São Jerônimo, de Hendrick van Somer |
Quase nada se sabe sobre
esse excelente pintor da escola caravaggesca. Ele nasceu em Amsterdam, Holanda,
em 1615, viveu alguns anos na Itália onde ficou conhecido como Enrico
Fiammingo, e morreu em sua terra natal em 1685.
Querubim com a lira, Aert Mijtens |
De acordo com alguns
historiadores, seu pai também teria sido pintor (conhecido como Barend Van
Zomeren) e teria vindo da escola do pintor flamengo Franz Hals. Hendrick também
era neto de outro pintor, Aert Mijtens, que exemplificamos com uma de suas
pinturas inseridas aqui neste post (ao lado). Por ela, que está em alta resolução, dá
para ver que o estilo do avô de Hendrick também era pictórico. Na verdade,
Hendrick descendia de uma família de pintores que haviam vivido desde os Países
Baixos até a Itália, especialmente Nápoles e Roma.
Hendrick foi aluno de José de Ribera, também presente na exposição do MASP. Depois da temporada de
aprendizado em Nápoles, com Ribera, Van Somer foi para Bologna e estudou no
atelier do pintor Guido Reni, um dos continuadores do classicismo implantado em
Bologna pelos irmãos Carracci. Hendrick também pintou à moda desse mestre, como
pode ser observado em suas pinturas feitas para a igreja de San Barbaziano, na
mesma cidade.
Sua obra “São Jerônimo”,
que se encontra na exposição, é uma grande pintura, dentro do estilo do mestre
Caravaggio. Mas algo nela me chamou muito a atenção, e por isso fiquei bastante tempo
observando a tela de perto. Não sabia ainda que ele tinha passado pela
escola de Ribera, que como caravaggesco é um dos melhores. Com essa informação,
voltei a ver melhor o “São Jerônimo” de Van Somer, inclusive lembrando que ele
vinha de uma família de várias gerações de bons pintores dos países mais ao
norte da Europa, tradicionalmente realistas e pictóricos.
Nesta pintura de Van Somer dá para notar a influência de José de Ribera |
A pintura fala por si
mesma: o fluxo da luz atravessa o quadro, desvendando o personagem principal
que lê e tem nas mãos uma longa folha de papel horizontal, escrita à mão. As
sombras são quentes, como ensinou o mestre Caravaggio, seguido por Ribera. O
corpo envelhecido do santo, coberto por um manto vermelho, recebe o foco
principal da luz que também se reflete na cabeça arredondada, assemelhada à
cabeça do “São Jerônimo escrevendo” de Caravaggio.
Hendrick van Somer fez
mais de um São Jerônimo. Caravaggio também. José de Ribera também. Era um tema
importante para a época, porque esse santo foi o intelectual responsável pela
tradução da Bíblia do grego e do hebraico antigos para a língua latina, sendo
também o patrono dos bibliotecários e tradutores.
Outra versão de "São Jerônimo" de Hendrick van Somer, segunda metade do séc. XVII, óleo sobre tela, 98 x 79 cm, coleção privada |