autonomia dessa entidade.
Cartaz de propaganda para o filme "O Encouraçado Potenkim", de Sergei Eisenstein |
No final da Guerra Civil, com a vitória dos bolcheviques, o governo central precisava avaliar qual seria a melhor forma para gastar seus escassos fundos. O país todo passava fome. Os recursos eram escassos, o dinheiro curto. O Proletkult foi reorganizado, por esses motivos, mas também por causa das ideias de seus líderes de se manter independentes da direção do Partido, em um momento em que a Revolução exigia a mais completa vigilância de todas as atividades. Lenin resolveu assumir pessoalmente a organização, denunciando sua liderança e seus objetivos. Ele escolheu como foco do trabalho da organização aquele que tendia à experimentação e à vanguarda. O rumo que o Proletkult havia tomado anteriormente, Lenin classificou como “absurdo pequeno-burguês”.
Arquitetura construtivista, 1926. Arquiteto: Ilya Golosov. |
De forma reduzida, o Proletkult durou até 1932, quando o governo soviético, agora sob a liderança de Joseph Stalin (Lenin morreu em 1924) dissolveu todas as organizações culturais independentes, particularmente aquelas que reivindicavam representar o proletariado. O novo governo planejava grandes associações culturais dirigidas pelo Partido Comunista. Na sequência, nasceria o "Realismo Socialista", uma tentativa de nova estética apresentada como expressão de um estado de desenvolvimento histórico mais avançado, um movimento em direção a uma sociedade sem classes.
Os novos líderes voltaram a defender uma visão de cultura mais ligada às do Proletkult e à visão estética de Anatole Lunatcharski. O debate sobre o papel da arte estava de volta ao centro do poder soviético.
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CONTINUA..........
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SOBRE A VANGUARDA RUSSA, LEIA AQUI:- Vanguarda russa, as raízes de um novo tempo
- Arte em construção, o sonho de Tatlin - Parte I e II