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terça-feira, 15 de outubro de 2019

Manifesto "Brasil em transe"

80 TIROS!, Mazé Leite, óleo sobre tela, 70x50 cm, 2019
Somos artistas cujo pensamento pictórico busca se orientar pelo movimento da luz sobre as coisas do mundo. Nosso trabalho é reflexo do estudo técnico e da observação dos efeitos da luz sobre a realidade. Seguindo os conceitos pictóricos ensinados há muito tempo por Rembrandt, as cores que usamos e as formas que pintamos buscam se submeter às direções da luz. Mas somos artistas brasileiros vivendo em um país cuja luminosidade colorida interfere diretamente sobre nossas pinturas. Seguindo este caminho, nos inspiramos na eterna dança do claro e do escuro. Podemos comparar esse tipo de percepção ao de músicos como Hermeto Pascoal e Sivuca, retratados por mim nesta exposição, que conseguiam extrair sons musicais de qualquer coisa. Para nós, qualquer coisa é potencialmente bela, se percebemos através das aparências o deslizar dos movimentos explícitos, ou sutis, da luz.
Por isso, a realidade sempre será nossa maior e inesgotável referência. Seja a realidade física, seja a realidade de nossa existência como seres que ocupamos um determinado espaço e tempo. Na minha visão, a arte jamais esteve isolada do restante da vida, em qualquer período histórico. Quando o homem pré-histórico pinta um bisão na parede de uma caverna, está expressando um símbolo do seu mundo, mas também seu modo de vida. Quando Michelangelo pintou a Capela Sistina, ilustrou uma ideia, uma cosmologia baseada em uma visão de mundo. Eugène Delacroix, com sua “Liberdade guiando o povo”, pintou um verdadeiro manifesto, indicando um novo tempo que precisava nascer. Sim, a arte tem um papel importante no mundo: elevar o espírito humano, o que muitas vezes quer dizer, provocar deslocamentos, fazer refletir.
Por isso, as obras desta exposição são a expressão individual de cada um de nós sobre o Brasil dos dias atuais. De um lado, um país rico culturalmente, imensamente criativo, musical, expressivo, miscigenado, multicolorido. De outro, um país em transe caótico: político, econômico, ambiental, social, cultural... Os dias atuais no Brasil são de medo: da volta dos dias terríveis da censura, dos ataques à democracia, à rica cultura brasileira, ao seu povo, ao seu meio-ambiente, ao seu futuro.
Após a eleição de Bolsonaro, houve uma reação unânime entre nós artistas do Ateliê Contraponto: esta quadrilha que chegou ao poder central no Brasil é nefasta. Neste ano e meio de trabalho, enquanto pintávamos nossas telas para esta exposição, Marielle Franco foi assassinada, Lula foi preso, Bolsonaro foi eleito, o conservadorismo se aprofundou, o desrespeito aos direitos humanos também. Duas barragens de lama despejaram detritos sobre Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais. A polícia militar mata mais jovens negros do que nunca, nas periferias do Brasil. E há poucas semanas, vimos o horror da floresta amazônica pegando fogo. Isso tudo nos afeta como sociedade e, obviamente, nos afeta como artistas.
Como artistas, expressamos nossos sentimentos frente a tudo o que está acontecendo. Como lidamos com imagens, pintamos! Mas como seres humanos, e brasileiros, gritamos contra o retrocesso que estamos sofrendo, contra os conservadorismos de todos os tipos, contra todas as injustiças, incluindo a injusta prisão do presidente Lula. Lula livre!
Mazé Leite
Ateliê Contraponto de Arte Figurativa
Paris 2019

Em Paris, a exposição-manifesto do Ateliê Contraponto

Na última sexta-feira, 4 de outubro, às 19 horas, foi inaugurada a exposição “Brasil em Transe” de pinturas a óleo, organizada pela artista plástica Mazé Leite, na Galerie Art et Societé de Paris. A mostra reúne o trabalho de 12 artistas plásticos brasileiros ligados ao Ateliê Contraponto de São Paulo e ficará na capital francesa até o próximo dia 20 de outubro.
Cerca de 150 pessoas passaram pela galeria localizada no coração do bairro do Marais, em Paris, para o vernissage da exposição que consta de 22 obras realizadas em um ano e meio de trabalho por onze alunos do Ateliê Contraponto, mais 11 pinturas de Mazé Leite. Para esta exposição, viajaram cerca de 25 brasileiros em direção a Paris. Amigos de outros países também vieram de cidades como Dublin (Irlanda), Londres (Inglaterra) e Amsterdam (Holanda). Muitos brasileiros que vivem na França também estiveram no evento, em sua maioria ligados a movimentos de brasileiros que se unem atualmente para se contrapor ao governo bolsonarista e em especial pessoas ligadas aos comitês franceses pela liberdade de Lula. Além destes, muitos franceses também vieram ao vernissage, trazidos pela divulgação solidária das redes de amigos e camaradas do PCF.
Neste ano e meio de trabalho de criação das 33 obras, cujo tema geral é “Brasil em transe”, os artistas se voltaram a retratar pictoricamente momentos e personalidades da cultura brasileira mas também temáticas mais políticas, como o drama dos rompimentos de barragens que atingem o meio-ambiente e as populações das áreas atingidas, o genocídio da juventude negra, os preconceitos sofridos pela população LGBTI, a liberação de agrotóxicos mortais em nossa agricultura, a morte de Marielle Franco, a prisão de Lula, etc. Cada artista se expressou, dentro da temática, da forma como mais se sente atingido no momento atual. O conjunto dos quadros revela aos franceses a força da arte brasileira e de seus artistas, vivendo um momento crítico da sua história.
As pinturas foram muito bem recebidas e diversas pessoas se disseram surpresas com a qualidade do trabalho do Ateliê Contraponto. Entre taças de vinho, brasileiros e franceses se misturaram, e as conversas versavam não só sobre o trabalho artístico, mas principalmente sobre a triste situação política em que o Brasil se encontra após a eleição de Bolsonaro. Todos buscavam entender todo o processo, muitos manifestando o espanto diante de quão rapidamente a extrema-direita avançou no Brasil, chegando ao poder central.
Em um determinado momento do evento, franceses e brasileiros se postaram na rua em frente à galeria, puxados pelo Comitê Lula Livre de Paris, gritando palavras de ordem pela liberdade de Lula! Foi uma reação natural, surgida dessa união entre amigos e camaradas brasileiros e franceses, todos solidários ao Brasil que passa por momento de tantas dificuldades na vida política e econômica, governando por um presidente neo-fascista. Outras atividades estão sendo pensadas pela rede de brasileiros em Paris, aproveitando a exposição, para promover atos em apoio ao povo brasileiro, contra Bolsonaro.
Como faz questão de ressaltar a artista e professora do Ateliê Contraponto, Mazé Leite, “a realidade sempre será nossa maior e inesgotável referência. Seja a realidade física, seja a realidade de nossa existência como seres que ocupamos um determinado espaço em um tempo determinado. A arte jamais esteve isolada do restante da vida, em qualquer período histórico. Quando o homem pré-histórico pinta um bisão na parede de uma caverna, está expressando um símbolo do seu mundo, mas num certo sentido, seu modo de vida. Quando Michelangelo pintou a Capela Sistina, ilustrou uma ideia, uma cosmologia baseada em uma visão de mundo. Delacroix, com sua “Liberdade guiando o povo”, pintou um verdadeiro manifesto, indicando um novo tempo que precisava nascer. Sim, a arte tem um papel importante no mundo: elevar o espírito humano, o que muitas vezes quer dizer, provocar deslocamentos, fazer refletir”.
Por isso, as obras desta exposição são a expressão individual de cada um dos sobre o Brasil dos dias atuais. “De um lado, um país rico culturalmente, imensamente criativo, musical, expressivo, miscigenado, multicolorido. De outro, um país em transe caótico: político, econômico, ambiental, social, cultural… Os dias atuais no Brasil são de medo: da volta dos dias terríveis da censura, dos ataques à democracia, à rica cultura brasileira, ao seu povo, ao seu meio-ambiente, ao seu futuro”, completa Mazé.
Após a eleição de Bolsonaro, houve uma reação unânime entre os artistas do Ateliê Contraponto: esta quadrilha que chegou ao poder central no Brasil é nefasta. Neste ano e meio de trabalho, enquanto pintavam suas telas para esta exposição de Paris, Marielle Franco foi assassinada, Lula foi preso, Bolsonaro foi eleito, o conservadorismo se aprofundou, o desrespeito aos direitos humanos também. Duas barragens de lama despejaram detritos sobre Mariana e Brumadinho, em Minas Gerais. A polícia militar mata mais jovens negros do que nunca, nas periferias do Brasil. E há poucas semanas, vimos o horror da floresta amazônica pegando fogo.
“Isso tudo nos afeta como sociedade e, obviamente, nos afeta como artistas. Como artistas, expressamos nossos sentimentos frente a tudo o que está acontecendo. Como lidamos com imagens, pintamos! Mas como seres humanos, e brasileiros, gritamos contra o retrocesso que estamos sofrendo, contra os conservadorismos de todos os tipos, contra todas as injustiças, incluindo a injusta prisão do presidente Lula”, finaliza Mazé Leite.
Exposição de pinturas “Brasil em Transe”
Período: 4 a 20 de outubro de 2019
Horário: das 12h às 20h
Local: Galerie Art et Societé
19, Rue du Pont Louis-Phillipe
75004 – Paris França

segunda-feira, 18 de dezembro de 2017

Os vôos necessários

Franz Kafka no final da vida escreveu alguns pequenos contos, entre os quais "A primeira dor", publicado em 1922, quando a serpente do nazi-fascismo já chocava seu ovo...

"A primeira dor" fala de um artista de circo, um trapezista, aquele que vive com a vida por um fio, sobre o abismo. Mas o trapezista amava tanto seu instrumento de trabalho - o trapézio - que jamais se separava dele, vivia pendurado no alto, ou fazendo acrobacias ou simplesmente quieto enquanto outros apresentavam seus espetáculos. Ele passara a vida inteira como artista de circo; era o que sabia fazer. E amava fazer.

Desde que me entendo por gente, vivo pendurada em meu próprio trapézio: meu amor pela pintura. A vida inteira fui ao encontro dela, me perdi dela, corri atrás, fugi, ela me alcançou, me agarrei a ela como uma náufraga... Do alto do meu sonho, balanço entre um susto e outro, sabendo que é preciso ir além do medo. Pintar me reinventa. Ensinar pintura é um risco ao qual o meu trapézio me balançou para ainda mais alto. O frio na barriga também traz o prazer do risco, o espaço aberto, o chamado do vôo...

Nas vertigens do caminho, o Ateliê Contraponto caiu em minhas mãos e eu precisei enfrentar todos os medos, executando novas acrobacias. Oscilando no meu próprio céu, me movimento dentro do meu sonho, sabendo que os abismos do tempo atual podem me ameaçar. Mas meu vôo é firme, pois criei asas no desejo de permanecer grudada a meu trapézio até o final do espetáculo.

E o Ateliê Contraponto segue como espaço de resistência... mesmo em um momento em que, de novo, aquela velha serpente volte a chocar seu ovo... 

Mas a pintura resiste!

Que venha 2018!

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Abaixo, registros da exposição de final de ano no ateliê, ao final do quarto ano de trabalho:
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Desenhos e pinturas de alunos do Ateliê Contraponto: Sarah Hounsell, Taïs Isensee,
Virgínia Morais, Guilherme Martinez
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Pinturas a óleo de Taïs Isensee
Pinturas a óleo de Virgínia Morais

Desenho de Ananda Campos, à esquerda. Ao centro e direita, desenhos de Fernando Correia

Desenhos com giz-pastel e carvão de Sarah Hounsell
Desenho e pintura de Paulo Marianno
Desenho com lápis-grafite de Rubi Conde

Pinturas com Guache de Maria Fucatu

Pinturas a óleo de Guilherme Martinez

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016

Exposição dos alunos do Ateliê Contraponto

Na sexta-feira, 9 de dezembro, professores, alunos e seus convidados comemoraram as conquistas de mais um ano de trabalho, o terceiro ano do Ateliê Contraponto!

2016 foi um ano difícil para todos nós e para o Brasil, em especial. Um golpe foi dado e o caos está instalado. O Ateliê Contraponto, obviamente, também sofreu as consequências dessa crise política, econômica e social: perdemos alunos que ficaram sem condições de continuar. Mas alguns resistiram e outros novos chegaram. É assim a dinâmica da resistência nesses duros momentos. E resistir também é desenhar e pintar, porque...

"... As coisas talvez melhorem.
São tão fortes as coisas!
Mas eu não sou as coisas e me revolto."

... como disse Drummond, nosso poeta.

No Ateliê Contraponto foi um ano de muito trabalho, de muito aprendizado, de muito esforço conjunto e individual. Pela quantidade e qualidade dos trabalhos apresentados, dá para ver que o ateliê começa a ter um amadurecimento muito bom, o que foi notado por diversas pessoas que foram até lá ver de perto, como Artur Montanari que me disse: "Mazé, estou impressionado com a qualidade do trabalho dos alunos do ateliê!" Verdade, esta exposição é uma amostra do empenho que todos têm feito para evoluir no desenho e na pintura.

Na comemoração, os alunos resolveram trocar seus trabalhos, num jogo de "amigo secreto" entre eles e nós, professores. Foi uma noite muito divertida, onde tivemos inclusive a participação do cantor lírico, o tenor Paulo Köbler, meu aluno, que cantou três músicas de seu repertório clássico.

Com esta atividade, o Ateliê Contraponto encerra seus trabalhos neste ano e deseja a todos que o ano de 2017 seja o melhor possível e que a chama da Arte continue iluminando e inspirando a todos nós em todos os nossos caminhos!

A exposição pode ser visitada até o próximo dia 17 de dezembro e de 10 a 28 de janeiro de 2017.

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Abaixo, algumas das fotos que registraram a comemoração do Ateliê.

Paulo Köbler cantando
Paulo Köbler apresenta seu quadro "Flor amarela"
Luiz Vilarinho e seu trabalho em carvão "Gatos"
Victor Boina, Virginia Morais, Tais Isensee e Luiz Vilarinho
Alexandre Greghi e sua pintura "Nu em preto e branco"
Mazé Leite apresentando sua pintura "Até a última gota"
Guilherme Martinez e sua pintura a óleo "O escafandrista"


Virginia Morais e Mikie Fucatu
Alexandre Greghi e Taïs Isensee
Taïs Isensee apresenta sua pintura em pastel "O dálmata"
Virginia e seu quadro "Andrógino"
Maria Fucatu e sua pintura em guache "Paisagem aquática"
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Alguns dos trabalhos dos alunos:



Pinturas de Guilherme Martinez, Taïs Isensee e Virginia Morais

Pinturas de Taïs Isensee e Guilherme Martinez

Pintura a óleo de Taïs Isensee

Pintura a óleo de Virginia Morais

Pintura a óleo de Guilherme Martinez


(Todas as fotografias são de autoria de Virgínia Morais)

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2016

Ateliê Contraponto inaugura seu novo espaço


Na última sexta-feira, 19 de fevereiro, o Ateliê Contraponto inaugurou seu novo espaço na Avenida Angélica 2.341, em Higienópolis, São Paulo.
Foi um evento bastante concorrido. Cerca de 70 pessoas passaram por lá para prestigiar e conhecer as novas instalações do ateliê de Alexandre Greghi, Luiz Vilarinho e Mazé Leite. Contatos importantes foram feitos para próximas exposições na Galeria Contraponto, que estaremos divulgando também aqui neste blog.
Estudo de Velázquez, Mazé Leite
Na inauguração do novo espaço, que inclui a presença de amigos e artistas, o Ateliê Contraponto apresentou uma exposição de desenhos e pinturas de seus alunos e professores, produzidas nos últimos dois anos. Estão participando da exposição, que fica aberta até o próximo dia 5 de março: Maria Fucatu, Mikie Fucatu, Taïs Isensee, Francisco Cabral, Sandra Longeaud, Tiago Savio, Ana Rocha, Daniela Padilha, entre outros.
O Ateliê Contraponto, que já completou dois anos de existência, vem se destacando cada vez mais como espaço cultural das artes plásticas em São Paulo, tendo realizado já seis exposições coletivas com a participação de mais de 60 artistas, de São Paulo e de outros Estados brasileiros.
Mas o espaço também serve para a produção pessoal de seus professores - Alexandre Greghi, Luiz Vilarinho e Mazé Leite - e também para cursos de Desenho, Pintura a óleo, giz Pastel e Aquarela. Para esta nova fase, o Ateliê Contraponto planeja intensificar ainda mais suas atividades: além das aulas e das exposições, promover workshops com artistas convidados (teóricos e práticos), ter com regularidade sessões com modelo vivo, intensificar os estudos sobre a arte figurativa e estreitar ainda mais os laços com outros artistas e outros ateliês figurativos de São Paulo. A ideia do Ateliê Contraponto é ser um espaço aglomerador para quem gosta e faz arte em São Paulo. 
Durante o evento, a banda Underpath tocou clássicos do rock, com seus quatro excelentes músicos!

A exposição atual estará aberta à visitação pública de terça a sexta, das 14h às 20h até o dia 5 de março de 2016.

ATELIÊ CONTRAPONTO
Avenida Angélica, 2.341
Higienópolis - São Paulo/SP
t. (11) 9 9988-4858

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A exposição:

 


Alguns momentos do evento:
Com Ieda del Bianco, em frente aos trabalhos feitos pelos alunos do ateliê
Músicos da banda Underpath, que tocou rock clássico durante o evento
Alexandre Greghi com M. Fucatu, Tais Isensee e Vanessa Machado
Diógenes Pompe, Liliane, Ednilson e outros amigos do ateliê
Luiz Vilarinho e algumas das visitantes da exposição

Dona Maria Fucatu, que começou a desenhar aos 88 anos de idade e também participa da exposição