sexta-feira, 27 de maio de 2011

Os novos Maneiristas – arte-espetáculo

Uma grande leiloeira de obras de arte, a Christie’s nova-iorquina, realizou entre 26 e 27 de maio, um grande leilão com obras de 150 artistas latino-americanos, porque a bola da vez do restritíssimo mercado de arte agora é a América Latina. Um empreendimento altamente lucrativo para investidores em obras de arte, que deve movimentar em torno de 25 milhões de dólares, segundo os organizadores. E muito lucrativo também para os artistas que o mercado escolheu, entre os quais as brasileiras Beatriz Milhazes e Adriana Varejão.


Estou preparando uma pesquisa sobre o assunto Arte e Mercado, que devo publicar em breve neste blog. Mas desde já adianto algumas indagações, que considero importantes, com vistas a provocar uma reflexão maior sobre os termos atuais que gestam o que nestes tempos se chamam de “artes visuais”.


A Fonte, de Duchamp
Antes de mais nada, vale sempre lembrar de uma historinha que sempre funciona como pano de fundo para as coisas esquisitas que teimam em acontecer hoje, na chamada “arte contemporânea”. Em 1917 – há 94 anos, portanto! – o francês Marcel Duchamp mandou para uma exposição que acontecia em Nova Iorque, um urinol de parede, que ele intitulou “A Fonte”. Inaugurou, na História da Arte, o período da chamada “arte conceitual”, a arte da boa ideia ou, como diz Ferreira Gullar, a “arte da caninha 51”.


Hoje (um hoje que já dura muito, e dura porque existe um sistema muito organizado por trás dele), os Neo-Maneiristas se revezam em imitar artistas do passado. Houve um tempo em que os pintores imitavam outros pintores, que eles consideravam grandes Mestres, ou seja, pintavam “à maneira de” Da Vinci, de Ticiano, de Rafael... Eram os Maneiristas. Viviam na Europa no mesmo período em que o Brasil começava a se formar, lá pelos idos de 1520-1600. Eles tinham muito orgulho de fazerem cópias perfeitas dos seus mestres, pois dominavam a técnica do desenho e da pintura da época, de forma excelente (veja abaixo).


Os maneiristas de hoje também se satisfazem em repetir ideias de artistas passados, dos tempos de Duchamp (antes de Marcel Duchamp, devem pensar eles, será que o mundo existia???)


O artista e sua obra: Damien Hirst
e seu cadáver de tubarão,
conservado em formol
 
Não parece que hoje o que importa é causar frisson estético, e chamar a atenção do mercado para que o artista – o neo-maneirista – ganhe lá também os seus dólares e abocanhe a sua fração vantajosa financeiramente? Mesmo que seja como autor de um espetáculo que beire a crueldade, para dizer o mínimo? “Isto vai desde obras\espetáculos onde, por exemplo, se incendeia uma galinha, fatia-se um boi, tortura-se um inseto, até a utilização do corpo humano em cenas de mutilação”, diz Affonso Romano de Sant’Anna, em O Enigma Vazio.


Já se fez de tudo na “Arte Conceitual”, depois do penico de Duchamp... Já foram usados todos os meios e todos os líquidos humanos para serem apresentados como obras de arte em galerias e museus da moda: sangue, esperma, saliva, suor, menstruação e... merda! 


O artista e sua obra: a merda
enlatada de Piero Manzoni
Literalmente. Em maio de 1961, Piero Manzoni transformou suas próprias fezes em uma obra, que ele vendeu muito bem: mais 1 milhão de libras por latinhas com a merda do artista, etiquetadas com o título “Merda d’artista”. Em 2004, o britânico Damien Hirst vendeu – como obra de arte – um tubarão mergulhado em formol, por 12 milhões de dólares, ao administrador de fundos norteamericano Steve Cohen.


Seria uma ideia fazer aqui uma lista das coisas que já foram expostas como obras de arte, mas em respeito a quem acompanha este blog, vou dispensá-los do mal-estar físico - além de intelectual - que essa lista causaria...


Mas não posso deixar de falar sobre uma exposição que está acontecendo neste momento no Rio de Janeiro, na Casa França-Brasil, um espaço que pertence ao governo do Estado do Rio: A exposição “2892”, inaugurada em 14 de maio último, de Daniel Senise.


Os lençois expostos na Casa França-Brasil. Mais vale
olhar para o teto do prédio!
Consta que em 1993, esse artista doou lençóis brancos ao Instituto Nacional do Câncer e a um Motel do Rio de Janeiro. Obra de caridade? - Não, Arte Conceitual, amigo! 


À maneira de Duchamp (e tantos d’outros) Senise iria recolher esses lençois mais de 15 anos depois para apresentá-los numa exposição assinada por ele, esta que está ocorrendo neste momento. O título dessa exposição é o número das pessoas que se enrolaram nesses... lençóis(?). Agora fico sem saber se chamo de lençois algo que foi elevado à condição de obra de arte. De um lado, os lençóis que passaram pelos clientes do Motel. Do outro, os que enrolaram os doentes com câncer... No meio, um corredor macabro, onde o visitante desavisado pode ser surpreendido por sua imaginação que irá visualizar ali todas as “marcas de amor” naqueles lençois e, do outro lado, marcas de doentes de câncer... Sangue, esperma, líquidos humanos... 


E “isso” é Arte? 


Que mundo é este, onde a arte que fazemos é ESSE tipo de arte? Será que não há uma tremenda coerência com essa produção de arte contemporânea atual e essa sociedade neoliberal que acha cada vez mais legal ser de direita, como disse Marcelo Rubens Paiva recentemente? Uma sociedade que aplaude o preconceito, a discriminação, a elitização, o jogo midiático manipulador e o consumismo, teria que tipo de artistas para ilustrar seu pensamento? Uma sociedade dominada pela caretice evangélica, por falsos mas milionários profetas, por pensadores medíocres mas ilustres que usam meia dúzia de palavras para arrancar risadinhas nervosas da classe média, teria outro tipo de artista, que não os escolhidos do mercado e do sistema?


Como diz o poeta e crítico de arte Affonso Romano de Sant’Anna, a arte contemporânea já não é mais assunto para quem é especialista em Artes, mas em Psicanálise...


OS MANEIRISTAS JÁ FORAM BONS NO PASSADO!

Retrato de Maximilien II e sua família,
atribuída a Giuseppe Arcimboldo, por volta de 1563

terça-feira, 17 de maio de 2011

O Realismo atravessa os tempos

Acabei de ler o livro de Carlos Cavalcanti, edição de 1967, "Conheça os estilos de Pintura". É um livro esgotado nas livrarias, há muito tempo. Encontrei-o em minha viagem ao Rio de Janeiro, mês passado, em plena Cinelândia, na Feira de Livros. Paguei dez reais por um livro que dá um panorama histórico da pintura, desde a Idade da Pedra Lascada até o século XIX.


Narciso, de Caravaggio, óleo sobre tela, 110x92cm,
Galleria Nazzionale d'Art Antica, Roma, Italia
Quem lê livros, sabe o que acontece quando acabamos de ler a última linha de um livro que tanto nos prendeu e interessou! Cria-se um vácuo, um "não sei o que fazer agora", o que ler em seguida, como viver a partir deste momento... Um bom livro mexe profundamente, move e remove ideias, cria novas, faz recuar em preconceitos, avançar em conceitos, em conhecimento. Dá vida!


Pois bem! Um bom lastro de conhecimento sobre a história da pintura aumentou mais ainda meu interesse sobre o tema do Realismo nas artes. Isso vai dar muito pano pra manga, pois alguns dados colhidos são realmente interessantes. A realidade - esse contato direto do homem com o mundo à sua volta - tem gerado interesse, curiosidade, investigação, conhecimento, ciência e arte. Ao longo de milhares de anos, o Real tem intrigado o homem, tem movido o homem, tem inspirado o homem.

Pintura palelolítica, caverna de Montinac-Lascaux, França
Artistas realistas não são uma novidade do século XIX, pois como diz Carlos Cavalcanti - além de outros - os primeiros realistas apareceram na Idade da Pedra Lascada "com os desenhistas e pintores madalenianos, decoradores de cavernas, armas e utensílios" que estudavam e desenhavam com muita eloquência os movimentos e o caráter dos animais.

Os egípcios antigos eram ao mesmo tempo figurativos e abstratos como pintores, influenciados diretamente pela religião e suas crenças, onde sacerdotes orientavam artistas dentro de regras rígidas. Mas mesmo assim, os escultores egípcios eram realistas. Também na Roma dos velhos tempos, os pintores - os primeiros muralistas - eram também realistas, pintavam em enormes afrescos murais públicos, cenas da vida, da história.

Estudos de Michelângelo Buonarrotti (1475-1564)
A última fase da pintura Gótica e a primeira fase dos Renascentistas trouxeram excelentes pintores realistas, como Tommaso Masaccio (1400-1428) que para representar cenas bíblicas - moda na época - ia buscar nos bairros pobres de Florença, na Itália, os modelos para seus quadros. Ele é considerado o segundo grande mestre do começo da pintura ocidental, depois de Giotto (1266-1337), exatamente porque ele abriu caminhos para a interpretação realista do mundo, sem a mística da Idade Média. Foi nele que se inspiraram, séculos depois, Michelângelo, Leonardo Da Vinci, Rafael e outros.

Um outro pré-renascentista, Filippino Lippi (1457-1504) - que era filho de um padre (também pintor) com uma freira - também trazia elementos que o diferenciavam dos pintores de seu tempo, influenciados pela mística bizantina: pintava anjos com as unhas sujas, nossas senhoras com a cara das mulheres que se viam nas ruas.
Lição de Anatomia, de Rembrandt, 1632, Museu de Haia, Holanda
Também na Holanda, ainda no século XV, os irmãos Van Eick pintavam o que viam com uma verdade "às vezes quase cruel, dos seres e das coisas", diz Cavalcanti.


No Renascimento que cultuava as formas idealizadas dos gregos antigos, os pintores realistas são em número muito grande! O Barroco, que trazia intensidades dramáticas expressas nas artes, era sobretudo um movimento realista, e de inspiração popular. Não precisamos fazer uma lista de nomes, porque um só deles já basta para atestar esta constatação: O Mestre Caravaggio! Ele era odiado pelos seguidores dos maneirismos aristocráticos de seu tempo, que o chamavam de anticristo da pintura, o pintor maldito, o pintor que vivia com os pés sujos. Caravaggio não ligava, pintava com intensidade a realidade crua que via diante dos olhos.


Nos séculos XVII e XVIII, pintores flamengos e holandeses criaram obras onde interpretavam os interesses da já "opulenta e laboriosa" burguesia mercantil e manufatureira. Nesse período, primorosos pintores realistas pintaram desde retratos até a paisagem de suas terras, além do cotidiano doméstico, encontrando beleza e graça nas cozinhas e nos dormitórios modestos do povo dos Países Baixos.


Mesmo na França do período do Rococó mundano e superficial de uma "aristocracia em decomposição", diversos pintores, ao invés de se inspirarem nos temas em voga, preferiam buscar inspiração na vida laboriosa dos trabalhadores rurais e mesmo na vidinha besta da pequena burguesia provinciana.

Velha fritando ovos, de Vélazquez, 1618, 100x120cm,
National Gallery of Scotland, Edimburgo.
 
Então, diz bem Carlos Cavalcanti, entendida como representação objetiva da realidade, o Realismo na pintura não é uma novidade trazida pelo século XIX, porque, diz, a "Realidade em si mesma, limpa das deformações do sentimento ou dos atavios estéticos, mais de uma vez tem parecido bela aos olhos humanos" desde a remota antiguidade.


Mas foi no século XIX, com Gustave Courbet, que se funda oficialmente o movimento conhecido como Realista, primeiros passos para todos os movimentos modernistas que vieram a seguir. O Realismo do século XIX veio junto com ideias revolucionárias contra a burguesia já no poder, que já de revolucionária não tinha mais nada. Se mostrava conservadora, anti-reformista e autoritária. Citando Arnold Hauser, um dos teóricos do período, Cavalcanti lembra que as intensas discussões daquela época em torno da "arte pura", distante da realidade e da história, eram incentivadas pela burguesia no poder que queria afastar o artista das ideias políticas.


O atelier do pintor, Gustave Courbet, 1855, óleo sobre tela,
361x598 cm, Museu D'Orsay, Paris, França
Hoje, nesta salada contemporânea, assuntos como este voltam de vez em quando. O eterno debate sobre o papel da arte nunca saiu de cena, o que é compreensível, uma vez que o homem como artista é um homem com sentidos diferentes de percepção do mundo, mas um homem que somente se satisfaz quando transmite sua percepção pessoal do mundo aos semelhantes. Há os que criam um diálogo com suas obras, fazem pensar, dão prazer estético. Mas há os que vão simplesmente na onda da moda e, se se preocupam em criar um diálogo com seus semelhantes, esses semelhantes são bem semelhantes mesmo, porque pertencem a uma casta que fala uma língua que a imensa maioria não é capaz de compreender...

Le déjeuner sur l'herbe, de Édouard Manet, 1863,
Museu do Louvre, Paris, França
Do meu lado, sou parte daqueles que gostam de conversar com todo mundo: Masaccio, Van Eyck, Michelangelo, Caravaggio, Rembrandt, Vermeer, Velazquez, Murillo, Ribera, Zurbarán, Dürer, Goya, Rubens, Rafael, Van Dyck, El Greco, David, Ingres, Sargent, Courbet, Delacroix, Manet, Toulouse-Lautrec, Monet, Millet, Rousseau, Géricault, Corot, Fantin-Latour, Doré, Daumier, Turner, Constable, Rossetti, Degas, Almeida Junior, Visconti, Anita Malfatti, Portinari, Di Cavalcanti... a lista é imensa! Nem todos realistas, claro, mas todos gênios em seus cavaletes onde geraram as grandes obras que inspiram nossa humanidade, e que espelham os rostos de todos nós.


Os músicos, de Caravaggio, óleo sobre tela,
Metropolitan Museum of Art, Nova Iorque, EUA

domingo, 15 de maio de 2011

Itu arte ao vivo

Ontem, 14 de maio, aconteceu em Itu - interior de São Paulo - o primeiro "Itu Arte ao Vivo", um evento que pretende ser o maior atelier anual de pintura ao vivo e ao ar livre, reunindo artistas de todas as procedências, estilos, técnicas. Foi um dia de sol e céu claros, e estávamos lá, eu e o meu amigo ilustrador João Pinheiro e mais 205 pessoas.

Resolvi fazer um desenho com carvão, técnica que pratico atualmente. Sabia da dificuldade de traduzir em massas cinzas as cores da Fábrica São Luiz, mas era isso mesmo o que eu queria: observar valores, incidência da luz e a consequência da presença direta e indireta da luz, os valores na sombra também, etc. Foi um dia de duro trabalho, mas um dia feliz.


O evento foi organizado por Paulo Lara, um artista local, com o apoio da Prefeitura de Itu. Abaixo, uns registros do dia de desenho:

Começando a preparar meu trabalho.


Fábrica São Luiz, desenho a carvão

João Pinheiro desenhando com nanquim. Ele é um dos correspondentes
do urban sketchers, no Brasil 

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Debret desenha o Brasil


A Caixa Cultural de São Paulo inaugurou, no último 3 de maio a exposição Debret – Viagem ao Sul do Brasil. A mostra  reúne 60 desenhos e aquarelas do artista francês Jean-Baptiste Debret, que viveu durante 15 anos no Brasil, a partir de 1816, integrando a Missão Artística Francesa. Esses desenhos e aquarelas fazem parte do acervo dos Museus Castro Maya, que possui a maior coleção de obras de Debret existente no Brasil.
Esses trabalhos expostos foram feitos pelo artista numa viagem ao Sul do Brasil, em 1827, na comitiva de D. Pedro I, quando percorreram os estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul. São registros da costa sul brasileira, paisagens da mata nativa, assim como retratos de índios, brancos e negros em seu cotidiano e até mesmo em festas e tradições populares.
Uma outra parte da exposição apresenta aquarelas realizadas no Rio de Janeiro, que retratam a vida urbana na Corte, incluindo a pompa do Império. Mas também se destacam as aquarelas onde Debret descreve o cotidiano dos escravos, seus hábitos, suas vestimentas, seu trabalho.
O artista
Auto-retrato
Jean-Baptiste Debret  nasceu em Paris em 18 de abril de 1768, morrendo também em sua cidade no dia 28 de junho de 1848.  De uma família de artistas, era sobrinho-neto do pintor e gravador François Boucher e primo de Jacques-Louis David, grande mestre do Neoclassicismo francês que pintou o famoso quadro "Marat assassinado", onde ele retrata a morte de um revolucionário francês (Jean-Paul Marat), em 14 de julho de 1793. Debret estudou na Academia de Belas Artes de Paris e foi um dos pintores oficiais do império que retratou as façanhas de Napoleão. Veio para o Brasil à convite de D. João VI.
Mas, sendo francês, pela importância de seu trabalho artístico como registro da história e da cultura brasileira, podemos considerá-lo como um dos artistas importantes de nossa História da Arte. Debret fundou no Rio uma academia de artes que mais tarde ficou conhecida como Academia Imperial de Belas Artes. Lá, ele deu aulas de pintura.
Quando voltou à França em 1831, levando consigo uma quantidade considerável de desenhos e pinturas sobre o Brasil, publicou o livro Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, onde documenta diversos aspectos da natureza, do homem e da sociedade brasileira daquela época.
As obras, que compõem essa exposição Debret – viagem ao Sul do Brasil foram adquiridas pelo empresário Raymundo Ottoni de Castro Maya (1894-1968), em Paris, no final dos anos 1930, tendo também adquirido uma boa quantidade de obras inéditas de Debret sobre o Brasil. Os Museus Castro Maya, no Rio de Janeiro – Museu do Açude e Museu da Chácara do Céu –, têm origem na coleção de arte, formada ao longo da vida, por esse empresário, que era também mecenas das artes e colecionador.
Anote aí:
Exposição Debret – Viagem ao Sul do Brasil
de 4 de maio a 19 de junho de 2011
Horário de visitação: terça-feira a sábado, das 9h às 21h, e domingos e feriados das 10h às 21h
Local: CAIXA CULTURAL São Paulo (Paulista) – Conjunto Nacional
Av. Paulista, 2083 – São Paulo

terça-feira, 10 de maio de 2011

O cinema que resiste

Ontem à noite, no Espaço Unibanco, uma das mais importantes referências de sala de cinema de São Paulo, 260 pessoas lotaram a sala 1 para assistir ao filme "Botinas no Elevador", um curta metragem que tem a direção de João Luiz de Brito Neto.


O roteiro - de Edson Araújo Lima - conta alguns momentos da vida de João Luiz como militante político em pleno período de Ditadura Militar no Brasil. João era do Partido Comunista, além de já ser envolvido com o cinema e com os cineclubes de São Paulo.


O filme não é literal, mas apresenta de forma ágil e simbólica, um pouco do que foram aqueles anos de falta de liberdade, quando, mesmo assim, milhares de brasileiros pelo país a fora, resistiam. Muito morreram, muitos desapareceram, muitos foram torturados, presos, marcados. Ao final do filme, uma lista completa com todos os nomes dessas pessoas - verdadeiros heróis do povo brasileiro - que morreram e desapareceram. Também faz agradecimentos a dirigentes comunistas importantes, como João Amazonas, um dos principais líderes do Partido Comunista do Brasil.


Foi muito interessante - emocionante até - ver como o movimento do cinema independente, dessas pessoas que resistem, há décadas já, no movimento cineclubista de São Paulo, consegue reunir tanta gente numa segunda-feira às 21h30! Pessoas amantes do cinema, artistas, intelectuais, cineclubistas, atores, roteiristas, produtores culturais, estudantes universitários... todos estavam ali. E todos aplaudiram de pé - quando acabou o filme - a lista dos nomes de militantes de esquerda brasileiros mortos e desaparecidos da época da ditadura.


Mais uma vez mostra a necessidade, cada vez mais urgente, de o Poder Público investir, apostar mais nesses artistas brasileiros de todas as áreas que continuam produzindo arte, enriquecendo o imenso acervo nacional, na imensa maioria das vezes sem recursos financeiros, sem incentivo a não ser a sua imensa vontade individual de criar.