El Jaleo, John Singer Sargent |
Sargent, desde pequeno, viajava com sua família por países europeus, visitando museus e igrejas, pois sua mãe considerava isso fundamental para a educação dos filhos. Ela era uma artista amadora, enquanto seu pai fazia ilustrações para uso na medicina. Por isso, desde cedo ele ganhava cadernos de desenho e era encorajado a desenhar em suas viagens. Fazia, então, desenhos detalhados das paisagens que via e chegou a copiar as imagens de uma revista londrina ilustrada. Adorava desenhar navios, o que fez seu pai achar – e desejar – que o menino fosse acabar seguindo uma carreira de marinheiro.
Quando ele completou 13 anos, sua mãe achou que era hora de levar o filho, que já desenhava muito bem, a um estudo mais sistemático, e ele recebeu suas primeiras lições de aquarela com Carl Welsch, pintor paisagista alemão. Sargent já sabia muito de arte, literatura e música. Também falava fluentemente francês, italiano e alemão. Aos 18 anos já conhecia de perto, e bem, os grandes mestres italianos como Tintoretto, Ticiano e Michelangelo.
Lady Agnew, Sargent |
Ele trabalhava intensamente em sua arte, de manhã à noite, diariamente, sete dias por semana. Entre 1877 e 1925 ele pintou mais de 900 telas a óleo e mais de duas mil aquarelas, além de incontáveis desenhos com carvão e lápis-grafite.
Sargent começa seus estudos na Academia de Florença, mas foi na França que ele recebeu sua formação mais densa. Com apenas 18 anos de idade foi admitido no Atelier do pintor realista Carolus-Duran, em Paris, um artista que se inspirava na obra do também pintor francês Gustave Courbet. Sargent passou também pelo atelier de outro pintor francês, Léon Bonnat. Sua educação foi fortemente influenciada na pintura do mestre espanhol Diego Velázquez e na do holandês Franz Hals.
Seus estudos no atelier de Carolus-Duran compreendiam desde desenho de anatomia até perspectiva. Mas também passa grande parte de seu tempo desenhando nos museus de Paris. Nessa época ele partilhava um atelier com seu amigo pintor e norte-americano James Carrol Beckwith, seu primeiro contato com os inúmeros norte-americanos que no século XIX foram viver no estrangeiro, para aprender pintura.
Carolus-Duran exigia muito empenho no desenho, ao qual Sargent se submeteu. Lá ele aprendeu a pintar alla-prima (com o pincel diretamente na tela, sem preparação anterior), como era o estilo de Diego Velázquez.
Rapidamente Sargent se tornou o aluno favorito de Carolus-Duran, que considerava seus desenhos e suas pinturas dentro da “mesma veia” dos velhos mestres. Logo, o jovem pintor passou a ser admirado em Paris. Ele passou a conviver com artistas do nível de Degas, Rodin e Monet, entre outros.Com 23 anos de idade, pinta o retrato de seu mestre Carolus-Duran. Em seguida expõe no Salão de Paris.
Em 1879, Sargent se despede do atelier de Carolus-Duran e viaja para a Espanha, com o desejo de estudar as pinturas de Velazquez. Lá, ele se apaixona pela música e pela dança espanhola. Ele sempre foi um apaixonado por música durante toda a sua vida. Da Espanha, foi para a Itália onde realizou inúmeros esboços e anotou ideias para diferentes pinturas que ele fará depois.
Em seu retorno a Paris, recebeu uma enxurrada de pedidos de retratos e sua carreira deslancha. Sargent tinha uma grande capacidade de concentração e disciplina, que o manteve pintando durante os próximos 25 anos de sua vida. Ele já era, então, a grande vedette em meio aos artistas em Paris, inclusive por sua maneira refinada e seu francês perfeito.
Nos anos 1880, Sargent expõe regularmente no Salão de Paris. Os críticos da época o comparavam a Velázquez, especialmente após o quadro “As filhas de Edward Darley Boit”, pintado em 1882, baseado em “As meninas” do pintor espanhol.
Claude Monet pintando ao ar livre, óleo sobre tela, John Singer Sargent, 1885 |
Tudo ia muito bem para John Sargent, quando ele pinta e expõe seu quadro “Madame X”, em 1884. Atualmente, ela é considerada sua obra-prima e era sua preferida, segundo seus biógrafos. Ele teria dito em 1915 que aquela pintura era a melhor coisa que ele já tinha feito. Mas quando a tela é apresentada ao Salão de Belas Artes de 1884, a reação de críticos e público foi tão negativa que obrigou o pintor a se mudar de cidade, indo se instalar em Londres. Ocorre que a senhora retratada por ele não havia encomendado essa pintura e isso causou muito escândalo em Paris. E ela própria se envolveu, causando muito incômodo para Sargent. Para o público, era difícil aceitar uma pintura de uma mulher com tanta diferença entre a cor do seu vestido e a de sua pele. Foi um golpe difícil pare ele, que chegou a pensar em parar. Mas, diante da reação escandalosa de todos, Sargent resolveu ir embora de Paris.
Se instala em Londres. Mas os críticos de arte inglesa resistiram a aceitar a pintura dele, acusando-o de pintar de maneira muito francesa. Um de seus críticos dizem inclusive que sua maneira de pintar era dura e quase metálica. Mas com o tempo Sargent foi atraindo a atenção dos ingleses para seu trabalho e logo começou a receber muitas encomendas para retratos.
Na Inglaterra, Sargent passou bastante tempo pintando no campo. Em 1885, visitando Monet em Giverny, França, ele pintou aquele que é considerado um de seus quadros mais impressionistas, representando Monet pintando a céu aberto (plein-air). Nessa década de 1880, Sargent chega a participar de várias exposições impressionistas. Ainda que os ingleses chegassem a classificar Sargent como impressionista, os franceses, como Monet, não concordavam com isso porque viam na pintura dele uma influência muito grande de seu mestre realista Carolus-Duran.
O primeiro grande sucesso de Sargent na Inglaterra teve lugar na Academia Real em 1887, com seu quadro “Lily, Lily, Rose” representando duas meninas com lanternas num jardim inglês. Essa pintura é parte do acervo da Tate Gallery de Londres.
Sua primeira viagem aos EUA foi entre 1887-88, indo para Nova Iorque e depois Boston, onde ele faz sua primeira exposição individual nos EUA, apresentando 22 obras. E recebe novos pedidos de retratos.
Uma rua em Veneza, Sargent |
Durante os anos 1890, ele chegava a receber catorze encomendas de retratos por ano, o que lhe valeu o título de “o Van Dyck” daqueles tempos. Agora viajava com bastante freqüência aos EUA, sobretudo por causa das encomendas que recebia.
Entre 1900 e 1907, Sargent produziu num ritmo intenso, mais de doze retratos a óleo por ano, mas também fazia dezenas de retratos apenas desenhados, que ele vendia por preço mais baixo. Com 51 anos de idade, em 1907, Sargent fecha seu atelier de retratos. Nesse mesmo ano, pinta seu próprio retrato. Se concentra em pintar apenas paisagens.
Mas em 1917, a maior parte da crítica já o considera um pintor do passado. Os artistas modernos o consideravam desconectado da realidade da vida norte-americana e das novas tendências nas artes. Ele aceita as críticas calmamente, mas se recusa a mudar sua opinião negativa sobre as novas tendências artísticas. Ele teria dito que “Ingres, Rafael e El Greco possuem atualmente toda a minha admiração. Eles são o que eu amo”.
Os intoxicados, óleo sobre tela, Sargent, 1918 |
Durante a sua carreira, Sargent pintou centenas de aquarelas, mais de duas mil. Do campo inglês à cidade de Veneza, ele era infatigável aquarelista. As de Veneza, por exemplo, muitas delas ele pintou sentado dentro de uma gôndola. Nelas, ele expressava sua atração pela natureza, pela arquitetura, pelas paisagens com montanhas. Mas também pintou seus amigos, sua família, os jardins de sua casa.
A primeira vez que ele expôs essas aquarelas foi em 1905, na Carfax Gallery de Londres. Em 1909, expôs 86 aquarelas em Nova Iorque. De seus retratos feitos com carvão, ele expôs 46 deles – realizados entre 1890 e 1916 – na Sociedade Real de Pintores de Retratos em Londres, em 1916.