A exposição de Berthe Morisot no Museu Marmottan Monet de Paris |
A seleção das obras foi feita com o objetivo de acompanhar o
percurso da artista desde o período de sua formação com o mestre Jean-Baptiste Camille
Corot até sua última pintura. Segundo o texto de apresentação da exposição, no
site do Museu Marmottan, as obras escolhidas mostram uma arte sutil e delicada,
onde o tema geral é a celebração da mulher e da criança. Os retratos de moças
no baile, ou fazendo a toalete, ou simplesmente em algum jardim dão testemunho
da evolução de sua pintura como grande representante do Impressionismo. Mas há
também pinturas de paisagens ou simplesmente composições decorativas, que a
colocam lado a lado com dois de seus grandes contemporâneos: Monet e Renoir.
Quem foi Berthe Morisot
Retrato de Berthe Morisot, por Edward Manet |
Berthe nasceu em 14 de
janeiro de 1841, na cidade de Bourges, onde seu pai era prefeito. De uma
família de posses, ela recebeu uma educação burguesa: fez cursos de música,
desenho e pintura, juntamente com sua irmã Edma. Eram sobrinhas do grande
pintor rococó Jean-Honoré Fragonard (1732-1806).
Em 1852, a família
muda-se para Paris e as irmãs vão estudar desenho e pintura. Berthe tinha 16
anos de idade. Depois passaram a copiar as obras dos mestres da pintura no
Museu do Louvre, onde conheceram o pintor Fantin-Latour. Mais tarde, através
dele, elas conheceram o pintor impressionista Edward Manet.
Em 1861, Berthe e Edma
se tornaram alunas do pintor Camille Corot. Três anos depois, Berthe Morisot
participou pela primeira vez como pintora do Salão de artes oficial, o primeiro
de muitos. Ela expunha regularmente, ano a ano, sobretudo paisagens. Mas ela
também expôs um retrato duplo de sua mãe lendo, e da irmã Edma sentada ao lado,
já dentro da concepção artística de Manet, que Berthe considerava seu segundo
professor.
Em 1863, Berthe começou
a pintar ao ar livre em Pontoise, a noroeste de Paris. Lá conheceu os pintores
Daubigny e Daumier. Depois fez algumas viagens pela Espanha e Inglaterra.
Menina lendo, 1888, coleção do Museu de São Petersburgo, Rússia |
Já influenciada pela
nova geração de pintores que surgia, os futuros impressionistas e seus amigos,
Berthe retirou a pintura onde retratava a mãe e a irmã do Salão de 1870. Em
1874, ela deixa de participar dos Salões oficiais para se juntar ao grupo de
pintores independentes, que resolveram fazer sua própria exposição.
No final da década de
1860, as raízes do Impressionismo já estavam lançadas. Mas antes disso uma
corrente artística teve uma crescente importância no meio artístico francês,
constituindo-se – como diz Peter H. Feist em O Impressionismo na França – em um “dos mais notáveis fenômenos da
arte do século XIX”: o Realismo. Era fruto de fatores ligados ao
desenvolvimento de concepções que davam uma nova leitura do mundo, inclusive dando
sentido às opções políticas que tomaram artistas como Gustave Courbet. Os
artistas e seus quadros eram – continua Feist – “como janelas que se debruçam
sobre uma parte do mundo real”. Apesar de ser dotado de visão como qualquer ser
humano, o pintor deveria treinar permanentemente seu olhar, treinar e refinar
sua percepção do mundo. E assim, suas imagens representativas da natureza
deveriam levar o observador comum a examinar a realidade de uma forma nova.
Autorretrato, coleção do Museu Marmottan Monet |
Para esse grupo de
jovens pintores ao qual se juntou Berthe Morisot, pintar era representar a
realidade que o artista tinha vivenciado e presenciado. O centro de interesse
era a realidade cotidiana, a vida prosaica, os prazeres da vida. A paisagem com
mar e céu era agora mais luminosa. Os pintores impressionistas, com seus
cavaletes ao ar livre, queriam pintar a mudança e o movimento do dia, com sua
luz nova a cada momento. Davam a seus quadros uma claridade maior, uma invasão
de luz e cor. Até as sombras eram coloridas.
A inauguração do Salão
dos Independentes aconteceu no dia 15 de abril de 1874, quinze dias antes da
abertura do salão oficial. Eram trinta os artistas desse salão, que incluíam, além
de Berthe Morisot, Pierre-Auguste Renoir e Claude Monet. A crítica não recebeu
bem essa nova forma de pintar, e um dos próprios críticos foi quem cunhou a
expressão “impressionismo”.
Em 1874 Berthe se casou
com Eugène Manet, irmão de Edward. Cinco anos depois nasceu sua filha, Julie. Ela
já tinha 38 anos. Fez mais algumas viagens pela Itália, Bélgica e Holanda.
Entre 1881-1883, Berthe
construiu uma casa em Paris, onde recebia a cada quinta-feira pintores e
escritores: os pintores Degas, Caillebotte, Monet, Pissarro, Renoir e o crítico
de arte Duret, entre outros. Suas qualidades tanto humanas quanto artísticas
fizeram dela uma mulher muito respeitada no mundo intelectual e artístico
francês, atraindo a amizade inclusive do poeta Stephane Mallarmé, que se tornou
seu amigo e seu maior fã.
Retrato da mãe e da irmã, 1869-70, National Gallery of Art, Washington, EUA |
Em 1892, Berthe fez sua
primeira exposição individual, poucos meses depois da morte de seu marido. Como
Camille Pissarro, Berthe Morisot foi dos únicos artistas que expuseram em todas
as mostras impressionistas, com exceção de 1879, ano em que nasceu sua filha.
Assim como a pintora
norte-americana Mary Cassat, Berthe Morisot pintou principalmente as mulheres, as
crianças e as cenas familiares. Nunca deixou de pintar, a vida inteira, ao
contrário de sua irmã também talentosa, Edma, que abandonou a pintura depois
que se casou em 1869. Naquela sociedade dominada pelo sexo masculino, era muito
difícil para as mulheres acharem um equilíbrio entre a vontade de aprender, a
segurança em si próprias como artistas e a manutenção do matrimônio.
Em março de 1895, Berthe
Morisot morreu de pneumonia, em Paris. Tinha 54 anos. Porém, deixou a seus
amigos – Degas, Monet e Renoir – diversas obras prontas. Apesar de ter sido uma
artista de trabalho bastante profícuo, o machismo da época inscreveu em seu
atestado de óbito: “sem ocupação” e em seu jazigo a inscrição “Berthe Morisot
viúva de Eugène Manet”.
No entanto, um ano
depois de sua morte, uma grande homenagem lhe foi prestada: a galeria de Paul
Durand-Ruel expôs 394 de suas pinturas, desenhos e aquarelas, com um prefácio
escrito por Stephane Mallarmé.
Esta exposição do Museu
Marmottan de Paris, portanto, recupera a memória dessa grande pintora
impressionista francesa. E faz justiça à presença feminina nas artes plásticas,
sempre tão negligenciada pelos salões e pela mídia. Berthe Morisot foi
contemporânea de outras duas artistas de peso: Mary Cassat (1845-1926) e Eva
Gonzalez (1849-1883).
Retrato de Madame Hubbard |