domingo, 11 de agosto de 2013

Apontamentos para paisagem

Enquanto minha vida vai seguindo seu rumo, vou dando prosseguimento ao aprofundamento dos estudos de pintura. Ontem participei de um workshop no Studio Plein Air, aqui em São Paulo, coordenado pelo pintor Alexandre Reider. O objetivo foi praticar diferentes abordagens de interpretação de referência fotográfica, com especial enfoque em cores mais restritas, como explico abaixo. A ideia não era chegar até o acabamento das paisagens, mas fazer esboços de mais ou menos uma hora de trabalho, fazendo as marcações de cor, valor, luz, sombra. Ou seja, fazer esboços de paisagens com óleo.

No primeiro exercício - pintura abaixo - fizemos este sketch usando apenas as cores primárias na palheta: Amarelo, Vermelho, Azul. Usamos Amarelo de Cadmio Claro, Vermelho de Cadmio Claro e Escuro, Azul Ultramarino. E branco de Titânio.


Mazé Leite: Exercício de marcação de cores n. 1



Nos três exercícios, fizemos uma primeira anotação com as cores bem diluídas em solvente de secagem rápida. Como dizemos em pintura, uma primeira camada magra, sem nenhum óleo de linhaça. Mas em seguida, usamos as cores quase sem solvente, com mais matéria.

No segundo esboço em óleo - paisagem abaixo - utilizamos como cores: Alizarin, Siena Queimada e Amarelo Ocre. Além deles, Azul Ultramar que participou das misturas com cada um desses matizes. E Branco de Titânio.

Mazé Leite: Exercício de marcação de cores n. 2




Terceiro exercício: Perspectiva aérea sem usar Azul. Usamos as seguintes cores: Verde Viridiano (ou Esmeralda),Amarelo de Cadmio Claro e Alizarin. E Branco de Titânio.

Mazé Leite: Exercício de marcação de cores n. 3




O Branco de Titânio só foi usado, nos três exercícios, na segunda etapa da pintura, ou seja, quando as marcações mais aguadas na primeira camada já tinham sido feitas. Também usamos os outros pigmentos sem medium nenhum ou com pouquíssimo solvente.

Foi um dia intenso de trabalho, com informações muito úteis para mim. Saber fazer marcações básicas com óleo é muito interessante para quando for fazer pinturas ao ar livre, ou como se costuma chamar, pintura em Plein Air. Quando pintamos ao ar livre, a luz do dia muda muito rapidamente e por isso não dá pra ficar muito tempo numa paisagem cuja tonalidade vai mudando de acordo com a posição do sol. Até no mesmo momento, se mudamos o cavalete de posição de uma direção norte para uma direção sul, a luz já é diferente. Então estes sketches rápidos nos dão as bases para que possamos depois trabalhar mais profundamente numa pintura iniciada em Plein Air, fotografando a paisagem para ser finalizada no atelier.


Alexandre Reider explicando como fazer os sketches

segunda-feira, 5 de agosto de 2013

A Beleza aprisionada em telas

Mariano Fortuny: Nu na praia, óleo sobre tela, 13 x 19cm, 1874
O Museu do Prado de Madrid, na Espanha, está apresentando mais uma grande exposição de pinturas intitulada “La belleza encerrada. De Fra Angelico a Fortuny”. As 281 telas, em sua maioria em pequeno formato, mostram obras de artistas do século XIV ao XIX, e foram escolhidas entre cerca de mil outras que pertencem ao acervo do Museu. A mostra teve início no final de maio e irá até 10 de novembro de 2013.

El Greco:
Velho cavalheiro, óleo s/ tela, 1587-1600
As obras estão espalhadas em 17 salas ao todo. O objetivo desta exposição também é mostrar a história da técnica de pintura em pequenos formatos, que vem desde a Idade Média, começando a partir dos afrescos, mas logo chegando às pinturas em óleo sobre madeira, sobre tela, etc.

O diretor do Museu Miguel Zugaza, idealizador da exposição, comentou ao jornal espanhol El País: “Bendita seja a crise (econômica) que nos permite agora nos concentrar no tesouro que possuímos no Museu do Prado”. Em tempos de crise capitalista, os administradores dos museus se vêem obrigados a reelaborar suas políticas de exposições temporais, tirando do fundo de suas salas as obras mestras de que dispõem. Até mesmo o catálogo da mostra foi impresso em formato reduzido, para reduzir os custos.

Essas 281 obras possuem como denominador comum além do formato menor, características especiais como qualidade técnica, refinamento, maestria. Como são telas de tamanho pequeno, há detalhes escondidos que fogem à observação de quem não se aproximar bastante dos quadros. Muitas deles ficavam guardados em salas internas, longe do olhar do público, ou estavam em outros museus, cedendo seu lugar no Prado para obras mais famosas. A alta qualidade do acervo e das coleções do Museu do Prado, enriquecidas ao longo de séculos por diversos reis espanhois, faz com que a coleção de pinturas do museu espanhol chegue a superar a coleção do Museu do Louvre, de Paris.

Francisco Domingo Marqués: Autorretrato
óleo s/ madeira,1865.jpg
Os pintores presentes nesta exposição do Prado são em sua maioria espanhois, mas também tem franceses, italianos e pintores dos Países Baixos. Segundo a organização do Museu, o público pode ver a passagem do tempo através das  telas, unindo o passado ao presente, podendo fazer relações entre o estilo dos diversos pintores de diversos países, assim como a influência externa em suas obras ou a reafirmação do seu modo de vida e cultura local. Os pintores do norte europeu, por exemplo, podem se aproximar daqueles do sul a partir de uma mesma iconografia ou de um mesmo tema. Por outro lado, os da Idade Média e os do Renascimento tinham suas diferenças, mas prepararam o terreno - com o Barroco e depois com o Rococó - para a arte realista do século XIX que, com Mariano Fortuny na Espanha, além de outros, trouxe novos caminhos para a arte pictórica.

Para os privilegiados que possam ver de perto essas obras-primas - e para nós que estamos tão longe de Madrid - aqui vai uma pequena lista dos artistas presentes que, por si só, já dá uma ideia da importância desta exposição do Prado:

Fra Angelico, Andrea Mantegna, Hieronymus Bosch, Albert Dürer, Andrea del Sarto, Rafael, Guido Reni, Annibale Carracci, Tiziano, Veronese, Jacopo Bassano, Leandro Bassano, Jan Brueghel o Velho, El Greco, Antonio Moro, Diego Velázquez, Ludovico Carracci, Correggio, Peter Paul Rubens, Francisco de Zurbarán, Jan Brueghel o Jovem, Nicolas Poussin, Bartolomeu Estevan Murillo, Jean-Antoine Watteau, Anton Raphael Mengs, Giambattista Tiepolo, Vicente López Portaña (parente do atual pintor realista Vicente López), Francisco de Goya, Mariano Fortuny, entre outros.

Abaixo, mais alguns dos quadros que estão na exposição:

Donato Creti: Nu masculino, óleo s/ papel, 1710-1720
Federico Madrazo y Kuntz: Louise Amour M. de la Roche-Fontenilles, 1871, óleo
Diego Velázquez: Francisco Pacheco, 1620, óleo s/ tela
Ticiano: Cristo com a cruz, 1565, óleo s/ tela
Mariano Fortuny: Marroquinos, 1872-74, óleo
Leonardo Alenza y Nieto:
O bêbado, séc. XIX, óleo s/ tela
Francisco Domingo Marqués: Gato, séc. XIX, óleo
Francisco de Goya: O abanil ferido, 1786, óleo s/ tela