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quinta-feira, 14 de julho de 2011

Um samba para Portinari

Duas excelentes notícias para quem faz e para quem ama Arte:

O Museu de Arte Moderna de São Paulo, abre hoje às 20h a exposição "No Ateliê de Portinari", que reúne obras realizadas por ele entre 1920 e 1945, que pretendemos visitar neste final de semana. Aguardem novo post sobre o assunto, dentro de alguns dias.

Além disso, a Mocidade Independente de Padre Miguel, escola de samba do Rio de Janeiro, vai apresentar no carnaval de 2012 seu enredo que vai falar sobre ele que é um dos pintores mais brasileiros: Candido Portinari. O tema do samba-enredo é "Por ti, Portinari, rompendo a tela, a realidade".

Na apresentação do enredo, no final do mês de junho passado, o carnavalesco Alexandre Louzada falou um pouco sobre a história do pintor paulista, nascido em Brodosqui, ressaltando que a Escola de Samba Mocidade Independente de Padre Miguel vai contar a vida de Portinari “pela sua obra". Ele informou que os componentes da Escola representarão todos os personagens que Portinari retratou em suas pinturas, como plantadores de milho, de café, espantalhos, trabalhadores rurais e urbanos, além de outros.
"Nós seremos os seus guerreiros, só que empunharemos a lança de lápis de cor. Vamos nos colocar como personagens vivos de suas obras. A Mocidade é isso, feita de trabalhadores, de pessoas simples", disse Louzada, durante a apresentação do enredo. "Seremos a moldura viva de um quadro e pedir a ele que pinte a estrela de Padre Miguel", afirmou.
A justificativa apresentada pela direção da Mocidade, para a escolha do nome de Portinari diz que “através de suas mais importantes obras, mostraremos a trajetória deste artista que acima de tudo retratou em seus quadros e murais, a história, o povo e a vida dos brasileiros, através dos traços fortes e vigorosos carregados de dramaticidade e expressão.” 

E acrescenta: “Esta homenagem escrita em forma de poema é a maneira mais digna encontrada para festejar este mestre que além de pintar também foi poeta e que entre outras manifestações artísticas soube tão bem ilustrar com seus desenhos os poemas de Carlos Drummond de Andrade, seu grande amigo e parceiro na versão do livro “Dom Quixote de La Mancha”, de Miguel de Cervantes.”

É esta a linda sinopse do enredo da Mocidade Independente de Padre Miguel para o carnaval de 2012:

POR TI, PORTINARI, ROMPENDO A TELA, A REALIDADE

“Num voo mágico, viaja o samba, /
 a conduzir meu povo feliz / 
em seu viajante sonho.
Solto no universo garboso, prosa em verso, / 
na fantasia a se tornar realidade,
leva os tambores da felicidade, / 
para despertar o artista na morada celestial.

Ó mestre, ergueis do sono esse quadro vazio. / 
Sua obra vive no cantar de nossa gente.
Põe nas tuas mãos o teu instrumento, / 
tua tela hoje é o firmamento,
que a arte se deixa tingir o breu da noite, / 
com um colorido de festa, / 
a aquarela do carnaval.

Vai, reinventa mais um lúdico céu. / 
Pinta por nós a nossa estrela,
tu que pintaste tanto a Mocidade, / 
deixa a tua mão deslizar Independente.

Hoje, somos as tintas que envolvem / 
as cerdas do teu pincel, e que,
na mistura das cores, por ti, Portinari, / 
rompem a tela para a realidade
e brilham no samba de Padre Miguel.

Hoje, uma moldura viva e humana / enquadra a tua história na pista,
e teu traço se refaz nos pés, / no passo do sambista,
que vai riscar murais de sonhos / e estampar retratos,
cena dos Brasis que tu desenhastes.

À luz da inspiração, vem fazer reluzir em nossa mente / 
a cândida infância de tua Brodowski querida,
e reflorescer os campos com suor da lida, / 
dos mestiços viris a lavrar a ampla terra.

“Entre o cafezal e o sonho”, / 
vem reunir retalhos e as lembranças coloridas,
como as dos espantalhos a oscilar na brisa, / 
serenos sobre as plantações.
Hoje, é um tempo que não passa. / 
Um turbilhão, um vento que sopra,
que varre e traz recordações, / e que vem devolver a ti a meninice.

Somos nós os teus meninos, / 
sem rosto, anônimos na multidão,
que fazem girar o teu mundo / 
num rodopio frenético,
como se fossem um pião, / 
tal como um caleidoscópio
a transmutar em formas a tua imaginação.

Somos a quimera límpida, / 
que balança livre num céu pontilhado,
às vezes, de pequenas pipas e balões.
Viemos abrir o teu coração / e revelar esse tal sentimento,
que subjugou a estética, / ao adulterar a técnica pela arte livre,
carregada de emoção.

Nessa força da cor que se imprime, / se diluem teus nativos,
descobridores, heróis desbravadores, / fauna e flora a percorrer paredes
como ciclos, desvendando a história, / o caminhar dessa nação.
Nesta hora, trazemos a alegria / pintada em nossas caras.
O suor que transpira / sob as luzes deste palco
é a nossa emoção que transborda, / ainda que exale de nós
a têmpera do mesmo povo sofrido, / do caminhar errante,
em busca da terra prometida, a vitória.

Imagina nós, os retirantes, / embora a esconder a face dura da vida,
como tão pungente retrataste, / dando o tom da cor às palavras
de “Guimarães” e “Graciliano”, / a cor da dor, escassa,
como a secura da terra do cangaço, /
por vez, na força do traço,
a bravura sertaneja.

A nossa odisséia e a nossa missão / 
é cantar-te, nosso estandarte, a glória,
como quem procura buscar nas alturas a prova.

Somos cenas bíblicas, / tal qual as que interpretastes,
nos vemos Santos, / Anjos olhados por Deus, /
 a voar nos céus azulejados.
Viemos aqui à luta, / contra o inimigo invisível, / 
os moinhos de vento
de uma aventura inventada.

À sorte, nos imaginamos fortes, / como o arauto sonhador
a rabiscar no papel uma estrada escrita / num poema de “Drummond”.
Somos “Dom Quixote De La Mancha”, / 
a empunhar a lança feita de lápis de cor.

Enfim, somos todos iguais esta noite, / 
como aqueles tantos que tua mão desenhou.
Somos o samba, o morro, / a favela, a dança, a música,
o contraste social, / trabalhadores do sonho, /
 assim como os da vida real.
Vamos à luta, / temos as caras das tuas caras, / 
o autorretrato da tua alma.
Somos todos em um, / a tua lembrança viva, / 
a eterna Mocidade,
modernista, revolucionária e guerreira / 
que, aqui neste momento,
ergue a ti um monumento, / um imenso mural, / 
pintado com a nossa alegria,
na batalha feliz deste dia, / 
“Guerra e Paz” do carnaval.