"A primeira dor" fala de um artista de circo, um trapezista, aquele que vive com a vida por um fio, sobre o abismo. Mas o trapezista amava tanto seu instrumento de trabalho - o trapézio - que jamais se separava dele, vivia pendurado no alto, ou fazendo acrobacias ou simplesmente quieto enquanto outros apresentavam seus espetáculos. Ele passara a vida inteira como artista de circo; era o que sabia fazer. E amava fazer.
Desde que me entendo por gente, vivo pendurada em meu próprio trapézio: meu amor pela pintura. A vida inteira fui ao encontro dela, me perdi dela, corri atrás, fugi, ela me alcançou, me agarrei a ela como uma náufraga... Do alto do meu sonho, balanço entre um susto e outro, sabendo que é preciso ir além do medo. Pintar me reinventa. Ensinar pintura é um risco ao qual o meu trapézio me balançou para ainda mais alto. O frio na barriga também traz o prazer do risco, o espaço aberto, o chamado do vôo...
Nas vertigens do caminho, o Ateliê Contraponto caiu em minhas mãos e eu precisei enfrentar todos os medos, executando novas acrobacias. Oscilando no meu próprio céu, me movimento dentro do meu sonho, sabendo que os abismos do tempo atual podem me ameaçar. Mas meu vôo é firme, pois criei asas no desejo de permanecer grudada a meu trapézio até o final do espetáculo.
E o Ateliê Contraponto segue como espaço de resistência... mesmo em um momento em que, de novo, aquela velha serpente volte a chocar seu ovo...
Mas a pintura resiste!
Que venha 2018!
-------------------
Abaixo, registros da exposição de final de ano no ateliê, ao final do quarto ano de trabalho:
-------------------
Desenhos e pinturas de alunos do Ateliê Contraponto: Sarah Hounsell, Taïs Isensee, Virgínia Morais, Guilherme Martinez |
Pinturas a óleo de Taïs Isensee |
Pinturas a óleo de Virgínia Morais |