Foi inaugurada ontem, 22 de março, no Museu de Arte de São Paulo – MASP – uma exposição com 122 obras do artista italiano Giorgio de Chirico, cedidas pela Fondazione Giorgio e Isa de Chirico. Essa exposição, como outras que estão ocorrendo no Brasil neste ano, faz parte do evento Ano da Itália no Brasil. A curadoria é de Maddalena d’Alfonso (crítica de arte e arquiteta italiana), que escolheu obras, em sua maioria, da última fase do artista, intitulada de neometafísica.
De Chirico viveu em várias cidades da Europa, assim como em Nova Iorque, EUA. O imaginário urbano e os efeitos da cidade moderna sobre o homem, são uma temática constante em suas pinturas. “A ‘vida silente’ que emana das obras nos dá a sensação não só do sonho, mas também da desolação, da incongruência, do aspecto enigmático do lugar representado”, afirma Maddalena D´Alfonso, a curadora desta exposição.
Para Teixeira Coelho, curador do MASP, “se Turner, Monet e Van Gogh foram nomes da expressão mais alta do século XIX que entrava numa era que parecia do encanto, De Chirico, Delvaux e Hopper são os profetas de uma nova idade, a do espanto. E não há nada de metafísico nisto; apenas a física mais dura, a realidade mais concreta. Terrível – ainda assim, cativante”. É o que ele diz no texto de apresentação da mostra, no site do MASP.
A exposição dá ênfase para a arquitetura, um dos motivos centrais da obra do artista, que dizia: “o sentimento da arquitetura é, provavelmente, um dos primeiros que os homens experimentaram. As moradias primitivas encravadas nas montanhas, reunidas no meio de pântanos, indubitavelmente originaram nos nossos antigos avós um sentimento confuso feito de mil outros e que desencadeou, no decorrer dos séculos, aquilo que nós chamamos sentimento da arquitetura”.
Biografia
Giorgio de Chirico nasceu em Volos, na Grécia, no dia 10 de julho de 1888, mas seus pais eram italianos. Seu pai, Evaristo, que era engenheiro ferroviário, morreu em 1905, causando uma dor profunda no menino, que ele expressou em sua criação plástica ao longo da vida. Com a morte do pai, Giorgio, sua mãe e seu irmão Andrea (músico, pintor e ensaísta, que adotou o nome artístico de Alberto Savinio) passaram uma curta temporada entre Veneza e Milão, mas logo mudaram-se para Munique, na Alemanha. Lá, na Academia de Belas Artes daquela cidade, ele continuou os estudos de arte que havia iniciado na Escola Politécnica de Atenas.
Esses anos em que morou na Alemanha produziram uma grande transformação intelectual e espiritual no jovem Giorgio: conheceu a pintura simbolista de Max Klinger e Arnold Böcklin, ao mesmo tempo em que mergulhou na leitura dos livros dos filósofos Arthur Schopenhauer e Friedrich Nietzsche.
As pinturas de Klinger e Böcklin, que mostravam uma ambigüidade entre a realidade e o estado do sonho, assim como uma temática voltada para a existência solitária do indivíduo, que eram próximas das investigações de Sigmund Freud sobre o mundo onírico, atraíram a atenção de De Chirico.
No verão de 1909 voltou para a Itália, passando seis meses na cidade de Milão. No começo de 1910, foi para Florença, onde pintou o quadro "O enigma de uma tarde de outono", a primeira de suas obras da série "praça metafísica". Ele conta, sobre isso, que teve uma experiência decisiva, quase inexplicável, na Praça de Santa Cruz, em Florença. Ele explica, num texto de 1912, que naquele dia estava convalescendo de uma infecção intestinal, que lhe deixava num estado meio mórbido. Foi então que ele, olhando para a praça, viu, naquela “límpida tarde de outono” como se fosse a primeira vez, a praça e tudo o que nela havia, em especial a fachada da igreja de Santa Cruz e um monumento a Dante Alighieri. Fruto dessa experiência, pintou seu primeiro quadro metafísico.
O enigma de uma tarde de outono |
Em sua Autobiografia, de 1945, escreveu que “O que Nietzsche de fato descobriu de novo é uma poesia estranha e funda, infinitamente misteriosa e solitária, que surge da atmosfera de uma tarde de outono, quando o tempo está claro e as sombras são maiores do que no verão. Pode-se viver esta experiência extraordinária nas cidades italianas e em algumas outras do Mediterrâneo, como Niza; mas a cidade italiana por excelência, para essa experiência, é Turim”.
Suas pinturas produzidas entre 1909 e 1914 são as mais conhecidas. Esse período é conhecido como "período metafísico" e as figuras de seus quadros evocam ambientes sombrios. Já nessa época, seus modelos eram paisagens urbanas inspiradas nas cidades mediterrâneas. Com o tempo, sua atenção foi se voltando para estudos de compartimentos cheios de objetos, muitos dos quais eram manequins.
Música de amor |
Muitos artistas das primeiras décadas do século XX reconhecem a influência, em suas obras, da pintura de De Chirico, como Max Ernst, René Magritte e Salvador Dali. Sua pintura metafísica é considerada um dos maiores antecedentes do movimento surrealista. Um dos exemplos seguidos depois pelos surrealistas era a representação de outras obras dentro da própria obra, que caracterizou bastante o surrealismo, e que já estava presente em De Chirico.
Essas obras baseadas na representação de espaços urbanos, onde predominam os elementos arquitetônicos e a projeção de sombras, quase não possuem presença humana. Dá a impressão de que o artista criava um espaço estranho, atemporal, calmo e silencioso. Inabitado.
A partir de 1914, De Chirico pinta os manequins sem rosto, sem olhos, compostos e pontilhados por estruturas de madeira, algumas vezes recortadas em formas geométricas. Mas o período propriamente “metafísico” de sua obra, termina em 1919. Esses manequins que povoam as pinturas dessa fase de De Chirico são as mais enigmáticas e mais emblemáticas do período "metafísico", embora eles estejam presentes em seu trabalho até o fim de sua vida.
Giorgio de Chirico morreu em 20 de novembro de 1978, em Roma, Itália.
Serviço:
DE CHIRICO: O SENTIMENTO DA ARQUITETURA
De 22 de março até 20 de maio de 2012
MASP
Avenida Paulista, 1578
São Paulo - SP