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quinta-feira, 21 de maio de 2020
TEMPO CINZA 3
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TEMPO CINZA 2
OS RETIRANTES, Candido Portinari, 1944
E com ela um pequeno trecho de outro grandemente triste retrato do povo brasileiro, de Vidas Secas, de Graciliano Ramos:
"Os infelizes tinham caminhado o dia inteiro, estavam cansados e famintos. (...) Fazia horas que procuravam uma sombra. A folhagem dos juazeiros apareceu longe, através dos galhos pelados da caatinga rala. Arrastaram-se para lá, devagar (...)
Os infelizes brasileiros de sempre, historicamente os mesmos, que já vão nascendo "com cara de fome", estampados na arte de Portinari e Graciliano. E de Chico e de Caetano. Pobres, trabalhadores, favelados, pingentes, faxineiras, paus de arara, pedreiros, balconistas, boias-frias, índios e mulatos, malandros e bandidos, banidos quase todos, "quase todos pretos", aguardam cada qual seu momento de morte física, pois que há muito vivem como mortos para certa elite, certa classe média, certa gente escrota e vil.
Gente escrota e vil que elegeu um monstro, o Inominável genocida, assassino explícito, Ceifador maior de toda a nossa gente.
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quarta-feira, 13 de maio de 2020
TEMPO, TEMPO, TEMPO CINZA
Nestes tempos terríveis de Covid-19, tenho estudado e lido muito sobre as Belas Artes. Hoje, lendo Fayga Ostrower, me veio a ideia que passo a por em prática aqui, retomando meu trabalho neste blog. Talvez inspire, talvez deprima. Porque não trago imagens de alegria, mas pinturas com temas de morte, doença, fome, desemprego… toda essa desgraça que nos atinge. Começo com Courbet, pintor francês, de quem compartilho a admiração com meu amigo Henri, de Paris.
Aqui Courbet retrata uma cerimônia fúnebre, sem nenhum tipo de floreio mitológico ou religioso. Não há anjos, nem figuras alegóricas. Nada! A morte mostrada com sua cara, nua e crua. Pessoas estáticas, em silêncio, de luto. Atrás delas um horizonte tão pesado quanto os sentimentos das pessoas. É uma pintura de uma tristeza imensa, como são as fotografias dos buracos abertos no cemitério da Vila Formosa em São Paulo ou de algum cemitério de Manaus. Junto ao féretro, acompanhando tudo, um cãozinho, como é comum acontecer de aparecer, em qualquer circunstância de uma pequena cidade como Ornans, que visitei com meu outro amigo Pierre Ringot no ano passado… “Enterro em Ornans” é a melancolia destes dias em que milhares de pessoas estão sendo enterradas solitariamente. Ninguém querido dando o adeus final. Pessoas que nunca se viram em vida, dividindo a mesma vala comum dos desgraçados... Além do coveiro talvez um pequeno cão vira-lata apareça para a despedida... ou nem mesmo um cão...
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