sexta-feira, 9 de maio de 2014

Vento sul

Coetzee é triste. 

Eu fui vê-lo na segunda, aqui em Montevideo, prêmio nobel que é, escritor grande que é. Mas ele não riu; Coetzee não sabe rir, eu acho. 

Não riu quando a mulher negra, embaixadora da África do Sul, leu a imensa lista de títulos que ele recebeu.

Não riu quando o ministro da Educação e Cultura do Uruguay lhe entregou uma medalha e nem fez nenhum movimento facial quando a "intendenta" (a prefeita) de Montevideo lhe entregou a medalha de visitante ilustre.

Não riu quando recebeu palmas do público; nem na entrada, nem na saída.

Coetzee é triste.

Passei toda a semana com a tristeza de Coetzee refletida em meu coração. Hoje é sexta e a tristeza de Coetzee também virou minha tristeza.

Fazem 5 dias que estou por aqui pelas terras uruguaias. Conheci Montevideo e Colonia del Sacramento. Andei 3 horas de ônibus entre as duas cidades, ida e volta. Eu vi em Colonia as marcas das lutas entre espanhois e portugueses pela posse da cidade e das terras. E das vidas das gentes que viviam au bord do Rio de la Plata...


O Uruguai é triste; assim como a Argentina; assim como o Brasil. O samba é triste, o tango é triste...

Somos povos formados por povos que vieram de suas terras porque estavam pobres, desempregados ou ameaçados pelas guerras. Portugueses, espanhois, italianos, alemães, franceses, armênios, outros. Os índios que cá estavam foram dizimados. Os africanos que para cá vieram, foram sequestrados de seus países, de suas aldeias.

Acho que Coetzee sabe disso. E por isso também ficou triste.

Penso nisso neste fim de tarde frio à beira do Rio de la Plata. O vento sul açoita as águas e meus cabelos. Mas meus pensamentos não param de pensar o quanto Coetzee é triste! 


Robert Walser
Ontem comprei e comecei a ler "O ajudante" de outro ser ainda mais triste que Coetzee, que indicou: Robert Walser. Robert Walser foi internado num manicômio e parou de escrever. Na Suiça, seu país. Perguntaram por quê. Ele respondeu: estou aqui para ser louco, não para escrever. Coetzee que contou... E contou que Walser morreu congelado na neve, com 65 anos. Um cara que não se encontrava; um outsider do mundo; um que fugiu de sua terra pra ser gente lá fora. E eu que fugi da minha terra...

Acho que eu também sou triste, como o Coetzee e como o Walser. E como o Brasil e o Uruguai, e a América Latina...

Há uns anos, numa outra tristeza à beira-mar, escrevi isso aqui que renasce de novo nas movimentações congelantes deste outro vento sul do sul...

Vento Sul

O céu é cinza e o vento é sul
e o mar murmura remotas canções
em ondas que me aquecem
neste entardecer tão frio...

O vento fustiga as aves
escondidas pelos rochedos,
encolhidas, no cais resistente
ao vento e às ondas.

Bandeiras desfraldadas se enfurecem
ao sopro atroz desse vento sul,
como meu pequeno barco entre o mar e o céu
à deriva entre rajadas e espumas.

Sons diversos são tangidos pelo vento:
sonoridades marinhas, aquáticas, oceânicas
me invadem e em meu coração formam acordes
nas cordas daquele violão...

O mar é cinza, o céu é cinza e o vento é sul
e eu mergulho nessas ondas espumantes
volto ao vento, à minha torre, à espreita
daquela primeira estrela

que virá, apesar do gris do céu
do gris do mar
e do vento sul...



quinta-feira, 8 de maio de 2014

Portinari no Grand Palais de Paris

O díptico "Guerra e Paz", pintado por Portinari e presenteado pelo governo brasileiro à ONU
No último dia 6 de maio os dois paineis “Guerra e Paz” pintados pelo artista brasileiro Candido Portinari foram inaugurados em exposição no Grand Palais de Paris e poderão ser vistos pelo público francês e europeu pela primeira vez.
Cartaz do Grand Palais
A exposição desta obra-prima do pintor brasileiro em Paris tem a curadoria do seu filho João Candido Portinari, que dirige o Projeto Portinari, que inclui a catalogação de toda a obra do pai, assim como o arquivo de documentos importantes relativos à vida desse grande artista brasileiro. Candido Portinari - lembra a apresentação no Grand Palais - "fez suas as palavras de Léon Tolstoi: 'Se queres ser universal, começa pintando a tua aldeia".
Guerra e Paz” de Candido Portinari (1903-1962), um dos mais importantes pintores do Brasil, foi ofertado pelo governo brasileiro às Nações Unidas e instalado no hall de entrada da Assembleia Geral da ONU, em Nova York, em 1957.
Pela primeira vez em mais de meio século os dois paineis que formam “Guerra e Paz” saíram do prédio da ONU e, depois de terem sido apresentados no Brasil, poderão ser vistos no Grand Palais de Paris, França, antes de retornar definitivamente para seu local no prédio das Nações Unidas. Aqui em São Paulo, em 2012 foi visto por mais de 600 mil pessoas no Memorial da América Latina.
Esta exposição em Paris está sendo organizada pelo Projeto Portinari, com apoio dos Ministério das Relações Exteriores e Ministério da Cultura do Brasil em conjunto com o Ministério da Cultura e Comunicação da França e da Réunion des Musées Nationaux – Grand Palais, com a coordenação de Expomus.
Os painéis “Guerra e Paz” poderão ser vistos pelo público francês de 7 de maio a 9 de junho de 2014, no Grand Palais, Salon d’Honneur.
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