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quinta-feira, 19 de janeiro de 2012

"O tempo em que o mundo tinha a nossa idade"



"Quero pôr os tempos em sua mansa ordem, conforme esperas e sofrências. Mas as lembranças desobedecem, entre a vontade de serem nada e o gosto de me roubarem do presente. Acendo a estória, me apago a mim. No fim destes escritos, serei de novo uma sombra sem voz.
Sou chamado de Kindzu. É o nome que se dá às palmeiras mindinhas, essas que se curvam junto às praias. Quem não lhes conhece, arrependidas de terem crescido, saudosas do rente chão?"


Terminei de ler "Terra sonâmbula" de Mia Couto, escritor moçambicano que transforma prosa em verdadeira poesia. Como Guimarães Rosa - que ele conhece bem - qualquer coisa do mundo, mesmo a fome, mesmo a guerra, mesma a solidão... vira coisa bela. Para mim, isso faz o artista: captura qualquer imagem do seu mundo, tempera-a com o fogo de seu próprio coração, após atravessar muitas vezes a barreira de lágrimas formadas em seus olhos, e devolve ao mundo o que viu e sentiu, em forma de arte. Para que as pessoas possam ver o mundo, ver e rever, perceber, com outros olhos. Ver, rever, perceber, mudar o mundo.


Me lembrei de uma frase do poeta Mário Quintana, que, com sua licença, faço uma adaptação: A Arte não muda o mundo, a Arte muda o homem. E o homem  muda o mundo...


Fiquei com vontade de pintar o rosto de Kindzu, um Kindzu já velho, pleno de experiência, marcado pelos sofrimentos da sua gente moçambicana, repleto da mais pura poesia que sai de seus olhos vermelhos. Em nossa língua portuguesa.


Acima está o meu "Kindzu dos olhos vermelhos", pastel sobre papel canson.

segunda-feira, 25 de julho de 2011

Salve o artista, salve o escritor!


Retrato de Baudelaire, por Gustave Courbet, 1848-1849, óleo sobre tela, 54x65cm

Hoje, 25 de julho – quase não se sabe – é o Dia do Escritor. O dia daquele e daquela que tem o poder de agarrar o poder de uma palavra solta juntando-a a outras, dando-lhe uma trama, uma tecelagem, um tecido-sentido, um algo que faz com que o ser humano converse com a alma de outro ser humano…

Como um artista, o escritor escolhe letras, palavras, frases. Escreve prosa, poesia, teatro, compõe. Conversa através da mágica criada pelas folhas do livro – ou pelo toque das mãos na tablet fria. E tudo se passa ali entre o olho e o texto, criando um canal que penetra olho a dentro, alma a dentro, mudando o homem, mudando a vida.

Há algo na magia de ser escritor e artista que transcende a persona. O “eu” que tem um nome se transforma muitas vezes num nome que mexe e remexe profundamente na simbologia individual de cada um: Dostoievski, Dostoievski, Dostoievski… Esse nome faz parte de mim, tem histórias comigo, me traz lembranças, pensamentos, sentimentos, tristezas boas.

Fernando Pessoa, Carlos Drummond, Vinicius de Moraes, Walt Whithman, Balzac, Victor Hugo, Hemingway, Charles Dickens, Graciliano Ramos, Jorge Amado, Affonso Romano, Clarice Lispector, Edgar A. Poe, E.T.A. Hoffmann, Kafka, João Cabral de Melo Neto, Baudelaire, Balzac, Stendhal, Gustave Flaubert…

E Guimarães Rosa, Guimarães Rosa, Guimarães Rosa…

São mais do que pessoas, são minha própria alma em formação.