Foto no viaduto Santa Ifigênia, centro de São Paulo, 8 de maio de 2011 |
Um homem pede esmolas no centro de São Paulo, pleno domingo de sol de outono. Um estranhamento ronda sua figura plástica, pictórica, coberta de uma mesma tonalidade marrom como sua pele. Sigo pelo viaduto Santa Ifigênia, mas meus pensamentos ficam lá com aquela figura.
O mundo que ronda esse homem transformou-se num grande mercado e ele tenta, lá do seu jeito torto e trágico, captar as sobras, os restos da Grande Feira deste mundo pós-moderno. O capitalismo passa como uma máquina monstruosa sobre esse homem, relegado à ignorância, à fome, ao abandono, à solidão mais absoluta de um homem só, sozinho contra um mundo!
O jovem mendigo (1645-1650), de Bartolomé Esteban MURILLO (Sevilha, 1618 -1682) Museu do Louvre-Paris-França |
O mendigo de Murillo é um garoto vestido com trapos, com os pés sujos, sentado no chão, sozinho no canto de um interior em ruínas. Ele parece ocupado em se livrar das pulgas que incomodam.
Murillo
escolheu, como artista, pintar os pobres de seu tempo. Ele se inspirou na
pintura de Caravaggio, o mestre italiano. Como este, também
inclui os contrastes violentos de luz e sombra que caem sobre suas figuras
pintadas, que recuperam algo de sua dignidade de ser humano.
Mas o
mendigo de São Paulo é sombrio naturalmente. Nada tem de gracioso, de harmônico,
de digno. É mais um dos muitos que encontramos vagando pelo centro da cidade,
expostos à fome, ao tempo, às drogas. Porque são mendigos de agora, mendigos
versão contemporânea, sobrevivendo em permanente asfixia, numa rotina que se
repete como os piores sonhos! Eles e seus pés andarilhos.
Desenho com lápis grafite, 2010 |