quinta-feira, 30 de junho de 2011

Peter Paul Rubens, um mestre para ser lembrado

Vênus e Adônis,  óleo sobre tela, 194x236cm, Metropolitan Museu of Art, New York, EUA 
Neste 28 de junho, tivemos motivos a mais para comemorar, além das nossas festas juninas: o aniversário de nascimento de um dos maiores pintores do Ocidente: Peter Paul Rubens, a quem Eugène Delacroix (pintor francês) deu o título de "o Homero da pintura".


Autoretrato, 1632
Rubens nasceu em 1577 na pequena cidade de Siegen, na Vestfalia, próximo a Colônia, cidade alemã. Para lá tinham fugido seus pais que apoiavam a independência dos Países Baixos da dominação espanhola, que perseguia os protestantes. Mas o exílio também foi provocado pelo fato de seu pai, Ian Rubens, ter sido amante de Ana de Saxônia, mulher de Guilherme I, e a punição era com pena de morte.


Rubens não tinha completado dez anos de idade quando seu pai morreu, ainda no exílio. Sua mãe resolveu voltar para Antuérpia (hoje na Bélgica), com seus dois filhos.


Desde cedo, Rubens queria pintar. Aprendeu desenho copiando as figuras que via numa bíblia. Passando por vários ateliês de pintores, onde estudo a técnica da pintura, foi admitido na Corporação dos Pintores de Antuérpia, como um dos mestres. E tinha somente 21 anos.


Aos 23, realizou seu sonho de ir para a Itália, apoiado por sua mãe. Em Veneza, copia Veronese, Tintoretto e Ticiano, de quem fez 21 cópias.


Em 1603, Rubens é indicado pelo duque de Mântua a quem se ligara, Vincenzo Gonzaga, para uma missão diplomática junto ao rei Filipe III da Espanha. Era o começo de sua vida política, do pintor que também sonhava com um mundo que vivesse em paz.


O Artista e sua mulher sob um caramanchão de
Madressilva, 1609-1610, óleo sobre tela, 174x143cm,
Alte Pinakothek, Munique, Alemanha
Em 1608, sua mãe adoece gravemente e ele volta para casa, nunca mais regressando à Itália. Ao chegar de viagem, sua mãe tinha morrido. Resolve ficar e trabalhar em sua cidade. No ano seguinte foi nomeado pintor da Corte e recebeu autorização para morar em Antuérpia. Logo, ele começa a receber uma quantidade tal de encomendas, que não conseguiria dar conta se não fosse a ajuda de seus alunos. Torna-se um homem rico, com a venda de seus quadros. Casa-se com Isabella Brant, de quem foi eterno apaixonado, tendo pintado o rosto de sua esposa em diversos quadros.


Rubens era famoso em toda a Europa. Pela França, Espanha e Inglaterra, seu trabalho era conhecido, admirado e solicitado. Para atender a tantas encomendas que chegavam de todos os lugares, ele tinha uma rotina de trabalho diária que começava às quatro da manhã e terminava às cinco da tarde. 


Nesse período, montou um atelier que era uma verdadeira fábrica de pinturas, com diversos discípulos e ajudantes, que o auxiliavam na execução das encomendas. Dois de seus discípulos se tornaram famosos como ele: Peter Brueghel, o Velho, e Anton Van Dyck.


Clara Serena Rubens, 1615-1616,
óleo sobre tela, 37x27cm, Museu de
Liechtenstein
Em 1626, sua esposa morre aos 34 anos de idade, deixando-o desesperado e sem rumo. Para fugir do sofrimento da perda de Isabella, ele ainda viaja mais, em missões diplomáticas, pela Espanha, França e Inglaterra. Era o período que ficou conhecido como a Guerra dos 30 Anos, guerra provocada por razões religiosas e comerciais. A luta da Igreja Católica contra a Reforma Protestante chegava a ser sanguinária. Rubens morreu antes de ver terminada a guerra entre esses países.


Rubens era - como descreve Gilles Néret numa biografia do pintor - um homem erudito, além de um humanista cristão. Apaixonado pela antiguidade clássica, ele também escrevia em várias línguas, incluindo latim, além de ser arquiteto amador. "O capelão da corte de Bruxelas - diz Néret - descreveu-o como 'o pintor mais culto do mundo".


Depois de Ticiano, o pintor que ele mais admirava era Caravaggio, de quem fez versões de pinturas. Em 1614 ele pinta a tela "A Sagrada Família", cuja Virgem foi inspirada no rosto de sua esposa, e o pequeno João Batista era o seu próprio filho, Albert. Essa pintura era a virada em direção a uma arte mais livre, mais madura. E mais barroca. Envolvido na luta contra a Reforma, ele, que era católico, tornou-se o grande pintor também do catolicismo. 


As Três Graças, 1639, óleo sobre tela, 500x617cm,
Museu do Prado, Madri, Espanha
Mas as figuras pintadas por ele possuiam uma extrema sensualidade e os corpos de nus femininos povoavam suas telas, com mulheres rosadas, rechonchudas, sensuais. Mesmo nas pinturas de inspiração bíblica ou clássicas, via-se a beleza dos corpos nus das mulheres flamengas.  "Suas madonas e santos estão demasiado próximos da carne a partir da qual foram pintados", diz  Gilles Néret, que também destaca várias características desse mestre do Barroco: efeitos dramáticos e grandiloquentes, apaixonado culto ao movimento, busca do dinâmico em suas enormes telas, onde cada face é expressiva. 


Ele não distingue muito Nossa Senhora da deusa Vênus. Seus corpos - mesmo os dos santos e anjos - são corpos "claramente habitados" e muitos haviam que se incomodavam com a nudez e com a "excessiva fisicalidade, pelo realismo imoderado: o grão perlado das dobras de carne roliça" das pinturas de Rubens. 


Esse autor ousa dizer que Rubens "foi quem melhor transmitiu as cores e textura do corpo humano". Podemos acrescentar que foi Rubens o grande pintor que deu ênfase ao corpo da mulher, mostrando-o ao mundo com toda a sua pureza, beleza e sensualidade. Isso em si já era contra os cânones anteriores da pintura, impostos pela Igreja Católica, que exigia que as mulheres fosse pintadas quase que totalmente cobertas, como santas. Fora o fato de que os modelos eram sempre masculinos, como em Michelangelo.


É interessante observar isso: Ticiano, Caravaggio, Rubens, Rembrandt, Vermeer, Vélazquez... grandes mestres da pintura universal, têm uma coisa em comum além da excelência técnica: são pintores profundamente humanos e voltados à representação da figura humana de sua época. Entraram para a história não somente como grandes pintores, mas também como homens que, vivendo em um tempo específico, possuiam algo de revolucionário em seu tempo, trazendo e fazendo parte das mudanças que se operavam em seu mundo.


Quiçá os pintores de hoje fossem tão humanos assim...


Retrato de Susanna Fourment, 1625, óleo sobre tela,
National Gallery, Londres, Inglaterra

domingo, 26 de junho de 2011

Museu Niemeyer – o olho de Curitiba


Museu Oscar Niemeyer, Curitiba, Paraná
Neste feriadão, junto com o final de dez dias de férias, resolvi pegar a rodovia Régis Bittencourt rumo a Curitiba. É sempre temeroso encarar a Régis, mas estava razoavelmente tranquila na ida e muito tranquila no retorno ontem, sábado. Fui ver Curitiba um pouco melhor e voltei com a sensação de que aquela é uma cidade bastante organizada, limpa, cheia de simetrias, seja pelas ruas retas e longas, seja pelas araucárias que se veem aqui e acolá.


Fui direto para o Museu Oscar Niemeyer, inaugurado em 22 de novembro de 2002. Sua forma se assemelha a um olho, por isso o apelido de Museu do Olho. Ele está localizado ao lado de um amplo parque, para onde os curitibanos vão com suas famílias, seus amigos, seus namorados, seus bichos. As pessoas se agrupam sobre toalhas grandes, fazendo piqueniques de fim de tarde. Outros namoram, outros conversam em grupos, outros caminham, crianças brincam. Nenhum perigo a vista.


A arquitetura do Museu do Olho é de Oscar Niemeyer mesmo: saguões amplíssimos, de teto baixo, e muitas curvas. No primeiro pavimento – o mais amplo de todo o conjunto – várias exposições, entre elas “Dores da Colômbia – de Fernando Botero”, “Fotografias de Maureen Bisilliat”, “Mulheres no Acervo MON”, “Arcângelo Ianelli”, “Carlos Motta – marceneiro, designer e arquiteto” e um rescaldo do que foi a 29ª. Bienal de São Paulo, além de outras.


Destas aí, vi com muita atenção as fotografias de Maureen Bisilliat (que me encantou muitíssimo!), as pinturas de Ianelli e de Fernando Botero. E as “Mulheres”.


MAUREEN BISILLIAT – sempre se fala que quando um livro ou um filme é muito bom, logo de cara ele te domina. Foi o que aconteceu comigo em relação à fotografia desta inglesa, nascida em 1931, e naturalizada brasileira. Muito brasileira, eu diria. Ela fotografa o povo brasileiro, de todos os recantos do Brasil.


Bumba-meu-boi em São Luís, 1978
Em 1978 ela passou por São Luís do Maranhão e fez uma reportagem fotográfica com os dançantes do Bumba-meu-boi. Reportagem belíssima! Nessa época eu morava em São Luís e nem podia imaginar que ela estava lá fazendo esse trabalho que eu iria ver 33 anos depois em Curitiba! A vida...


Essas fotografias de São Luís faziam parte do projeto de composição do acervo da Galeria de Arte Popular O Bode, que era de Maureen Bisilliat, de seu marido Jacques Bisilliat e do arquiteto Antonio Marcos Silva. Em 1988, Darcy Ribeiro, antropólogo, convidou os três para formar o acervo de arte popular latino-americano da Fundação Memorial da América Latina, em São Paulo.
Fotografias de Maureen Bisilliat
Maureen Bisilliat
Mas ela também era amiga dos escritores brasileiros João Guimarães Rosa e Jorge Amado. Para eles, ela fez fotografias especiais do povo sertanejo de Minas Gerais e da Bahia. Lindas! Como são lindos os vaqueiros nordestinos que ela fotografou, vestidos em gibãos de couro, valentes, tingidos do sol da caatinga. E como são lindas as mulheres caranguejeiras paraibanas que Maureen também fotografou, para a revista Realidade, na década de 70.


Ela também lançou livros de fotografia inspirados em "Os Sertões" de Euclides da Cunha. Guimarães Rosa, de quem ela leu "Grande Sertão: Veredas", sugeriu que ela fosse para o interior do Brasil e que ela entenderia muito bem o sertão, até por suas raízes irlandesas. Ela foi e voltou com imagens belíssimas do povo sertanejo.


Fernando Botero – sua exposição no MON intitula-se “Dores da Colômbia”. São pinturas onde ele retrata pessoas mutiladas, assassinadas, sofrendo violências de todo o tipo, angustiadas, desesperadas. Como ele diz, sobre esta exposição, sua ideia era deixar “um testemunho de artista que viveu seu país e seu tempo. É como dizer: vejam a loucura em que vivemos.” Todas as figuras humanas que aparecem, mesmo nessas cenas de violência das telas de Botero, são aquelas que são sua marca registrada: pessoas obesas, homens e mulheres. 


Fernando Botero
Não é uma exposição fácil de se ver, mas, enfim, a intenção do artista talvez tenha sido causar desconforto, para o qual a curadoria ajudou colocando os quadros em paredes cinzentas. “Meu país tem duas caras. A Colômbia é o mundo amável que eu pinto sempre, mas também tem essa cara terrível da violência”, expressa uma de suas frases na exposição. São 67 obras, entre pinturas a óleo, aquarelas e desenhos.


“Dores da Colômbia” é parte de uma corrente artística que vincula a arte e política, em contextos onde o artista se dá o papel de interpretar e denunciar fatos históricos em suas telas. São inúmeros os exemplos, como Delacroix, Francisco Goya e Pablo Picasso (com sua “Guernica”).
Dores da Colômbia, de Botero
Como um gesto de solidariedade ao seu povo, Botero doou a coleção ao Museu Nacional da Colômbia, quando declarou: “Não vou fazer negócio com a dor do meu país”.


ARCÂNGELO IANELLI – são 19 pinturas que pertencem ao acervo do Museu Oscar Niemeyer de Curitiba, de várias fases significativas do pintor paulista Arcângelo Ianelli. Os quadros foram uma doação da família Ianelli ao Museu do Olho. 


Arcângelo Ianelli
Arcangelo Ianelli nasceu em São Paulo em 18 de julho de 1922 e morreu recentemente, em maio de 2009. Foi pintor, escultor, ilustrador e desenhista. Até 1959, seguia uma linha mais figurativa em suas pinturas mas, a partir de então começou a executar pinturas com figuras geométricas até ir para a pintura abstrata, forma como é mais conhecido.


No MON, podem ser vistas algumas obras ainda do período figurativo de Ianelli, alguns dos quais marcam sua fase final como pintor figurativo. Claro que esses 19 quadros são apenas uma pequena amostra do conjunto do trabalho do artista que participou, entre outros, do Grupo Guanabara.


Esse grupo se formou em São Paulo em 1948 e se reunia na oficina de molduras de Tikashi Fukushima. Eram quase todos japoneses, mas havia alguns “estrangeiros”, como Arcangelo Ianelli. Saiam juntos nos fins de semana para desenhar pelas ruas da Vila Mariana ou pelo Brooklin. Cada um pintava como queria, ninguém dava palpite no trabalho do outro. Mas depois, em 1959, o grupo se extinguiu e Ianelli seguiu seu caminho.


O trabalho de Arcangelo Ianelli é muito característico seu, desde o figurativo. As cores sempre são em tons reduzidos, formas geometrizantes, uma atmosfera fluida, até diria meio triste. A pintura dele não expressa alegria, leveza, claridade. Parece que expressa uma alma inquieta, solitária, angustiada com o que vê. E o que vê, na medida em que envelhece, são formas de cores opacas, um tanto desfocadas, profundamente longínquas.


É sempre bom ver um pintor que traz consigo a história de décadas de riqueza artística e histórica de nosso país e que conviveu com os maiores nomes da nossa pintura do período modernista e pós-modernista.


Arcângelo Ianelli é irmão do pintor Tomás Ianelli e pai do também pintor e escultor Rubens Ianelli.
Obras que pertencem ao acervo do MON, de Ianelli

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Os números da exposição de Escher e de museus brasileiros


Centro Cultural Banco do Brasil, São Paulo

Há dois meses, a revista britânica The Art Newspaper divulgou o resultado de uma pesquisa anual sobre o número de visitas a museus e exposições de arte mais visitados do mundo. Pela primeira vez, o Brasil ganha destaque entre as exposições e museus mais visitados do mundo, como a exposição “O Mundo Mágico de Escher” que atingiu um milhão de visitantes, somando Brasília, Rio de Janeiro e São Paulo.


CCBB, Brasília
Esta notícia é realmente surpreendente, mas – pode-se dizer – previsível, dentro do novo quadro político e social que atravessa o Brasil, desde que surgiu como uma das potências que crescem no mundo de hoje. O Brasil pós-presidente Lula, é o país onde o desemprego diminuiu, onde mais de vinte milhões de brasileiros tiveram alguma ascensão social, onde vemos aeroportos lotados de gente que “nunca antes na história deste país” tinha viajado de avião.


E é também, agora, o país onde seus museus passam a ser os mais frequentados do mundo!


Museu de Arte de São Paulo
As informações sobre o Brasil foram fornecidas pelo Instituto Brasileiro de Museus (Ibram/Ministério da Cultura) à revista inglesa The Art Newspaper, especializada em artes. Claro está que o Museu do Louvre de Paris, o British Museum de Londres e o Metropolitan Museum of Art de Nova Iorque ocupam os três primeiros lugares, mas o Centro Cultural Banco do Brasil ocupa o 14º, à frente de museus como o Reina Sofia de Madri e o Tate Britain de Londres, só para ficar em dois exemplos.


Nosso país agora também é reconhecido como detentor de cinco dos museus de arte mais visitados do mundo: os CCBB do Rio de Janeiro, Brasília e São Paulo, o MASP e a Pinacoteca do Estado de São Paulo.


Pinacoteca de São Paulo
Essa pesquisa tem uma importância que não pode ser desprezada e só demonstra – mais uma vez – a altíssima importância que a Arte tem para as pessoas. Mesmo que apenas São Paulo, Rio e Brasília se destaquem nesse cenário mundial, é preciso reconhecer que os números da economia brasileira, favoráveis à prosperidade econômica de mais pessoas, sejam responsáveis pelo fato de que verdadeiras multidões queiram ir a museus e exposições, buscar preencher sua alma com o imenso prazer estético que as artes podem dar... Sim, o povo brasileiro é um povo que aspira crescimento econômico, mas aspira também a ver seu direito básico do acesso à cultura e às artes, garantido, incentivado, realizado!


Mais uma vez é preciso dizer que o governo brasileiro precisa – com urgência cada vez maior, dada a extrema importância das artes – investir mais do seu orçamento no setor! Fruição de Arte – da boa arte – não é um bem supérfluo ou destinado apenas aos endinheirados, ou a essa elite que se julga a única capaz de se emocionar com a 9ª Sinfonia de Beethoven ou com a música de Bach; ou com os quadros de Caravaggio, Rembrandt, Rubens, Cézanne; ou com as esculturas de Michelangelo, Bernini, Aleijadinho; ou com o teatro de Shakespeare, Molière e Artaud; ou com a literatura de Dostoievski, Goethe, Dante Alighieri, Balzac, Victor Hugo, Kafka; ou com a poesia de Camões, Walt Whitman, Fernando Pessoa, Carlos Drumond de Andrade...


Para não esquecer dos "pequenos": Museu Histórico e
Artístico de São Luís do Maranhão
Mais uma vez: é Direito do cidadão e Dever do Estado o acesso à Cultura. Mais uma vez: a crescente privatização – que se vê – desses espaços de produção, fruição e consumo de arte, é prejudicial à democratização do acesso a elas, e precisamos ampliar cada vez mais as filas dos brasileiros nas portas de teatros, cinemas, casas de show, centros culturais, museus, bibliotecas!


Não podemos esquecer que o Brasil possui quase três mil municípios que não têm um único centro cultural, um único museu! E que, por esse e por inúmeros outros motivos, o Estado brasileiro precisa investir em Arte, e apoiar os artistas. 


Há milhões de músicos, atores, palhaços, cantores, cantadores, poetas, escritores, pintores, escultores, produtores de cultura espalhados por este imenso país sonhando com o dia em que a sua obra seja exposta de algum jeito à fruição pública e que ele – artista – veja que todo o esforço diário sobre o cavalete, o livro, a lona, o palco, a caneta... não foi em vão, pois chegou o grande momento em que ele pode abraçar e ser abraçado por seu povo, reconhecido pela beleza do que produz, pelo prazer que gera com o que cria, pela vida que dá, com a sua Arte.


Até chegar o dia em que a Arte brasileira também estará no topo do mundo!


O ranking da revista The Art Newspaper

quinta-feira, 16 de junho de 2011

O mural brasileiro de Paulo Werneck

São Paulo na tarde de ontem: Parque da Luz, centro.
Uma boa dica pra paulistano que tira férias em São Paulo: conheça São Paulo, o centro, a estação da Luz, a Pinacoteca, o Brás, a Mooca, o Mercado Municipal, a Rua São Bento, o largo do Arouche... Mas não vá de carro! A melhor coisa para quem mora e trabalha aqui é tirar férias do carro também, andar de metrô, de ônibus. Dessa forma se pode ver uma cidade que não é vista do mundo claustrofóbico do automóvel. As boas surpresas acontecem!

Foi assim que fui parar na Pinacoteca do Estado de São Paulo. Fui visitar a exposição "Paulo Werneck, Muralista brasileiro". A Pinacoteca vem trazendo a público um programa de exposições temporárias com a finalidade de apresentar a produção de artistas brasileiros que ainda não tiveram seus trabalhos devidamente reconhecidos ou estudados. Um desses artistas - um dos grandes criadores do período do Modernismo brasileiro - é o carioca Paulo Cabral da Rocha Werneck.


Paulo Werneck
Paulo Werneck nasceu em 29 de julho de 1907, nas Laranjeiras, Rio de Janeiro. Com apenas 20 anos de idade, iniciou sua carreira artística como ilustrador da revista A Época, dos estudantes de Direito da UFRJ, assim como se tornou ilustrador de diversos livros. E de revistas como Fon-Fon, Para Todos, Esfera, Diretrizes, Sombra, Rio Magazine e os seguintes jornais: A Esquerda, Diário de Notícias, A Manhã, Correio da Manhã, Tribuna Popular, Para Todos e o jornal Imprensa Popular, para o qual fez mais de 300 ilustrações.

Foi um desenhista e ilustrador incansável até 1928, quando aprendeu desenho de arquitetura com o arquiteto Celestino Severo de San Juan. Parte, dessa forma, a trabalhar com desenhos de perspectivas arquitetônicas, sendo o desenhista do projeto do arquiteto Marcelo Roberto para o prédio da Associação Brasileira de Imprensa (ABI), considerado o primeiro edifício modernista brasileiro, construído a partir de 1938.


Ilustração para o livro "Negrinho do Pastoreio"
Ainda em 1938, Paulo Werneck participa da I Exposição de Arte Social, organizada pelo Club de Cultura Moderna no Rio de Janeiro. A partir daí, se dedica também a ilustração de livros infanto-juvenis, como o Negrinho do Pastoreio da editora Civilização Brasileira, publicado em 1941.

De 1942 em diante, Paulo Werneck começa a realizar grandes paineis de mosaico para inúmeros edifícios e construções, inclusive residenciais, como o da casa de Juscelino Kubistchek, a pedido do arquiteto Oscar Niemeyer. Também para Niemeyer, ele produz os paineis de azulejos do conjunto arquitetônico da Pampulha, em Belo Horizonte, Minas Gerais, que inclui a Casa do Baile, o Iate Clube e o Cassino, além da Igreja da Pampulha, também do arquiteto Niemeyer, de quem se tornou um grande amigo.


Igreja da Pampulha, de Niemeyer,
com painel de Werneck
Niemeyer, em seu livro "As curvas do tempo", de 1998, disse que "sempre que me permitem, convoco os artistas plásticos. Na obra do memorial da América Latina convoquei nove pintores e cinco escultores. Na da Pampulha, meu primeiro projeto, convidei Portinari, Ceschiatti e Paulo Werneck. Eram grandes artistas, bons amigos e, como é natural, a eles sempre recorri.

Foi como muralista que Paulo Werneck se destacou nas artes brasileiras, como dizia Darcy Ribeiro: "O Paulo não foi um pintor de cavalete de quadros. Ele emprestava sua arte às construções, com seus murais, dava dignidade às paredes... ”



Em Cataguases, Minas Gerais, participou da construção de um colégio secundarista junto com grandes artistas do modernismo brasileiro na década de 50: Oscar Niemeyer, Portinari, Burle Marx, Bruno Giorgi, Ceschiatti, Djanira e vários outros.Mas Werneck também estava atento às mudanças políticas que se operavam no Brasil. 


Ilustração do jornal Tribuna Popular,
cuja uma das capas foi ilustrada por ele
para saudar um comício de Luís Carlos
Prestes em Salvador, na Bahia
Diz o arquiteto e artista plástico Carlos Martins (também curador desta exposição) que Paulo Werneck era "partidário dos movimentos contrários ao crescente avanço nazifascista, e sua produção, por todos os conturbados anos 30, vai refletir suas preocupações para com uma sociedade mais justa e digna. (...) Ao evitar uma representação de cunho didático, vai registrar a relação do homem com o meio urbano e industrial, as manifestações e festas populares, as lendas e tradições regionais, sempre com um olhar idealizado e otimista."

Era um nacionalista militante. Durante mais de 20 anos, Werneck ilustra inúmeros jornais e revistas do Rio de Janeiro. Era sua maneira pessoal de participar das mudanças políticas que estavam em curso no Brasil. 
Seu atelier, no bairro das Laranjeiras no Rio, era também um ponto de encontro dos companheiros de Werneck, militantes, como ele, do Partido Comunista do Brasil. Paulo Werneck foi desses artistas que, não satisfeito apenas com sua vida pessoal e artística, resolve ser um ator também das lutas pela liberdade e pela democracia. E pelo socialismo.

Werneck "marcou a paisagem arquitetônica brasileira com centenas de murais", diz o catálogo da exposição, que é também uma iniciativa da família do artista, que faleceu em 1987, doente de câncer.


Esta exposição é um dos primeiros resultados do Projeto Paulo Werneck que quer preservar e divulgar a obra desse artista que marcou a paisagem arquitetônica brasileira com centenas de murais.

A exposição vai até o dia 7 de julho de 2011, na Pinacoteca de São Paulo.

A exposição na Pinacoteca de São Paulo.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

Moça com brinco de pérola

Estudo inicial com carvão, preparando para pintar a óleo
talvez finalizado (16 de junho) - papel cartão
Hoje comecei um estudo a carvão do famoso quadro "Moça com brinco de pérola", pintado a óleo em 1655, pelo grande pintor barroco Jan Vermeer, um dos meus preferidos.

Vermeer é um pintor barroco da Holanda, nascido em Delft em 31 de outubro de 1632, e falecido na mesma cidade em 16 de dezembro de 1675. Ele era fascinado pelo que conhecemos como "pintura de gênero", ou seja, pinturas de cenas da vida doméstica das pessoas. Cenas às vezes bobas, retratando momentos que muitas vezes nem percebemos o quanto são importantes, inclusive do ponto de vista pictórico! Uma das características da pintura realista é exatamente essa, a de descobrir esses momentos singulares da vida normal das pessoas normais, tornando-os eternos através da arte.

Sabemos que Vermeer trabalhava de forma lenta e meticulosamente. Tinha 11 filhos para sustentar com a venda de seus quadros, que às vezes eram trocados por carne, junto ao açougueiro. Mas dessa forma cuidadosa, suas obras mostram uma combinação de cores brilhantes e podemos ver como ele tinha perfeita maestria na manipulação e utilização da luz. Vermeer ficou esquecido por quase cem anos e só foi descoberto em 1866 pelo crítico de arte Théophile Thoré-Burger, que lhe dedicou uma série de artigos.

Desde então, Vermeer, assim como o outro holandês Rembrandt, é considerado um dos melhores pintores do Barroco holandês e da pintura mundial.

É um desafio e tanto, estudar esse quadro. Ver como ele manipulava as massas, os valores, a luz, a composição, e como com pequenos toques dava a configuração da essência da forma. Ou seja, como ele pintava exatamente o que era necessário! Para mim, a busca dessa simplicidade é um dos fatores mais importantes, um dos objetivos a serem alcançados. E a simplicidade é das coisas mais dificeis de serem alcançadas...

Vamos em frente...