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quinta-feira, 14 de outubro de 2010

Aos mineiros do Chile


O Poeta PABLO NERUDA, em um discurso em 1947 (!), no Senado do Chile, denunciava as condições de vida dos mineiros de seus país e perguntava indignado: "Como é possível, Senhor Presidente, tolerar que nossos compatriotas estejam entregues a esta exploração ignominiosa?" E dedicou a esses mineiros o poema abaixo, que consta de seu livro CANTO GERAL. 

É bom lembrar das condições reais em que vivem os mineiros do Chile neste momento em que a midia mundial quer transformar a vida dos 33 mineiros resgatados, em um espetáculo. Porque a vida deles irá continuar, logo passe essa fase em que eles são notícia...


El Maestro Huerta 


De: PABLO NERUDA


De la mina “La Despreciada”, Antofagasta)*

Cuando vaya usted al Norte, señor,
vaya a la mina “La Despreciada”,
y pregunte por el maestro Huerta.

Desde lejos no verá nada,
sino los grises arenales.
Luego, verá las estructuras,
el andarivel, los desmontes.
Las fatigas, los sufrimientos
no se ven, están bajo tierra
moviéndose, rompiendo seres,
o bien descansan, extendidos,
transformándose, silenciosos.

Era “picano” el maestro Huerta.
Medía 1.95 m.
Los picanos son los que rompen
el terreno hacia el desnivel,
cuando la veta se rebaja.

500 metros abajo,
con el agua hasta la cintura,
el picano pica que pica.

No sale del infierno sino
cada cuarenta y ocho horas,
hasta que las perforadoras
en la roca, en la oscuridad,
en el barro, dejan la pulpa
por donde camina la mina.

El maestro Huerta, gran picano,
parecía que llenaba el pique
con sus espaldas. Entraba
cantando como un capitán.
Salía agrietado, amarillo,
corcovado, reseco, y sus ojos
miraban como los de un muerto.

Después se arrastró por la mina.
Ya no pudo bajar al pique.
El antimonio le comió las tripas.
Enflaqueció, que daba miedo,
pero no podía andar.

Las piernas las tenía picadas
como por puntas, y como era
tan alto, parecía
como un fantasma hambriento
pidiendo sin pedir, usted sabe.
No tenía treinta años cumplidos.

Pregunto dónde está enterrado.
Nadie se lo podrá decir,
porque la arena y el viento derriban
y entierran las cruces, más tarde.

Es arriba, en “La Despreciada”,
donde trabajó el maestro Huerta.

sexta-feira, 8 de outubro de 2010

Estamos bien en el refugio, los 33

Da escuridão, a vida emergiu

Minha homenagem aos 33 operários chilenos que ficaram 69 dias presos dentro de uma mina de cobre, a 700 metros de profundidade, aguardando o resgate, que se iniciou na madrugada de hoje, 13 de outubro.

Torcendo para que seu sacrifício não tenha sido em vão, e que os capitalistas cuidem um pouco mais do salário, da segurança e da saúde dos operários mineiros em todo o mundo, assim como de suas famílias.

Em tempo: (O Globo, 19/10/2010) "O Sucesso do resgate dos mineiros que estavam presos a 700 metros do solo no Chile acabou suplantando uma importante discussão. Afinal, só em 2009 o país registrou mais de 191 mil (!) acidentes de trabalho em todo o país, com 443 mortes. (!) E no primeiro trimestre deste ano foram 155 mil mortos. (!) Em entrevista à rede de notícias IPS, sindicalistas do setor de mineração ressalataram que os mineiros não são heróis, mas vítimas de uma situação desigual em relação às empresas para a qual trabalhavam. Para sindicalistas chilenos, "a lamentável irresponsabilidade empresarial abriu uma grande oportunidade para que os trabalhadores denunciem e mostrem tudo o que se esconde."

Nuestras mujeres - lápis carvão sobre papel cartão

Mejores condiciones de trabajo! - carvão e pastel sobre papel cartão

 Aquí estoy a salvo - carvão e pastel sobre papel cartão

Dile que estaré de vuelta! - carvão sobre papel cartão

Volveremos! - carvão sobre papel cartão

Estoy vivo - carvão sobre papel cartão

Ayúdenos - carvão sobre papel cartão

Os operários desenhados a carvão
surgem do preto mineral com seus olhos de minério,
com suas carnes de minério,
com suas esperanças superminerais.
No oco da mina aguardam como fetos o momento da expulsão um a um.
Sob esse aspecto, gêmeos univitelinos do mesmo útero e do mesmo carvão,
chegarão à superfície chilena desejados e amados
e cegos da escuridão placentária.
Lavaremos seus corpos com a água salgada de nossas lágrimas e de nossa espera.
Ao saírem do chão, estou feérico, é a nós que desenterram,
e à metáfora de uma nova classe operária
brotada para um novo tempo a partir da cova funda
onde homens-sementes-minerais foram plantadas.

(Um comentário que virou poesia - de Jeosafá Fernandes)