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terça-feira, 11 de julho de 2017

Colóquio na UnB sobre Realismo nas artes


O professor Alexandre Pilati (UnB), o ator Sergio Audi,
o escritor Jeosafá Fernandes e eu, Mazé Leite, na Mesa do dia 6 pela manhã
Com uma grata surpresa e me sentindo muito honrada, fui convidada a participar como palestrante do IV COLÓQUIO INTERNACIONAL “O REALISMO E SUA ATUALIDADE: ARTE, CULTURA E O CENTENÁRIO DA REVOLUÇÃO DE OUTUBRO”. O evento aconteceu na Universidade de Brasília nos dias 5, 6 e 7 de julho. 

Este evento ocorre anualmente há quatro anos e reune intelectuais acadêmicos de universidades como a USP, Unesp, Unicamp, UFRJ, UFF, UFG, UFRGS, UnB, entre outras, incluindo a Universidade de Buenos Aires, Argentina. São professores e alunos de graduação e pós-graduação da UnB os organizadores deste importante Colóquio, como os professores doutores Alexandre Pilati, Ana Aguiar Cotrim, Ana Laura dos Reis Correa e Ignacio Koval.

Em breve publicarei aqui o texto integral da minha palestra, intitulada “Realismo e Vanguarda”. Mas aqui vai um breve resumo: 

A pintura Realista do final do século XIX, cujo movimento principal foi o grupo Os Itinerantes, inspirou os movimentos de Vanguarda do início do século XX na Rússia. Era parte de um movimento mais amplo de mudanças que ocorriam naquele país, inclusive no campo da cultura. Era o questionamento dos métodos e pensamento da Academia de São Petersburgo e era um voltar-se mais para dentro de seu país. Os artistas da vanguarda russa que participaram ativamente do processo revolucionário de 1917, por seu turno, também questionavam os métodos clássicos de pintura, inventando novos meios, novas formas de se expressar. Os russos criaram a Arte Abstrata, o Suprematismo e o Construtivismo, além de muitos outros movimentos de estética artística. Inovaram o design gráfico e a arte de propaganda política que influenciou todo o globo. 

Em 1934 a arte passa a ser submetida ao controle estatal, por ocasião do I Congresso dos Escritores Soviéticos, quando Maximo Gorki e Andrei Zdanov anunciaram, a uma plateia internacional, o início oficial da vigência do Realismo Socialista como estética para as artes: a arte deveria ser, a partir de então, “socialista em seu conteúdo e realista em sua forma”. No que diz respeito às artes plásticas, este período da pintura russa era muito mais “idealista” do que realista. Mas deu muito o que pensar a artistas, críticos e intelectuais desde então.

Desenvolvi meu pensamento nesta linha, que irei publicar em breve na revista “Princípios”, da Fundação Maurício Grabois e os organizadores do Colóquio da UnB também irão publicar em livro todas as palestras do evento, que deverá ser lançado no começo de 2018.

Da minha parte, continuo minha pesquisa sobre a arte russa de todos os períodos, que continuarei publicando neste Blog, em especial neste ano de 2017 quando comemoramos uma efeméride: os 100 anos da Revolução de 1917 que mudou a face do mundo.

sexta-feira, 19 de maio de 2017

Isaac Levitan, pintor da paisagem russa

"Eterno silêncio", Isaac Levitan, óleo sobre tela, 1894
Retrato de Isaac Levitan,
por Valentin Serov
Isaac Ilich Levitan nasceu em 1860, em Kybartai, na Lituânia, filho de judeus pobres. Seu pai, Eliashiv Abramovich, era professor particular das línguas francesa e alemã, e com isso pagava as despesas familiares, mas também educava seus filhos. Levitan recebeu suas primeiras lições com seus pais, em casa. Sua mãe, Bert Moiseevna, também havia sido educada e valorizava muito a formação dos quatro filhos. No final da década de 1870, a família se mudou para Moscou. Lá, apesar de uma situação financeira ainda pior, os pais de Levitan queriam incentivar a paixão de seus filhos pela arte, o que mostraram desde o início, e não se opuseram à decisão de Isaac de se tornar um artista e entrar para a Faculdade de Pintura e Escultura de Moscou.

Em 1875, a família sofreu um duro golpe com a morte da mãe. Em seguida o pai ficou gravemente doente de tifo e não podia mais sustentar seus quatro filhos com as aulas particulares. Em 1876 Eliashiv faleceu.

Autorretrato, Isaac Levitan, 1880
Levitan passou sua juventude em extrema pobreza, sendo inclusive expulso da escola por não pagar seus estudos. Seus amigos reuniram o dinheiro necessário, e ele pode retornar às aulas. Mais tarde, o conselho de professores da faculdade decidiu deixá-lo estudar gratuitamente e até mesmo concedeu-lhe uma pequena bolsa de estudos, levando em conta o talento do rapaz. No mesmo ano, foi transferido para o curso de ciências naturais de Vasily Perov, que fazia parte do grupo “Os Errantes” (uma sociedade de artistas realistas russos formada em 1870).

Mais tarde, Levitan foi estudar com o famoso paisagista Aleksey Savrasov, que tomou conhecimento dos talentos de Levitan, assim como de sua pobreza, e lhe ajudou até financeiramente. Em 1877, na quinta exposição de arte de “Os Errantes” em Moscou, exibida no edifício da faculdade, Levitan participou com duas pinturas. Apesar de terem recebido grande aclamação, o Conselho Universitário só lhe ofereceu um diploma que lhe dava o direito de ensinar arte. Mesmo assim, segundo seu amigo Mikhail Nesterov, Levitan havia “trabalhado duro” e merecia o prêmio.

"Dia ensolarado", Levitan,
óleo sobre tela, 1876
Em 1879, o revolucionário judeu Alexander Soloviev tentou matar o czar Alexandre II, disparando seu revólver contra ele. O czar conseguiu fugir, e Soloviev foi condenado à morte por enforcamento. Por causa disso, foi decretada oficialmente a proibição aos judeus de viver na capital russa. Isaac e seus irmãos tiveram que deixar a cidade e se estabeleceram numa pequena casa na província de Saltykova. Nesse mesmo ano ele conseguiu vender sua pintura “Noite depois da chuva”. Continuava pintando sem parar a paisagem de seu país, apesar dos preconceitos que sofria por ter origem judaica. “O menino judeu talentoso incomodava outros professores que diziam que ‘judeu não deve pintar a paisagem russa’”. Mesmo assim, aos 24 anos de idade Isaac Levitan já tinha seu diploma de Pintor pela Faculdade de Pintura e Escultura de Moscou.

No mesmo ano, 1879, Levitan participou de uma segunda exposição de estudantes onde exibiu sua pintura "Um dia no outono em Sokolniki", que foi adquirido por Pavel Tretyakov e, com isso, seu talento foi reconhecido oficialmente.

Somente em meados da década de 1880 sua situação financeira começou a melhorar, graças a trabalho duro e muito sacrifício. Ele conheceu e se tornou grande amigo do escritor russo Anton Tchekhov, quando ainda ambos eram estudantes pobres. Mantiveram contato durante a década de 1880, encontrando-se constantemente em Moscou e nos arredores e foram os melhores amigos até os últimos dias de Levitan. Sua amizade era baseada em uma percepção similar sobre a natureza e sobre o mundo. 

"Depois da chuva", Levitan, óleo sobre tela
Em 1887 realizou seu grande desejo de conhecer o rio Volga, bastante retratado por seu professor de paisagens Savrasov. Mas seu primeiro contato foi frustrante: o dia estava muito frio e muito nublado e o rio lhe pareceu “triste e morto”. 

"Dia de outono", Levitan,
óleo sobre tela, 1879
Voltou no ano seguinte, na primavera, junto com outros artistas como Alexei Stepanov e Sofey Kuvshinikovoy. Durante a viagem, os amigos descobriram a beleza da pequena cidade de Plyos, próxima a Moscou, às margens do Volga. Resolveram ficar por lá um tempo e ele passou três temporadas de verão bastante produtivo, quando executou cerca de 200 obras. Esse esforço lhe rendeu fama e Levitan passou a ser popularmente conhecido como pintor de paisagens.

É desse período sua pintura "O refúgio silencioso". Seus contemporâneos diziam que essa pintura mostrava a natureza russa como "algo novo, mas muito próximo e querido". Desde então, todas as exposições itinerantes, assim como todas as exposições da Sociedade dos Amantes da Arte de Moscou e as exposições internacionais em Munique apresentavam obras de Levitan.

No final de 1889, pela primeira vez Isaac Levitan viajou para a Europa Ocidental, visitando França e Itália. Queria ver a pintura impressionista de perto mas, voltando a seu país, se manteve fiel a seu próprio caminho pictórico. 

Novamente foi obrigado a deixar Moscou em 1892, por ser de origem judaica. Viveu um tempo nas províncias de Tver e Vladimir. Graças a esforços de seus amigos, Levitan obteve uma “permissão especial” para voltar a viver em Moscou. Em seguida, viajou à Finlândia. Neste mesmo ano teve um infarto, do qual não se recuperou mais. 

Faculdade de Pintura, Escultura
e Arquitetura de Moscou
Sua saúde era muito frágil. Seus biógrafos dizem que por causa da fome que passou na infância e de uma vida sempre atribulada, Levitan desenvolveu problemas cardíacos muito cedo. O ano de 1895 foi um ano muito difícil para o artista. A doença do coração lhe trazia muita dor e sofrimento, e juntando a isso problemas em sua vida pessoal, Isaac Levitan vivia melancólico o que levou-o ao desespero e a tentar o suicídio. Mas seu amor pela natureza e pela arte o sustentou e o ajudou a superar sua doença e a fazer novas descobertas na arte. Em 1896 participou de mais uma exposição coletiva, desta vez na província de Odessa.

O melhor amigo, o escritor
Anton Tchekhov
Em 1897 escreveu a Tchekhov: “As coisas estão ruins. Meu coração não bate, sopra. Em vez de tum-tum eu ouço pfff…” Em março, em Moscou, teve um encontro com Pavel Tretyakov. 

Em 1898 recebeu o título acadêmico de “pintor de paisagens” e passou a ensinar pintura na mesma escola em que estudou em Moscou. Lá, criou um local especial para a pintura de paisagem, um lugar onde poderiam trabalhar todos os pintores de paisagens russas. Um de seus estudantes ressaltou a grande influência de Isaac Levitan em sua vida de artista: “sob sua orientação, a pintura ia tomando vida, cada vez de forma nova, como as suas próprias, que eram verdadeiros cantos da mãe natureza que ele percebia mais do que ninguém”. 

Em 1899, os médicos o enviaram para passar uma temporada em Yalta, onde vivia Tchekhov, que viu seu amigo chegando ofegante, pesadamente apoiado em sua bengala, falando que a morte se aproximava dele. Seu coração doía quase continuamente…

O pintor Serov, pintando Levitan
Mas os ares de Yalta nada puderam fazer pelo pintor doente. Levitan retornou a Moscou e quase não saía mais de casa. Em maio de 1900, Tchekhov foi visitar o amigo, agora gravemente doente. No dia 22 de julho, por volta das oito horas da manhã, seu coração parou de bater. Faltava pouco tempo para completar 40 anos de idade. Em sua oficina, mais de 40 pinturas estavam inacabadas e deixara mais de 300 esboços. A última pintura em que trabalhou foi “Lago”, também inacabada. Foi enterrado no cemitério judeu de Dorogomilovsky. Em seu funeral, estavam presentes os pintores Valentin Serov, Apolinário Vasnetsov, Konstantin Korovin, entre outros, assim como alguns de seus alunos, amigos e admiradores.

Em 1901 foi realizada uma exposição póstuma de obras de Isaac Levitan em São Petersburgo e Moscou, entre elas a pintura inacabada "Lago", que mostra a natureza russa a partir do sentimentos e pensamentos do artista a respeito da Rússia, que ele considerava sua pátria. Dois anos depois, seu irmão Abel Levitan erigiu um monumento no túmulo de seu irmão.

Em abril de 1941 seus restos mortais foram transferidos para o Cemitério Novodevichy, ao lado dos túmulos de seus amigos Tchekhov e Nesterov. 

Isaac Levitan deixou mais de mil pinturas!

Abaixo, você pode apreciar uma pequena amostra das obras deste grande mestre:


"Savvinskaya sloboda perto de Zvenigorod", Levitan, 1884
"Crepúsculo na dacha", Levitan



"Março", Levitan, 1895

"Nenúfares", Levitan, 1895

"A noite após a chuva", Levitan, 1879
"Noite no rio", Levitan



"Outono dourado", Levitan, 1895

"Ponte em Savvinskaya Sloboda", Levitan, 1884

"Primavera na Itália", Levitan, 1890

"Rosas", Levitan

"Claustro tranquilo", Levitan, 1890

"Vladimir", Levitan, 1892

"Fortaleza na Finlândia", Levitan
"Lago", última pintura de Levitan, 1900 - inacabada

terça-feira, 24 de novembro de 2015

O pintor russo Valentin Serov

Cavalos na praia, Valentin Serov
Autorretrato, Valentin Serov, 1885
O Museu Estatal Tretyakov de Moscou, Rússia, está apresentando uma importante exposição da obra do pintor russo Valentin Serov, marcando os 150 anos de seu nascimento. A mostra foi inaugurada no último 7 de outubro e se encerrará em 17 de janeiro de 2016. Serov é considerado um pintor realista, formado na escola clássica da pintura europeia, e no final de sua vida se aproximou das linguagens contemporâneas. Sem abandonar o figurativismo.

Esta retrospectiva das melhores pinturas e desenhos de Serov ocupam três andares da galeria. A exposição ajuda a mostrar a grande variedade do patrimônio criativo do mestre, não só através de seus retratos famosos, mas também com suas pinturas de paisagens e arte monumental, que foram gradualmente negligenciadas pelos pesquisadores das artes.

Valentin Aleksandrovich Serov nasceu em São Petersburgo em 19 de janeiro de 1865. Filho do compositor russo Aleksandr Serov e de Valentina Bergman, também compositora, que vinha de famílias de origem alemã e inglesa. 

A infância de Serov se passou dentro do meio artístico em que viviam seus pais, ambos músicos. Seu pai, Aleksandr Serov, era também conhecido na época, além de compositor, como crítico musical. Tinha 43 anos quando se casou com sua aluna de 17 anos de idade, Valentina Bergman, com quem teve seu único filho Valentin Serov. Sua casa sempre estava cheia de convidados, entre músicos e estudantes de música. Lá se discutiam as ideias de liberdade e igualdade, defendidas pelo teórico Tchernichévski. O pai músico tinha amigos intelectuais como Turgeniev, além de artistas da música e da pintura. Discutia-se muito a política da época e as ideias que se iam fermentando e que depois confluiram para a revolução russa do começo do século XX.
Retrato de S.M. Dragomirovoy, Serov,1889

Após a morte de seu pai (Valentin tinha seis anos de idade), a vida de Serov mudou. Sua mãe tinha paixão pela música e pelas atividades sociais ligadas a ela. Em 1872 sua mãe resolve mudar-se para Munique, na Alemanha, onde Valentin teve suas primeiras lições de desenho com Carl Kepping, conhecido gravador e ceramista. Vendo que o filho possuía grande talento para o desenho, mudou-se com ele para Paris, onde já vivia então Ilya Repin, o artista de quem ela já conhecia a fama, por causa de seu quadro “Os barqueiros do Volga” (leia aqui). Era 1874 e Valentin foi estudar com Ilya Repin. Seu único entretentimento eram as aulas com o mestre e os desenhos que fazia de forma independente.

Em 1875 mãe e filho retornaram à Rússia. Em 1876 mudaram-se para Kiev. Valentina Bergman não conseguia ficar parada e a vida nômade para Serov continuou. Em 1878, ele retomou suas aulas sistemáticas com Ilya Repin, que havia voltado também para Moscou. Para Serov, Repin era quase um membro da família e acompanha seu desenvolvimento em todos os aspectos. 

Retrato do escritor Maxim Gorky, Serov 
Se inscreveu na Academia de Belas Artes em 1880, que deixou em 1885, pedindo licença "para tratar a saúde”. Em suas memórias Valentin se dizia cansado da Academia. O que o incomodava? Tudo! “As paredes aqui, os corredores ..." Ele tinha desejado entrar para a Academia com a intenção de estudar com Pavel Chistyakov. Mas o seu método de ensino era bruto: zombava dos alunos, lhes chamava de impotentes, de infantis, fazendo críticas impiedosas todo o tempo. Mas Serov se submeteu ao tratamento dado por Chistyakov, pois sua opinião valia mais para ele ainda que a de Repin. Por seu lado, Chistyakov gostava de Serov e tinha orgulho dele. Foi este professor quem primeiro lhe abriu os tesouros do museu Hermitage e que lhe falou sobre a necessidade de estudar os antigos mestres. 

Em 1885 faz uma viagem a Munique e Holanda. Em Munique, Serov estuda a coleção da Alte Pinakothek, e faz cópias de Velázquez. 

Desde cedo, Serov se destacou como grande retratista. Ele seguia as características principais do que se denomina como “impressionismo russo”, ou seja, a preocupação com o movimento da luz e das massas de cor, a harmonia dos reflexos de luz.

Depois de 1890, se assumiu ainda mais como retratista. Seus modelos preferidos eram atores, artistas e escritores, e chegou a fazer retratos de Konstantin Korovin, Isaac Levitan, Nicolai Leskov e Nicolai Rimski-Korsakov. Ele havia optado em pintar com uma paleta mais restrita, sem muita variação de cores, ao contrário de seus colegas que optaram por um estilo colorido em especial na década de 1880. Serov preferia os tons mais cinzas e marrons. Ele havia feito a escolha de seus contemporâneos Anders Zorn e John Singer Sargent, preferindo dirigir seus estudos para as obras de pintores como Diego velázquez, por exemplo. Ele era um apaixonado pela obra do pintor espanhol Velázquez.


Mika Morozov, Valentin Serov
A partir de 1894 Serov começou a participar do movimento “Os Itinerantes”, e com esses companheiros executou várias pinturas de encomenda, como o retrato do grão-duque Pável Aleksandrovich, entre outros. Suas pinturas e desenhos se destacam bastante, pela execução hábil e composições grandiosas. Simultaneamente pintava retratos mais intimistas, em sua maioria de crianças e de mulheres. Com as crianças que pintou, desejava capturar-lhes o gesto e a pose para enfatizar a espontaneidade dos movimentos.

Valentin Serov usava com frequência várias técnicas para se expressar, desde a aquarela, aos pasteis, e as litogravuras. Foi se tornando cada vez mais gráfico e sucinto, especialmente na última fase de sua vida. Entre 1890 e 1900 pintou paisagens do campo, para si mesmo, geralmente em férias em sua dacha na Finlândia ou em Domotkanovo, a propriedade de seu amigo Derviz. 

A fase final de sua vida como pintor tem início por volta de 1900. Rompeu sua relação com o grupo “Os Itinerantes” e passou a fazer parte de outra associação de artistas que tinha também uma revista. Era o grupo do “O mundo da Arte”, que mantinha uma série de atividades como organizar exposições, propagandear as realizações da arte moderna russa e europeia. Nas reuniões de pauta para a revista “O mundo da Arte” em geral ele ficava calado, mas quando falava era sempre cáustico em suas críticas. Estava sempre com um lápis na mão desenhando.


Yuri e Sasha, desenho de Serov
Serov começava a mudar seu estilo de pintura, abandonando as características ditas “impressionistas” de sua pintura anterior, e foi se aproximando mais dos modernistas. Mas a compreensão realista da natureza de seus retratos continuou constante. 

Valentin Serov defendia os valores democráticos das revoluções russas de 1905. Membro de a Academia Imperial das Artes de São Petersburgo desde 1903, abandonou-a em protesto contra a execução de trabalhadores em greve e suas famílias, no dia 9 de janeiro de 1905, episódio que ficou conhecido como “domingo sangrento”. 

Serov também usou sua criatividade para executar pinturas históricas, dando aos fatos da história a importância que lhes devia. Também criou peças gráficas, fez ilustrações para livros, de caráter históricos ou científicos. Em seus últimos anos de vida, Serov pintou temas tirados da mitologia grega clássica, dando-lhes sua interpretação pessoal. 

Valentin Serov morreu em Moscou no dia 5 de dezembro de 1911. Deixou uma vasta obra, considerada das melhores do realismo russo e ele mesmo é considerado um dos maiores mestres da pintura europeia do século XIX. Em 1914 foi realizada uma exposição póstuma com sua obras em Moscou e São Petersburgo.

"Ele era mais do que um artista, era um buscador da verdade", disse o pintor Konstantin Korovin sobre o amigo Valentin Serov.


O rapto de Europa, Valentin Serov, 1910
Nikolai Rimski-Kosarkov, Serov, 1898
"Os dois meninos Serov", Valentin Serov, 1899
"Retrato de Isaac Levitan", Serov
"Outubro em Domotkanovo", Serov, 1895
"Alexandr Serov", Valentin Serov, 1897 - inacabado
"Banhando o cavalo", Serov
"Jovem com peras - retrato de V.S. Mamontova", Serov, 1887

quarta-feira, 2 de setembro de 2015

John White Alexander

"Walt Whitman", John White Alexander, óleo sobre tela, 127 x 101 cm
Tempos caóticos estes em que vivemos atualmente. As dispersões são muitas, as preocupações imensas. Faz semanas que não acho inspiração para postar aqui. Há crise em vários aspectos de nossas vidas. Mas há espaços para a esperança, sempre há. Que renascem sempre que nos deparamos com uma boa surpresa, uma alegria. A minha alegria de ontem foi descobrir este pintor norte-americano do final do século XIX, com uma pintura tão bela e bem feita: John White Alexander.


John White Alexander
Os Estados Unidos têm uma grande tradição de arte realista, que atravessaram até mesmo os tempos mais terríveis da perseguição macartista, que ameaçava a todos os que tinham ideais socialistas, mas também os artistas figurativos. A pintura figurativa, durante a Guerra Fria, era considerada pintura de comunistas, pela direita norte-americana. Naqueles tempos, era propagandeada e incentivada pelo Estado Maior daquele país a arte abstrata como a verdadeira arte moderna. Em contraposição à arte soviética, que também tentava dirigir esteticamente seus artistas na direção da arte chamada de “realismo socialista”. Mas nos Estados Unidos, mesmo assim, os artistas resistiram, sendo que hoje este país é um dos maiores produtores de artistas figurativos e mesmo realistas, como David Leffel, Richard Schmid e Burton Silverman.

John White Alexander é um dos precursores destes excelentes realistas norte-americanos. No século XIX, uma grande leva de pintores deste país se mudaram para Paris com o objetivo de estudar pintura. Acompanharam as mudanças estéticas que vinham ocorrendo naquele momento na França, com o surgimento da pintura realista de Gustave Courbet e principalmente dos Impressionistas.

John White Alexander nasceu na Pensilvânia, Estados Unidos, no dia 7 de outubro de 1856. Foi pintor e também ilustrador.


"Um raio de luz solar",
John W. Alexander, óleo sobre tela
Tendo ficado órfão ainda criança, foi criado por seus avós. Começou a trabalhar com a idade de 12 anos, como telégrafo na empresa Pacific and Atlantic Telegraph Company. Lá, seu talento foi descoberto por um dos chefes da companhia, um homem de nome Edward J. Allen, que resolveu ajudar o menino a desenvolver seus talentos. Enquanto se aperfeiçoava, John White fez vários retratos da família de seu patrão, além do próprio. Com 18 anos de idade mudou-se para New York, onde foi trabalhar no semanário Harper's Weekly, como ilustrador e cartunista político. Lá já estavam trabalhando outros ilustradores conhecidos, como Abbey e Pennel. 

Após três anos de aprendizado e trabalho, ele viajou para Munique, na Alemanha, para seu primeiro treinamento formal. Como não tinha dinheiro, foi viver na pequena aldeia de Polling, na região da Baviera, onde trabalhou com Frank Duveneck. Com ele, viajou para Veneza, onde conheceu o pintor norte-americano James Abbott McNeill Whistler, que vivia entre a Inglaterra e França, de quem recebeu orientação. John White Alexander continuou estudando em cidades como Florença, na Itália, em Paris, França, e nos Países Baixos.

Voltou para New York em 1881 e logo se tornou famoso como pintor retratista. Dois anos depois participou pela primeira vez de uma exposição, no Salão de Paris de 1893. Seu trabalho foi muito elogiado e ele foi eleito para a Sociedade Nacional de Belas Artes de Paris. Recebeu diversos prêmios.

Em 1889 pintou o retrato do grande poeta Walt Whitman, a pedido da senhora Jeremiah Milbank, que também lhe encomendou um retrato do marido. Nos Estados Unidos, desde 1901 recebeu diversos prêmios e honrarias, como os de ser nomeado Cavaleiro da Legião de Honra, membro da Academia Nacional de Desenho, da American Academy of Arts and Letters. Presidiu a Sociedade Nacional de Pintores Muralistas entre 1914 e 1915.

Suas obras estão espalhadas em vários museus dos Estados Unidos e Europa, como o Metropolitan Museum of Art, o Brooklyn Museum, o Los Angeles County Museum of Art, o Fine Art Museum de Boston, além de ter um grande mural no hall de entrada do Museu de Arte do Instituto Carnegie em Pittsburgh, intitulados “Apoteose de Pittsburg”, que cobre três andares de parede.

John White Alexander morreu em Nova York em 31 de maio de 1915.

Abaixo, algumas de suas lindas pinturas:


"Repouso", Alexander, 1895, 132 x 161 cm, Metropolitan Museum of Art, N.Y.
"Painel para sala de música", Alexander, 1894, 197 x 94 cm, Detroit Instituto de Arte
"Memórias", Alexander, 1903, 158 x 132 cm, Brooklyn Museum
"Paisagem", Alexander, 1890, 77 x 114 cm
"Althea", Alexander, 1898, 161 x 133 cm, Coleção particular
"Isabela e o pote de manjericão", Alexander,
1897, 192 x 92 cm, Metropolitan Museum of Art
"Estudo em preto e verde", John W. Alexander, óleo sobre tela,
50 x 40 cm, Metropolitan Museum of Art
"Um momento preguiçoso", Alexander, 1885, 86x66 cm, Coleção particular
"Preto e vermelho", Alexander, 1896, 120x90 cm, Coleção particular
"Anna Palmer Draper", Alexander, 1888, 183 x 122 cm, Coleção particular