quinta-feira, 19 de setembro de 2019

Ateliê Contraponto faz exposição em Paris

De pé, da esquerda para a direita: Roque, Ana Maria, Luciana, Taïs, Guilherme, Beto, Ana Sá, Virgínia, Sarah. Sentadas: Rubi, Mazé e Nathalia
O Ateliê Contraponto de Arte Figurativa, de São Paulo, sob a orientação de Mazé Leite, estará fazendo uma exposição na Galerie Art et Societé de Paris, de 4 a 24 de outubro próximo. A artista e onze de seus alunos levarão para a capital francesa 33 pinturas executadas em um ano e meio de trabalho. O tema da exposição "Brasil em transe" serviu como guia para a criação das obras, que resumem a visão individual de cada artista sobre nosso país, que vive tempos tão difíceis após a eleição de Jair Bolsonaro.
80 TIROS!
Mazé Leite, óleo sobre tela, 50x70 cm, 2019
A Galeria Art & Societé está localizada em um dos bairros mais culturais da capital francesa, ao lado de inúmeros museus e galerias de artes, e é reconhecida por receber artistas contemporâneos de diversos lugares do mundo, inclusive da América Latina.
A exposição, que terá sua inauguração às 19h (hora local) do dia 4 de outubro, é o resultado da curadoria e do planejamento da proprietária e professora do Ateliê Contraponto de Arte em São Paulo, Mazé Leite. Convidada pela Galeria parisiense Arte & Societé para fazer uma exposição individual, Mazé, que é uma grande entusiasta da arte figurativa no Brasil, divide essa oportunidade com 11 alunos do Ateliê que terão duas de suas obras expostas em Paris, totalizando 22 pinturas que foram executadas em um ano e meio de trabalho intenso. 
“Essas obras expressam nossas visões pessoais sobre o Brasil que vivemos, neste momento crucial de nossa história. Quando iniciamos nosso trabalho para esta exposição, não se tinha ideia dos rumos que o Brasil tomaria com a eleição de Bolsonaro. Isso nos afetou pessoalmente e deu ainda mais elementos para nosso processo de criação”, conta a artista e professora Mazé. 
"Brasil em Transe" apresentará aos visitantes uma riquíssima variedade de abordagens, que vai desde momentos que representam a cultura brasileira até temas de caráter mais político, passando por pinturas que denunciam o drama da população mineira causado pelo rompimento de barragens, o genocídio da juventude negra, os preconceitos sofridos pela população LGBTI, a liberação de agrotóxicos mortais em nossa agricultura, entre outros. A exposição também contará com obras que dão vazão a questões mais pessoais, individuais ou não, de um país cujo povo passa por grandes dificuldades neste período no qual a extrema-direita está em crescimento, gerando temores e ameaçando as conquistas sociais, econômicas e culturais de outrora. Porém, além de retratar essas barreiras e dores, as obras buscam reforçar que neste “Brasil em transe" há artistas que resistem e que ao pintar transformam seus próprios medos em arte, impingem suas próprias cores e mostram a beleza e riqueza que ainda são parte de um país que já inspirou muitos poetas.
Realismo em dança com a luz
Os trabalhos selecionados para a exposição contam com matéria-prima elementar: tinta a óleo, com uma técnica que segue um conceito fundamental, o da luz, e seus efeitos sobre a realidade observada.
Ao usar “a luz, mais abstrata que a matéria, para ir além do superficial”, segundo a curadora, os trabalhos seguem a tendência da arte figurativa, que retoma fôlego no país, mas já muito praticada em diversos países, com destaque para os EUA com artistas como David Leffel, Sherrie McGraw, Burton Silverman, etc. 
“Minha visão sobre a pintura mudou muito, desde que fui apresentada por um dos meus últimos professores, Maurício Takiguthi, a um novo modo de percepção. Desde então, me interesso cada vez mais pela aparência real das coisas e a forma de representá-la. Há 10 anos me dedico a estudar e a me aprofundar neste conceito, que também ensino em meu Ateliê”, reflete Mazé.
Os artistas, cujas obras fazem parte desta exposição, tecnicamente expressam nelas sua evolução pessoal no aprendizado deste tipo de pintura a óleo, além de dar voz a sua própria sensibilidade, ponto de vista e ideias sobre o tema proposto.
Artistas expositores:
Mazé Leite
Ana Maria de Sousa Pereira
Ana Suitsu
Beto Tozzi
Guilherme Martinez
Luciana Fortes Balam
Nathalia Lopes
Roque Magalhães
Rubi Conde Ferreira
Sarah Hounsell
Taïs Isensee
Virgínia de Morais

Serviço
Exposição: Brasil em Transe - Pinturas a óleo
Curadoria: Mazé Leite.
Abertura da exposição: 4 de outubro, às 19h.
Encerramento: 20 de outubro
Local: Galeria Art & Société
Endereço: 19 rue du Pont Louis Philippe 75004 / Paris, França
Entrada gratuita

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quarta-feira, 5 de junho de 2019

A solidão das multidões na obra de Lesley Oldaker

Passo a passo, Lesley Oldaker, óleo sobre papel, 2018
Em minhas constantes pesquisas sobre arte, de vez em quando as surpresas boas me aparecem. Há algum tempo, pesquisando sobre o Expressionismo alemão, me veio uma imagem, que salvei em meus arquivos, mas segui em outra direção. Hoje resolvi retomar as informações sobre aquela imagem que tinha me tocado. Resultado: as outras obras desta artista me impressionaram ainda mais.

Trata-se de Lesley Oldaker, uma artista inglesa que vive atualmente em Zurick, na Suiça. Ela já expôs suas pinturas em diversos países, como Reino Unido, EUA, Suíça, Eslováquia, Itália, Índia e China, e tem trabalhos em coleções particulares no Reino Unido, EUA, Bratislava, China, Austrália e Índia.

Seu trabalho inspira um tanto de melancolia, pois ela basicamente representa a vida na sociedade atual, nas grandes metrópoles: seres humanos perdidos, solitários em meio às multidões que correm para ganhar a vida. O clima tem um ar asfixiante, prédios comprimem o andar das multidões, aprisionam as pessoas em suas vitrines onde produtos são oferecidos permanentemente, no caos do consumismo dos tempos modernos... Dois de seus quadros, intitulados "Preso I" e "Preso II", mostram exatamente pessoas aprisionadas - quase sequestradas - por essas vitrines dos grandes prédios das grandes metrópoles...
Preso I, Lesley Oldaker,

Nos subterrâneos do metrô de Londres, há um certo olhar para cima, para fora, para respirar. Ela ultrapassa as dimensões do underground, mostrando a rua ou outros undergrounds...

Me lembra muito Käthe Kollwitz e suas pessoas tristes, solitárias e famintas em meio às duas guerras mundiais.

Me lembra muito o expressionismo alemão, com sua paleta de cores bem reduzida, densa, pesada, porque escura.

As atuais condições sociais em que vivemos - se paramos para melhor pensar - nos mostra a vida dura e difícil da luta pela sobrevivência, o ser humano cada vez mais solitário, mais jogado ao seu próprio destino em ambientes urbanos sufocantes...

Gosto do olhar de Lesley sobre este mundo. Incomoda porque é espelho de como vivemos no pesado mundo de hoje, onde o capitalismo suga mais vidas e nos empurra a um tipo de solidão onde nos sentimos permanentemente como se estrangeiros fôssemos...  E estranhos ao olhar do outro... Se é que olhar existe, direcionado que está para as redes sociais...


Preste-se atenção no título de suas obras, algumas das quais reproduzo aqui...

Quem sou eu?, Lesley Oldaker, óleo sobre tela, 2018
Diálogo perdido, Lesley Oldaker, óleo sobre tela, 2017
Fale comigo, Lesley Oldaker, óleo sobre tela, 2018
Só na noite, Lesley Oldaker, óleo sobre tela, 2016
Outsider, Lesley Oldaker, óleo sobre tela, 2017
A arena, Lesley Oldaker, óleo sobre tela, 2018
Despercebido, Lesley Oldaker, óleo sobre tela, 2018

Direção diferente, Lesley Oldaker, óleo sobre tela

Futuro incerto, Lesley Oldaker, técnica mista